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Livro II O Processo de Circulação do Capital

2.2 A teoria da crise em Marx

2.2.3 A concepção em O Capital

2.2.3.2 Livro II O Processo de Circulação do Capital

Vê-se aqui que, abstraindo propriamente nosso objetivo, considerar o processo de reprodução em sua forma fundamental – em que todos os intermediários que o obscurecem estão eliminados – é absolutamente necessário a fim de nos livrarmos dos falsos subterfúgios que nos fornecem a aparência de explicação científica, quando tomamos diretamente o processo social de reprodução na complexidade de sua forma concreta com o objeto de análise (MARX, 1988, Livro 2, v. 3, p. 317).

O Livro II de O Capital constitui a parte mais polêmica da teoria de Marx em torno do conceito de capital em geral, como sustentam vários estudiosos deste autor, como Grossmann (2004), Shaikh (1986), Rosdolsky (2002), Mészáros (2002), entre outros. Isto se deve, por um lado, à passagem da teorização do autor à sua abstração mais elevada, constituindo o modelo dos esquemas de reprodução do capital, simples e ampliado, que se distancia acentuadamente da sua primeira abstração no Livro I e de sua formulação mais concreta no Livro III; por outro lado, devido à polêmica desencadeada por Bernstein sobre a “teoria do colapso” entre os membros da Segunda Internacional Socialista, após o lançamento do Livro III, em 1894 e a morte de Engels em 1895. Este debate, embora relevante à compreensão desta parte da obra de Marx, e envolver nomes expressivos da formulação marxista – Lênin, Rosa Luxemburgo, Kautsky, Hilferding, Otto Bauer, Bukharin, Tugan- Baranovski, entre outros – será abordado mais adiante. Aqui, basta sua menção para situar o essencial e a importância do conteúdo do mesmo: a teoria da crise final do capitalismo e o modelo abstrato dos esquemas de reprodução do capital neste livro.

Contudo, esta parte da obra de Marx constitui um trabalho de abstração teórica mais amplo que o foco restrito ao equilíbrio entre os departamentos I (bens de produção) e II (bens de consumo) da economia e à concepção de crise que se atribui, neste momento da pesquisa, ao debate mencionado. Marx, após conduzir seus leitores pelo mundo da produção de mais-valia, que compara no Prefácio da Contribuição Para a Crítica da Economia

Política literalmente ao inferno de Dante, em A Divina Comédia, através da expressão "Qui si convien lasciare ogni sospetto; Ogni viltá convien che qui sia morta"9 (MARX, 1977, pp. 31-

33) e no Livro I de O Capital ao afirmar que “Dante sentiria nessa manufatura suas fantasias mais cruéis sobre o inferno ultrapassadas” (MARX, 1988, Livro 1, v. 1, p. 189); pede a todos que o acompanhem ao mundo da circulação, ou seja, da rotação do valor em sua dupla forma, mercadoria e dinheiro, passando do inferno ao céu pelo percurso da reprodução simples ou ampliada do capital. Inicia sua exposição do Livro II pela análise das metamorfoses do capital e seus ciclos, abordando o ciclo do capital monetário, D – M (FT + MP) … P … M' (M + m) – D' (D + d)10 e cada um de seus estágios; o ciclo do capital produtivo, P … M' – D' – M … P,

9

Que aqui se afaste toda a suspeita / Que neste lugar se despreze todo o medo

10 Esta fórmula se traduz em: O capitalista com seu dinheiro (D) compra mercadorias (D-M) na forma de força

de trabalho (FT) e meios de produção (MP), que entram ao âmbito da produção (P), produzem mercadorias cujo valor (M') contém o valor reproduzido das mercadorias consumidas produtivamente (M) e o valor criado durante o processo de trabalho (m), ou seja (M + m), e cuja venda ou realização (M'-D') completa o ciclo do dinheiro (D'), que retorna ao capitalista como valor investido inicialmente (D) e mais-valia criado na produção (d), ou

na reprodução simples e em escala ampliada; e o ciclo do capital mercadoria M' – D' – M … P … M'; as três figuras do processo cíclico, o tempo de circulação e seus custos (MARX, 1988, Livro 2, v. 3, p. 38-39).

Nesta primeira seção, a concepção de crise aparece como resultado da autonomia entre os ciclos do capital produtivo e o ciclo do capital mercadoria, devido a que o produtor de mercadorias considera realizada sua mais-valia à medida que vende sua produção (M' – D'), por exemplo ao comerciante atacadista, dando lugar ao novo ciclo de produção. Contudo, o fato das mercadorias estarem no processo de circulação e serem um valor de uso, no ciclo do capital mercadoria, só se realizam com o consumo final, seja individual, seja produtivo. E quanto maior a mediação – por intermédio de grandes comerciantes, formação de estoque, etc. – entre a produção de mercadorias e sua realização, maior será o divórcio entre os ciclos da produção, que se seguem ininterruptamente indiferente ao ciclo de realização do consumo final da mercadoria, configurando-se, no limite da saturação do mercado, a assincronia que leva à superprodução e à corrida por meios de pagamento, que obriga a venda a qualquer preço: “Essa venda não tem absolutamente nada a ver com a verdadeira situação da demanda. Só tem a ver com a demanda por pagamentos, com a necessidade absoluta de transformar mercadoria em dinheiro. Então, eclode a crise.” (p. 58-60).

Na segunda seção, sobre a rotação do capital, Marx analisa o tempo e número de rotações; o capital fixo e circulante, suas diferentes formas e seus componentes. Continua com a análise da rotação global do capital adiantado; debate teoricamente essas concepções com os fisiocratas, Adam Smith e Ricardo; define o período de trabalho e os tempos de produção e circulação; avalia os efeitos da rotação sobre o capital adiantado; a rotação do capital variável; a circulação da mais-valia na reprodução simples e ampliada. Nesta seção, destacam-se duas relações entre a rotação do capital adiantado e as crises. A primeira diz respeito à renovação do capital fixo, que decorre por um lado da concorrência e da aplicação da ciência e da técnica, acelerando as inovações e a obsolescência prematura (depreciação moral) do capital fixo existente. Por outro lado, por sua qualidade de bem durável que retém capitais e torna-se um obstáculo à sua rápida renovação, provoca crises e catástrofes que impõe a “renovação prematura do equipamento das empresas em grande escala social.” (p. 125) Esta contradição constitui “uma base material das crises periódicas, nas quais o negócio passa por períodos sucessivos de depressão, atividade média, precipitação, crise. […] a crise constitui sempre o seja (D + d).

ponto de partida de um grande investimento novo.” (p. 127).

A segunda referência às crises, nesta segunda seção sobre a rotação do capital, consiste na relação entre o tempo de circulação ou produção e os componentes do capital em geral. Primeiro, no caso em que as crises provocam interrupções ou paralisações do período de trabalho, prolongam o processo de produção e afetam de forma diferente a produção discreta, aquela que o período de trabalho coincide com o período de produção, como, por exemplo, uma padaria; e a produção contínua, em que o período de trabalho é menor que o tempo de produção, exigindo jornadas conexas de trabalho para a conclusão do produto, como, por exemplo, a construção de um navio. Em ambos casos, haveria uma desvalorização do capital fixo e da produção já realizada ou em curso, o capital circulante seria destruído, porém, no caso da produção contínua, seria destruído também o capital fixo (pp. 172-175). Segundo, a crise novamente aparece como impulsionadora das inovações tecnológicas que diminuem o tempo de circulação das mercadorias, propiciando nova conformação nas relações de troca e de financiamentos internacionais (p. 189).

Em um terceiro momento, a crise, ao impulsionar a renovação tecnológica, diminui o tempo de rotação, seja encurtando o tempo de circulação, seja o de produção, permitindo um refluxo mais rápido do capital adiantado e tornando-o ocioso por um período de tempo maior que o exigido para renovação do capital fixo. Este capital ocioso constitui uma pletora relativa de capital monetário que permite especulação em investimentos com retornos mais rápidos; amplia-se assim a esfera de crédito e o risco de refluxos malsucedidos, comprometendo o prazo exigido para renovação do capital fixo; em consequência, eclode a crise de meios de pagamento. A crise também apresenta-se como causa dessa pletora à medida que, após sua incidência no ciclo industrial, sob o efeito da corrida por meios de pagamento e o encarecimento do dinheiro, altas taxas de juros, produz-se uma drástica redução na demanda por empréstimos ou crédito, efeito que se prolonga por inércia após o início da recuperação econômica. Durante esse processo, forma-se a pletora relativa de capital monetário mesmo com as taxas de juros baixas, próximas de zero (p. 211).

Ao analisar a rotação do capital variável, Marx demonstra que a variação na rotação deste desenvolve dois tipos de acumulação, aquela em que a rotação repõe o capital adiantado em capital variável mais rapidamente, propiciando uma pletora de capital monetário disponível para ampliar a produção, à medida que repõe maior produção que a consumida no processo. A segunda, é a acumulação cujo tempo de rotação do capital variável é maior, o que

exige sucessivos adiantamentos de capital variável sem retorno até que se produza a rotação, ao mesmo tempo que constantemente consome os produtos do mercado sem reposição dos mesmos, gerando uma demanda por mercadorias e dinheiro que eleva seus preços. A primeira acumulação com pletora de capital monetário encontra na demanda da segunda acumulação o local de investimento que dá continuidade e amplia a produção, conduzindo-a a aquecimento e crescimento, que se refletem na demanda por força de trabalho. A facilidade de crédito faz crescer novamente o ciclo industrial e o aumento da demanda por força de trabalho, esgotando o exército de reserva e crescendo a pressão dos salários sobre os lucros. No limite da ativação de todas as potências produtivas em que se opera a superprodução, chega-se à incapacidade de produzir e realizar mais-valia, instaura-se o colapso e a crise. Então, muda-se a composição do capital, o investimento em capital constante torna-se maior que o em capital variável e, com isto, cresce o desemprego em massa e reconstitui-se o exército industrial de reserva; logo, os salários caem ao mínimo, às vezes abaixo do mínimo anterior, até que se produza nova recuperação sob nova base social e técnica, que conduz ao encurtamento do tempo de rotação do capital variável e às perturbações peculiares a esse processo. Marx o explicou da seguinte forma:

É absorvida parte do exército industrial de reserva, cuja pressão mantinha o salário mais baixo. Os salários sobem de modo geral, mesmo nas partes até então bem empregadas do mercado de trabalho. Isso dura até que o colapso inevitável novamente libera o exército industrial de reserva e os salários são novamente reduzidos a seu mínimo e até abaixo dele.” (p. 221).

A redução no tempo de rotação do capital variável, como foi visto, desencadeia o processo de superprodução que, no limite do colapso, conduz as economias nacionais ao processo de exportação para outros mercados e, ao mesmo tempo, o excesso de capital monetário nas mesmas permite o financiamento das exportações ao mercado importador e assim a crise é exportada dos países onde se processa a superprodução e a pletora de capital monetário para o mercado importador e devedor. Os casos exemplificados por Marx indicam que diante do colapso dos preços que se segue à superprodução e crise, os mercados credores pressionam os devedores por refluxo do capital monetário emprestado, por outro lado, a bancarrota de bancos e financeiras com filiais nos países importadores que receberam o crédito ou financiamento dos bancos nestes países entram também em colapso. A redução do tempo de circulação, estreitando os mercados e facilitando o comércio e o financiamento

internacional, universalizam os efeitos da crise, ora fazendo-a irromper nos mercados exportadores e credores, ora fazendo-as eclodir nos mercados importadores e devedores, refletindo-se nas balanças comerciais e de pagamentos, até que se torna simultânea, constituindo-se em crise geral (p. 235-236).

A seção III, A Reprodução e a Circulação do Capital Social Total, Marx subdivide em quatro capítulos: Introdução; Apresentações Anteriores do Objeto; Reprodução Simples; Acumulação e Reprodução Ampliada. Nos dois primeiros capítulos, o autor define o objeto de investigação, “a reprodução de capital” como processo que abarca tanto o “processo direto de produção como ambas as fases do processo de circulação [...], isto é, o ciclo global, que como processo periódico [...] constitui a rotação do capital”. Esta demarcação conceitual, sob o pressuposto que o “processo direto de produção do capital” é seu processo de trabalho e de valorização, cujo resultado é o produto-mercadoria e o motivo “a produção de mais-valia” (p. 61-69), considera que a produção de P é apenas um elo do ciclo D …D' ou P …P, que ora media, ora é mediada pela circulação; sua constante renovação e a reapresentação que ela faz do capital como capital produtivo são condicionadas por esta última; e que, com sua própria renovação, condiciona a mudança e alternância do capital na circulação, ora como capital monetário, ora como capital-mercadoria. Por último, considera que cada “capital individual” constitui apenas “uma fração autonomizada do capital social total” e que seu movimento consiste na totalidade dos movimentos de suas frações autonomizadas. A metamorfose do capital individual, sua rotação, é o elo no ciclo do capital social, assim como a metamorfose da mercadoria é um elo no mundo das mercadorias.

O capital monetário apresenta-se sob duplo aspecto: primeiro, o aspecto qualitativo, em que desempenha a função de “primus motor” em todo capital individual novo que “inaugura seu processo como capital”; e de “motor contínuo”, fornecendo parte do capital adiantado que deve ser renovada a cada ciclo do processo de produção. Segundo, em relação à sua quantidade, o primeiro é determinado pelo total de meios de produção e força de trabalho que capitaliza inicialmente; no caso do segundo, é uma proporção do primeiro que varia de acordo com a duração da rotação do capital, determinada pelas diferentes proporções entre seus componentes, o período de trabalho e o período de circulação, considerando uma rotação normal e média abstrata. Esta propriedade do capital monetário o faz parceiro do capital produtivo, acompanhando-o sob “a lei da representação do produto como mercadoria”, ou seja, em sua duplicação em mercadoria e dinheiro; o que, entretanto, não restringe o capital

produtivo às proporções do capital monetário. Nesta análise, afirma Marx: “O que vale aqui para o capital individual, vale para o capital social, que funciona apenas na forma de muitos capitais individuais” (p. 263).

Esta demarcação conceitual do objeto de investigação expressa uma crítica de Marx à concepção da reprodução do capital de Adam Smith por sua regressão em relação aos fisiocratas e a si mesmo: primeiro, não diferencia os conceitos de capital fixo e circulante em sua análise do produto anual e valor do produto, quando Quesnay, já os havia classificados em sua Tableau Économique como avances primitives e avances annuelles, que o próprio Smith generalizou-os como capital fixo e circulante; segundo, em relação à sua própria teoria do valor-trabalho, à medida que nega o caráter universal desta categoria, enquanto fonte de valor, e adota a concepção fisiocrata do trabalho agrícola a única que produz valor, ao se esforçar em demonstrar que o arrendatário capitalista é que produz mais valor que os demais. Estas aporias de Smith em relação a sua própria teoria, segundo Marx, deriva:

O primeiro erro de Adam Smith consiste em que ele iguala o valor do produto anual ao produto-valor anual. […] Por meio dessa confusão, Adam Smith manipula a parte constante do valor, fazendo-a desaparecer do produto anual. Esta confusão repousa sobre outro erro em sua concepção fundamental: ele não distingue o caráter conflitante do próprio trabalho: o trabalho enquanto dispêndio de força de trabalho cria valor e, enquanto trabalho útil, concreto, cria objetos de uso (valor de uso). […] O produto anual global é, portanto, o resultado do trabalho útil despendido durante o ano; mas do valor do produto anual apenas parte foi criada durante o ano, essa parte é o produto-valor anual, em que se representa a soma do trabalho realizado durante o ano (pp. 263-264, ênfase do autor).

Na seção sobre a reprodução simples, o autor define o produto-mercadoria como o resultado do funcionamento anual do capital social e as características que diferenciam e as que são comuns à reprodução do capital social e à reprodução dos capitais individuais. Considera que capital social e capital total têm o mesmo significado, e que os capitais individuais são frações constitutivas do mesmo. O produto social anual compreende “tanto as partes que repõem o capital, a reprodução social, como as partes que entram no fundo de consumo, que são consumidas por trabalhadores e capitalistas”; ou seja, consumo produtivo e individual. Este processo reproduz também a classe capitalista e a classe trabalhadora e, portanto, a “reprodução do caráter capitalista do processo de produção global”.(p. 274).

O autor apresenta a fórmula da circulação M' – {D – M … P … M' (d – m)} como ponto de partida à compreensão da reprodução social pela ótica do consumo, considerando

que o produto social, expresso em M' = M + m, compõe-se do valor-capital constante, do variável e da mais-valia (c + v + m) e que seu movimento implica o consumo produtivo e individual, diferenciando-se dos ciclos do capital monetário e do capital produtivo, em que o consumo também se realiza, porém, para o movimento do capital individual, após sua realização, o que acontece com a mercadoria lhe é indiferente. No movimento de M' … M', ao contrário, as condições de reprodução social transparecem pelo fato de demonstrar o que acontece com cada parte do valor desse produto global M'. “O processo de reprodução em sua totalidade compreende, nesse caso, tanto o processo de consumo mediado pela circulação como o próprio processo de reprodução do capital.” (p. 274).

Marx demarca a diferença entre a análise da reprodução social e a individual, explica que o objetivo da primeira é entender a reposição do valor e da matéria de cada parte componente de M' (c + v + m), e que tal processo não é possível a partir da análise do valor- produto do capital individual. Aqueles, enquanto elementos de produção de natureza material, são componentes do capital social e, ao mesmo tempo, produto individual acabado que é intercambiado e reposto. O movimento da parte do produto-mercadoria social que o trabalhador consome com o salário, e o capitalista com a mais-valia integra o movimento global e se entrelaça com os movimentos dos capitais individuais, portanto, não pode ser explicado por pressuposição.

A questão imediata é a seguinte: “como o capital consumido na produção é reposto, quanto ao valor, a partir do produto anual, e como se entrelaça o movimento dessa reposição com o consumo da mais-valia pelos capitalistas e do salário pelos trabalhadores?” (p. 275). A reposta é a reprodução em escala simples, cujos pressupostos são: os produtos se trocam conforme seu valor, não há nenhuma revolução nos componentes do capital produtivo, e intercambia-se as mesmas massas de produtos. O autor, embora enuncie a reprodução simples como uma abstração do processo de reprodução social, considera que esta tem fundamento real e que é parte da reprodução em escala ampliada ou acumulação ampliada. Finalmente, sob o pressuposto da reprodução simples, indica as possíveis variações entre o valor do produto anual e a massa de valores de uso, isto é, a relação entre valor e valor de uso, cuja oscilação eventual indica apenas uma reprodução imperfeita, porém, representam tão somente alterações quantitativas “dos diversos elementos da reprodução, mas não o papel que desempenham como capital em reprodução ou renda reproduzida no processo global.” (p. 276).

Sobre os dois departamentos da produção social, Marx, analisando o produto global, conclui que a produção global da sociedade constitui-se de dois grandes departamentos: I - Meios de produção, voltados ao consumo produtivo; II – Meios de consumo, voltados ao consumo individual da classe capitalista e de classe trabalhadora. Os diferentes ramos de cada um destes constituem um único grande ramo de produção, e o capital empregado um grande departamento particular do capital social. O capital de cada departamento se subdivide em dois componentes: 1. Capital variável: o valor da soma dos salários pagos à força de trabalho social empregada nesse ramo de produção e a matéria, a própria força de trabalho em atividade ou trabalho vivo posto em movimento por esse valor- capital. 2. Capital constante: o valor de todos os meios de produção, que se subdivide em capital fixo (máquinas, instrumentos de trabalho, construções, gado de trabalho etc.,) e em capital constante circulante (materiais de produção como matérias-primas e auxiliares, produtos semimanufaturados, etc.).

O valor do produto anual global de cada departamento decompõe-se em: capital constante (c) que consumido na produção transfere o valor correspondente ao seu consumo na própria reposição e o valor corresponde ao consumo na parte de valor agregada pelo trabalho anual global, na reposição do capital variável (v) e no excedente sobre ele, a mais-valia (m). Como na mercadoria, o valor do produto anual global de cada departamento compõe-se de c + v + m (p. 277). Marx ressalta a diferença entre o valor do capital constante empregado na produção e o valor consumido do mesmo, diferença que decorre da subdivisão do capital constante em capital fixo, que transfere gradualmente seu valor ao produto, e capital circulante, que transfere integralmente este valor. No exame do valor do produto global, o prolongamento da vida útil do capital fixo, que segue funcionando, e a depreciação ocorrida