Na Tabela 16 são apresentados os resultados do estudo de ligamento entre os pares de loci de prolaminas definidos anteriormente (Tabela 15). Apenas se apresentaram os valores em que o χ2 foi significativo para um nível de α≤ 0,05, que permitiram definir os loci relacionados entre si e calcular as percentagens de recombinação. Os loci localizados nos braços curtos dos cromossomas 1B e 1D, respectivamente Glu-B3/GliB1(-R1) e Glu-D3/Gli-D1, foram estudados conjuntamente
pois não foram identificados recombinantes entre si. Só os loci Glu-A3 e Gli-A1 foram
estudados em separado por se terem detectado dois recombinantes entre ambos (Tabela 17).
Tabela 16: Dados da segregação, análise de ligamento (χ2) e percentagem de recombinação (R±SE) entre os loci estudados na F2 do cruzamento I - “Amazonas (a,c)
x M.E. Branca (b,d)”.
Pares de Loci º de descendentes/Fenótipo χχχχ2 (a) R±SE
(a,c) x (b,d) a,c a,cd a,d ab,c ab,cd ab,d b,c b,cd b,d (4 g.l.) (%)
Glu-A1, Glu-A3 9 17 7 12 40 13 10 9 15 12,28* 43,5±4,2
Glu-A1, Gli-A1 8 18 7 11 40 14 10 9 15 11,99* 44,4±4,3
Glu-B1, Glu-B3/Gli-B1(-R1) 15 4 2 10 47 8 1 11 34 88,81*** 16,0±2,5
Glu-A3, Gli-A1 29 1 1 0 66 0 0 0 35 250,03*** 1,1±0,7
*, ***: nível de significância de 5%, e 0,1 % respectivamente
(a) - dois loci com alelos codominantes (1:2:1), 4 g.l , proporção esperada 1:2:1:2:4:2:1:2:1
Tabela 17: Caracterização alélica dos recombinantes entre os loci Glu-A3 e Gli-A1
encontrados na segregação do cruzamento I
Recombinantes Glu-A3 Gli-A1
1 aa ab
2 aa bb
aa- homozigótico para o alelo da variedade “Amazonas” ab-heterozigótico
No cromossoma 1A foram identificados três loci: o Glu-A1 no braço longo do
cromossoma e os loci Glu-A3 e Gli-A1 intimamente ligados (χ2=250,03***, 4 g.l.), localizados no braço curto do mesmo cromossoma, com uma percentagem de recombinação de 1,1±0,7 %. O Glu-A1 não se comportou de modo independente em
relação aos loci Glu-A3 e ao Gli-A1 (χ2=12,28* e χ2=11,99*, 4 g.l. respectivamente), tendo-se calculado uma percentagem de recombinação de 43,5±4,2 % entre o Glu-A1 e
o Glu-A3 e de 44,4±4,3 % entre o Glu-A1 e o Gli-A1 (Figura 20).
Figura 20: Representação dos marcadores encontrados no cromossoma 1A com as respectivas
distâncias genéticas (em % de recombinação).
Foram identificados os seguintes loci no cromossoma 1B: o Glu-B1 no braço
longo do cromossoma e os loci Glu-B3/Gli-B1(-R1) localizados no braço curto
totalmente ligados. O locus Glu-B1 não segregou independentemente dos loci Glu- B3/Gli-B1(-R1), pois as proporções das nove classes fenotípicas obtidas não se
ajustaram aos valores teóricos esperados 1:2:1:2:4:2:1:2:1 (χ2
=88,81***, 4 g.l.). Determinou-se uma percentagem de recombinação de 16,0±2,5 %, que não corresponde a uma distância real entre os dois loci, mas sim à distância do Glu-B1 ao centrómero,
uma vez que a translocação afecta todo o braço 1BS, sendo o braço 1RS transmitido integralmente à descendência como um todo.
No cromossoma 1D foram identificados os seguintes loci: o Glu-D1 no braço
longo do cromossoma e os loci Glu-D3/Gli-D1 localizados no braço curto totalmente
ligados, comportando-se de modo independente em relação ao primeiro (χ2
=0,20ns, 4 g.l.). Foi ainda identificado o locus Gli-A2 localizado no braço curto do cromossoma
Glu-A1 Glu-A3 1,1±0,7 1AL 43,5±4,2 44,4±4,3 Gli-A1 1AS
1.1.2 - Cruzamento II -
“Amazonas x Bejense”A análise por electroforese das prolaminas de 132 grãos F2 permitiu realizar o
estudo genético do cruzamento “Amazonas x Bejense”. Apesar da maioria dos loci ter sido estudada nos 132 grãos, perderam-se alguns dados por não ter sido possível identificar a composição proteica de alguns grãos (o Gli-D1 foi analisado em 128 e o Gli-A2 em 124 grãos).
Figura 21: Fraccionamento por electroforese em géis SDS-PAGE das subunidades de
gluteninas dos progenitores “Amazonas” (A) e “Bejense” (B) e de vários grãos F2 do
cruzamento II - “Amazonas x Bejense” (inserções 1 a 11).
HMW
LMW D
B
Nas Figuras 21, 22 e 23 apresenta-se a separação das gluteninas HMW-GS e LMW-GS por SDS-PAGE e das gliadinas por SDS-PAGE e A-PAGE nos progenitores deste cruzamento e em vários grãos F2, indicando-se as subunidades em estudo.
A caracterização alélica previa da variedade “Amazonas” (Igrejas et al., 2000,
Metakovsky et al., www.aaccnet.org) e o estudo genético do cruzamento “Amazonas x
M.E. Branca” serviram de base ao estudo deste cruzamento.
Figura 22: Fraccionamento por electroforese em géis SDS-PAGE das gliadinas não reduzidas
dos progenitores “Amazonas” (A) e “Bejense” (B) e de vários grãos F2 do cruzamento II
(inserções 1 a 11). ω
γ, β, α,
Figura 23: Fraccionamento por electroforese em géis A-PAGE das gliadinas reduzidas dos
progenitores “Amazonas” (A) e “Bejense” (B) e de vários grãos F2 do cruzamento II (inserções
1 a 11).
Na Tabela 18 apresentam-se as classes fenotípicas encontradas para cada locus, a frequência com que cada classe foi observada na F2 e o ajuste às proporções teóricas
esperadas (1:2:1 ou 3:1). Foram estudados os seis principais loci dos cromossomas do grupo de homeologia 1 e um locus no braço curto de um dos cromossomas do grupo 6, que no cruzamento anterior se determinou ser o 6A.
As distribuições fenotípicas de todos os loci ajustaram-se às distribuições teóricas esperadas para a situação de codominância (1:2:1) ou de dominância (3:1) no
β ω + - α γ
caso de não ter sido possível a identificação alélica dos dois progenitores. Confirmou-se assim a atribuição dos alelos, para um nível de significância de α=0,05 (Tabela 18).
Tabela 18: Dados da segregação F2 das subunidades de prolaminas do cruzamento II -
“Amazonas x Bejense” (a x b).
Locus Prolaminas º descendentes
Amazonas (a) Bejense (b) a ab b - χχχχ2(1:2:1) χχχχ2(3:1)
Glu-A1 1 2* 44 62 26 5,39 ns Glu-B1 7+9 20x+20y 39 60 33 1,64 ns Glu-D1 5+10 2+12 29 79 24 5,50 ns Glu-A3 B-LMW8 - 100 32 0,04 ns Gli-A1 NR5+ω6 - 97 35 0,16 ns Glu-B3/Gli-B1(-R1) -/ NR13+ω10+ω14+γ19 B-LMW1+C-LMW12/ NR2+NR14+NR15+ω7+ω12+γ17 32 64 36 0,36 ns Gli-D1 ω1 NR8+ω4 36 58 34 1,19 ns Gli-A2 β20 - 84 40 3,48 ns
ns- não significativo, comprova-se o alelismo a: possui o alelo da variedade “Amazonas” ab: heterozigótico
b: possui o alelo da variedade “Bejense”
-: segregação 3:1, não possui o alelo da variedade “Amazonas”
1.1.2.1 - Gluteninas (HMW-GS e LMW-GS)
Em relação às subunidades de gluteninas HMW-GS estudou-se a segregação (tipo 1:2:1) das subunidades codificadas pelo Glu-A1 (“Amazonas”- 1 e “Bejense”- 2*),
pelo Glu-B1 (“Amazonas”- 7+9 e “Bejense”- 20x+20y) e pelo Glu-D1 (“Amazonas”-
5+10 e “Bejense”- 2+12).
O estudo das subunidades de gluteninas LMW-GS foi difícil de realizar uma vez que o padrão de bandas dos dois progenitores foi bastante idêntico o que dificultou o seu seguimento ao longo da descendência F2 deste cruzamento. Apenas se identificaram
subunidades associadas à componente alélica de um dos progenitores para os dois loci estudados: “Amazonas” - no caso do Glu-A3 e “Bejense” - no caso do Glu-B3 devido à
1.1.2.2 - Gliadinas (Reduzidas e ão Reduzidas)
Os loci Gli-B1(-R1), Gli-D1 foram estudados com segregações do tipo 1:2:1,
enquanto os loci Gli-A1 e Gli-A2 foram estudados com segregações do tipo 3:1 (Tabela
18).
Tal como no cruzamento anterior as secalinas da variedade “Amazonas” foram herdadas em bloco comportando-se como variante alélica em relação às prolaminas codificadas pelos loci Glu-B3/Gli-B1 da variedade “Bejense” (Tabela 18, Figura 22 e
23).