• Nenhum resultado encontrado

Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário

4.1 LEGISLAÇÕES ACERCA DA PRÁTICA DA REVISTA ÍNTIMA

4.1.3 Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em Assembleia geral da Organização das Nações Unidas, em 1948. Possui o objetivo de atingir todos os povos e nações para promover, através do ensino e da educação, o respeito a esses direitos e

42

liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, assegurar o seu reconhecimento universal efetividade, seja relativamente aos povos dos próprios Estados-Membros, seja quanto aos povos dos territórios sob sua jurisdição (DECLARAÇÃO..., 2009).

O artigo V da referida declaração dispõe que “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.” (DECLARAÇÃO..., 2009).

O Pacto Internacional sobre Direitos Políticos e Civis, ratificado na Assembleia Geral das Nações Unidas em 16 de dezembro de 1966, reconhece que a dignidade é inerente à pessoa humana, sendo os direitos descritos no pacto decorrente desta dignidade. Prevê o artigo 7 que “ninguém será submetido à tortura nem a pena ou tratamentos cruéis, inumanos ou degradantes.” (BRASIL, 1992a).

A Declaração dos Direitos do Homem, em seu artigo 12, dispõe que “ninguém sofrerá intromissões na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda pessoa tem direito à proteção da lei.” (REVISTA..., 2014).

A Convenção Americana de Direitos Humanos, também chamado de Pacto de San José da Costa Rica, é um tratado internacional entre os países-membros da Organização dos Estados Americanos, subscrito durante a Conferência Especializada Interamericana de Direitos Humanos, em 22 de novembro de 1969, na cidade de San José da Costa Rica; entrou em vigor em 18 de julho de 1978 e foi ratificado pelo Brasil em setembro de 1992. É uma das bases mais importantes do sistema interamericano de proteção aos Direitos Humanos (BRASIL, 1992b).

O artigo 5º da referida convenção prevê que:

Artigo 5º - Direito à integridade pessoal

Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. 3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente. [...] (BRASIL, 1992b).

Obrigar a esposa e a filha adolescente de um preso a ficarem nuas para passarem pelo procedimento e terem a genitália inspecionada é considerado uma violação à Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conforme previsto no Caso X e Y Vs. Argentina, de 1996 (REVISTA..., 2014):

La responsabilidad por violación del derecho:

A la integridad personal, a la protección de la honra y la dignidad, y derecho de la familia de “X” e “Y” (arts. 5, 11, 17 CADH) y el del niño (art. 19 CADH) respecto de “Y”. Todo en relación con art.1.1 CADH (obligación de respetar y garantizar los derechos consagrados en la CADH)

43

Reconoce que:

El Estado tomó medidas para modificar su sistema penitenciario, e iniciativas para el cumplimiento de algunas recomendaciones del Informe N1 16/95, en concreto encuanto a la necesidad de establecer por ley lãs restricciones a los derechos y garantías consagrados enla CADH

Recomienda al Estado argentino que:

Adopte medidas legislativas o de otro carácter para ajustar sus previsiones a las obligaciones establecidas por la CADH. Informe del proceso de estudio y sanción de esas medidas. Compense a las víctimas adecuadamente (INSTITUTO…, 2002).

O preso também não pode ser submetido à revista íntima que ofenda sua dignidade, conforme foi determinado pela Corte Europeia de Direitos Humanos, no Caso Loré Vs. Holanda, em 2003, e a Organização das Nações Unidas, nas Regras de Bangkok, em 2010 (REVISTA..., 2014).

Para a Organização dos Estados Americanos (OEA), as revistas devem ser realizadas de forma compatível com o tratamento digno que todo ser humano deve receber, respeitando os direitos fundamentais (SÃO PAULO, 2014a).

Para isso, inspeções anais e vaginais devem ser proibidas por lei, conforme prevê o Princípio XXI, dos Princípios e Boas Práticas para a Proteção das Pessoas Privadas de Liberdade nas Américas:

Os exames corporais, a inspeção de instalações e as medidas de organização dos locais de privação de liberdade, quando sejam procedentes em conformidade com a lei, deverão obedecer aos critérios de necessidade, razoabilidade e proporcionalidade. Os exames corporais das pessoas privadas de liberdade e dos visitantes dos locais de privação de liberdade serão praticados em condições sanitárias adequadas, por pessoal qualificado do mesmo sexo, e deverão ser compatíveis com a dignidade humana e o respeito aos direitos fundamentais. Para essa finalidade, os Estados membros utilizarão meios alternativos que levem em consideração procedimentos e equipamento tecnológico ou outros métodos apropriados. Os exames intrusivos vaginais e anais serão proibidos por lei. As inspeções ou exames praticados no interior das unidades e instalações dos locais de privação de liberdade deverão ser 26 realizados por autoridade competente, observando‐se um procedimento adequado e com respeito aos direitos das pessoas privadas de liberdade. (COMISSÃO..., 2009).

Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que pode responsabilizar internacionalmente o Brasil, revistar a genitália é uma forma de violência contra a mulher e, por seus efeitos, constitui tortura, conforme decisão no Caso Penal Castro Castro Vs. Peru, de 2006:

Las revisiones o inspecciones vaginales de las presas enel contexto de requisas […] llevadas a cabo por policías varones encapuchados, usando fuerza, y sinotro propósito que la intimidación y abuso de ellas constituyeron flagrantes violaciones a los derechos de las presas, constituyendo violencia contra La mujer”. Asimismo, lãs revisiones vaginales practicadas a la visita femenina de los sobrevivientes “en total ausencia de regulación, practicada por personal policial y no de salud, y como una medida primera y no de último recurso enel objetivo de mantener La segurida den la prisión constituyó violencia contra la mujer. (CORTE..., 2006)

44

Durante uma visita ao Brasil, em 2000, o Relator Especial da Organização das Nações Unidas – ONU contra tortura recomendou que fossem tomadas medidas que assegurassem que a revista do visitante respeitasse sua dignidade (REVISTA..., 2014).

Os tratados internacionais se posicionam no sentido de que deve haver respeito ao ser humano e sua integridade, devendo os Estados-membros agir de forma a propiciar situações que evitem a exposição pessoal, bem como aplicar políticas públicas com tais objetivos.