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CAPÍTULO 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DAS COMUNIDADES DE FALA BRASILEIRAS E

1.4 LISBOA-PT

Lisboa está localizada na margem direita do rio Tejo, junto à foz, de acordo com a Figura 4, e situa-se a oeste de Portugal, na costa do Oceano Atlântico. Lisboa nasceu de uma “citânia”25 localizada a norte do atual castelo de São Jorge. Este seria um dos muitos núcleos

humanos desenvolvidos no período pré-histórico. Através da ação povoadora dos romanos (195 a.C.) e inerente desenvolvimento socioeconômico, em breve lhe seria atribuída a classificação de “município” (CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA-PT, 2013).

25 Nome dado a várias povoações fortificadas, pré-romanas, da Península Hispânica.Informação retirada do sítio

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2010), disponível em: http://www.priberam.pt/, acesso em: 04 de maio de 2013.

Figura 4 - Mapa de Lisboa-PT

Fonte: Google Imagens. Acesso em maio de 2013. Adaptado.

A crise do século III, que fragilizou a sociedade romana, teve os seus reflexos em toda a Península Ibérica. As sucessivas invasões de novos povos (germanos em 500 d. C. e árabes em 700 d.C.) transformaram a fisionomia da população. Devido ao clima de insegurança e de guerra, a cidade adquiriu uma feição de fortaleza na qual se refugiaram os habitantes fugidos do avanço dos exércitos cristãos. No período da Reconquista Cristã, a Lisboa muçulmana era uma cidade cobiçada e foi várias vezes atacada e ocupada pelos exércitos cristãos. Lisboa era, então, o mais opulento centro comercial de toda a África e de uma grande parte da Europa26.

Em 1147, D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, conquistou a cidade de Lisboa. A cidade tornou-se capital do reino em 1255, devido à sua localização estratégica. Nos últimos séculos da Idade Média, a cidade expandiu-se e tornou-se um importante porto com comércio estabelecido com o norte da Europa e com as cidades costeiras do Mar Mediterrâneo. Em 1290, o rei Dom Dinis mandou estabelecer a primeira universidade de Portugal em Lisboa (que foi transferida para Coimbra em 1308), quando a cidade já dispunha de grandes edifícios religiosos e conventuais, de acordo com Costa (1940).

D. Fernando, então Rei de Portugal, perante as ameaças da Espanha, criou uma nova muralha de defesa, em 1373-75. O novo capítulo da história de Lisboa ocorreu com a grande

26 Informações retiradas do sítio da Câmara Municipal de Lisboa-PT, disponível em: http://www.cm-lisboa.pt/,

revolução da Crise de 1383-85. Após a morte de D. Fernando, D. João I, então Rei de Portugal, criou a primeira urbanização na colina do Carmo, em 1400. A Corte de D. Manuel I abandona o castelo e fixa o Paço Real no Terreiro do Paço, onde se centrou toda a vida comercial da cidade, por volta de 150027. Surgiu, também, por volta desse mesmo ano, no Bairro Alto o primeiro loteamento renascentista, que cresceu como bairro popular, embora posteriormente tenha se transformado numa zona onde a aristocracia veio a construir os seus palacetes. O Bairro Alto marcou a passagem do século XVI para o século XVII na vida urbana de Lisboa e a aquisição de uma consciência urbanística e arquitetônica, segundo Costa (1940).

O século XVIII marca para Lisboa a data de um período de desenvolvimento. Apesar do terremoto, que abrangeu as zonas mais urbanas da cidade, e do incêndio que devastou três mil casas das vinte mil existentes, nasceu a Lisboa Pombalina. Em 1755-76, a Lisboa Pombalina tinha como impulsionador o Marquês de Pombal que era, nessa mesma época, o Primeiro Ministro do Rei D. José. O plano, sem dúvida inovador, baseava-se em ruas alinhadas, tendo atenção à resistência, visto as ações sísmicas do território. A partir de 1780, a cidade passa a ter iluminação pública e em 1801 as ruas passam a receber nomes28.

Nos primeiros anos do século XIX, Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte que obrigaram o rei D. João VI a retirar-se temporariamente para o Brasil. A cidade viveu intensamente as lutas liberais e iniciou-se uma época de desenvolvimento de cafés e de teatros. O centro cultural e comercial da cidade passou para o Chiado por volta de 1880, segundo Costa (1940). Em meados desse mesmo ano, foram fundados os Clubes, como o Grêmio Literário famoso das histórias de Eça de Queiróz.

O século XX foi o período em que as touradas e o fado29 se transformaram em verdadeiros entretenimentos populares. Entretanto, neste mesmo século, as elites impuseram a ditadura em 1907; a família real sofreu atentados em 1908; os operários organizaram greves em 1909; ocorreram várias revoltas populares em 1910; os monárquicos tentaram o golpe de estado que falhou em 1912; Portugal entra do lado aliado na Primeira Guerra Mundial em 1916; ocorre o fim da I República em 1926; novos bairros foram criados em Lisboa em 1930- 43; o regime de Salazar e Marcello Caetano foi derrubado pela Revolução dos Cravos num golpe de estado realizado em Lisboa em 1974; Lisboa e o país passaram a ser governados por

27 Nesse mesmo ano, os primeiros portugueses chegaram ao chamado “Novo Mundo” (América), e com eles o

navegador Pedro Álvares Cabral que desembarcou no novo território (Brasil).

28 Informações retiradas do sítio da Câmara Municipal de Lisboa-PT, disponível em: http://www.cm-lisboa.pt/,

acesso em: 05 de maio de 2013.

um regime democrático em 1974-75; deu-se a Assinatura do Tratado de Adesão à Comunidade Econômica Europeia em 1985; deu-se o Grande Incêndio do Chiado em 1988; Lisboa foi a Capital da Cultura em 1994; a segunda ponte de Lisboa, a Ponte Vasco da Gama, foi inaugurada em 1998, e é a quinta maior do mundo30.

Dentre as principais manifestações festivas de caráter religioso e popular de Lisboa- PT, destacamos as festas em honra de Santo Antônio de Lisboa, que acontecem em toda a cidade e nos bairros mais tradicionais, que são enfeitados com balões e arcos decorativos. Todos os anos, a cidade organiza, nessa noite, as marchas populares, que são grandes desfiles alegóricos que descem a Avenida da Liberdade, que é a principal artéria da cidade31.

Linguisticamente, de acordo com Teyssier (1984), podemos formular várias hipóteses sobre a realização das fricativas palato-alveolares em coda silábica no PE. Em um primeiro momento, segundo o autor,

[...] seríamos tentados a ligar o fenômeno à transformação que o sistema das “sibilantes” sofreu no decorrer do século XVI: enquanto as antigas ápico-alveolares se transformavam em pré-dorsodentais em início de sílaba, elas se teriam palatalizado em final de sílaba, tornando-se assim chiantes. [...] Uma segunda hipótese se afigura, então, mais provável: os -s e -z implosivos teriam sido inicialmente sibilantes, e, em época mais tardia, compreendida entre o século XVI e a data do primeiro testemunho (Verney, 1949), é que se teria produzido o chiamento (TEYSSIER, 1984, p. 46).

Com base nisso, pressupomos que, no século XVII, as fricativas palato-alveolares, ou seja, chiantes [, ] já eram produzidas no PE (principalmente na área centro-meridional de Portugal, inclusive em Lisboa, assim como também no arquipélago dos Açores), sendo que, no PB, a pronúncia das chiantes está relacionada aos antigos portos e à comunicação marítima dos séculos XVIII e XIX. Podemos considerar, então, que a realização da fricativa palato- alveolar iniciou-se entre os séculos XVI-XVII e, por volta dos séculos XVIII e XIX, os brasileiros já conheciam tal pronúncia advinda de Portugal, bem como dos Açores (FURLAN, 1989).

Em termos de população, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística – INE (2011), há 2,8 milhões de habitantes na grande região de Lisboa, dos quais 547.631 residem na cidade, sendo 45,82% do sexo masculino e 54,18% do sexo feminino. As cerca de 244.350 famílias espalham-se por 323.937 alojamentos existentes na cidade.

30 Informações retiradas do sítio da Câmara Municipal de Lisboa-PT, disponível em: http://www.cm-lisboa.pt/,

acesso em: 05 de maio de 2013.

Com relação à atual economia, Lisboa é o principal e mais desenvolvido centro financeiro de Portugal, e um dos mais importantes da Europa. A maioria das sedes das multinacionais existentes no país está situada em Lisboa e é ainda a 6ª cidade em nível mundial que mais recebe congressos internacionais. A Área Metropolitana de Lisboa é altamente industrializada, especialmente na zona sul do rio Tejo. As indústrias principais consistem em refinarias de petróleo, indústrias têxteis, estaleiros, siderurgia e pesca. É por essas razões considerada o segundo centro financeiro e econômico mais importante na Península Ibérica, apenas atrás de Madri, capital da Espanha32.

32 Informações retiradas do sítio da Câmara Municipal de Lisboa-PT, disponível em: http://www.cm-lisboa.pt/,