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Livro I O Processo de Produção do Capital

2.2 A teoria da crise em Marx

2.2.3 A concepção em O Capital

2.2.3.1 Livro I O Processo de Produção do Capital

No livro primeiro de O Capital, podemos observar que a concepção de Marx sobre a categoria crise aparece em cinco desenvolvimentos lógicos e históricos de sua construção teórica. O primeiro consiste na concepção da categoria valor que, a partir da análise da mercadoria, como “forma elementar” da riqueza nas “sociedades em que domina o

modo de produção capitalista”, chega à descoberta sine qua non da categoria mais-valia, como aspecto essencial do valor, fundada na dialética da categoria trabalho, como substância do valor das mercadorias, que se desdobra em seu aspecto qualitativo, útil, concreto e particular e seu aspecto quantitativo, de troca, abstrato e social. A concepção de crise na construção teórica do valor como categoria simples se apresenta como potencialidade da tendência ao desdobramento exterior da contradição intrínseca à categoria trabalho que, como atividade humana ontológica e relação metabólica com a natureza, exige do sujeito histórico sua objetivação, em meio e instrumental de trabalho, e o desenvolvimento de relações técnicas e organizativas na exploração e apropriação desta e da natureza. É justamente a relação de apropriação que o sujeito histórico desenvolve com sua própria objetivação, passando da propriedade comum à propriedade privada, que desdobra exteriormente a autonomia dos aspectos internos da unidade dialética do trabalho, objetivados na forma valor de uso e valor ou mercadoria e dinheiro, ao limite intransponível de independência entre ambos, desencadeando o processo violento de crise como meio de reconstituição da unidade dialética deste sujeito histórico.

O segundo contexto teórico, em que Marx se refere à categoria crise, é o da análise das formas de ser do valor enquanto trabalho abstrato geral da sociedade, cuja expressão mais desenvolvida se encontra no dinheiro. Nesta, situa na função do último como meio de pagamento o processo pelo qual se exterioriza a contradição entre o caráter social do trabalho, expresso idealmente como medida de valor, e o caráter privado do trabalho, exigido como meio de pagamento, como expressão determinada de certa quantidade de valor sob a forma de moeda circulante. Este processo conduz à crise monetária na medida em que a quantidade de moeda circulante deixa de corresponder à fórmula: “volume de dinheiro funcionando como meio circulante = soma dos preços das mercadorias / número de cursos das peças monetárias” (p. 242). Isto acontece devido à aceleração dos circuitos unilaterais de compra e venda, especialmente as trocas simultâneas e paralelas decorrentes do desenvolvimento do sistema de crédito como meio de pagamento, que substitui parte do material circulante, expande as transações e amplia o tempo de circulação, distanciando o momento de venda do momento de compra e autonomizando estas duas metamorfoses da mercadoria, M-D e D-M. Nestas circunstâncias, o circuito de compra acaba por adiantar-se ao circuito de venda, dado o pagamento a prazo e parte do material circulante deixar essa esfera e se converter em tesouro para voltar à circulação no momento do pagamento. Neste ponto,

qualquer distúrbio provoca a corrida aos meios de pagamento na forma monetária e, assim, a massa deste material em circulação apresenta-se insuficiente para atender a demanda pelo mesmo, exteriorizando a contradição entre o dinheiro como medida de valor ideal do trabalho social e a quantidade exigida deste valor como meio de pagamento e trabalho determinado. A crise se instaura e violentamente reconstitui a unidade dialética e equivalência entre esses dois aspectos do trabalho na forma dinheiro, aproximando-os da equação já expressa anteriormente.

Nesta construção teórica de Marx, a categoria crise aparece sob duplo caráter: o de crise monetária como parte de uma crise geral da indústria e do comércio e como crise monetária específica a esta esfera da economia. Ele enunciou assim esta definição:

A função do dinheiro como meio de pagamento implica uma contradição direta: na medida em que pagamentos se compensem, ele funciona apenas idealmente, como dinheiro de conta ou medida de valor. Na medida em que tem se de fazer pagamentos efetivos, ele não se apresenta como meio circulante, forma evanescente e intermediária de metabolismo, senão como a encarnação individual do trabalho social, existência autônoma do valor de troca, mercadoria absoluta. Essa contradição estoura no momento de crises comerciais e de produção a que se dá o nome de crise monetária (Marx, 1988, Livro 1, v. 1, p. 115).

Após enunciar o processo pelo qual se apresenta a crise monetária, destaca em nota:

Deve-se distinguir bem a crise monetária, definida no texto como fase particular de cada crise geral de produção e comércio, do tipo especial de crise que se chama também de crise monetária, mas que pode aparecer independentemente, de modo que ela só afeta a indústria e comércio por repercussão. Estas são crises cujo movimento se centra no capital monetário e, por isso, bancos, bolsas de valores, e finanças são sua esfera imediata (p. 115).

O terceiro contexto teórico em que a categoria crise apresenta-se no Livro I de O

Capital situa-se na análise da acumulação de capital, enquanto processo de reprodução do

valor e produção de mais valor (mais-valia), cuja tendência histórica é culminar na crise geral como momento de mudança da sua expansão em contração, demarcando o ciclo periódico da indústria sob incidência da Lei Geral da Acumulação. Esta última, como resultado da acumulação – governada por leis intrínsecas – sobre a demografia da classe trabalhadora, expressa-se em dois polos: de um lado, o crescimento do montante da acumulação de capital, cuja tendência é a superprodução relativa de mercadorias e, de outro, o crescimento do proletariado, cuja tendência é a superpopulação relativa ou exército industrial de reserva, que

pressiona os salários à baixa relativa. Marx enunciou esta questão da seguinte forma:

A lei da produção capitalista, que subjaz à pretensa 'lei natural da população', redunda simplesmente nisso: a relação entre capital, acumulação e taxa de salário não é nada mais que a relação entre o trabalho não-pago, transformado em capital, e o trabalho adicional necessário à movimentação do capital adicional. Não é, portanto, de modo algum, uma relação de duas grandezas independentes entre si, por um lado a grandeza do capital, por outro o tamanho da população trabalhadora, mas é, em última instância, muito mais a relação entre o trabalho não-pago e o trabalho pago da mesma população trabalhadora (Marx, 1988, Livro 1, v. 2, p. 184).

Nesta análise, Marx demonstra que os fatores que conduzem à redundância relativa da produção são os mesmos que concorrem para redundância relativa da população trabalhadora. A reprodução simples ou em escala ampliada sempre reproduz a relação capital e, com isto, a “[reprodução da força de trabalho] […] é apenas um momento do processo de reprodução do capital.” (p. 205). Também são reproduzidas as relações de dependência do trabalhador com seu próprio produto como capital “personificado no capitalista” (p. 180). A força de trabalho se torna força de valorização do capital crescente e, no caso do aumento da demanda em relação à oferta, o aumento dos salários significa apenas redução na proporção do trabalho não-pago em relação ao pago, redução que “nunca pode ir até o ponto em que ela ameace o próprio sistema.” (p. 185). Contudo, mesmo sob estas condições sobrevêm a crise geral e com ela todas as contradições fundamentais da sociedade, em especial, as que se expressam pela Lei Geral da Acumulação, riqueza e pobreza, acumulação e miséria, e a essencial entre o capital e trabalho. Marx demonstrou exaustivamente este fato no capítulo que dedicou à ilustração da Lei Geral.

Entretanto, os pressupostos deste processo estão nas forças produtivas – força de trabalho e meios de produção – personificadas respectivamente em trabalhadores e capitalistas, que se desenvolvem sob relações de produção, técnicas e de apropriação, tendo como objetivo o lucro decorrente da mais-valia. Portanto, um processo inteiramente subsumido à lei do valor, posto que a categoria mais-valia é sua parte dinâmica, como indica o autor: “Produção de mais-valia ou geração de excedente é a lei absoluta desse modo de produção.” (MARX, 1988, Livro 1, v. 2, p. 182). Porém, a composição entre as forças produtivas constitui mais que relações de produção, constitui a relação entre os fatores fundamentais da estrutura de produção e de reprodução do capital, portanto, a relação capital que determina o modo de produção e sistema social e que se desenvolve com a acumulação, impulsionando-a e regulando-a segundo sua composição orgânica e as leis que lhe são

intrínsecas7.

Deste modo, o movimento de acumulação desenvolve-se em duas direções: expansão e contração, que correspondem respectivamente aos dois métodos de produção de mais-valia, a absoluta e a relativa, e ao grau de composição orgânica do capital, ou seja, a proporção entre o capital variável e o capital constante, relativos ao nível de produtividade do trabalho e de aplicação da ciência e da técnica do modo de produção. Nestes termos, sob composição orgânica constante, o progresso da acumulação só pode se realizar pela expansão decorrente do método de produção de mais-valia absoluta. Isto significa que a cada ciclo da reprodução ampliada do capital, a mais-valia adicional incorporará na mesma proporção força de trabalho e meios de produção, gerando uma demanda por estes fatores que inexoravelmente acarretará o aumento relativo dos salários (capital variável) ou de equipamentos e matérias-primas (capital constante); em ambos os casos, a demanda torna-se superior à oferta, os lucros são deprimidos, desenvolvendo-se a crise por escassez. Segundo Marx, essa foi de fato a tendência histórica entre os séculos XV e XVIII, considerando o pressuposto de composição orgânica do capital constante (246).

Porém, neste caso, duas determinações recairão sobre os salários: primeira, eles continuam aumentando à medida que aumentem a acumulação e os lucros com o crescimento do capital, um grande capital com taxa de mais-valia menor se apropria de uma massa maior de mais-valia do que um pequeno capital com taxa de mais-valia maior; segunda, acumulação decresce porque o lucro embota devido à desproporção entre capital e força de trabalho explorável. A acumulação estaciona, conduz ao desemprego, pressiona os salários para baixo até o nível das necessidades de valorização do capital, que pode ser igual, ligeiramente superior ou abaixo do que antes da alta era considerado 'normal'. Assim, o “próprio mecanismo do processo de produção capitalista elimina, portanto, os empecilhos que ele temporariamente cria.” (252).

Este processo acontece porque as leis que determinam a acumulação – a lei da produtividade, a lei dos salários, a lei da concorrência e a lei da tendência decrescente da taxa

7A composição orgânica do capital é a composição-valor, porque expressa a composição técnica e as

modificações desta. Em termos de composição valor, isto é, do dinheiro ou capital adiantado (C), o valor gasto em meios de produção denomina-se capital constante (c), já o valor gasto em força de trabalho, capital variável (v). A composição orgânica é a relação proporcional em que C é repartido entre c e v, ou seja, se C=c+v, logo, a proporção do capital constante sobre o capital adiantado é c/C=c/(c+v) ou a proporção do capital variável sobre o capital adiantado é v/C = v/(c+v), e a proporção entre capital variável e capital constante = v/c. (MARX, 1988, Livro 1., v. 2, pp. 245-250).

de lucro – todas subsumidas às leis do valor e da luta de classes, passam a interagir e mudam a trajetória da acumulação. A lei do valor, que regula o montante e a oscilação da taxa de acumulação nos limites do padrão da reprodução ampliada, alterna o movimento da acumulação da expansão à contração, reordena as leis imanentes à composição orgânica, elevando a proporção do capital constante (meios de produção) em relação ao capital variável (força de trabalho), e com isto eleva a produtividade8, modifica o padrão de acumulação e,

consequentemente, sua taxa, ampliando-a ao máximo grau de desenvolvimento das forças produtivas, em especial, da ciência e da técnica (educação) aplicadas ao processo de produção, o que impulsiona a reestruturação das relações de produção da sociedade. O método de exploração da força de trabalho na produção da mais-valia modifica-se, passando a predominar a mais-valia relativa em lugar da absoluta e a acumulação passa do crescimento extensivo ao intensivo; a concentração de capital passa à centralização, o movimento de repulsão da força de trabalho pela fábrica se expande para toda a economia, ramo após ramo de produção, reconfigurando os departamentos da economia I e II (respectivamente bens de produção e bens de consumo), desenvolvendo o exército industrial de reserva, que passa a regular os salários e a sujeição do exército ativo, constituindo-se assim uma nova base técnica e social da qual ascende o novo movimento de expansão da acumulação ampliada.

Uma vez dados os fundamentos gerais do sistema capitalista, no transcurso da acumulação, surge sempre um ponto em que o desenvolvimento da produtividade do trabalho social se torna a mais poderosa alavanca da acumulação.

[…] Esses meios de produção desempenham duplo papel: o crescimento de uns é consequência; de outros, condição da crescente produtividade do trabalho. […] O acréscimo desta última [da produtividade] aparece, portanto, no decréscimo da massa de trabalho proporcionalmente à massa de meios de produção movimentados por ela ou no decréscimo da grandeza do fator subjetivo do processo de trabalho em comparação com seus fatores objetivos.” (Marx, 1988, Livro 1, v. 2, p. 185).

Porém, este novo movimento de expansão também tem seus limites críticos e intransponíveis fixados de certo modo no padrão (base técnica e social) da acumulação ou reprodução ampliada: o mínimo, o da reprodução simples, cujo progresso sob mesma composição orgânica demanda força de trabalho, eleva os salários e esmaga o lucro; e o

8

Abstraindo as condições naturais, como fertilidade do solo, etc., e a habilidade dos produtores os quais trabalham independentemente, isoladamente, que, no entanto, se patenteia mais qualitativamente na perfeição do que quantitativamente na massa do produto, o grau de produtividade social do trabalho se expressa no volume relativo dos meios de produção que um trabalhador durante um tempo dado, com o mesmo dispêndio de força de trabalho, transforma em produto. A massa de meios de produção com que ele funciona cresce com a produtividade de seu trabalho (Marx, Livro I, Vol II, p. 194).

máximo, da reprodução ampliada, sob composição orgânica e produtividade crescentes e taxa de lucro declinante, que atinge a superprodução relativa e o subconsumo relativo, consumando-se no súbito colapso de todos os preços e na paralisação da indústria e comércio. Em ambos casos, “os vaivéns do ciclo periódico que a indústria moderna percorre e em seu ponto culminante – a crise geral” (MARX, Livro 1, v. 1, p. 27) instauram-se: as leis da acumulação passam à contratendência, impedem a realização da taxa de acumulação, negam a lei do valor e exigem nova mudança no padrão de acumulação, ou seja, na composição-valor ou composição orgânica do capital. Eis assim o movimento cíclico periódico sob as duas trajetórias da acumulação, expansão e contração, e seus efeitos sobre a classe trabalhadora, que dialeticamente interage com a primeira, ora como causa, ora como consequência. Nas palavras de Marx:

O curso de vida característico da indústria moderna, sob a forma de um ciclo decenal, interrompido por oscilações menores, de vitalidade média, produção a todo vapor, crise e estagnação, repousa na contínua constituição, na maior ou menor absorção e na reconstituição do exército industrial de reserva ou superpopulação. Por sua vez, as oscilações do ciclo industrial recrutam a superpopulação e tornam-se os mais enérgicos agentes de sua reprodução (MARX, Livro 1, v. 2, p. 192).

Deste modo, uma síntese lógica da concepção de Marx sobre a crise, enquanto categoria em si, no contexto de construção teórica da “Lei Geral da Acumulação”, pode ser expressa pela fórmula da taxa de lucro: L = M / C = M / (c + v), ou seja, a taxa de lucro (L) é igual à massa de mais-valia (M) sobre o capital total adiantado (C), ou massa de mais-valia (M) sobre a soma de capital constante (c) e capital variável (v). Nestes termos, considerando a massa de mais-valia (M) constante, todo aumento no valor do capital total adiantado (C), seja em capital variável (v) ou em capital constante (c), acarretará necessariamente a diminuição da taxa de lucro (L). Desta abstração, pode-se deduzir as duas fases da acumulação do capital, a expansão e a contração, em seu ciclo periódico, cujo ponto culminante, unidade dialética e mudança qualitativa expressa-se nas crises gerais que ocorrem desde 1825, como indicou Marx (p. 17).

No caso da fase de expansão, partindo-se do pressuposto da composição orgânica inalterada, o aumento do valor do capital variável (trabalho pago) implica a redução dos lucros (trabalho não pago), como se pode deduzir da equação da taxa de lucro acima. Neste caso, ou o capital continua a se expandir em termos de escala, ainda que sob taxa de lucro menor, até seu ponto crítico; ou paralisa a produção, pois o crescimento do capital variável

passa a comprometer o lucro, configurando-se a crise na forma de superconsumo relativo em contradição à escassez relativa. Este tipo de crise vigorou antes de 1825, período em que as leis do salário foram dominantes no processo de acumulação. Marx explicou assim o processo:

Nesse caso, é evidente que uma diminuição do trabalho não-pago de modo algum entrava a expansão do domínio do capital. — Ou, este é o outro lado da alternativa, a acumulação afrouxa devido ao preço crescente do trabalho, pois o aguilhão do lucro embota. A acumulação decresce. Mas, com seu decréscimo, desaparece a causa de seu decréscimo, ou seja, a desproporção entre capital e força de trabalho explorável. O próprio mecanismo do processo de produção capitalista elimina, portanto, os empecilhos que ele temporariamente cria (MARX, 1988, Livro 1, v. 2, p. 183).

No caso da fase de contração, partindo-se do pressuposto da variação da composição orgânica e, em consequência, aumento da produtividade, o capital constante aumenta em detrimento do capital variável no valor do capital total adiantado (C), a queda da taxa de lucro será inevitável, excetuando-se o caso em que a taxa de mais-valia aumente mais do que a necessária compensação da queda no capital variável. Posto que a produtividade significa tão somente uma maior quantidade de produtos e matérias-primas consumidas no processo de produção sem alterar a massa de mais-valia ou valor criado. Marx exemplifica a questão da seguinte forma:

A razão disso é simplesmente que, com a crescente produtividade do trabalho, não apenas se eleva o volume dos meios de produção por ele utilizados, mas cai o valor deles em comparação com seu volume. Seu valor se eleva pois de modo absoluto, mas não proporcionalmente ao seu volume. O crescimento da diferença entre capital constante e capital variável é, por isso, muito menor do que o da diferença entre a massa dos meios de produção em que o capital constante é convertido e a massa da força de trabalho em que se converte o capital variável. A primeira diferença cresce com a última, mas em grau menor.

Além disso, se o progresso da acumulação diminui a grandeza relativa da parte variável do capital, não exclui, com isso, de modo algum, o crescimento da sua grandeza absoluta. Suponhamos que um valor de capital se divida inicialmente em 50% de capital constante e 50% de variável, mais tarde em 80% de constante e 20% de variável. Se, entrementes, o capital original, digamos 6 mil libras esterlinas, aumentou para 18 mil libras esterlina, sua componente variável cresceu também em 1/5. Era de 3 mil libras esterlinas e agora monta a 3.600 libras esterlinas. Mas se, antes, um crescimento de 20% de capital teria bastado para elevar a demanda de mão de obra em 20%, isso agora exige triplicação do capital original (p. 186).

A análise de Marx sobre a Lei Geral da Acumulação apresenta, como se verificou, uma concepção importante e decisiva da categoria crise no processo de acumulação do

capital. Sua definição ultrapassa a noção de ponto de inflexão na alternância de fase no ciclo econômico periódico da indústria moderna. Ele a definiu como a categoria que exprime o processo de incidência da Lei Geral da Acumulação, que exterioriza, por sua vez, a contradição fundamental da relação capital, das forças produtivas entre si e destas com as relações de propriedade. A noção também se estende à mudança na correlação entre as leis que atuam sobre a acumulação e que definem o caráter da mesma em ambas fases do processo, como se pode observar no predomínio das leis do salário sobre a fase de expansão inicial da acumulação e o predomínio da lei da produtividade na fase da contração. Outro atributo importante na concepção do autor sobre a crise é o seu papel de restabelecer a unidade entre dois aspectos contraditórios da relação capital, que se expressam na fase de contração do ciclo nas formas da superprodução relativa e superpopulação relativa, por intermédio da destruição violenta das forças produtivas desenvolvidas e da constituição da nova base de relações técnicas e sociais, nas quais se destaca a aplicação da ciência e da técnica. A crise, portanto, constitui-se assim mais que uma noção conjuntural, ela é