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4. TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO NO CORDÃO DUNAR

4.2 TÉCNICAS DE ESTABILIZAÇÃO DE MARGENS DE RIBEIRAS

4.2.1 TÉCNICAS DE ENGENHARIA BIOFÍSICA

O ser humano, contrariamente aos restantes animais, é capaz de reconhecer o seu ambiente e de o alterar profundamente em seu benefício. Em tempos recuados, quantidade de trabalho e a energia despendida foram fatores que dificultaram a intervenção humana na paisagem. Posteriormente, com a progressiva mecanização, foi facilitado o domínio do Homem sobre o meio biofísico envolvente, que troxe consequências catastróficas nos sistemas naturais, sendo principal causa da sua degradação (Freitas, 2011).

As origens da bioengenharia ou engenharia natural, como é comummente denominada, tem a sua possível origem no termo Engenharia Biológica remontam aos anos 30 quando V. Kruedner propôs o termo “Ingenieur biologie” que não seguiam só os aspetos técnicos mas também se atendiam à observação das regras biológicas, com a utilização de materiais vivos (Freitas, 2011).

Estas técnicas são caracterizadas essencialmente por privilegiar o uso da vegetação em oposição às técnicas de engenharia civil convencionais de estabilização de margens de linhas de água. Nelas, dependendo do problema a resolver são balanceadas as diferentes soluções construtivas e ponderados os riscos das possíveis intervenções (Pereira, 2001). Segundo Gray e Sotir (1996) os métodos utilizados na estabilização de taludes que utilizam materiais vivos como as plantas para estabilizar estas superfícies são os métodos biotécnicos e a bioengenharia dos solos ou engenharia natural. Os métodos biotécnicos são caracterizados pela utilização de estruturas em conjunto com os elementos biológicos de forma a reforçar os taludes na fase inicial de estabelecimento da vegetação, para propiciar uma melhor taxa de sucesso das plantações e sementeiras. Nas técnicas de bioengenharia de solos, engenharia natural ou bioengenharia, sendo um ramo ou uma sub-categoria da estabilização biotécnica, usa apenas a vegetação e os seus componentes, raízes e ramos como principal meio estrutural e mecânico no sistema de proteção de encostas íngremes (Gray & Sotir, 1996).

76 Segundo Pereira (2001) existem alguns métodos neste tipo de estabilização de margens em que combinam o uso de materiais vivos com inertes dependendo dos problemas a resolver e agressividade do meio. Os principais objetivos são o controlo da erosão, a regeneração das margens e a valorização paisagística nas componentes ecológica e recreativa. No caso de serem apenas utilizados materiais vivos, isto só é possível quando as condições do meio permitam, especialmente quando as plantas a instalar estejam aptas na altura de instalação para resistir as agressões do meio e seja possível um desenvolvimento saudável das raízes nas margens a proteger (Pereira, 2001). No Outono, apesar de ser a altura indicada de propagação vegetativa, o seu sucesso é altamente condicionado pelas fortes chuvadas e erosão associadas a esta época. Estes fatores obrigam à utilização de outros materiais em conjugação com as plantações.

Fachinas: (Figura 62) O

uso de faschinas, feixes de ramos vivos ou mortos,

aplicam-se na

consolidação das margens das linhas de água para a criação de socalcos e ainda para efeitos de drenagem com o uso de estacas de salgueiro, a que pode ser aliado o uso de inertes com especial

cuidado com a vegetação (Pereira, 2001). Os feixes de ramagens têm geralmente15 a 20 cm de diâmetro e um comprimento que varia entre 2 e os 4m, em que o contacto com o solo húmido tem que ser garantido (Freitas, 2011). É um método altamente difundido e pode ser utilizado sob a forma de fachina viva (estacas de plantas), fachina gabionada ou fachina com ramos mortos (Pereira, 2001).Estacas vivas e plantas com raizame são inseridas no solo de várias formas de modo a constituir reforços do solo, pontos de drenagem e barreiras à movimentação do mesmo (Gray e Sotir, 1996). São geralmente fixadas por estacas vivas ou mortas e podem constituir um muro de fascinas ancoradas do lado da corrente com estacas fortemente enterradas e ainda estacas individuais em cada fascina (Freitas, 2011).Estas técnicas permitem potenciar o desenvolvimento da vegetação nativa pelo melhoramento da estabilidade dos taludes e da vegetação que posteriormente lá se instale (Gray & Sotir, 1996). As Figura 62 - Exemplo de fachina viva com enrocamento (Fonte: Adaptado

77 principais vantagens desta técnica são a fácil realização, o baixo custo, a facilidade de recolha do material e o melhoramento do efeito de drenagem do solo. Tem como principais desvantagens ser necessária uma enorme quantidade de material vivo e mão-de-obra, ação que tem de ser realizada na altura de repouso vegetativo (Freitas, 2011). Empacotamento de ramos:(Figura 63) Segundo Pereira (2001) esta técnica de estabilização de margens pode associar-se à cobertura de superfície (sementeira) e é

essencialmente um método que consiste na sobreposição em camadas de ramos ancoradas por estacas. Esta camada pode ser reforçada com fachinas e desta forma são acumulados sedimentos na margem que são consolidados com o crescimento da vegetação (Pereira, 2001).

Sementeiras: Consiste num espalhamento possivelmente mecanizado de sementes

variadas (Freitas, 2011). Quando escolhidas as espécies mais adequadas ao local, é o método menos dispendioso e permite uma boa cobertura num curto espaço de tempo, serve ainda como um método complementar de outros que sejam usados (Pereira, 2001). Para além de sementes de espécies herbáceas, devem ser usadas sementes de espécies arbustivas e arbóreas de modo a tornar um solo com uma estrutura forte em profundidade ao contrário de sementeiras com apenas herbáceas com uma fixação sobretudo superficial (Freitas, 2011). A instalação e escolha das sementes a utilizar deve ter em conta as sucessões fitosociológicas para ter sucesso e portanto deve usar espécies pioneiras para que possa haver uma sucessão ecológica em que estas criam condições para o aparecimento das seguintes, com plantas de enraizamento profundo, rápida instalação e ainda leguminosas (Pereira, 2001).

Hidrosementeiras: Nesta técnica as sementes são projetadas numa mistura de água

e sementes em combinação com outros elementos como fibras de madeira, fertilizantes, corretivos ou aditivos biológicos do solo e são usados sobretudo em locais de difícil acessibilidade (Freitas, 2011). Segundo Pereira (2001) é a hidrosementeira combinada com soluções coloidais podem melhorar a agregação dos

Figura 63 - Exemplo da técnica Empacotamento de ramos para estabilização de margens de ribeiras (Fonte: Adaptado de Pereira, 2001)

78 solos assim como a adição de palhas e estrumes que favorecem o crescimento da vegetação.

Estacaria viva: Este processo consiste essencialmente em usar ramos ou troncos

com mais de 3 anos sem ramos laterais com um comprimento entre 40 e 100 cm e diametro de 2 a 8 cm, com a parte de baixo afiada, onde os ramos são enterrados até estarem com apenas 5 cm de fora do solo de forma a criar uma forte estabilização dos terrenos com um raizame bem desenvolvido (Freitas, 2011). Segundo o mesmo autor (2011) as espécies utilizadas são o salgueiro (Salix spp.), tamargueira (Tamarix

africana), loendro (Nerium oleander), choupo (Populus spp.), freixo (Fraxinus angustifolia) entre outros.

Plantação por torrões:

(Figura 64) Esta deve ser realizada no início da fase vegetativa, nunca na época de floração, e tem de se assegurar a respiração das plantas que no caso das que possuem rizomas mesmo quando submersas, o seu arejamento é conseguido através de colmos, que é um tipo de caule (Pereira, 2001).

Enrocamentos: (Figura 65)

Consiste na proteção da margem dos rios e ribeiros com alguma velocidade de corrente através da colocação de pedras de grandes dimensões nas suas margens e entre as ranhuras das pedras estacas de salgueiro (Freitas, 2011). Estes são

utilizados geralmente com um filtro sob os mesmos para evitar as perdas de solo em especial nas bases de socalcos ou degraus, que pode ser feito com cascalho ou um Figura 64 - Exemplo de Plantação de Torrões para a estabilização

de margens de ribeiras (Fonte: Adaptado de Pereira, 2001)

Figura 65 - Exemplo de Enrocamentos aliados a Plantações (Fonte: Adaptado de Pereira, 2001)

79 geotextil mas apenas após o desenvolvimento das raízes da vegetação (Pereira, 2001). Segundo o autor Freitas (2011) as principais vantagens são uma proteção imediata e uma manutenção reduzida, com uma proteção acrescida da vegetação quando desenvolvida; já as desvantagens são a difícil aplicabilidade em sítios de difícil acesso e a necessidade do uso de maquinaria pesada.

Combinação das técnicas construtivas: O uso das diferentes técnicas num local

específico tem de ser equacionado de acordo com o tipo de solo, o gradiente de humidade do mesmo e ainda a velocidade da corrente tendo especial atenção à zona de ligação entre as técnicas distintas (Pereira, 2001).