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Legislações estaduais acerca do procedimento da revista íntima

4.1 LEGISLAÇÕES ACERCA DA PRÁTICA DA REVISTA ÍNTIMA

4.1.4 Legislações estaduais acerca do procedimento da revista íntima

Diante da evidência de que o procedimento muito desrespeita o ser humano e sua dignidade, alguns Estados brasileiros já proibiram absolutamente ou regulamentaram a prática da revista íntima em seus estabelecimentos prisionais, conforme prevê o Informativo Rede Justiça Criminal (REVISTA..., 2014).

Minas Gerais possui as Leis Estaduais nº 12.492, de 16 de abril de 1997 e 16.302, 07 de agosto de 2006, que dispõe sobre o sistema de revista nos estabelecimentos prisionais do Estado e que regulamenta a instalação de equipamentos para identificação dos visitantes nos estabelecimentos penitenciários de regime fechado do Estado, respectivamente. Nos estabelecimentos prisionais, a aquisição da aparelhagem que permite a identificação dos visitantes fica por conta do Estado, que utiliza os recursos do Fundo Penitenciário Estadual (MINAS GERAIS, 1997).

A Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro regulamentou o assunto na Resolução nº 333, de 13 de novembro de 2009, que prevê que a revista será efetuada, prioritariamente, com o uso de eletrônicos, a fim de proporcionar a segurança do estabelecimento prisional e a incolumidade física dos servidores, presos, visitantes e prestadores de serviços. A revista minuciosa deverá ser realizada com respeito à dignidade humana, evitando-se constrangimentos desnecessários, devendo o servidor que praticar excesso responder pelo abuso cometido nas esferas administrativa e criminal (RIO DE JANEIRO, 2009).

A resolução também dispõe sobre a revista eletrônica, que será realizada com o uso de equipamentos como detectores de metal fixo e portátil, aparelhos de raios-x, scanner corporal, esteiras, entre outras tecnologias existentes. A revista íntima somente será realizada quando houver fundada suspeita de que o visitante está portando objeto ou substância proibida (RIO DE JANEIRO, 2009).

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Em maio do ano corrente, no Estado do Rio de Janeiro, foi sancionada a Lei nº e 7.010, de 25 de maio de 2015, que dispõe sobre o sistema de revista de visitantes nos estabelecimentos prisionais do Estado e a Lei nº 7.011, da mesma data, que trata o sistema de revista de visitantes nos estabelecimentos de atendimento ao cumprimento de medidas sócio- educativas privativas de liberdade, garantindo que o procedimento invasivo não continue acontecendo. As leis reforçam o método de revista previsto na resolução, utilizando revista mecânica. A revista minuciosa só será permitida em casos de fundada suspeita. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária já recebeu, por dotação da Assembleia Legislativa do Estado, a quantia de 19 (dezenove) milhões de reais para a aquisição de 33 scanners corporais que ajudarão a conferir a posse de objetos ilícitos com os visitantes (RIO DE JANEIRO, 2015a).

No Estado do Rio Grande do Sul existe a Portaria nº 12, de 30 de maio de 2008 da Superintendência dos Serviços Penitenciários, que estabelece o Regulamento Geral para Ingresso de Visitas e Materiais em Estabelecimentos Prisionais da Superintendência dos Serviços Penitenciários. Tal portaria determina que todos que entrarem nos estabelecimentos prisionais devem ser submetidos a uma revista pessoal e minuciosa e também uma revista íntima quando o agente responsável pelo procedimento julgar necessário ou mediante fundada suspeita (RIO GRANDE DO SUL, 2008).

Nos casos em que é necessária a revista pessoal e minuciosa, a realização do procedimento será por inspeção visual e por detector de metais ou então por equipamento próprio para a detecção de materiais ilícitos. A revista sempre deverá ser efetuada por profissional do mesmo sexo do visitante. Os menores também passam pela revista, desde que na presença de seu responsável. Criança com fraldas deverão tê-las substituídas pelo seu responsável, mediante inspeção do funcionário do estabelecimento prisional (RIO GRANDE DO SUL, 2008).

O Estado da Paraíba possui a Lei Estadual nº 6.081/2010 que estabelece diversas restrições à revista vexatória. Dispõe a referida lei que a revista dos visitantes será feita com respeito à dignidade humana e que a revista íntima estará excluída da rotina de revista padronizada, exceto em casos de forte suspeita, mediante autorização da direção prisional (REVISTA..., 2014)

Espírito Santo regulamentou a revista por meio da Portaria 1578-S/2012 da Secretaria de Justiça, que estabelece diretrizes e procedimentos para a realização de revista em visitantes para acesso aos Estabelecimentos Penais vinculados à Secretaria de Estado da Justiça do Espírito Santo. A revista é permitida deste que não seja vexatória. Deve o visitante

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passar por revista mecânica e, se houver uma motivação para ser feita uma revista minuciosa deverá ser submetido ao Judiciário para autorização. (REVISTA..., 2014)

A Agência Goiana do Sistema de Execução Penal estabeleceu a Portaria nº 435, de 19 de julho de 2012, que dispõe sobre o ingresso de pessoas nos estabelecimentos prisionais do Estado de Goiás, estabelece que a revista seja feita de forma manual ou com utilização de equipamentos que permitam identificar objetos ilícitos. Para a realização de revista pessoal é necessária concordância da pessoa que passará pelo procedimento ou de seu representante legal. Em casos de recusa, deverá ser registrado por escrito o motivo da suspeita e a decisão de proibição de entrada. Se o visitante, após se recusar a passar pela revista, ainda tiver interesse em ingressar no estabelecimento prisional, deverá ser encaminhado à Superintendência de Política Técnico-Científica para se submeter a uma perícia. Se eliminada a suspeita, poderá retornar ao estabelecimento prisional para efetuar a visita (GOIÁS, 2012).

São Paulo sancionou, em 12 de agosto de 2014, a Lei nº 15.552, que proíbe a revista íntima dos visitantes nos estabelecimentos prisionais do Estado. Todo visitante que ingressar no estabelecimento prisional será submetido à revista mecânica, a qual deverá ser executada em local reservado, por meio da utilização de equipamentos capazes de garantir a segurança aos estabelecimentos prisionais, tais como scanners corporais, detectores de metais, aparelhos de raios X e outras tecnologias, desde que preservem a integridade física, psicológica e moral do visitante revistado. Em casos em que houver a fundada suspeita de que o visitante leva consigo objeto ilícito, deverá ele ser submetido novamente à revista mecânica. Se persistir a suspeita, o visitante será impedido de entrar no estabelecimento prisional. Apesar de aprovada há mais de seis meses, a Lei vem sendo desrespeitada (SÃO PAULO, 2014b).

No Estado do Amazonas, o Juiz de Direito Titular da Vara de Execuções Penais da Comarca de Manaus, Luís Carlos Honório de Valois Coelho, usando das atribuições que lhe são conferidas por lei, estabeleceu a Portaria nº 007, de 21 de agosto de 2014, que proíbe a revista vexatória nos estabelecimentos penais da Capital do Amazonas. Resolve, na referida portaria, que é proibido qualquer ato que vise fazer com que os visitantes fiquem nus, façam agachamentos, submetam-se a exames clínicos invasivos ou tenham suas partes íntimas revistas. Estabelece, ainda, que a revista deve ser realizada por equipamentos eletrônicos e, nos casos de fundada suspeita, a visita poderá ser no parlatório (AMAZONAS, 2014).

Em maio de 2013, em Santa Catarina, havia a Portaria 16/2013, que foi assinada e publicada por João Marcos Buch, Juiz de Direito da Vara de Execução Penal de Joinville. A portaria regulamentava o procedimento no Presídio Regional de Joinville e da Penitenciária

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Industrial de Joinvile. Porém, foi revogada cinco meses depois, por meio de mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Justiça Estado. Em março deste ano, o Tribunal de Justiça do Estado acatou a ação movida pela Defensoria Pública do Estado para suspender as revisas íntimas nas unidades prisionais catarinenses. Poucos dias após a concessão, a liminar foi suspensa, uma vez que a Procuradoria-Geral do Estado entrou com mandado de segurança contra a liminar. Em seu recurso, o Procurador-Geral do Estado utilizou o argumento de que a proibição é um perigo para a sociedade e para o próprio sistema prisional, que teriam que aguentar uma situação de insegurança diante da possibilidade da entrada de armas e outros objetos ilícitos nas unidades prisionais (PEREIRA, 2015).

Conforme a decisão do Desembargador Sérgio Baasch Luz:

Creio que a balança da ponderação deve, neste caso, pender para o lado da segurança pública, mormente porque é pernicioso demais permitir que pessoas, utilizando-se de subterfúgios para burlar a segurança, possam acessar as unidades prisionais portando armas, telefones móveis ou materiais ilícitos, como bem sabemos que acontece. Isso significaria colocar em xeque a segurança do sistema carcerário e da sociedade em geral. (PEREIRA, 2015).

Como demonstrado, alguns Estados trataram de regulamentar o assunto e procuraram adequar seus estabelecimentos prisionais de forma que a revista aconteça, mas sem que a dignidade do visitante seja atingida, ao mesmo tempo em que garante a ordem pública. Mas a questão não está resolvida.