• Nenhum resultado encontrado

De Lisboa a Elvas, de Madrid a Badajoz: a Troca das Princesas e a cortesia

III. Capítulo O duplo matrimónio ibérico: um jogo de espelhos

1. A “Paz Nupcial” e a ideia de um duplo casamento

1.5. De Lisboa a Elvas, de Madrid a Badajoz: a Troca das Princesas e a cortesia

«[...] se abraçarâõ os Soberanos, e se trocarâõ as Princezas com reciproco jubilo de huã, e outra Nação»884.

As duas Cortes idealizaram, negociaram, assinaram, celebraram, organizaram e aguardaram durante cerca de quatro anos (1725-1729), pelo momento em que se trocariam, numa «ilhasita no meyo do Caya que divide os dois Reinos»885, as duas princesas D. Maria Bárbara e D. Mariana Vitória. Dias antes de partir de Madrid em direcção à fronteira, congratulou-se o Marquês de Abrantes por ser responsável pelo «alvoroço nos verdadeiros nacionaes de huã, e de outra parte»e por ter silenciado a com o sucesso da sua embaixada, a «raiva nos que naõ dezejavão o bom successo desta negociação»886. Estaria o Embaixador português a referir-se aos franceses?

881 Vide Bernardo Garcia Garcia, op.cit., pp. 27 e 28. 882 Vide idem, ibidem, p. 25.

883 Vide Carta do Marquês de Abrantes para Francisco Mendes de Góis, Lisboa, 9 de Fevereiro de 1729. ANTT, MNE, Caixa 1, Maço 5, fol.1.

884 Vide Correspondência do Marquez d’Abrantes com o Conde de Tarouca, Madrid, 20 de Dezembro de 1728. ANTT, MNE, Caixa 913, Maço 4, fol. 123.

885 Vide Visconde Santarém, op.cit., p. 209.

886 Vide Correspondência do Marquez d’Abrantes com o Conde de Tarouca, Madrid, 3 de Janeiro de 1728. ANTT, MNE, Caixa 913, Maço 4, fol. 125.

Possivelmente, sim. Para tirar vantagem da divulgação internacional deste matrimónio, fez questão de convidar pessoalmente os Ministros da França, do Império, Holanda e Sardenha para integrarem a comitiva da família real espanhola nesta jornada887. Decidiu também adiantar-se ao dia da partida dos reis católicos (7 de Janeiro de 1729), para se encontrar em Vila Viçosa com D. João V e ter tempo de regressar novamente para Badajoz888. Na mesma altura, saía de Lisboa o rei português e a luxuosa comitiva que o acompanhava, seguido dos séquitos da rainha e do patriarca. Ao longo dos 12 dias de viagem, as localidades portuguesas por onde passaram, as igrejas e os palácios adornaram-se para receber e assistir à passagem deste cortejo889. Em Elvas, o destino final, a família real portuguesa foi recebida com os fogos de artifício que o próprio Marquês de Abrantes mandara providenciar. Ao governador daquela praça pediu também o Embaixador que lhe arranjasse um pequenino quartel, onde pudesse posteriormente pernoitar e «pouzar com a [sua] curta família»890. Servindo-se de um pequeno paquebote de campo e de dois soldados para o escoltar, encontrou-se na Atalaia dos Matos com D. João V, fazendo a cortesia de cumprimentar pessoalmente o rei, como havia planeado891.

Finalmente, entre os dias 14 e 15 de Janeiro, Filipe V e a sua família chegaram a Badajoz acompanhados por «numerosa chusma de curiosos»892 e, no dia dia 16, instalou-se também em Elvas a Corte portuguesa893. Apesar dos esforços dos Embaixadores, Marquês de Capecelatro e Marquês de Abrantes, para servirem de «interlocutores do cerimonial»894, ao contrário do que seria desejável, os três dias que se seguiram ficaram marcados por uma tensão evidente entre as duas Coroas. A

887 Vide Ofício do Marquês de Abrantes para o Secretário de Estado português, Madrid, 21 de Dezembro de 1728. ANTT, MNE, Caixa 5, Maço 11, fol.1.

888 Vide Carta do Marquês de Abrantes para o Marquês de la Paz, Elvas, 16 de Janeiro de 1729. AHN, Estado, Legado 2518, fols.1-1v. A jornada da família real espanhola fez-se em 10 dias e passou por Casarrubios del Monte, Torrijos, Santa Olalla, Talavera de la Reina, Oropesa, Navalmoral de la Mata, Jaraicejo, Trujillo, Miajadas, Medellin, Arroyo de San Serván y Lobón e Badajoz. Cf. Bernardo Garcia Garcia, op.cit., p. 34.

889 A comitiva portuguesa partiu de Lisboa em direcção à Aldeia Galega, passando por Pegões, Vendas Novas, Montemor-o-Novo, Évora, Redondo, Vila Viçosa e Elvas. Estes aspectos foram amplamente estudados pela historiografia e, por isso, iremos abster-nos de dar mais detalhes sobre a matéria. A título de exemplo, confira: António Filipe Pimentel, «A Troca [...]» p. 66; José Manuel Tedim, A Festa [...], p. 284. Maria Beatriz Nizza da Silva, op.cit., pp. 46-47.

890 Vide Carta do Marquês de Abrantes para João de Ataíde, Madrid, 21 de Dezembro de 1728. ANTT, MNE, Caixa 5, Março 11, fol. 1.

891 Vide Eurico Gama, op.cit., p. 150;

892 Vide Charles Alexandre de Montgon, op.cit., p. 99. 893 Vide Eurico Gama, op.cit., p. 150.

maioria das fontes, ditas oficiais895, omitem-no. Fazem apenas referências à troca de cumprimentos e à circulação dos seus elementos entre Elvas e Badajoz, enquanto Secretários e Embaixadores acertavam os últimos detalhes relativos à cerimónia da Troca das Princesas, conforme havia programado o Marquês de Abrantes896. Para Guillermo Coxe, os «altercados frívolos»897 de etiqueta ocorridos nos bastidores puseram em causa e retiraram a cordialidade diplomática que a ocasião exigia, não sendo conveniente que ficassem registados. Porém, através do testemunho (pouco imparcial) de um agente infiltrado de Filipe V, sabemos que se instalara um ambiente embaraçoso: D. João V e Filipe V discordavam quanto ao dia em que se deveria realizar aquela cerimónia898. O rei católico pretendia que fosse no dia 17 de Janeiro, tendo enviado as suas tropas e comitiva para junto do pavilhão construído para o efeito. Porém, D. João V não tinha sequer terminado os preparativos «em que se empenhava para cerimonia de tal luzimento»899. A pressa de Filipe V – ou de Isabel Farnésio, como sugere António Filipe Pimentel 900 – indignou o soberano português, que exigiu, através do seu Embaixador, que se adiasse por mais dois dias a Troca das Princesas. Contrariado, o rei espanhol acabou por aceder a este pedido, dando ordens para que a sua comitiva recuasse novamente até Badajoz901.

Finalmente, a 19 de Janeiro de 1729, os dois séquitos, estacionados em Elvas e em Badajoz, avançaram para o ponto de encontro – a casa de madeira construída no rio Caia. Nessa manhã, o Marquês de Abrantes aproveitou para se corresponder com o Secretário espanhol, Marquês de la Paz, transmitindo-lhe a felicidade do seu soberano por ter chegado aquele dia, informando-o de que estava tudo a postos, como haviam ajustado na conferência do dia anterior902. As expectativas eram elevadas, sobretudo,

895 Referimo-nos, por exemplo, à obra que Frei José da Natividade dedicou ao (futuro) rei D. José I. Cf. Frei José da Natividade, op.cit.

896 Vide Cartas do Marquês de Abrantes para o Marquês de la Paz, Elvas, 16 e 19 de Janeiro de 1729. AHN, Estado, Legado 2518. Sobre os cumprimentos e presentes trocados entre as duas Cortes nestes dias: Eurico Gama, op.cit., p. 156; Bernardo Garcia Garcia, op.cit., p. 36.

897 Vide Guillermo Coxe, op.cit., t.III, p. 88.

898 O Abade de Montgnon era o agente infiltrado de Filipe V. O seu objetivo passava por acompanhar o regresso a Lisboa da comitiva portuguesa e dar informações ao soberano espanhol sobre a forma como era tratada a sua filha, D. Mariana Vitória, na Corte portuguesa. Cf. Castelo Branco Chaves, op.cit., pp. 91-120.

899 Vide idem, ibidem, p. 101.

900 Vide António Filipe Pimentel, «A Troca [...]», p. 66. 901 Vide Charles Alexandre de Montgon, op.cit., p. 101.

902 Vide Carta do Marquês de Abrantes para o Marquês de la Paz, Elvas, 19 de Janeiro de 1729. AHN, Estado, Legado 2518. O Marquês de Abrantes teve inclusivamente o cuidado de referir que havia advertido os nobres participantes quanto à higiene pessoal, tendo em conta a quantidade de cumprimentos que seriam trocados naquela cerimónia.

do lado português que tinha a «expectação de ver da nossa parte o mais opulento, e lustroso espectaculo, que já mais dêo Portugal de si»903. Quem nesse dia observasse os dois lados das margens daquele rio ficou certamente impressionado. A parte portuguesa destacava-se pela riqueza das suas indumentárias e pelos adereços do seu «aparelho áulico»904. A espanhola evidenciava-se pelas cerca de 16 mil pessoas que a formavam, superando numericamente qualquer outra jornada do estilo905. Se, há poucos anos atrás, hesitou Eurico Gama em avançar com este «número histórico»906, na época, o Marquês de Abrantes avançou igualmente com este valor907. A estratégia quantitativa castelhana tinha como fim último compensar as restrições de luxo impostas pela pragmática, o que permitiu à comitiva portuguesa ser mais vistosa «pela liberdade, e opulenta ostentação dos vestidos, que se faltava aos Hespanhoes»908. Em quantidade ou qualidade, diz-nos Eduardo Brazão, «cada uma das duas Cortes procurava ofuscar o brilho da outra»909.

O rio Caia como pano de fundo de uma boda ibérica não era uma estreia. Há muito que este local se tornara «o ponto de trânsito das princesas casadoiras entre os dois países»910, mesmo que não fosse usado desde o século XVI911. (Re)utilizá-lo terá sido uma proposta de D. João V, que sugeriu que se renovasse uma antiga ponte de madeira, sob a qual se construiria um pavilhão para receber as duas famílias reais912. Assim, fabricou-se um edifício de planta quadrada, repleto de janelas e vidros cristalinos, apresentando figuras mitológicas, armas e símbolos alusivos à História dos dois reinos nas suas fachadas. O seu interior era composto por um salão grande, dividido em duas partes iguais, uma para a Corte portuguesa, outra para a

903 Vide Correspondência do Marquez d’Abrantes com o Conde de Tarouca, Madrid, 27 de Dezembro 1728. ANTT, MNE, Caixa 913, Maço 4, fol. 124.

904 Vide António Filipe Pimentel, «A Troca [...]», p. 66. 905 Vide Bernardo Garcia Garcia, op.cit., p. 35.

906 Vide Eurico Gama, op.cit., p. 157.

907 Vide Correspondência do Marquez d’Abrantes com o Conde de Tarouca, Madrid, 27 de Dezembro. ANTT, MNE, Caixa 913, Maço 4, fol. 124.

908 Vide idem, ibidem, fols. 126 e 127.

909 Vide Eduardo Brazão, Relações Externas [...], p. 442. 910 Vide António Filipe Pimentel, ibidem, p. 67.

911 Cf. Bernardo Garcia Garcia, op.cit., p. 30. Bernardo Garcia relembra os casamentos de Isabel de Portugal com o Imperador Carlos V (1526); da irmã deste último, Catarina de Áustria, com D. João III (1543); o da infanta Maria Manuela de Portugal com o futuro Filipe II (1551) e o de D. Joana de Aústria com D. João Manuel de Portugal (1551).

912 A Corte de Madrid preferia que se construísse uma ponte de pedra nova sobre o rio. D. João V rejeitou esta proposta por considerar que esta era uma estratégia para que o rei católico conseguisse aumentar os limites da soberania espanhola na fronteira. Cf. Bernardo Garcia Garcia, op.cit., p. 36.

espanhola913. Era a arquitectura a funcionar ao serviço da diplomacia e a espelhar os ideais de reciprocidade entre dois Estados. Todavia, evidenciou-se neste momento uma subtil, mas propositada diferença: colocaram-se almofadas aos pés dos reis católicos, não dispondo os soberanos portugueses desta mesma comodidade914. Estas diferenciações, que poderiam adulterar a igualdade entre as duas partes, eram um hábito comum e uma prática antiga dos monarcas espanhóis915.

João V aguardou cerca de 45 minutos por Filipe V, pois, de acordo com o critério do recíproco tratamento, as duas comitivas deveriam entrar ao mesmo tempo na sala comum916. No interior encontravam-se já os Secretários, os Embaixadores, Marquês de Abrantes e Marquês de Capecelatro e os gentis-homens das duas Casas Reais917. Ao entrarem, as duas famílias reais detiveram-se atrás da linha imaginária que, simbolicamente, demarcava o «limite, e divisão dos seus Domínios»918. Do lado português colocaram-se sete cadeiras dourada, do espanhol apenas seis, mas de prata para não transgredir a pragmática919. Conforme sugestão do Embaixador português, esta cerimónia iniciou-se lendo cada um dos respectivos Secretários as capitulações do tratado matrimonial, «con la ceremonia y orden acostumbrada»920. Pelo conhecimento que adquiriram durante as suas missões em Madrid e em Lisboa, o Marquês de Abrantes e o de Capecelatro eram as pessoas mais qualificadas para apresentar os oficiais, criados e nobres de uma e outra parte aos monarcas ibéricos, um solene ritual que durou mais de uma hora e meia921. Depois separaram-se «os pays

913 Da parte portuguesa, o Pavilhão foi concebido pela colaboração entre Sargento-mor e Engenheiro da Praça Militar de Setúbal, Francisco Pereira da Fonseca, António Canevari e Francisco Luduvice e, da espanhola, pelos Engenheiros Militares Filipe Crame e Juan Frentchqueson. Vários autores se debruçaram sobre este assunto. Cf. José Manuel Tedim, A Festa […], p. 312; idem, «O Triunfo [...]», p.182; Bernardo Garcia Garcia, op.cit., pp. 36 e 37. António Filipe Pimentel, ibidem, pp. 67-70. Eurico Gama, op.cit., p. 158.

914 Vide Charles Alexandre Montgon, op.cit., p. 100.

915 Já em 1615, no casamento de Luís XIII com a Infanta espanhola, Ana de Áustria, o lado da casa espanhola era três vezes maior que a francesa. Cf. Bernardo Garcia Garcia, op.cit., pp. 26 e 27.

916 Vide idem, ibidem, p. 38. O cerimonial acordado entre o Secretário de Estado português, Diogo de Mendonça Corte Real e o homólogo espanhol, Marquês de La Paz, estabelecia que os reis não se cobririam, que falariam de pé, que a benção nupcial se celebraria no mesmo dia da Troca das Princesas e que os Príncipes colocariam as suas esposas ao seu lado esquerdo. Cf. Frei José da Natividade,

op.cit., p. 228.

917 Vide Bernardo Garcia Garcia, ibidem, p. 38. 918 Vide D. António Caetano de Sousa, op.cit., p. 289. 919 Vide Frei José da Natividade, op.cit., p. 238.

920 Vide Relação da chegada, entrada e audiencia pública [...]. BNA, Manuscrito 54-IX-18, nº 164, fol. 2v.

921 Cf. Frei José da Natividade, ibidem, pp. 240-241; Charles Alexandre Montgon, op.cit., p.104; Eurico Gama, op.cit., p. 160; Bernardo Garcia Garcia, op.cit., p.38.

das filhas, unindo-se os esposos, e as esposas»922. A cerimónia da Troca das Princesas dava-se por concluída. Fora do pavilhão, aguardava uma enorme multidão que se aglomerou nas margens do rio Caia, para «ver hum dos mais célebres, e vistosos dias, que se lerá na História»923. Os três dias seguintes foram marcados por um calendário de festejos e actividades lúdicas, uma correria de cortesias, cumprimentos e troca de presentes entre as duas Cortes924. Nos dias 23 e 26 de Janeiro, D. João V e Filipe V tiveram a oportunidade de se encontrar novamente sem formalidades, guardas ou ostentação, ficando, segundo os relatos, os negócios e a política à parte das conversas e das promessas de amizade trocadas entre os dois monarcas ibéricos925.

Depois de um total de 11 dias de festa, as margens do rio Caia ficaram vazias. Apesar de se ter despedido de Filipe V ainda em Madrid, o Embaixador português, Marquês de Abrantes, aproveitou este momento para anunciar oficialmente o término da sua embaixada naquela Corte. Com 53 anos de idade e uma longa “carreira” ao serviço do rei, alegou não ter «forças bastantes»926 para continuar aquela missão. D. João V aceitou o seu pedido de “reforma”, autorizando-o a regressar a casa acompanhando a restante comitiva portuguesa927. Ao desembarcar em Lisboa, a família real e a nova princesa do Brasil, D. Mariana Vitória, realizaram uma das maiores entradas triunfais do reinado d’O Magnânimo. O povo, ansioso por ver desfilar este séquito e os mais de 100 coches que o integravam, recebeu-os por entre aplausos928.

Ainda no Caia, em substituição do Marquês de Abrantes, o rei de Portugal acreditou Pedro Álvares de Cabral junto do monarca espanhol, investindo-o com o carácter de Ministro Plenipotenciário. Este diplomata iria acompanhar Filipe V e a sua família, de lugar em lugar até à Andaluzia, durante os quatro anos seguintes

922 Vide Correspondência do Marquez d’Abrantes com o Conde de Tarouca, Madrid, 7 de Fevereiro de 1729. ANTT, MNE, Caixa 913, Maço 4, fol. 127.

923 Vide D. António Caetano de Sousa, op.cit., p. 290.

924 Abstivemo-nos de tratar este tema, por já ter sido abordado por outros autores. Cf. Bernardo Garcia Garcia, op.cit., pp. 39 e 40; Eurico Gama, op.cit., pp. 162-164; José Manuel Tedim, «O triunfo [...]», p.185.

925 Vide Correspondência do Marquez d’Abrantes com o Conde de Tarouca, Madrid, 7 de Fevereiro de 1729. ANTT, MNE, Caixa 913, Maço 4, fol. 127.

926 Vide idem, ibidem, fol. 128.

927 Vide Frei José da Natividade, op.cit., p. 281. 928 Cf. Charles Alexandre Montgon, op.cit., p. 114.

(1729-1733)929. A historiografia espanhola apelidou esta jornada de «Lustro Real»930. Possivelmente, um plano da rainha Isabel de Farnésio para afastar o seu marido da capital governativa, esperando assim conseguir exercer a sua influência e conduzir a política espanhola de acordo com as suas conveniências931.

Na fronteira peninsular, em Janeiro de 1729, os dois monarcas ibéricos prometeram «assegurar huã perpetua paz, e alliança, por meyo dos mais sagrados vínculos»932. Casaram os seus filhos e retomaram «uma das alianças mais antigas entre as Famílias Reais europeias e simultaneamente uma das mais conflituosas da história»933. A Troca das Princesas para além de ter aberto um novo capítulo na História de Portugal, conforme referiu Eurico Gama934, abriu outro no das relações ibéricas, há muito por escrever. Encerrou também um período instável e marcado pelas desconfianças do Congresso de Utreque (1715). E, possibilitou que o rei de Portugal vislumbrasse, 17 anos depois, aquilo que ambicionou quando entregou definitivamente a sua filha ao príncipe das Astúrias em 1729: torná-la rainha de Espanha (1746) e redirecionar a política castelhana de acordo com os seus interesses. Mais que isso. Acertou as velhas contendas relativas aos limites do Brasil com a assinatura de um Tratado em 1750. Chegara o tempo da nova «unidade peninsular»935, o tempo do acerto Bourbon-Bragança.