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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2 Análise das práticas de ensino de leitura e escrita das docentes participantes do

4.2.2 Letrar e alfabetizar: as práticas de ensino de leitura e escrita desenvolvidas pela

4.2.2.2 Leitura literária em sala de aula

Na busca de formação de leitores, a docente utilizava muita ludicidade, buscando encantar as crianças com a leitura e o objeto livro. A subcategoria “Leitura literária em sala de aula” tinha espaço no cotidiano da turma, pois, dos dez dias observados, presenciamos quatro situações de leitura, e as histórias lidas pela docente foram: O grande rabanete (acumulativa), Casa do seu coelho (acumulativa), A onça e o Saci e Joaquim, o Pinguim Inventor. Em cinco dias, ela disponibilizou acervo para que as crianças pudessem apreciar, escolher e fazer leitura livre, e assim as crianças manusearam os livros. Nesta direção, Pimentel (2016) aponta que

O processo de formação do leitor requer a construção de habilidades ou de capacidades que podem parecer óbvias, entretanto, nada é óbvio no campo da leitura. Por exemplo, não é óbvio que exista uma sequência narrativa no folhear das páginas do livro nem que um personagem permanece o mesmo apesar de estar representado em várias ilustrações (PIMENTEL, 2016, p. 73).

Na entrevista final, questionamos a docente se o curso do PNAIC-EI havia contribuído para o hábito de ler e contar histórias em sala de aula. Vejamos sua resposta:

Eu já tinha muito disso, pela minha formação também, que os professores estimulavam isso e eu já vim em um período de formação em que a dinâmica da Educação Infantil já era mais nesse contexto. Mas obviamente que você estar em um ambiente de formação você sempre vai aprender e vai até pensar “poxa, isso vale a pena, é importante que seja feito mais isso”. No caso, a leitura dos textos, trava-língua, né, rimas, todo uso dessa parte de leitura e de escrita, eu considero que dentro da formação também abriu mais minha mente pra “não, eu de fato preciso fazer isso mais”, essa necessidade de fazer mais. Eu fazia, mas não com tanto empenho, como passei a fazer depois das formações. Porque a gente vai vendo o relato de outras pessoas, vai vendo experiências de outras turmas, e a gente pensa “poxa, dá certo!”. Então isso foi sendo aprimorado.

Analisando o extrato, três aspectos chamam nossa atenção. O primeiro foi o resgate que a docente fez do seu percurso formativo, lembramos que a mesma concluiu o curso de Pedagogia em 2012 na Universidade Federal de Pernambuco, tendo seis anos de formada; inferimos que busca referência em seus saberes curriculares, pois diz que “já vim em um período de formação em que a dinâmica da Educação Infantil já era mais nesse contexto”. O segundo aspecto que destacamos em sua fala foi a importância dada à formação do PNAIC- EI, diz que a formação abriu seus olhos com relação à leitura e escrita “eu fazia, mas não com tanto empenho, como passei a fazer depois das formações”. Assim, a docente afirma que a prática de ler e de contar foram sendo aprimoradas nas formações, mas era algo que ela já fazia. O último aspecto é com relação à troca entre os pares, ou seja, faz referência à socialização das práticas, pois afirma que “... a gente vai vendo o relato de outras pessoas, vai vendo experiências de outras turmas, e a gente pensa ‘poxa, dá certo!’”.

Como observa Chartier (2007, p. 185), os “professores privilegiam as informações diretamente utilizáveis”, o “como fazer” e a troca de “receitas”. Segundo a autora, “todas as informações interessantes, tenham sido elas ouvidas ou lidas, foram escolhidas e retrabalhadas como saberes para a ação (CHARTIER, 2007, p. 204). Assim, podemos dizer, apoiando-nos nessa autora, que, em seu cotidiano, os docentes valorizam os saberes da ação, que, na verdade, incluem teorias incorporadas às práticas, que ficam amortecidas na memória, tornando-se referenciais implícitas. No entanto, quando buscamos saber de onde vem aquela prática educativa, encontraremos uma fonte teórica guardada na memória do docente.

Conforme Tardif (2011), o saber docente é plural. Assim, constatamos que a docente em seu fazer cotidiano articulava diversos saberes, como os disciplinares, curriculares e experienciais. Esses saberes foram sendo adquiridos em sua trajetória como docente, em sua formação inicial no curso de Pedagogia, no curso de especialização e na formação continuada. Além de fazer referência à sua formação inicial, a docente valorizava a formação continuada. Vejamos o que ela nos diz a este respeito:

A formação continuada, pra mim, ela é de grande importância para minha formação, e assim... Eu nunca deixo de ir, procuro ir para todas que tem, que existem, que aparecem, que me informam, porque eu acredito que a gente se renova quando participa, aprende uma coisinha nova aqui, outra ali, algo que você não fazia, escuta a experiência de outra pessoa, aí passa a fazer. Enfim, eu gosto bastante, não deixo de ir não, eu vou pra todas, que é da minha faixa etária, todas que me liberam eu tô indo, não falto.

Na entrevista final, a docente reforçou a importância de uma das estratégias formativa do curso: a “socialização de práticas”. Vejamos o que nos diz quando questionamos se ela achava importante o momento da socialização:

Inferimos que a docente encontrou inspiração em sua formadora e, em alguns aspectos, parece ter “copiado” sua “receita” com relação à leitura e à contação de história. Isto ficou evidenciado no acervo da turma, pois encontramos livros que foram escritos, lidos e contados pela formadora. Cabe lembrar ao leitor que a formadora atua no núcleo de leitura e contação histórias da Secretaria da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes-PE, sendo autora de diversos livros de literatura infantil.

Visualizamos elementos na prática da docente, no que se refere à contação de histórias que são típicos da formadora como uso de objetos e músicas no meio da contação. A docente também afirmou na entrevista que “quase todas as referências de contação de história eu peguei do PNAIC...”. Quando questionamos “Quais materiais ela se deteve mais no período do curso?”, ela destacou que a formação que mais chamou sua atenção foi a que tratou sobre os livros de literatura.

Observamos que a docente realizava leitura de algumas histórias de autoria da formadora do PNAIC-EI. O extrato abaixo ilustra a leitura do livro literário “A casa do senhor coelho”. A história era acumulativa, pois a cada trecho lido entrava um novo bichinho. Antes de iniciar a leitura, a docente reorganizou o espaço, convidando as crianças para um cantinho da sala de aula, as crianças sentaram no chão e a docente em uma cadeirinha. Logo depois, começaram a cantar a música como de costume: “toc toc...”, que era uma espécie de comando para entrar no universo literário.

Com certeza! Porque, assim, às vezes a gente pensa “poxa, tô fazendo um trabalho bom!”. Aí você tem outras pessoas que também estão fazendo um trabalho bom, mas usando outras estratégias, aí você “poxa, posso usar isso também” e quando lhe escutam dizem “ah, é legal!”. Então a gente troca figurinha, e isso aumenta o leque de possibilidades pra trabalhar na sala.

(Trecho da entrevista final 28/08/2018)

TOC TOC TOC. QUEM É? PODE ENTRAR? TOC TOC TOC. QUEM É? PODE ENTRAR? É A HISTORINHA QUE ACABA DE CHEGAR. É A HISTORINHA QUE ACABA DE CHEGAR. HISTORINHA!

P - O título é: A casa do Senhor Coelho! P - Sabem quem escreveu esta historinha? P - Foi Drica Shinohara.

P - Deixa eu ver se vejo uma foto dela.

Tiologan foi quem fez os desenhos!

P - Como será esta história? A casa do Senhor Coelho? Olhem a casinha dele. P - Tam tam tam, vamos escutar a historinha!

Durante a história tinha uma música que se repetia, e, depois que aprenderam a música, as crianças começaram a cantar junto com a docente.

T - CRI CRI ESTOU NA MINHA CASA - CRI CRI NÃO QUERO MAIS SAIR.... - CRI CRI ESTOU NA MINHA CASA

- NINGUÉM ME TIRA DAQUI!

P - E agora, quem será que está dentro da casa do senhor coelho? O que o coelho fez? Será que ele entrou? O que vocês acham?

Cr - Ele correu, tia! (disse uma criança) P - Será?

A docente continuou a leitura.

Cr – Cadê, tia? (crianças querendo ver mais de perto a ilustração)

A docente aproximava o livro da criança que queria ver a ilustração, depois continuou a leitura, e em alguns trechos elas interagiam repetindo os nomes dos bichos que estavam com medo.

P - Quem estava morrendo de medo? Cr- O cachorro, o boi e o senhor coelho!

Cada vez que aparecia mais um animal, a docente questionava que bicho era, e eles respondiam. A docente continuou a leitura e, quando estava perto do final da história, ela questionou:

P - O que será que os bichos fizeram? Qual foi a solução? O que vocês acham? Cr - Ficaram felizes!

Algumas crianças não deram resposta, ficaram querendo ver as ilustrações. A docente concluiu a leitura e no final questionou:

P - Quem gostou da história? T - Eu!

Logo após todos cantaram:

T- ENTROU PELO PÉ DO PINTO SAIU PELO PÉ DO PATO

QUEM GOSTOU DA HISTÓRIA CONTE ATÉ QUATRO. UM, DOIS, TRÊS, QUATRO.

ENTROU PELO PÉ DO PATO SAIU PELO PÉ DO PINTO

QUEM GOSTOU DA HISTÓRIA CONTE ATÉ CINCO. UM, DOIS, TRÊS, QUATRO, CINCO.

P - Vamos para o nosso cantinho perto do quadro!

(Infantil 4 dia 15/08/2018)

A análise do extrato mostra que a docente explorou algumas estratégias de leitura. Antes da leitura, ela fez perguntas de previsão, lançando o questionamento: “Como será esta história?”, explorou a capa do livro, apresentou as ilustrações. Durante a leitura, a docente foi envolvendo as crianças, lendo com entonação, usando gestos, a mesma realizou perguntas de previsão antes e durante a leitura, pois questionava “o que será que os bichos fizeram?” Através desta estratégia monitorava a compreensão das crianças. Ao finalizar a leitura, as crianças foram convidadas a mudarem o ambiente da sala para iniciar uma nova atividade, não havendo conversa sobre a história.