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ÍNDICE

1. A INFLUÊNCIA DA TENSÃO PSÍQUICA E MUSCULAR……...…. 2

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1.

A INFLUÊNCIA DA TENSÃO PSÍQUICA E MUSCULAR

O oitavo Jornal de Aprendizagem é referente ao período de 2 a 12 de Janeiro de 2018. O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação (EEER) é um membro da equipa multidisciplinar dotado de mestrias ímpares que lhe permitem estabelecer intervenções de cuidados especializados em Enfermagem de Reabilitação (ER) nos diferentes contextos de prática clínica, de acordo com as necessidades concretas da população em que está inserido (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2011).

É por essa razão essencial que, durante este meu processo de construção/desenvolvimento das competências que me serão exigidas, melhore continuamente a qualidade dos cuidados que presto, através da reflexão com posterior análise fundamentada, das intervenções que concebo para os utentes internados no Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Pulido Valente, Centro Hospitalar Lisboa Norte.

De acordo com os Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem de Reabilitação (OE, 2011), a ER traz ganhos não só na recuperação da funcionalidade alterada, como também no rendimento e desenvolvimento pessoal. Neste âmbito a reeducação funcional deve ser planeada com avaliação e monitorização dos aspetos psicológicos que possam intervir no processo de reabilitação da função alterada (OE, 2010; OE, 2011).

A situação que irei comentar trata a importância da redução da tensão psíquica e muscular antes da implementação das técnicas de Reeducação Funcional Respiratória (RFR).

Esta necessidade surge, pois, dada a minha óbvia inexperiência, o facto de não ter estabelecido intervenções nesse âmbito os objetivos definidos para sessão de RFR do Sr. G. ficaram comprometidos.

O Sr. G. tem 18 anos de idade. É filho único e vive com os pais, num terceiro andar com elevador, na Cidade de Torres Vedras. Está atualmente a frequentar o Curso Profissional de Técnico de Eletrónica, Automação e Computadores, junto a sua área de residência.

Pesa cerca de 53 quilos e mede 1 metro e 70 centímetros, o que equivale a índice de massa corporal de 18,3, correspondente a baixo peso. Passa grande parte do dia ao computador e tem como antecedente pessoal escoliose dorsal. Quando sentado no cadeirão apresenta cifose dorsal, que se acentua quando utiliza o computador. Foi necessário ao longo do internamento correção postural, tendo utilizado como recurso para consciencialização da correção, o espelho quadriculado.

Foi admitido no Serviço de Cirurgia Torácica por transferência externa proveniente do Centro Hospitalar do Oeste - Unidade de Torres Vedras, dia 1/1/2018 por pneumotórax

3 espontâneo primário, recorrente, do pulmão esquerdo. No dia seguinte foi submetido a ressecção pulmonar em cunha do lobo superior esquerdo e pleurodose mecânica através de videotoracoscopia.

A indicação para pleurodese segundo Melo & Gonçalves (2004), reside no facto de ser o primeiro episódio de pneumotórax contra-lateral. Em Agosto do ano passado o Sr. G. teve o primeiro episódio de pneumotórax espontâneo à direita. Na sequência do tratamento para restabelecimento da pressão negativa do espaço pleural por toracentese, apresenta hemotórax iatrogénico e traumático, com colapso total do pulmão direito e quadro de choque hemorrágico. Foi então submetido a toracotomia direita para hemóstase da artéria intercostal posterior (não existe discrição de qual) e drenagem do hemotórax.

Iniciei a prestação de cuidados ao Sr. G. quando se encontrava no primeiro dia de pós- operatório e após ter sido transferido da Unidade de Cuidados Intermédios para Enfermaria. Mantinha drenagem torácica, que se encontra sob aspiração ativa a 3 kilopascal. O líquido drenado era sero-hemático e não se encontrava borbulhante, o que reflete não existir fuga para o espaço extra-alveolar. Não apresentava dispneia durante os cuidados de higiene, que foram prestados sobre a minha supervisão, ou marcha, que foi efetuada durante 3 metros, o que corresponde a uma avaliação de grau 0 na Escala de Borg Modificada.

Apresentava dor, desencadeada pela inspiração profunda, ao nível local de inserção do dreno torácico, com intensidade máxima de 3 na Escala Numérica. No final da expiração reduzia para valores de 1/2. Os restantes sinais vitais encontravam-se dentro dos parâmetros normais para si.

À auscultação pulmonar apresentava murmúrio vesicular mantido em todos os campos pulmonares.

Face ao descrito o plano de ação estabelecido, em conjunto com a Enfermeira Orientadora, tinha como objetivos: promover o padrão respiratório adequado, re-expandir o pulmão esquerdo, melhorar a ventilação alveolar, corrigir a postura corporal pela presença de dreno torácico e cifose dorsal, assegurar a manutenção da compliance pulmonar e prevenir a acumulação de secreções (Marques-Viera & Sousa, 2016; Cordeiro & Menoita, 2012; Neves, Aguiar & Sleutjes, 2005).

As intervenções executadas, decorrentes das técnicas de RFR, foram, no entanto, comprometidas pela tensão psíquica e muscular do Sr. G., decorrentes da ineficiente implementação das técnicas de descanso e relaxamento em associação com a consciencialização e aquisição de controlo dos tempos respiratórios.

4 No início da sessão, efetivamente, o único momento suscetível de relaxamento implementado foi a sequência de cinco ciclos de treino de dissociação dos tempos respiratórios. A consequência foi a presença de uma tensão muscular ao nível dos músculos respiratórios, especificamente nos expiratórios abdominais (reto abdominal, oblíquos internos e transverso do abdómen), tão elevada que comprometeram a participação nos exercícios respiratórios, dada a elevada rigidez muscular.

Após a pesquisa bibliográfica sobre as diversas técnicas de relaxamento, e conservação de energia, existentes e exequíveis no posicionamento necessário à reeducação da função respiratória após a cirurgia do Sr. G., considero que a implementação da técnica de Relaxamento Progressivo desenvolvida por Jacobson (1938) seria a mais adequada. Esta técnica assume como objetivo um relaxamento muscular profundo através da contração isométrica de grupos musculares: face, pescoço, mãos, membros superiores e inferiores, e pés, de forma alternada durante aproximadamente 10 minutos. O propósito será que a pessoa consiga diferenciar a tensão do relaxamento (Vera (1993) citado por Rissardi & Godoy, 2007).

De uma forma geral a técnica em si mesma promoverá um “relaxamento dos músculos acessórios da respiração, cintura escapular, pescoço (…), bem como facilita a respiração diafragmática.” (p. 62, Heitor (2003) citado por Cordeiro & Menoita, 2012). Especificamente, tal como referi anteriormente, o Sr. G. conseguirá ser capaz de diferenciar quando tem os músculos em tensão, revertendo esse processo quando solicitado (Vera (1993) citado por Rissardi & Godoy, 2007). Deste modo ir-se-á atingir um maior grau de colaboração e participação durante a sessão de RFR.

Face a esta análise crítica, será meu propósito elaborar e implementar os próximos programas de RFR fazendo uma avaliação profunda e atenta dos fatores psicológicos, e assegurar a diminuição da sobrecarga muscular, que tal como compreendi podem influenciar de forma decisiva a eficácia do plano de ER traçado.

Por último importa salientar que este processo de reflexão sedimenta a demostração dos resultados de aprendizagem do segundo ciclo, pois vai de encontro a dois dos descritores da qualificação de grau de Mestre, os designados Descritores de Dublin. Estes referem-se às competências de Realização de julgamento/tomada de decisões e Comunicação (Decreto-Lei n.º 107/2008, de 25 de junho), no sentido em que face à situação potencialmente comprometedora da eficácia do plano de cuidados de ER estabelecido foi desenvolvida uma solução, tendo o conhecimento e o raciocínio subjacente sido descrito de modo sintético, claro e conciso neste Jornal de Aprendizagem.

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BIBLIOGRAFIA

Lei n.º 107/2008, de 25 de junho de 2008. Procede ao aprofundamento do Processo de Bolonha no ensino superior. Diário da República I Série, N.º 1210 (25-06-2008) 3835- 3853.

Marques-Vieira, C. & Sousa, L. (2016). Cuidados de Enfermagem de Reabilitação à pessoa ao longo da vida. Loures: Lusodidacta.

Melo, R. & Gonçalves, J. R. (2004). Pleurodese. Revista portuguesa de pneumologia, X (4), 305-317. Disponivel em: http://www.elsevier.pt/pt/revistas/revista-portuguesa- pneumologia-420/pdf/S0873215915305882/S350/

Neves, M. C.; Aguiar, J. L. N. & Sleutjes, L. (2005). A fisioterapia respiratória no pós- cirúrgico do pneumotórax espontâneo em soropositivos para o HIV. Revista Cientifica Unifaminas, 1 (3), 43-52.

Ordem dos Enfermeiros (2010). Regulamento das competências específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros. Ordem dos Enfermeiros (2011). Regulamento Padrões de Qualidade dos Cuidados

Especializados em Enfermagem de Reabilitação. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros. Rissardi, G. G. L. & Godoy, M. F. (2007). Estudo da aplicação da técnica de relaxamento

muscular progressivo de Jacobson modificada nas respostas das variáveis cardiovasculares e respiratórias de pacientes hansenianos. Arquivos de Ciências da Saúde, 14(3), 175-80. Disponivel em: http://repositorio-racs.famerp.br/racs_ol/vol- 14-3/IIIDDD226.pdf.

APÊNDICE 4. Composição das equipas multidisciplinares dos contextos clínicos

Recursos Humanos e Áreas de Intervenção UCC Área de intervenção Equipa multidisciplinar

Específica UCC Partilhada

ECCI 4 EEER

1 Enfermeiro Graduada 1 Psicóloga

(7 horas semanais) 2 Assistente Social (21 horas semanais) 1 Médico (2 horas semanais) Parentalidade 1 Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica Saúde Infanto-Juvenil e Escolar 1 Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária 1 Enfermeiro Especialista em Saúde Mental

Sala de Tratamentos 1 Enfermeiro da UCC

Equipa de Coordenação Local

1 EEER

1 Enfermeiro Especialista em Saúde Mental 2 Médicos

2 Assistentes Sociais

Coordenação 1 Enfermeira Mestre Saúde Infantil e Pediatria

Recursos Humanos e Áreas de Intervenção Serviço de Cirurgia Torácica Área de intervenção Equipa multidisciplinar

Especialidade Médica de Cirurgia Torácica

5 Cirurgiões Torácicos

4 Internos de especialidade de Cirurgia Torácica

Enfermagem

3 EEER

9 Enfermeiros de cuidados gerais 2 Enfermeiros Bacharelados

1 EE em Enfermagem Médico-Cirúrgica Fisioterapia 2 Fisioterapeutas

Mestrado em Enfermagem

Área de Especialização de Enfermagem de Reabilitação

Unidade Curricular Estágio com Relatório