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Leitura e escrita no Moodle: tecendo a trama dos sentidos

Narrar as experiências de leitura e escrita que se processaram no Moodle constitui importante possibilidade de partilha com outros educadores, de modo a contribuir para a construção de uma nova acepção do ato de ensinar-aprender, bem como para a compreensão da lógica desses processos de leitura e escrita que se desenvolvem nos ambientes virtuais de aprendizagem.

Vivências recentes de leitura/produção de texto no Moodle, com graduandos de Letras, têm nos mostrado que, quando é possível ao professor rever o caminho construído pelo aluno, poderá ser identificado com mais facilidade o momento em que ele se afastou dos objetivos, para ajudá-lo a repensar suas ações e tomar novo rumo.

A primeira experiência ocorreu com vinte sujeitos graduandos de Letras do Departamento de Educação do Campus XIV – UNEB, Conceição do Coité, através do curso de extensão “Leitura e escrita nos labirintos hipertextuais”, o qual teve uma duração de quatro meses. A segunda experiência, iniciada em final de março de 2006, e concluída em

final de abril do mesmo ano, envolveu quarenta e seis sujeitos, alunos de Letras do Programa “Programa Especial de Formação de Professores” – PROESP, Pólo de Conceição do Coité, através do curso de extensão “Práticas de leitura na Internet”, que somou uma carga horária total de duzentos e setenta horas. Esse exercício de leitura/escrita engendrou um outro movimento e envolvimento dos participantes com o ato de aprender, que possibilitou “[...] articular a leitura com o hipertexto como uma rota nova de conhecimentos”.31Entretanto, é preciso que observemos aqui que,

na segunda experiência, houve dificuldades na realização dessas práticas, devido a um grande número de alunos (quarenta e seis) para um número menor de computadores em funcionamento, no laboratório de informática onde ocorreu o curso.

A concepção das práticas de leitura e escrita no Moodle e a postura dos sujeitos que a engendram, de fato, deslocaram-se de uma posição individual para uma construção de envolvimento coletivo e com valor de socialização, visto que a estruturação do ambiente incentivou os sujeitos à produção do conhecimento, e não à reprodução, porque os inseriu num sistema de relações em que a significação ocorria na interação e nas ações desses sujeitos sobre o objeto do conhecimento.

Essas experiências revelaram que as atividades de leitura e escrita no Moodle poderão ser de grande importância no auxílio à construção do conhecimento e no engendramento de propostas que possam dinamizar o ensino-aprendizagem da leitura e escrita, a fim de que estas se tornem práticas enraizadas na vida dos sujeitos aprendentes. Através das interfaces fórum, “chat”, diário, “wiki”, o Moodle poderá promover, entre os sujeitos que nele vivenciam a leitura e escrita, um novo modo de experimentar essas práticas, que se apresentam de forma plurivocal, inacabada, sugerindo continuidade, construção infinita.

31 Fala de um dos participantes no chat que trouxe à discussão o tema “Leitura e escrita na escola: da linearidade à hipertextualidade”

Compreendemos que a leitura e escrita como práticas sociointerativas tem sua origem na cultura do impresso e dela não pode prescindir, porém, reconhecemos que o Moodle, como espaço de escrita individual ou coletiva, têm amplificado e potencializado essas práticas, dando uma maior concretude às situações de construção do conhecimento, nas quais professor e alunos, e estes entre si, têm oportunidade de discutir, relacionar, construir, pesquisar, de construir trajetórias de aprendizagem que trazem no seu bojo o diálogo e a descoberta, pelo sujeito, de si, do outro e do mundo em que vivem. Isso pressupõe respeito, confiança, ausência de dominação, inter-relação, compartilhamento de saberes, pois, como nos afirma Maturana:

O compartilhar é em nós um elemento que pertence à nossa biologia [...] nós pertencemos a uma linhagem na qual se conserva o viver em grupos pequenos em interações recorrentes [...] nas interações, o que existe é um desencadear de transformações estruturais recíprocas no encontro [...] (MATURANA, 2001, p. 93)

Em contrapartida ao que ainda vem ocorrendo no espaço escolar presencial, o Moodle tem proporcionado um diálogo entre seus interlocutores através de suas interfaces fórum, “chat” e “wiki”, favorecendo o exercício da interação, pondo em prática o princípio constitutivo da linguagem, que é o dialogismo. Nessas interfaces poderá ocorrer um jogo dialético que liga a palavra à palavra, “palavra viva [...] palavra que se produz/ muda/ feita de luz mais que de vento/ palavra”32, que, como fruto de interlocução dos

falantes, contribui para a constituição do sujeito a partir da e na linguagem. Eis porque “[...] se nós perdermos de vista a significação da palavra, perdemos a própria palavra, que fica, assim, reduzida à sua realidade física, acompanhada do processo fisiológico de sua produção. O que faz da palavra uma palavra é sua significação” (BAKHTIN, 2004, p. 49).

32 BUARQUE, Chico. Uma palavra. Disponível em: http://chicobuarque.uol.com.br/letras/ umapalav_89.htm. Acesso em 10 abr 2006.

O aprendizado da leitura e escrita no Moodle, por exemplo, tem abalado a ideia de estabilidade, invariabilidade e rigidez que ainda se mantém nas práticas de produção de texto e leitura em salas de aula presenciais, onde ainda se faz educação como se a realidade pudesse ser fragmentada de forma descontínua em uma série de particularidades. Contrariando esse paradigma forjado pela modernidade, ao trabalharmos no Moolde, procuramos considerar a situação singular de cada ser, num mundo presente que também é singular (CHARTIER, 2001), uma vez que esse contexto de profundas mudanças no qual vivemos exige que as relações de aprendizagem sejam reconfiguradas, pondo em xeque um currículo fragmentado, linear, disciplinar, que segue na contramão da vida e dos desejos dos sujeitos “ensinantes” e aprendentes. Assim, entendemos que o currículo, na atualidade, precisa dar conta de paradigmas que tenham em vista a construção coletiva dos sujeitos, partindo tanto da sua diversidade como da sua pluralidade.