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OS PREFIXOS BO, GE, DIS, EK, RE; OS SUFIXOS AD, IG, IĜ.

83. O prefixo bo indica parentesco adquirido pelo casamento; p. ex.: patro

pai, bopatro sogro; patrino mãe, bopatrino sogra; filo filho, bofilo genro;

filino filha, bofilino nora; frato irmão, bofrato cunhado; fratino irmã,

bo-fratino cunhada; nevino sobrinha, bonevino sobrinha afim; parenco pa-rente,boparenco parente afim.

84. O prefixo ge (ler guê!) indica reunião de dois ou mais indivíduos, sendo

um (ou uns) do sexo masculino, e o outro (ou os outros) do sexo feminino; p. ex.: gepatroj pais (pai e mãe); gefiloj filhos, isto é, filho(s) e filha(s);

ge-sinjoroj senhor e senhora (casal); gefratoj irmão(s) e irmãs(s); edzo esposo,

edzino esposa, geedzoj esposos, casal; bogepatroj sogros (sogro e sogra);

du geamantoj um casal de namorados; gemaljunuloj um casal de velhos.

85. O prefixo dis indica desunião, separação, afastamento para diversas di-reções, dispersão, disseminação; p. ex.: fali cair, disfali ruir, esboroar-se;

semi semear, dissemi disseminar; ŝiri rasgar, diŝiri dilacerar; doni dar,

dis-doni distribuir; iri ir; disiri separar-se; flugi voar, disflugi voar em todas as direções; peli impelir, dispeli fazer ir (ou correr) em diversas direções, disper-sar.

86. O prefixo ek indica:

a) ação ou estado incipiente (= que começa), formando-se assim verbos in-coativos e seus derivados; p. ex.: iri ir, andar, ekiri por-se a caminho, por-se

a andar, partir; kuri correr, ekkuri deitar (= por-se) a correr; plori chorar,

ek-ploricomeçar a chorar, desatar em pranto; dormi dormir, ekdormi adormecer; 50

sidiestar sentado, eksidi sentar-se; scii saber, ekscii tomar conhecimento de;

flami chamejar, ekflami inflamar-se; ami amar, ekami tomar-se de amores por, enamorar-se de (alguém);

b) ação momentânea: brilo brilho, ekbrilo lampejo; rigardi olhar,

ekri-gardilançar um olhar; ĝemi gemer, ekĝemi dar um gemido; spiro respiração,

ekspiro suspiro;

c) ação súbita: vidi ver; ekvidi avistar; krii gritar; ekkrii exclamar; aperi

aparecer, ekaperi surgir (de repente); timi temer, ektimi assustar-se; salti saltar, eksalti saltar de repente, dar um pulo (repentino);

d) ação menos intensa, à semelhança do que se obtém com o sufixo et:

grati arranhar, ekgrati arranhar de leve; frapi bater, ekfrapi bater de leve;

tuŝi tocar, ektuŝi tocar de leve,roçar.

NOTA — Algumas palavras formadas com ek podem ter mais de uma signifi-cação, devendo, portanto, interpretar-se de acordo com o texto.

87. Com o prefixo re denota-se:

a) repetição, reiteração: fari fazer, refari refazer; aperi aparecer, reaperi

reaparecer; vido vista, revido nova vista; foje uma (= certa) vez,refoje outra vez, novamente;

b) volta ao lugar ou estado primitivo, retorno à origem: veni vir, reveni

voltar, regressar; doni dar, redoni,restituir; turni girar, returne de volta (à origem); aĉeti comprar, reaĉeti redimir;

c) ideia geral de recuo, rebate, resposta: brili brilhar; rebrili refletir-se;

soni soar, resoni ressoar, ecoar; salti saltar, resalti saltar para trás, ressaltar;

turni girar, returni girar para trás, voltar, volver (para trás); tiri puxar, retiri puxar para trás, retirar; diri dizer, rediri responder, retrucar; puŝi empurrar,

repuŝi repelir; paŝi andar, repaŝi recuar; pagi pagar, repagi pagar de volta, retribuir; servo serviço, reservo serviço em retribuição.

NOTA — Em alguns vocábulos o prefixo re dá sentido diferente, p. ex.:

formi formar, reformi reformar, dar nova forma; teni segurar, reteni reter, deter, conter; sumi somar,resumi resumir; sento sentimento, resento res-sentimento, mágoa; etc.

CAPÍTULO 6. SEXTA LIÇÃO Esperanto sem Mestre 52

a) ação, em si mesma: krono coroa, kronado coroação,martelo

mar-telo, martelado martelagem; aŭdi ouvir, aŭdado audição; kanto canto, can-ção,kantado canto (isto é o cantar), cantoria; ago ação, ato, agado procedi-mento, modo de agir; faro feito, ato, farado feitura; kolekto coleção,

kolek-tadocoleta, colheita; celo fim, objetivo, celado esforço, empenho (por alcançar um objetivo); paŝo passo, paŝado pisada, (o) andar;

b) ação habitual: uzo uso, emprego, uzado uso habitual, emprego corrente;

ŝteli furtar, ŝtelado furto como hábito, prática de cleptomania; viziti visitar,

vizitadi frequentar;

c) ação prolongada: rigardi olhar, rigardadi contemplar;batalo batalha,

batalado campanha, luta contínua; pepi piar, pepadi pipilar, chilrear;

konsi-deroconsideração, konsiderado reflexão, ponderação; stari estar de pé, estar parado, starado estacionamento;

d) ação repetida: pafi atirar, dar um tiro, pafadi tirotear; salti saltar,

sal-tadi dar uma série de saltos; halti parar, haltadi parar frequentemente; aperi aparecer, aperadi aparecer várias vezes.

89. Este sufixo servindo para exprimir uma ação habitual, prolongada ou

repetida presta-se, quando necessário e para maior realce, à distinção entre o tempo passado imperfeito e o passado perfeito. Assim, p. ex.: Mi venis laca - Eu cheguei cansado; Mi ĉiam venadis laca — Eu sempre chegava cansado.

Tiam ŝi rememoris tiun tagon — Então ela se lembrou desse dia; Ŝi ofte

rememoradis tiun tagon — Frequentemente ela se recordava desse dia. Li

instruis min, kiel fari — Ensinou-me como fazer; Li instruadis pacience — Ele ensinava com paciência.

De fato, pelo tempo imperfeito, em Português, exprimimos uma ação passada que, porém, era presente por certo tempo, em toda uma época pretérita. P. ex.: “Ele vinha aqui todos os dias” traduz um fato passado para nós,mas sempre atual para os de uma época passada: era uma ocorrência presente, uma ocorrência contínua, que naquela época não se poderia considerar completa, pois sempre o que se renovava: é o que se chama um passado iterativo (que se repete). Nem sempre, no entanto, precisamos empregar o sufixo ad para exprimir o pretérito imperfeito. Assim, podemos dizer, p. ex.: Johano loĝis en la strato

N., querendo significar “João morava à rua N.”, como também: “João morou à rua N.”: o próprio texto esclarecerá.

90. Por outro lado, o sufixo ad não acarreta, necessariamente, a equivalência

significaria que eles “cantavam”, mas pode ser “eles cantaram toda a noite”. Empregamos o sufixo ad porque a ação foi longa, e, entretanto, usamos, em Português, o pretérito perfeito. Já: Ili kantadis ĉiujn noktojn pode significar: “Eles cantavam todas as noites”, ou “Eles cantaram todas as noites”, de acordo com o texto onde se encontre esta frase.

91. Não se empregue sistematicamente o sufixo ad para o pretérito

im-perfeito, porquanto, em geral, é suficiente o pretérito simples em -is. Poderá usar-se para maior força de expressão. Embora seja recomendável evitar uma grande série de -ad, tal série, em certos casos, é, contudo, tão expressiva e, até, necessária, que não poderia ser condenada, mesmo na mais alta literatura.

92. Vejamos alguns exemplos de Zamenhof, onde se nota a simples

desinên-cia -is: a) servindo ao pretérito imperfeito; b) em ações de duração apreciável:

a) Kiam mi venis al li, li dormis — Quando cheguei à casa dele, ele dormia:

desnecessário “dormadis” , posto que se pudesse usar.

Unu vidvino havis du filinojn- Uma viúva tinha duas filhas: desnecessário

“havadis”.

Ŝi devigis ŝin manĝi en la kuirejo kaj laboradi senĉese - Ela a obrigava a comer na cozinha e a trabalhar sem cessar: desnecessário “devigadis” e

“manĝadi”; “laboradi” para acentuar o trabalho contínuo.

b) Lia kolero longe daŭris - A cólera dele durou muito tempo: poderia ser

“daŭradis”, mas basta o -is.

Kiam li estis ĉe mi, li staris tutan horon apud la fenestro— Quando ele esteve em minha casa, esteve postado uma hora inteira junto à janela: poderia ser “staradis” , mas basta o -is.

Ŝi longan tempon rigardis la ringon - Por muito tempo ela olhou (= ficou a olhar) o anel: poderia ser “rigardadis” .

93. O sufixo ig indica “fazer”, isto é, “tornar” tal como o designa a raiz à qual é

acrescentado; p. ex.: bela belo, beligi embelezar; klara claro, límpido, klarigi clarificar (também “esclarecer, explicar”); blanka branco, blankigi branquear (alvejar, tornar branco); ruĝa vermelho, ruĝigi avermelhar, enrubescer; ruino ruína, ruinigi arruinar; kruco cruz, krucigi cruzar (por em forma de cruz); kun com, kunigi juntar; tro demais, troigi exagerar.

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a) provocar a realização do ato indicado pela raiz; p. ex.: decidi decidir,

decidigi fazer decidir, - i. e. fazer tomar uma resoluçâo; devi dever, devigi obrigar; envii invejar, enviigi fazer inveja; esti ser, estigi formar, causar;

b) fazer que seja. . . ; p. ex.: koni conhecer, konigi tornar conhecido,

reve-lar; senti sentir, sentigi fazer que seja sentido; aŭdi ouvir, aŭdigi fazer que seja ouvido; havi ter, havigi fazer ter-se, proporcionar.

c) Ao verbo “fazer” está muito ligado o verbo “mandar”, de sorte que o

su-fixo ig, com raízes verbais, se presta à formação de verbos cuja significação é “mandar” seguido do infinitivo referente ao verbo da raiz; p. ex.: Venigu la

servistinon— Mande vir a criada. Mi farigis paron da ŝuoj Mandei fazer um par de sapatos.

NOTA — Não somente verbos se podem criar com ig, mas também substanti-vos, adjetivos e advérbios. P. ex.: kontenta satisfeito, kontentigo satisfação (i. e. justificação, indenização); nulo zero, nuligo anulação; laca cansado,

la-cigacansativo; devi dever, deviga obrigatório; neĝo blindige blanka — neve ofuscantemente branca (blinda cego, blindigi cegar).

94. Com este sufixo pode formar-se o verbo igi, que naturalmente significa

“fazer” (ou “mandar”), mas de aplicação restrita: o complemento de igi só pode ser verbo. Assim, em vez de supozigi (fazer supor) é legítimo desdobrar em

igi supozi; em vez de konstruigi (fazer, ou mandar, construir) pode-se dizer

igi konstrui. Não se diga, entretanto, p. ex. igi bela, igi publika, igi reĝo, etc.; com adjetivos etc. o verbo “fazer” é mesmo fari, isto é, fari bela, fari

publika, fari reĝo. P. ex.: A cólera fazia-a bela — La kolero faris ŝin bela. Façam público este meu desejo —Faru publika ĉi tiun mian deziron. Fizeram-no rei - Oni faris lin reĝo. A ninguém fiz chorar, a ninguém fiz desgraçado —

Neniun mi IGIS plori, neniun mi FARIS malfeliĉa. (Note-se o predicativo

bela,publika, reĝo, malfeliĉa em nominativo!).

95. O sufixo iĝ indica “fazer-se”, isto é, “tornar-se” tal como o designa a raiz à

qual se junta; p. ex.: beliĝi embelezar-se; ruĝiĝi avermelhar-se, ruborizar-se (corar); bruta bruto, brutiĝi embrutecer-se: pala pálido, paliĝi empalidecer (ficar. pálido); alia outro, aliigi mudar (tornar outro), aliiĝi transformar-se (tornar-se outro ou diferente); edziĝi casar-se (o homem); edziniĝi casar-se (a mulher);geedziĝi casarem-se (tornarem-se casal); mateno manhã, mateniĝi amanhecer; al a (preposição), aliĝi aderir; stari estar de pé, stariĝi levantar-se, por-se de pé; sidi estar sentado, sidiĝi sentar-se; kuŝi estar deitado, kuŝiĝi deitar-se; genui estar ajoelhado, genuiĝi ajoelhar-se.

NOTA — Outras categorias gramaticais, além de verbos, podem derivar-se com o sufixo iĝ, porquanto aos verbos terminados em iĝi correspondem subs-tantivos, adjetivos e advérbios; p. ex.: sufokiĝi sufocar-se, sufokiĝo sufoca-ção; naskiĝi nascer, naskiĝo nascimento; distingiĝi distinguir-se, distingiĝo distinção, distingiĝa distinto; etc.

Por sua própria natureza, as palavras que encerrem este sufixo implicam uma ideia “passiva”, enquanto as formadas com ig acarretam uma ideia “ativa”. As-sim, p. ex.: unuigi unificar, unuiĝi unificar-se. Teríamos, então: Esperanto

celas la unuigon de la popoloj— O Esperanto visa a unificação dos povos (= feita por ele ), isto é: Esperanto celas unuigi la popolojn. Mas: Per

Es-peranto fine fariĝos la unuiĝo de la popolojn — Pelo Esperanto finalmente se dará a unificação dos povos (= feita pelos povos mesmos); isto é: Per

Es-peranto la popoloj fine unuiĝos. Outro exemplo: Humiliĝo venkas ĉiajn

provojn de humiligado - A humilhação (= que a própria pessoa se impõe) vence todas as tentativas de humilhação (= que outrem queira impor).

96. O sufixo iĝ daria lugar ao verbo iĝi, com a espontânea significação de

“fazer-se”, ou “tornar-se”, ensejando-se, destarte, modos de dizer como, p. ex.:

iĝi ruĝa, iĝi alia, iĝi edzo, etc. Embora se encontrem estas expressões, quer na moderna literatura, quer em gramáticas e dicionários, não recomendamos o emprego de iĝi, como vocábulo autônomo; Zamenhof só usava, nestes casos,

fariĝi. Sempre digamos, portanto: fariĝi ruĝa, fariĝi alia, fariĝi edzo, etc., não: iĝi ruĝa, iĝi alia e quejandos barbarismos.

97. O sufixo ig serve também para tornar transitivo um verbo intransitivo, p.

ex.: ĉesi cessar, chegar a termo,ĉesigi fazer cessar; kuŝi estar deitado, kuŝigi deitar (por deitado); starigi levantar, por de pé; sidigi assentar, por sentado;

venigi fazer (ou “mandar”) vir, mandar buscar; akordi estar de acordo,

akor-digi pôr de acordo; morti morrer, mortigi matar; daŭri durar, daŭrigi con-tinuar, dar continuação; pluvi chover, pluvigi fazer chover; etc. Tais verbos, assim transitivados, chamam-se factitivos.

98. O sufixo iĝ presta-se ao inverso, isto é, a tornar intransitivo um verbo

transitivo, p. ex.: komenci começar, dar começo, komenciĝi começar, ter começo, iniciar-se; fini terminar, pôr termo, finiĝi terminar, chegar a termo;

veki acordar, tirar do sono, vekiĝi acordar, tirar-se do sono.

99. O sufixo iĝ, conforme temos verificado, exprime a ideia de “passagem

de um estado para outro”; por outro lado, o prefixo ek pode ser usado para in-dicar “ação incipiente”. Estas duas noções, certas vezes, se confundem, sendo,

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pois, natural que então se possam concretizar com iĝ ou com ek. Assim, p. ex.: stariĝi ou ekstari, sidiĝi ou eksidi, genuiĝi ou ekgenui, sciiĝi ou

eks-cii, koleriĝi ou ekkoleri (= encolerizar-se), timiĝi ou ektimi (= assustar-se),

estiĝi ou ekesti (= começar a existir, formar-se etc.), e ainda outros.

100. Verbos assim derivados geralmente equivalem, em Português, a verbos

acompanhados de pronome oblíquo (me, te, se,. . . ). Em alguns casos, em vez do sufixo iĝ pode empregar-se mesmo o pronome oblíquo do Esperanto, em acusativo. Assim: troviĝi ou sin trovi (= achar-se), turniĝi ou sin turni (= girar, rodar), ĵetiĝi ou sin ĵeti (= lançar-se), volviĝi ou sin volvi (= enrolar-se), dividiĝi ou sin dividi (= dividir-enrolar-se), leviĝi ou sin levi (= levantar-enrolar-se),

sidiĝi ou sin sidigi (= assentar-se), kuŝi ou sin kuŝigi (= deitar-se), etc.

101. É certo que nem sempre se pode empregar indiferentemente, seja iĝ

ou ek, seja iĝ ou sin -i; nosso intento aqui foi mostrar os grandes recursos de que dispõe o Esperanto neste capítulo. Eis, entretanto, alguns exemplos que mostrarão diferença de sentido entre iĝ e sin -i:

La infano ruliĝadis de branĉo al branĉo— A criança rolou (= foi rolando) de galho em galho. La infano sin ruladis sur la lito — A criança rolava no leito.

Mia ĉapo deflugis de mia kapo kaj pendiĝis sur arbo — Meu gorro voou de minha cabeça e ficou pendurado numa árvore. Laca de la vivo, li pendigis

sin sur arbo- Cansado da vida, enforcou-se numa árvore.

La limako malrapide sin trenis sur la tero- A lesma lentamente se arras-tava pelo chão. La horoj treniĝadis maldiligente — As horas se arrasarras-tavam preguiçosamente.

Nestes exemplos pode perceber-se que, se foi o próprio indivíduo que exe-cutou a ação sobre si mesmo, com o seu próprio esfôrço, por sua vontade, a forma usada foi a composta do verbo com o pronome sin: tem-se, então, um verdadeiro “reflexo”; os verbos com iĝ dizem que a ação foi independente do sujeito, foi involuntária: é a voz chamada “média” ou “medial”.