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No sistema penitenciário brasileiro

3.2 PRÁTICA DA REVISTA ÍNTIMA EM ESTABALECIMENTOS PRISIONAIS

3.2.1 No sistema penitenciário brasileiro

A revista íntima ou revista minuciosa, como também é conhecida, é o procedimento ao qual são submetidas as pessoas que pretender visitar algum familiar ou amigo em penitenciárias, presídios ou centros de cumprimento de medidas socioeducativas. Essa prática é conhecida também como revista vexatória, exatamente pelo seu caráter humilhante e abusivo. Essas pessoas referidas - crianças, adultos e idosos - são ordenadas por agentes penitenciários a ficar nuas, agachar diversas vezes sobre espelhos, muitas vezes terem seus órgãos genitais inspecionados, sem observância de qualquer cuidado mínimo de higiene, expondo o visitando ao risco de doenças transmissíveis. A visita ao preso é direito legalmente garantido e é fundamental para a sua reintegração social, conforme prevê o art. 41, inciso X, da Lei de Execuções Penais. (BRASIL, 1984).

Nas palavras de Mirabete (2007, p.124):

Fundamental ao regime penitenciário é o princípio de que o preso não deve romper seus contatos com o mundo exterior e que não sejam debilitadas as relações que o unem aos familiares e amigos. Não há dúvidas de que os laços mantidos principalmente com a família são essencialmente benéficos para o preso, porque o levam a sentir que, mantendo contados, embora com limitações, com as pessoas que se encontram fora do presídio não foi excluído da comunidade. Dessa forma, no momento em que for posto em liberdade, o processo de reinserção social produzir- se-á de forma natural e mais facilmente, sem problemas de readaptação a seu meio familiar e comunitário [...].

A família é de suma importância para o processo de ressocialização, principalmente a mulher, uma vez que é ela quem acompanhará o apenado durante toda a condenação. Muitas viajam longas distâncias para visitar seus parentes e amigos, formando grande filas nos portões dos estabelecimentos prisionais em dias de visitas. Na maior parte dos presídios que utilizam o procedimento, a grande maioria dos visitantes é constituída de mulheres, sejam elas mães, irmãs, filhas, esposas ou companheiras, conforme a figura abaixo, que demonstra o número de pessoas cadastradas na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária de São Paulo – SAP, para realização de visitas em estabelecimentos prisionais. (SÃO PAULO, 2014a).

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Os visitantes costumam levar materiais para a manutenção do próprio preso, tais como produtos de limpeza, higiene e alimentos, que passam por uma revista minuciosa a fim de se evitar a entrada de qualquer objeto proibido. Em alguns locais há um mini scanner pelo qual se passam o alimento, já em outros, por não haver este equipamento, usam-se garfos e facas para furar e detectar possíveis objetos ilícitos. Após verificar todos os alimentos, os visitantes, estes que acompanham todo o cumprimento da pena, serão revistados de forma vexatória e com métodos medievais de revista (PAULA, SANTANA, 2012).

Para que a revista seja realizada, se faz necessário que o visitante retire toda a roupa em frente de um agente determinado a efetuar o procedimento. Deve o visitante agachar-se por diversas vezes, diante de um espelho, para comprovar que não escondem objetos ilícitos e, não raras exceções, ocorre a manipulação dos genitais pelos próprios agentes que, por regra, devem ser do mesmo sexo que a pessoa revistada, conforme regulamente a Portaria nº 132,26 de setembro de 2007 do Ministério da Justiça (PAULA, SANTANA, 2012).

Explica Doolan (2007, s.p. apud PAULA e SANTANA, 2012, p. 269) que “as jovens [mulheres dos apenados que passam pelo procedimento] dizem entender a necessidade da revista a que são submetidas, mas discordam da maneira como algumas agentes penitenciárias exageram nos procedimentos”.

O procedimento foi implementado em presídios e penitenciárias brasileiras pelo Estado com suposto objetivo preventivo, a fim de evitar a entrada de objetos não permitidos,

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tais como armas, drogas e aparelhos telefônicos portáteis. O familiar é visto e acaba constituído como um suspeito, por ser parente de uma pessoa presa. O Poder Executivo dos Estados são os responsáveis por essa prática, além das demais autoridades responsáveis pela administração penitenciária (SÃO PAULO, 2014a).

No ano de 2012, foram realizadas 3.407.926 (três milhões, quatrocentas e sete mil, novecentas e vinte e seis) visitas nas 159 (cento e cinquenta e nove) unidades prisionais do estado administradas pela SAP (SÃO PAULO, 2014a).

Abaixo se têm alguns dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP) acerca das revistas realizada em determinado período e das apreensões ocorridas.

Somando-se armas, drogas e aparelhos celulares encontrados, o número de apreensões corresponde a 0,023% do número de visitas, o que significa que o procedimento invasivo de revista genital das unidades prisionais apenas logrou encontrar algum objeto proibido cerca de duas vezes a cada dez mil visitantes revistados em 2012 (SÃO PAULO, 2014a).

No ano de 2013, relativo ao período entre janeiro e setembro, a relação entre o número de apreensões de objetos ilícitos e o número de visitações é bastante similar. Foram realizadas no período 2.233.769 (dois milhões, duzentas e trinta e três mil, setecentas e sessenta e nove)

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visitas nas 159 (cento e cinquenta e nove) unidades Prisionais do Estado administradas pela Secretaria de Administração Penitenciária (SÃO PAULO, 2014a).

Contando todas as armas, drogas e aparelhos celulares no período, o número de apreensões corresponde a 0,016% do número de visitas, o que significa que o procedimento invasivo de revista genital das unidades prisionais apenas logrou encontrar algum objeto ilícito cerca de uma vez e meia a cada dez mil visitantes revistados em 2013 (SÃO PAULO, 2014a).

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Dessa forma, constatou-se que o número de apreensões feitas dentro dos presídios é quase quatro vezes maior que o número de apreensões realizadas com visitantes e, equivalentemente, é ínfimo o número de visitantes flagrados nessa situação (REVISTA..., 2014).

Assim relata Mariath (2008, s.p.):

A realização desse tipo de revista pessoal atua como instrumento de intimidação, uma vez que o próprio Estado informa que o número de apreensões de objetos encontrados com visitantes [...] é extremamente menor daqueles encontrados nas revistas realizadas pelos policiais nas celas, indicando que outros caminhos ou portadores, que não são os visitantes, disponibilizam tais produtos.

Ademais, há um constrangimento do próprio País, dado que as revistas íntimas vexatórias, com desnudamento e inspeção genital, são consideradas práticas ilegais pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgãos a cuja jurisdição internacional submete-se o Brasil por força da Internalização do Pacto de San Jose da Costa Rica (REVISTA..., 2014).

Defronte do que foi explanado acerca do procedimento, observa-se que a revista acontece em nome da segurança pública, utilizando métodos, ainda que, degradantes para o visitante, com uma finalidade de efetivar a segurança e a ordem dentro dos estabelecimentos prisionais.

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