• Nenhum resultado encontrado

Mapa 22 – Mapa de conforto físico e ambiental da Avenida Engenheiro

2.4. ATRIBUTOS ESPACIAIS DE HOSPITALIDADE URBANA

2.4.3. Legibilidade

O terceiro atributo espacial de hospitalidade urbana diz respeito à legibilidade, que se apresenta como uma condição que contribui à leitura da cidade. A legibilidade significa a facilidade com a qual as partes da cidade podem ser visualmente apreendidas, reconhecidas e organizadas de acordo com um esquema coerente (LYNCH, 1997). O habitante constrói por si mesmo uma imagem física de um lugar com a ajuda de sua experiência e de sua memória.

Para Grinover (2007, p. 146), legibilidade é a qualidade visual de um território, examinada por meio de estudos da imagem mental. Para o autor:

Essa imagem mental é uma referência, é uma estrutura gramatical e sintática que, por analogias e pela construção de um sistema, exprime-se pela codificação de mensagens, cujas interpretações só poderão se dar se os códigos de emissão e de leitura forem compatíveis.

Uma cidade pode ser lida e interpretada a partir de diferentes pontos de vista, por meio de regras e estilos particulares de cada um. Para Grinover (2007, p. 146), “existe uma comunicação

dialógica entre esse determinado edifício e a sensibilidade de um cidadão, que elabora percursos absolutamente subjetivos e imprevisíveis”.

Mas, apesar desse atributo depender em parte da construção social que se dá no tempo, própria dos atributos intangíveis, esta pesquisa entende que os códigos e as mensagens necessários para “ler” e interpretar as grandes cidades podem ser mais objetivos do que subjetivos, e não apenas dependentes de uma experiência pessoal. Afinal, a cidade é lida por códigos arquitetônicos e culturais que nela são utilizados.

Para Lynch (1997), essa imagem é produto tanto da sensação imediata quanto da lembrança de experiências passadas. E seu uso se presta a interpretar as informações e a orientar as ações. O prédio do Masp, por exemplo, é um elemento identificador da cidade, de fácil leitura, que ajuda, por exemplo, o turista a saber que está na Avenida Paulista. Para Lynch (1997, p. 101):

(...) se o ambiente for visivelmente organizado e nitidamente identificado, o cidadão poderá impregná- lo de seus próprios significados e relações. Então se tornará um verdadeiro lugar notável e inconfundível.

Lynch (1997, p. 52) foi um dos primeiros autores a tentar classificar esses códigos. Para o autor, existem cinco elementos urbanos que ajudam na legibilidade de um lugar. Três guardam relação com o atributo de permeabilidade, pois contribuem para o fluxo de pedestres e de veículos. São eles:

(1) As vias: canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial;

(2) Os pontos nodais: pontos ou lugares estratégicos de uma cidade, como junções, locais de intersecção de transporte ou cruzamentos de vias;

(3) Os limites: elementos lineares, fronteiras entre duas fases ou que representam uma quebra na continuidade. Podemos citar algumas estruturas físicas como ferrovias, estradas ou rios.

Os outros dois elementos são mais adequados nesse trabalho à questão da legibilidade, não só porque são relacionados a uma questão visual ou de memória, mas também trabalham com a escala local. São eles:

(4) Os marcos: referências externas, em geral objetos físicos como edifícios, esculturas ou antenas;

(5) Os bairros: regiões médias ou grandes de uma cidade, trechos urbanos que possuem características comuns que os identificam.

Lynch (1997) ainda destaca a importância de se criar:

• “vistas e panoramas” que aumentem a profundidade de visão (como nas ruas axiais, nos grandes espaços abertos e nas vistas elevadas);

• “elementos de articulação” (como focos, marcos militares, objetos penetrantes que explicam visualmente um espaço);

• “concavidade” que expõe objetos mais distantes ao nosso campo visual;

Ou seja, as referências visuais são de extrema importância na leitura da cidade. Assim como a monotonia ou a heterogeneidade arquitetural interferem na leitura de um lugar.

Com uma visão mais artística, Sitte (1992) deposita toda sua

crença na cidade antiga e a maneira como a arte dialogava com a forma urbana. Para o autor, a construção urbana não deveria ser apenas uma questão técnica, mas também artística. Ao criticar a monotonia dos conjuntos urbanos modernos, o autor enaltece as cidades antigas com base na sua “harmonia e no efeito sedutor sobre os sentidos” e critica a cidade moderna com sua “confusão e monotonia”. Já Hillier (1996) acredita que nossa visão de cidade no passado é muito estática e localizada. Para o autor, é preciso substituir por conceitos dinâmicos e globais, que o autor acredita ser possível de atingir através da modelagem configuracional do espaço.

Algumas ruas de cidades europeias, por exemplo, são conhecidas por apresentar uma homogeneidade em sua arquitetura através da implantação de casas de igual tipologia, de mesmo gabarito e todas construídas no mesmo alinhamento do lote. Isso pode ser interpretado de duas maneiras. Para alguns visitantes, essa tipologia pode parecer monótona, mas para outros pode ser extremamente interessante, um fato novo. Moradores da capital paulista, por exemplo, muitas vezes buscam por essa monotonia, pois enfrentam em seu dia a dia uma situação completamente oposta. A heterogeneidade da arquitetura

paulistana é tamanha que muitas vezes ela não contribui para a legibilidade.

Figura 14 - homogeneidade das casas londrinas. Fonte: http://laurobarbosa.com/?m=201110

Figura 15 - A heterogeneidade de tipologias arquitetônicas da Avenida Paulista. Fonte: http://hamburguerperfeito.blogspot.com.br/2011/02/30-anos-de-

mcdonalds-na-av-paulista.html

Como é possível verificar nas fotos acima, a presença de marcos urbanos presentes na Avenida Paulista, em São Paulo, ajudam na leitura da cidade. É possível avistar o edifício em formato de pirâmide da FIESP ou o edifício vermelho vazado do MASP. Mas isso se refere a uma escala local, ou seja, volta-se para a escala do pedestre. Quando nos deparamos com uma vista da cidade de São Paulo inteira, não há tipologia que consiga ajudar o visitante na leitura da cidade, ela é muito heterogenia.

Figura 16 - Vista da cidade de São Paulo – zona sul. Fonte: http://www.imagens.usp.br/?attachment_id=15319

Dessa forma, pode-se dizer que a variedade na tipologia arquitetônica pode contribuir na legibilidade do lugar, porém, apenas na escala local, do pedestre. Cullen (2009) defendia que as

emoções e sensações diferenciadas que afloram durante determinado percurso linear resultam de contrastes visuais expostos ao observador. Para o autor, o meio ambiente construído suscita “reações emocionais” dependentes ou não de nossa vontade. E, numa tentativa de investigar como isto se processa, o autor cita três aspectos a se considerar:

1) Óptica: diz respeito à visão serial, ou à sequência de imagens que se forma ao atravessar a cidade. Ou seja, a cidade se constitui como um todo, mas na perspectiva visual da paisagem urbana surge de uma maneira fragmetada;

2) Local: diz respeito às nossas reações perante nossa posição no espaço;

3) Conteúdo: relaciona-se com a própria constituição da cidade, como sua cor, sua textura, escala, estilo, natureza, personalidade e tudo o que a individualiza;

Ou seja, mais uma vez, trata-se da escala local, do pedestre. Assim como Cullen (2009), Belgiojoso (1988) considera a cidade como um sistema de volumes que percebemos como um todo, mas

a percepção dos espaços complexos, que ele atribui às ruas e as praças, se dá por elementos de sucessão e pela memória. Para o autor, se seguimos um determinado percurso, impressões são adicionadas em cada etapa do percurso, de modo que cada impressão subsequente é condicionada pela anterior.

Figura 17 - A sequência de imagens mostra a apreensão do lugar ao longo do percurso.

Belgiojoso (1988) afirma que dependendo do percurso pode haver tanto uma sensação de monotonia - quando os elementos começarem a se repetir - quanto uma sensação de desordem, quando os critérios não estiverem claros. É preciso que haja um equilíbrio por meio de elementos que passem uma impressão de variedade e que tenham relações claras entre eles.

A disposição dos edifícios no lote também pode contribuir para a leitura do lugar. Por exemplo, a falta de recuos frontais e laterais do centro das cidades nos ajuda a saber que estamos num bairro antigo. Assim como se estivermos em um lugar em que as casas estão implantadas no centro de seus lotes, saberemos que estamos numa zona residencial.

A concentração de certos usos também ajuda na leitura de uma rua. Para Lynch (1997), as vias principais devem ter alguma qualidade singular que as diferencie dos canais de circulação circundantes. E para tanto, o autor sugere uma concentração de algum uso ou alguma atividade especial ao longo de suas margens, ou uma qualidade espacial característica ou uma textura especial de pavimento ou de fachada, um sistema particular de iluminação ou uma vegetação típica.