• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2 Análise das práticas de ensino de leitura e escrita das docentes participantes do

4.2.3 Análise das práticas de ensino de leitura e escrita da professora 5

4.2.4.9 Produção de listas

A lista foi um gênero textual bastante explorado pela professora, esta subcategoria apareceu cinco vezes durante nossas observações. A docente usava o seguinte procedimento: escrevia uma pequena lista de palavras de contexto significativo no quadro, realizava a leitura no coletivo e logo depois chamava as crianças de forma individualizada e refletia sobre a escrita das palavras, quantidade de letras e sílabas. No extrato a seguir, a docente elegeu algumas palavras da história “Bicho Papão” e construiu uma lista coletivamente de forma reflexiva e, durante o processo de escrita, as crianças eram incentivadas a pensar e pronunciar as letras que formavam as sílabas das palavras. Esse tipo de atividade em que as crianças ...eu vi a necessidade de intensificar o trabalho com os jogos. Intensificar porque a gente como professor já sabe dessa importância, mas acho que isto reforça mais. Tem jogos aqui, tem jogos na sala de recurso dos professores, que eram os jogos do CEEL até, e que tava lá! Na época, eu disse “nossa, eu faço jogos aqui com os meninos!”. Muitos deles são os jogos, não lembro exatamente quais, mas eu disse “vou buscar mais do dia a dia!”. Não lembro exatamente o nome e eu disse “vou trazer mais para a prática, vou buscar mais, vou trazer mais e intensificar o trabalho com as crianças, porque é necessário isto” (Trecho da entrevista final 31/08/2018)

aprendem o nome da letra é imprescindível, pois, conforme Albuquerque e Leite (2010), é importante

[...] um processo de ensino- aprendizagem da língua escrita na escola que envolva não um ensino transmissivo e exaustivo de letras e sílabas, mas a exploração não só das letras do alfabeto, mas de textos, palavras e suas unidades menores, tanto gráficas (como as letras) quanto sonoras; e a relação entre elas (p. 113-114).

Vejamos o procedimento da docente na construção da lista e a análise que ela faz das palavras:

(A professora chamou as crianças ao quadro para apontar as palavras solicitadas por ela) P – Vamos escrever como é o bicho papão, as características dele.

P – Ele é um monstro PELUDO. P – Vamos colocar o nome peludo. Crs – PPPPPPPPP

P – Muito bem!

P – PELUDO (Algumas crianças pronunciavam as sílabas) T – PE-LU-DO.

P – Ele é um monstro peludo.

P – Como ele é? Pequeno ou grandão? Crs – GRANDÃO

P – Vamos colocar aqui GRAN-DÃO? Crs – GRAN-DÃO (Crianças silabando) P – Ele é GRANDÃO.

P – E os olhos dele, que cor é? P – FOGO.

P – Quais letrinhas para escrever FO? Cr2 – F O (Pronunciou as letras)

Crs – FO GO (Crianças pronunciando as sílabas e a docente registrou) P – Muito bem, vocês estão afiados.

P – Como é o nome dele? Vamos pensar! Crs – BICHO PAPÃO!

P – Vamos escrever o nome dele. Crs – BI! (Dizendo sílabas) P – Vamos pensar!

P – Qual a primeira letrinha? Cr3 – BI

P – Muito bem, Lara.

P – B e I (Docente pronunciando a silaba BI) P – Agora, olhem como é o CHO.

P – CHO. Cr2 – Tem o O.

P – BI-CHO (Ela fez o registro) P – Como é PAPÃO?

P – Não é BA, é PA. Crs4 – P A (Disse as letras) P – PA-PÃO.

P – BICHO PAPÃO.

Cr5 – Faz um U no final (A docente não ouviu) P – Agora vamos nomear as letras.

Crs – (Nomearam as letras de BICHO PAPÃO) P – Muito bem, turminha.

P – Aqui temos as características do Bicho Papão. P – Eloá, onde é que tem o nome FOGO?

P – Vem, Eloá, me mostrar.

Cr1 – (Apontou a palavra no quadro) P – Parabéns, Eloá!

P – Carlos vai mostrar no quadro outra característica do Bicho Papão, que é GRANDÃO. (Carlos ficou em dúvida e a docente fez a leitura das palavras da lista e disse:)

P – Onde está o nome GRANDÃO?

P – Vamos olhar pela primeira letrinha das palavras (A partir da ajuda, Carlos apontou GRANDÃO e PELUDO)

P – Eloá já mostrou que ele tem olhos de fogo, Carlos mostrou que ele é grandão, está faltando marcar peludo.

P – Lara, venha mostrar onde está peludo.

P – Ana, vem mostrar, agora, onde está escrito BICHO PAPÃO?

(Ana mostrou corretamente, cada vez que uma criança acertava as outras crianças aplaudiam, isto era um incentivo. Quando terminou este momento, as crianças foram para o parque)

(Diário de campo 10/08/18)

A lista foi construída com a participação das crianças, o foco foi escrita das palavras e nomeação de letras. Quando a docente realizava atividades desse tipo, ela selecionava crianças diferentes, ou seja, nem todas iam ao quadro no mesmo dia. Durante a produção coletiva de lista chamou-nos atenção a forma com que as crianças participavam, a esse respeito questionamos a docente em uma das nossas entrevista de explicitação “... já faz tempo que você trabalha com listas ?” ela nos respondeu “Sempre faço isso porque eu percebi o desenvolvimento deles. Hoje eles me surpreenderam”. Ela fez referência a lista que será ilustrada abaixo que foi construída a partir dos nomes dos animais da história “O Pequeno Curioso” (ELEFANTE-PÁSSARO- CROCODILO-ONÇA-GIRAFA).

O processo de produção da lista ocorreu da seguinte forma: a docente silabava o nome de cada animal, as crianças iam ditando as letras, e a docente fazia o registro no quadro com letra bastão. Quando as crianças não entendiam, ela repetia o nome do animal silabando bem devagarinho. Em algumas palavras, como ONÇA e CROCODILO, as crianças precisaram de mais ajuda a docente registrou a palavra (ONÇA, e a sílaba CRO de CROCODILO). Depois

da lista escrita no quadro, todos leram os nomes dos animais com a mediação docente. Vejamos no extrato abaixo como a docente procedeu na análise das palavras.

P – Vamos escrever o nome do personagem principal. Como era o nome do personagem principal? Crs – Elefante!

P – E como é que escrevemos? Crs – E-LE-FAN-TE

(As crianças foram ditando as letras para a docente) P – Vamos contar quantas letras tem a palavra elefante. Crs – E-LE-FAN-TE.

(Algumas crianças estavam contando sílabas e não letras)

P – Vocês estão confundindo uma coisinha, deixa eu explicar, eu já falei isso pra vocês.

P – Para construir um nome precisamos de letras, precisamos de letrinhas, e cada letrinha precisa de uma amiguinha para formar uma sílaba. Então, quando eu digo assim “vamos contar a letra” é a letrinha, cada letrinha.

Cr1 – Tem sete tia!

P – Tem sete? Reconta, Acza. Cr2 – Tem seis!

P – Vamos contar todos juntos. (Contaram todos juntos) P – Temos oito letrinhas.

P – Agora, quando tia fala em sílaba é diferente, é de acordo com o que a gente fala, tá certo? Pode ter uma ou mais letrinhas na sílaba.

(Ela fez a leitura pausadamente da palavra “elefante”) P – A gente fala E-LE-FAN-TE.

P – Quando eu peço para vocês abrirem a boca e contar assim, são as sílabas. P – Quantas sílabas têm? Vamos contar com palmas.

(As crianças ficaram contando rápido e ela pediu para que contassem devagar) P – Vamos marcando com o dedinho, é melhor.

(As crianças foram pronunciando devagar a palavra E-LE-FAN-TE e marcando o número de sílabas nos dedos)

P – São quatro sílabas, vamos dividir ela aqui! P – Quatro pedacinhos. E-LE-FAN-TE.

P – Qual a letrinha que começa a palavra ELEFANTE? Crs – E!

P – E a última letra de ELEFANTE? Crs – E!

P – Também é E. Cr3 – São iguais!

(Depois da análise da palavra “elefante”, a docente destacou as letras iniciais e finais das demais palavras da lista)

P – No nome “pássaro”, como se chama esta letrinha? Crs – P!

P – E esta aqui? Crs – O!

P – E esta letrinha? (Palavra “crocodilo”) Cr4 – C de casa.

A docente usava o dispositivo de ajuda entre os pares, quando lançava questionamentos às crianças de forma coletiva ou de forma individual. Nunca tinha pressa: se a crianças questionada não acertavam, ela lançava o questionamento para outra criança e, assim, instigava o grupo a pensar, solicitando que uma criança mais experiente ajudasse a outra. Trabalha com vários princípios do SEA. A atividade foi iniciada no coletivo, após a escrita da lista, P5 destacou a palavra ELEFANTE e realizou a contagem de letras. Quando a Cr5 – De Cristina.

P – E esta aqui? Crs – O

P – Tem quantas letras O na palavra CROCODILO? Crs – Três. P – E esta letra? Crs – O. P – O do nome ONÇA. P – E a letra final? Crs – A!

P – E aqui? (Palavra “girafa”). Cr5 – G.

Cr5 – G de Gabriela.

P – Então temos ELEFANTE – PÁSSARO – CROCODILO – ONÇA – GIRAFA. P – Vocês conheciam essa letra?

Crs – C de Carlos!

P – Sim, o C de Carlos, mas ela tem uma cedilha embaixo. Crs5 – Tia, parece como o nome CECÍLIA.

Cr5 – O nome da minha prima é Cecília. Cr6 – Minha tia é Ciça.

P – Conhecemos uma letrinha nova hoje, o Ç. Vocês já tinham visto esta letrinha? Já viram em revistas ou jornais?

Crs – Não! Cr7 – Eu já! Cr6 – Eu também!

P – Quando vocês encontrarem agora, vão lembrar aquela letrinha que tia falou, Ç.

docente percebeu que as crianças estavam confundindo contagem de letras com contagem de sílabas, imediatamente explicou a diferença de letra e sílabas, exemplificando as duas situações.

Esta escrita da lista envolveu o reconhecimento de letras como também consciência fonológica, pois as crianças contaram letras e sílabas refletindo sobre os segmentos sonoros.

Durante a análise, vimos que a docente trabalhou com textos como parlendas, trava línguas, entre outros, que envolveram rimas, investindo nos aspectos fonológicos. Na produção de textos, sua prioridade foi o trabalho com as listas. Nos dias observados não visualizamos escritas espontâneas de textos. Vimos através da pesquisa de Girão (2011), na nossa revisão de literatura, que a produção de texto é um trabalho complexo e ainda pouco realizado na Educação Infantil. É importante ressaltar que na prática da docente não presenciamos a presença de textos cartilhados, desenhos estereotipados nem atividades de coordenação motora.

Concluímos a análise destacando que a docente fabricava sua prática contemplando o letramento e a alfabetização, as crianças eram felizes no espaço do CEMEI e faziam diversas atividades envolvendo os demais campos de experiências que não foram analisadas aqui, visto que não era nosso foco de pesquisa. Todos os dias elas brincavam no espaço externo, presenciamos práticas de movimento, brincadeiras de circuitos, apresentações culturais aberta aos pais, trabalhos artísticos envolvendo a artes visuais e dança. Observamos também que durante a produção das listas o foco da docente foi no SEA.

Ressaltamos que encontramos na prática da docente elementos vistos no curso do PNAIC-EI, no entanto, vimos que o curso teve um curto período, e o saber que a docente possui advém de sua trajetória, da formação inicial, sua busca pessoal e da formação continuada que acontecia na rede mensalmente.