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TECENDo SABErES NA rEDE: o mooDLE

Como ESPAÇo

SiGNiFiCATiVo DE

LEiTurA E ESCriTA

Odbália Ferraz27 Mudam-se os tempos... Mudam-se os modos de tecer fios de sentidos

Introdução

Na contemporaneidade, recentes propostas na área da Educação vêm se configurando a partir das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), contribuindo para emergir a possibilidade de construção do conhecimento e dos processos de leitura e produção textual, como novos caminhos abertos que têm engendrado uma maior autonomia na busca de novos saberes, principalmente a partir da acessibilidade de ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), os quais abrem espaço para a utilização criativa e autônoma de propostas pedagógicas alternativas que emergem como contrapartida ao sistema fechado

27 Mestre pela Universidade do Estado da Bahia. Doutoranda em Educação, pela Universidade Federal da Bahia. Atua como professora assistente do curso de Letras Vernáculas, da Universidade do Estado da Bahia - Departamento de Educação Campus XIV.

e hegemônico, de modelos pré-estabelecidos que ainda vêm predominando na Educação.

As tecnologias digitais, através dos AVAs, têm produzido espaços de construção coletiva do conhecimento que vêm se constituindo como campos do possível nos quais nos tornamos o que somos, realizando rupturas, bem como resistindo às práticas que homogeneizam e engessam as possibilidades de movimento e criação.

Nesse contexto, a mentalidade humana passa por transformações, no que concerne à forma do sujeito organizar e expressar seu pensamento, refletindo sua visão de mundo na contemporaneidade. Assim ocorre com a linguagem, que vai passando também por significativas mudanças: do códex à tela, a relação do sujeito leitor/autor com os suportes de leitura e escrita tem se transformado e se ampliado, tendo em vista as novas possibilidades técnicas e os novos valores socioculturais. Essas mudanças propõem ao professor repensar sua prática pedagógica, em relação à leitura e escrita, na qual ele ainda se coloca como o detentor do saber que pode “ensinar tudo” aos seus alunos.

Tendo em vista esse panorama, almejamos que as ações dos professores e alunos sejam encaminhadas num espaço conjunto, no qual sujeitos coletivos possam trabalhar de modo a conduzir e organizar o ensino-aprendizagem da leitura e escrita, a fim de que interajam construindo conhecimento, a partir da singular historicidade de cada um. Essa construção se torna significativa quando nela se entrelaçam marcas de diferentes vozes, remetendo o trabalho com linguagem ao seu caráter dialógico, polifônico (BAKHTIN, 2004).

Se no códex28 a leitura e a escrita já é imbuída de muitas vozes, na tela,

essa infinidade de vozes que dialogam na interação verbal tecem concretamente saberes, constroem conhecimentos através de uma aprendizagem reconstrutiva

28 Códex ou códice refere-se ao livro composto de cadernos juntados que, no mundo ocidental, substituiu o rolo, permitindo reunir grande quantidade de textos num volume menor. (Roger Char- tier, no artigo “Do códice ao monitor: a trajetória do escrito. Disponível em <http://www.scielo. br/pdf/ea/v8n21/12.pdf>. Acesso em 20 abr. 2006.

(DEMO, 2001). Isso vem se tornando cada vez mais possível de se concretizar nos espaços propiciados pelos AVAs.

Nesse sentido, considerando a importância dessa discussão no contexto da sociedade digital, em que a nova geração lê cada vez mais na rede, este estudo objetiva refletir sobre os processos de leitura e escrita realizados em ambiente virtual de aprendizagem, a partir do qual os alunos poderão desenvolver novas competências cognitivas pelas relações entre ideias que estabelecem através dos “links” e pela articulação de conceitos, estes veiculados por diferentes linguagens.

Aqui, especificamente, trataremos do AVA denominado Moodle, espaço que tem se configurado como alternativa viável a abrir caminhos para que vários sujeitos, separados geograficamente, interajam ressignificando as atividades de linguagem. Dessa forma, consideramos que esse ambiente tem propiciado experiências significativas de leitura e escrita através de suas interfaces.

O Moodle, cujo acrônimo modular é “Object-Oriented Dynamic Learning Environment”29, surgiu como experiência em 1999, criado por

Martin Dougiamas, sob a forma de comunidade virtual:

As minhas fortes convicções nas inexploradas possibilidades da educação baseada na Internet levaram-me a que completasse um Mestrado e depois um Doutoramento em Educação, combinando a minha anterior carreira em Ciências dos Computadores com novos conhecimentos sobre a natureza da aprendizagem e colaboração. Em particular, tenho sido influenciado pela epistemologia do construccionismo social – que não só trata a aprendizagem como uma actividade social, mas atenta também na aprendizagem que ocorre quando da construção activa de artefactos (como textos) para outros verem ou usarem.30

29 Sobre o Moodle: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/doc/?. Acesso em 03 abr. 2006. 30 Martin Dougiamas. Disponível em: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/doc/?

Reconhecemos que o ambiente virtual, por si só, não constitui espaço inovador e instigador de construção de conhecimento, pois, para que isso ocorra dependerá do projeto pedagógico-comunicacional do professor mediador. Por exemplo, um ambiente virtual, se pautado na transmissão do conhecimento, revela-se como proposta embasada nos moldes propostos pela educação bancária – como a define Paulo Freire (2002), em “Pedagogia do Oprimido”. Se configurado com base numa abordagem pedagógica que se efetive como espaço de promoção de uma interação sócioconstrutivista, possibilitará a reflexão crítica, a colaboração e a integração entre os membros da comunidade virtual.

Efetivado a partir desses princípios, o ambiente poderá se constituir em espaço para a construção do conhecimento, de modo a considerar os sujeitos a partir das interações que eles estabelecem com sua cultura e seu grupo social, levando em conta, ainda, a inter-subjetividade, a competência e a responsabilidade de cada um.

O Moodle tem sido amplamente usado por Instituições de Ensino Superior, Escolas de Ensino Fundamental e Médio, Universidades Corporativas, Centros de Treinamento e Professores Independentes. Nesse AVA, o professor tem controle sobre todas as configurações do curso. Foi desenvolvido para distribuição livre, visando à produção de cursos on-line com qualidade, sob o controle e organização do professor. Sua relevância está, também, no fato de que torna possível estender a sala de aula até a Internet.

Vale lembrar que, como todo e qualquer aparato tecnológico, apresenta, às vezes, seus problemas de configuração técnica, visto ser um software que está sempre em processo de mudança, na reconstrução, para melhor atender às demandas de um ensino-aprendizagem fundado na interatividade. Por isso, o Moodle, dada a oportunidade que oferece de experimentação de outras modalidades de leitura e escrita, e por já ser, entre outros, um ambiente consagrado para EAD – pois é usado por muitas instituições em todo o mundo – precisa ser divulgado entre os educadores da graduação e da pós-graduação, a fim de que sejam conhecidos os

potenciais de utilização desse ambiente, bem como os projetos educativos que ele poderá viabilizar.

Desse modo, a formação do professor, na atualidade, deve contemplar um aprendizado de envolvimento e alargamento das formas de conduzir o processo ensino-aprendizagem, no que diz respeito às práticas de leitura e escrita nos ambientes virtuais de aprendizagem, a fim de que, trabalhando com essa geração NET, possam se apropriar das interfaces disponibilizadas pelos AVAs – aqui nos referimos, especificamente, ao Moodle, – para realizar, significativamente, atividades de leitura e escrita, tanto individual como coletivamente. Esse ambiente, se pensado e organizado pela lógica da interação e da resolução de problemas, entre outras estratégias, poderá servir de apoio aos educadores no ensino-aprendizagem da leitura e da produção de textos com funções sociais.