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A escrita colaborativa, no “wiki”36 do Moodle, constituiu, para os alunos

que participaram, um momento de busca do conhecimento em que os sujeitos procuraram respeitar as habilidades individuais, além de compartilharem responsabilidades entre si.

Cabe ressaltar aqui que apenas os sujeitos do primeiro curso de extensão puderam fazer a experiência da escrita colaborativa, tendo em vista os problemas técnicos com a interface “wiki”, no período de realização do segundo curso.

Essa interface que propiciou a autoria em comum, no primeiro curso, trouxe no seu bojo a oportunidade do livre conhecimento e do compartilhamento da informação, porque permitiu que os sujeitos trocassem ideias a partir de construções coletivas, ao mesmo tempo em que exigiu deles organização e estrutura.

Compreendemos que a possibilidade de tecer um texto colaborativo – ação potencializada pelo computador – poderá se constituir como

36 O Wiki não é só uma ferramenta de escrita colaborativa, mas passa a ser uma ferramenta de construção do “saber” de forma dinâmica e democrática, cujas produções de texto podem ser complementadas por várias ideias e formas, interagindo no ciberespaço, sem perder seu real objetivo: a aprendizagem. Disponível em: < http://www.escolabr.com/virtual/wiki/index. php?title=Categoria:OFICINA_WIKI_-_2006>. Acesso em 10 abr. 2006.

desafio tanto para aluno como para professor, à medida que demanda outras habilidades e responsabilidades, tanto individuais como de grupo, por parte dos que interagem, instigando-os a caminhar na contramão das propostas de escrita tradicional.

Referimo-nos a outras habilidades e responsabilidades para dizer que a construção coletiva de um texto exige dos co-autores, além de “gerar ideias”, confrontá-las com as dos outros, negociá-las. Desse modo, escrever colaborativamente no Moodle significou partilhar ideias e opiniões, negociar no entrelaçar dos fios, feito a tantas mãos, em tempos distintos: “Trazer o outro até a intimidade do movimento de seu pensamento” (FREIRE, 1997, p. 132)

Vislumbramos essa prática como uma experiência instigante, construtiva e prazerosa, que poderá levar ao pensamento crítico e criativo e a uma aprendizagem significativa, engendrada num espaço onde os sujeitos envolvidos puderam interagir em prol de um todo discursivamente significativo.

Ao escrever colaborativamente, os sujeitos desenvolveram a escuta sensível, uma vez que se mostraram abertos às contribuições dos outros colegas, potencializaram habilidades como escutar, participar, discordar, argumentar. Aí residiu a relação do ler/escrever como práticas sociais, em que ensinar-aprender leitura e escrita não se constituem como processos impositivos. Ensinar, segundo nos lembra Freire:

Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível - depois, preciso - trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender (FREIRE, 1997, p. 26).

O Moodle, com seu fluxo interativo, fomentou essa escrita coletiva, fazendo com que as relações de aprendizagem se configurassem nesse ambiente como processos sociais mais amplos, que respondem às práticas sociais em que a leitura e a escrita não são neutras, porquanto são responsáveis por reforçar ou questionar valores, tradições e padrões de poder presentes no contexto social.

Uma vez que o programa mantém o histórico das contribuições, pudemos acompanhar a caminhada de cada sujeito na escrita coletiva, percebendo que edição e revisão do texto se misturavam. Nesse momento, as dificuldades de organização do pensamento e progressão de ideias foram se revelando. A estruturação do texto colaborativo revelou as dificuldades que os participantes tinham de se expressar com coerência através da escrita, fato que se torna mais complexo, quando a produção é coletiva, considerando uma série de questões como: o entrecruzar das vozes que foram se revelando pelos discursos, os diferentes níveis de leitura e inferências sobre os textos lidos - ou as não-leituras - as experiências individuais de escrita, enfim, as diferentes identidades, acrescendo a tudo isso o fato de que os sujeitos falam de um determinado lugar, de acordo com os diferentes papéis que exercem no mundo social (LYOTARD, 2002).

Desse modo, a experiência nos apontou a necessidade de que haja, paralelamente à escrita colaborativa, principalmente se essa for totalmente a distância – como foi o nosso caso –, outro canal de comunicação, seja a partir da interface síncrona – o “chat” – seja da interface assíncrona – o fórum –, a fim de que o grupo possa discutir as dificuldades e avanços, a interação entre os co-autores e sobre o texto que está sendo construído.

É importante comentarmos também sobre a aplicabilidade dessa prática colaborativa em sala de aula, pois percebemos que essa prática poderá abrir possibilidades para a instauração de formas mais participativas de leitura e produção de texto, visando a uma participação mais efetiva dos alunos, inclusive dos que se mostravam mais inibidos, além de promover a integração gerando um maior fluxo de troca de ideias entre eles.

Ademais, os envolvidos no processo sentiram-se imbuídos de um senso de pertencimento e comprometimento, por perceberem que o resultado do tecer coletivo é de responsabilidade de todos, visto que inexiste, nesse processo, o proprietário da ideia, emergindo daí o colaborador.

Contudo, cabe-nos observar que a escrita em co-autoria é complexa, visto que os co-autores estão expostos às controvérsias e divergências de pensamento, que geram conflitos, à aceitação da contribuição do outro. Mas esse fato não deve ser considerado negativo, e sim eficaz para o desenvolvimento da consciência crítica dos envolvidos no processo, para a maturação e crescimento das suas capacidades tanto individuais quanto coletivas de construir conhecimentos.