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A maioria da população não entende a complexidade da segurança pública, acreditando tratar-se de assunto especificamente de polícia. Essa postura repercute nas autoridades e as consequências dessa desinteligência estão presentes em todo lugar, à vista de todos. A perplexidade vai tomando conta aos poucos, dado que a violência e a criminalidade crescem e as medidas adotadas vêm se mostrando cada vez menos eficazes. (CÂMARA, 2002).

Portella (2005, p. 11) explica que a “palavra segurança é derivada dos advérbios latinos secure e secures, originalmente significando sem preocupação, em segurança ou isento de perigo”. Significa dizer um Estado com ausência de perigo, utilizando uma atividade para afastamento de riscos e perigos e para denominar os próprios instrumentos de proteção (PORTELLA, 2005).

Tal instituto está presente no artigo 144 da Constituição Federal, prevendo que a “segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidades de todos, é exercida para a prevenção da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (BRASIL, 1988) Coordenar a área da segurança pública é um desafio que deve ser compartilhado com a sociedade, não para isentar a responsabilidade do Estado em suas decisões, mas para encontrar o caminho certo, o melhor rumo para todos (CÂMARA, 2002).

Sobre os conflitos sociais, assim critica Sapori (2007, p.17, grifos do autor):

Os conflitos sociais oriundos da dispersão de comportamentos desviantes são manejados, nas sociedades modernas, por organizações públicas especializadas na efetivação de mecanismos de controle social. Do ponto de vista institucional, os Estados democráticos contemporâneos procuram garantir a manutenção da ordem mediante a obediência de diversos institutos legais que estabelecem os parâmetros de seu poder de atuação. Vigora no Estado democrático de direito, nessa ótica, a máxima ordem sob a lei.

De um modo geral, Dantas Filho (2009, p. 11) explica que “os governantes não dão a devida prioridade à segurança pública, que se ressente, inclusive, da crise da falta de autoridade em todos os níveis”.

Conforme Dantas Filho (2009, p. 11-12):

Não são alocados os recursos necessários para a renovação do aparato policial – normalmente absoleto – e para a implantação de um sistema presidiário adequado em substituição ao atualmente caótico. A remuneração do pessoal de nível inferior é irrisória e a corrupção mina os alicerces dos órgãos de segurança pública. Além disso, as faltas de incentivos e de sensibilidade para a gravidade do problema contribuem, sobremodo, para a redução da motivação profissional daqueles que têm a árdua missão de zelar pela ordem pública

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Segundo Dantas Filho (2012, p. 12) a segurança “deve garantir a preservação de valores de toda ordem e deve responder as seguintes perguntas: Qual o valor a garantir? Quem garante? Contra o que ou quem se garante? Qual o meio empregado para garanti-lo?”.

A Segurança Pública garante a Ordem Pública por meio do uso da força da sociedade, administrado pelo Poder de Polícia (DANTAS FILHO, 2012). Ordem pública, definida por Meirelles (1986, p.156) é a “situação de tranquilidade e normalidade que o Estado assegura – ou deve assegurar – às instituições e a todos os membros da sociedade, consoante as normas jurídicas legalmente estabelecidas”

Assim, observa-se que “ordem pública” é um conceito amplo, possuindo diversos sentidos e atuações do poder estatal, já que este tem a função de mantê-la, resguardado pelo poder de polícia (SULOCKI, 2007).

Explica Sulock (2007, p. 47) que:

Ordem Pública e poder de polícia são figuras que andam juntas, posto que é pelo poder de polícia que o Estado, mais especificamente o Poder Executivo, através da Administração Pública, intervém na sociedade civil para limitar as liberdades individuais dentro do quadro da ordem vigente.

A conservação da ordem pública é um dos essenciais bens coletivos da sociedade moderna, tendo como objetivo de garantir o exercício dos direitos individuais, manter a estabilidade das instituições e assegurar o regular funcionamento dos serviços públicos, como também impedir “danos sociais”, conceituado por Caetano (1977, p. 342 apud DANTAS FILHO, 2009, p. 13) como “os prejuízos causados à vida em sociedade ou que ponha em causa a convivência de todos os membros dela”.

É substancial que o Estado consiga uma solução adequada para o impasse de controle existente entre a liberdade individual versus regramento social, para então explicar esse impasse de controle que, segundo Sulocki (2007, p. 47) traduz-se na “eterna dialética do público e do privado, que se completa na do comando e da obediência, em que o poder de polícia é a forma especial de que se reveste a força coerciva para estabelecer o equilíbrio entre os interesse público e o exercício de liberdades e direitos individuais”. Para estabelecer esse equilíbrio é necessário que o Estado exerça uma função de mediação das relações sociais. Tal mediação é neutra, pois a verdade se constitui em fiança, e como fiança, é garantia de reprodução dessas relações de forças presentes na sociedade (SULOCKI, 2007)

Assim doutrina Sapori (2007, p. 18):

O combate à criminalidade constitui uma atribuição estruturante do Estado nas sociedades contemporâneas. Além de prover saúde e educação, bem como outros serviços que garantem o bem-estar social, deve o Estado zelar pela preservação do patrimônio dos cidadãos e de suas respectivas integridades físicas.

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Conforme observa Swan (1992, apud SAPORI, 2007, p. 18) um bem se torna coletivo “quando o Estado assume a responsabilidade pela sua provisão, e a população, principalmente as elites, se dispõe a pagar uma taxa para que o serviço seja oferecido de forma coletivizada, e não mais individualizada”.

Assim decorrem os vários conceitos de Ordem Pública, no tempo e no espaço, sempre vinculando a ideia de interesses públicos e de proteção à segurança, à propriedade, à saúde pública, aos bons costumes, ao bem-estar coletivo e individual, bem como à estabilidade das instituições em geral (DANTAS FILHO, 2009).

Dantas Filho (2009, p. 14) ainda explica que:

A Ordem Pública não é figura jurídica, nem instituição política ou social. É situação fática de respeito ao interesse da coletividade e aos direitos individuais que o Estado assegura, pela Constituição da República e pelas leis, a todos os membros da comunidade.

A sociedade sempre acreditou nos resultados da repressão. O problema surgia, anulavam-se as consequências, mas as origens não eram bem solucionadas, caracterizando descaso no que diz respeito às medidas preventivas (DANTAS FILHO, 2009).

Os Estados que tardaram a criação de estratégia de sua segurança pública, acabaram por tornarem-se incapazes de sanar seus impasses nesta área e acabam requerendo ajuda, principalmente financeira, do governo central (DANTAS FILHO, 2009).

Os legisladores, ao promulgarem a Constituição Federal de 1988, já sabedores das fragilidades do aparato existente nos Estados membros, para garantir a ordem pública estabeleceram, no inciso III do artigo 34, que a União não intervirá nem nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para pôr termo ao grave comprometimento da Ordem Pública, deixando somente esta brecha para o emprego das Forças Armadas (DANTAS FILHO, 2009, p. 18).

O Estado não tem logrado resultados satisfatórios com suas políticas públicas de segurança do cidadão. A noção de política pública, segundo Sapori (2007, p. 69) pressupõe “a existência de uma esfera da vida que não é privada ou puramente individual, e sim sustentada pelo que é comum e público. E, sendo comum em termos da comunidade política, cabe ao Estado a responsabilidade principal, se não exclusiva, por sua preservação”.

A população compreende a dimensão da atividade humana, que carece de intervenção, regulação social e governamental. À medida que certos bens vão se coletivizando, passam a ser objeto de políticas públicas. É no processo de proeminência institucional do Estado-nação enquanto organizador de bens coletivos que aumenta e expectativa social de que cabe aos governantes solucionar “problemas” utilizando-se do aparato administrativo-burocrático (SAPORI, 2007).

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Desse ponto de vista, espera-se que os políticos tenham políticas (policies) ou mesmo que planejem e executem políticas (policy-makers). Isso não significa que as políticas públicas se caracterizem necessariamente por um alto grau de racionalidade, sendo planejadas e executadas de forma sistemática, O caráter racional e sistemático das políticas públicas é muito mais uma expectativa social ou mesmo de muitos estudiosos de que elas assim sejam, de modo que têm uma perspectiva eminentemente normativa.

Aspecto de grande relevância no assunto é a apreciação teórica de políticas públicas. Refere-se a conceituar as distinções existentes entre a esfera pública e a esfera privada. Lembrando que no que diz respeito à construção de bens coletivos, não existem determinados espaços da vida em sociedade que seja inerente de interesse público ou de interesse privado (SAPORI, 2007).

Diante do que se constata nos dias atuais, chega-se à conclusão de que a segurança pública total é utópica. A segurança é reputada dever do Estado, principalmente dever de polícia e dos órgãos da justiça penal, com o objetivo de prevenir e reprimir comportamentos criminosos, nocivos aos interesses do Estado e à integridade física, moral e patrimonial dos cidadãos. É imprescindível refletir sobre esta questão, uma vez que se situa na relação entre sociedade e o Estado.

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4 REVISTA ÍNTIMA EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS: CONFLITO

ENTRE OS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA SEGURANÇA PÚBLICA

Como já exposto no decorrer deste trabalho, a revista íntima é prática comum na maior parte dos estabelecimentos prisionais brasileiros.

A Constituição Federal de 1988, preocupada em estabelecer e propiciar um tratamento digno a todos os seres humanos atribuiu ao Poder Público dever de sua proteção, por meio do dispositivo presente no artigo 1º inciso III (BRASIL, 1988).

O procedimento da revista íntima é associado ao dispositivo constitucional da segurança pública, previsto no artigo 144, caput, uma vez que sua prática é mantida em estabelecimentos penais com o objetivo de evitar com que as pessoas presas tenham acesso a objetos proibidos e, com eles, causar danos à sociedade (BRASIL, 1988).

O presente capítulo terá por objetivo descrever as observações que serão feitas acerca do conflito constitucional existente no tema, a legislação infraconstitucional que versa sobre o procedimento, assim como , ainda, sobre uma possível resolução para a lacuna constitucional, assim como sobre outras situações a serem levadas em consideração.