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Localização dos Conjuntos Habitacionais na Região Administrativa Norte de Natal-RN

95 não registrados (considerados irregulares e/ou clandestinos28), conforme podemos

observar na Tabela 3. Os loteamentos ilegais tornaram-se meios de ocupação do solo urbano nas cidades brasileiras, principalmente pela população proletariada, que não dispõe de poder aquisitivo que lhes possibilite obter o parcelamento da terra de modo legal.

Tabela 3 – Loteamentos registrados e não registrados por Região Administrativa de Natal em 2016

Região

Administrativa

Loteamentos

Registrados Não Registrados Total de Loteamentos Registrados e Não Registrados Norte 11 60 71 Leste 73 48 121 Oeste 87 28 115 Sul 105 57 162 Total 276 193 469

Fonte: SEMURB, 2016 (adaptado pela autora).

De acordo com os dados contidos na Tabela 3, dos 469 loteamentos da cidade de Natal, 162 encontram-se na Região Administrativa Sul, sendo que, desses, 105 estão registrados em cartórios, enquanto que, dos 71 loteamentos existentes na Região Administrativa Norte, apenas 11 encontram-se nessa mesma situação. Essa discrepância de valores demonstra que na parte norte da cidade de Natal muitos moradores ainda não possuem a regulação fundiária da terra e utilizam a Lei Usucapião29 para ter direito à posse legal dos seus terrenos e, consequentemente, da sua moradia, já que essa ilegalidade não é fruto da ação de lideranças subversivas que querem afrontar a lei. “Ela é resultado de um processo de urbanização que segrega e exclui” (MARICATO, 2000, p. 155).

28 De acordo com Botelho (2007), há uma diferenciação entre os loteamentos irregulares dos clandestinos.

Os primeiros são aqueles aprovados em que os terrenos e objetos de edificações foram vendidos, mas o loteador não cumpre o cronograma aprovado, não implementando a infraestrutura a que estava obrigado. Os clandestinos, por sua vez, são aqueles realizados desde o início à margem da lei. No entanto, essas duas formas podem ser consideradas como ilegais por não cumprirem a lei 6.766/79, que dispõe do parcelamento do solo urbano.

29 Essa forma de regulamentação da posse da terra está assegurada pela Constituição Federal de 1988,

pelo Estatuto da Cidade, na Lei 10.257, de 10/07/2001, e pelo Plano Diretor da Cidade do Natal, Lei complementar 082, de 21/06/2007.

96 A regularização fundiária da Região Administrativa Sul é motivada pelo interesse dos agentes capitalistas, tendo em vista que essa é a principal área da cidade destinada ao turismo de sol e mar. Sendo assim, a regulação fundiária é uma condição importante para que os terrenos possam ser revendidos para a construção de seus empreendimentos, tais como pousadas, hotéis, resorts, restaurantes, entre outros.

Já na Região Administrativa Norte não se teve a mesma preocupação, pois durante muitos anos essa área foi considerada apenas como “espaço dormitório” (PAULA, 2010), onde as pessoas trabalhavam, estudavam e saíam em busca de lazer em outras áreas da cidade e retornavam ao fim do dia apenas para descansar; exemplo da falta de interesse público nessa mencionada região administrativa é que a mesma se desenvolveu e até hoje (2019) não possui um hotel para hospedar turistas que desejem conhecer as praias nessa área da cidade. A falta de investimentos em infraestrutura, mobilidade e serviços não proporcionava o desenvolvimento do turismo ou de qualquer outra atividade econômica que atraísse a atenção do capital para a parte norte da cidade. Além disso, os noticiários de crimes violentos passaram a rotular essa região administrativa como área periférica, marginalizada e obscura da cidade de Natal.

Contudo, a distância da Região Administrativa Norte em relação às áreas centrais da cidade de Natal e a deficiência de infraestrutura urbana fizeram com que muitos proprietários de terrenos localizados nos melhores acessos da mencionada região administrativa especulassem suas terras, aguardando melhores momentos para revendê- las e obter assim maior lucratividade/rentabilidade. Nesse contexto, o espaço urbano dessa área da cidade de Natal que foi ocupado inicialmente por conjuntos habitacionais para a população de menores rendimentos e que abarcou também a população “não solvável”, ou seja, aquela que não tinha condições de pagar por moradias nas áreas mais centrais da cidade, aos poucos está se transformando em uma nova frente de valorização para a especulação imobiliária com a inserção dos condomínios verticais, que podem ser observados no Mapa 12.

97 Fonte: ELABORADO PELA AUTORA A PARTIR DE DADOS DA SEMURB, 2013; PESQUISA DE CAMPO, 2017; 2018.

98 Esses empreendimentos verticais vêm configurando o “novo” padrão de segregação socioespacial que se sobrepõe ao conhecido padrão centro-periferia, quando a cidade e os indivíduos estavam separados pelo segmento social, em que as classes médias e altas concentravam-se nos bairros centrais com boa infraestrutura, e os pobres nas precárias e distantes periferias.

Além de ser um espaço fragmentado, a cidade constantemente é preenchida pelas novas formas de ocupação nos espaços vazios urbanos que foram se formando ao longo da estruturação urbana da cidade, caracterizando as metamorfoses espaciais urbanas provenientes das atuações dos agentes produtores do espaço. Neste contexto, no subcapítulo que se segue, destacamos as principais metamorfoses espaciais do espaço urbano da Região Administrativa Norte de Natal.

3.2.4 Metamorfoses espaciais e a Dinâmica Urbana da Região Administrativa Norte de Natal-RN

Os processos de produção e reprodução da cidade são resultados da atuação dos agentes produtores do espaço, que buscam diferentes modos de se apropriar desta por considerá-la como o lugar em que “se unem as mais diversas forças advindas de diferentes atores, os quais estruturam e remodelam seu espaço, visando à acumulação do capital para revertê-lo em valores” (MENDES; SCHMIDT, 2009, p. 82). Esses agentes, representados principalmente pelo Estado, pelos proprietários dos meios de produção e pelos promotores imobiliários (capital incorporador), são responsáveis pelas principais transformações da cidade ou de parte dela, que, ao receber determinados empreendimentos, tem sua morfologia urbana modificada, retratando a metamorfose do espaço urbano.

Na cidade contemporânea, a expansão dos investimentos econômicos em direção ao tecido urbano da periferia tem se ampliado, pela ação do capital no segmento comercial e/ou imobiliário. No entanto, essas áreas requerem não apenas investimentos em infraestruturas físicas e sociais de longa duração, mas também na produção de um espaço reconfigurado para servir à acumulação desse capital (VALENÇA, 2008).

99 Essas reconfigurações dos espaços ocorrem mediante atuação do Estado, que configura-se como o principal produtor, transformador e regulador do espaço urbano capitalista. Nas palavras de Rocha (2005, p. 241),

A atuação do Estado na organização espacial da Cidade se faz de forma complexa e variável tanto no espaço quanto no tempo, refletindo a dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte. Dessa forma, ainda que sejam diversas as possibilidades de ação do Estado, sua efetivação e processamento na Cidade não se fazem de forma neutra, acima das classes sociais e dos conflitos inerentes à sociedade capitalista. Suas ações traduzem, direta ou indiretamente, tanto os embates quanto as alianças promovidas pelos diferentes agentes sociais urbanos, imprimindo nessas ações o seu conteúdo de classe.

Essas ações favorecem a valorização de áreas antes desvalorizadas em prol do capital financeiro, haja vista que, mediante a atuação do poder público e do capital na produção do espaço, os equipamentos urbanos revestem o bairro/cidade de maior dinamicidade e isso agrega-lhe maior valor (ROCHA, 2005). Nesse sentido, no contexto da organização e da (re)produção do espaço urbano da Região Administrativa Norte, observamos que muitos terrenos bem localizados e servidos de infraestrutura permaneceram durante alguns anos como reserva de valor, sem nenhuma função social, uma estratégia do agente financeiro como forma de especular a terra e que mais recentemente passaram a ser ocupados por estabelecimentos econômicos e pelos empreendimentos verticais que criaram um ambiente favorável para a valorização da mencionada região administrativa.

Portanto, para a compreensão de como ocorreram as principais alterações da morfologia da área de estudo, optamos por realizar uma breve caracterização desses processos com o recorte temporal de 2005 a 2018, tendo em vista que é nesse período que são evidenciadas as principais metamorfoses espaciais da parte norte da cidade de Natal, com a instalação dos principais estabelecimentos públicos e privados. Esses estabelecimentos representam as novas reestruturações urbanas da localidade, que evidenciam a cidade como um verdadeiro negócio.

A morfologia da área norte da cidade de Natal era representada massivamente por casas em formatos horizontais, com poucas exceções de casas verticalizadas de 2 a 3 pavimentos. No entanto, no ano de 2005, o primeiro empreendimento vertical da Região Administrativa Nortefoi construído, o Condomínio Estuário do Potengi, e passou a evidenciar na paisagem contemporânea dessa parte da cidade o início do

100 processo de transformação da morfologia espacial (correspondente ao espaço edificado/construído) e da morfologia social (com o estabelecimento de novas relações sociais).

Em 2006, na mencionada região administrativa, inaugurou-se o primeiro hipermercado da localidade, o Carrefour. Esse estabelecimento foi construído em um terreno que pertencia à emissora Cabugi, nas margens da avenida Dr. João Medeiros Filho, em um local considerado estratégico, pois essa avenida é a principal via da Região Administrativa Norte da cidade. No mesmo terreno desse hipermercado, foi inaugurado, no ano de 2007, o primeiro shopping da referida região administrativa, o Natal Norte Shopping (atualmente denominado de Partage Norte Shopping), oferecendo diversas vagas de empregos, principalmente para os moradores locais e das adjacências.

Nesse mesmo ano, a Ponte Newton Navarro (comumente conhecida como Ponte Nova) foi inaugurada, contribuindo consubstancialmente para o desenvolvimento da referida região e para o turismo do litoral norte do estado. A mesma foi construída sobre o Estuário dos rios Potengi/Jundiaí, ligando os bairros de Redinha a Santos Reis, com capacidade para um fluxo diário de 60 mil veículos/dia (MAZARIM, 2011), colaborando diretamente na mobilidade urbana30 da

mencionada região administrativa por possibilitar outro acesso a essa localidade, tendo em vista que até então o acesso só era possível ser realizado pela Ponte Presidente Costa e Silva (Ponte de Igapó) ou através de balsas. A ponte Newton Navarro e os mencionados empreendimentos trouxeram um “novo olhar” econômico para a região administrativa estudada, contribuindo para a sua reestruturação urbana.

Além disso, no ano de 2008, inauguraram-se os seguintes estabelecimentos: o

Shopping Estação e o Hipermercado Atacadão, ambos instalados ao longo da avenida

Dr. João Medeiros Filho, na Região Administrativa Norte. As instalações desses empreendimentos passaram a evidenciar uma nova centralidade das atividades econômicas e de serviços, assim como se configuraram na materialização da atuação dos agentes sociais que consomem o espaço em busca de reproduzir seu capital nos lugares mais rentáveis. Nascimento (2013), ao estudar a instalação dos shoppings

centers, faz a seguinte afirmativa

30 A Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, define mobilidade urbana como condição em que se

101 Entre as estratégias utilizadas pelos agentes econômicos, definir a localização estratégica na cidade é uma etapa importante do projeto de implantação dos shoppings centers, incluindo aí o custo dos terrenos. Como a instalação de empreendimentos dessa natureza exige espaços amplos, as áreas periféricas são a localização mais visada para as novas formas espaciais, pelo fato de situarem-se entre o limite da malha urbana e o traçado do perímetro urbano, com facilidade de acesso, por uma avenida, ou por rodovias que contornam o perímetro urbano (NASCIMENTO, 2013, p. 94).

Os dois shoppings da Região Administrativa Norte de Natal seguem essa concepção estratégica da localização, pois ambos foram construídos nas margens da avenida Dr. João Medeiros Filho. Além disso, para facilitar a acessibilidade da população dos municípios vizinhos a esses empreendimentos, os empresários, em consonância com o poder público, criaram linhas de ônibus que realizam o itinerário dos municípios para esses empreendimentos, a exemplo das linhas: 120 da empresa Oceano, que faz o itinerário do município de Extremoz até o Partage Norte Shopping, e da linha I, que faz o percurso dos municípios de Macaíba e São Gonçalo do Amarante em direção ao referido shopping. A criação dessas linhas de ônibus contemplou também alguns bairros da região norte que não tinham linha urbana direta para esses empreendimentos.

Isso nos traz evidências para a reflexão de que a instalação desses empreendimentos numa determinada área pressupõe também alterações nas características morfológicas do local e do seu entorno, que não se resumem apenas ás mudanças físicas, mas desenvolvem novos hábitos e novas relações sociais, tendo em vista que o shopping não é apenas um centro comercial, mas também um centro de lazer relacionado ao consumo.

Em 2010, foi inaugurado o Complexo Cultural de Todos, nas margens da avenida Dr. João Medeiros Filho, no local onde funcionava a antiga penitenciária Dr. João Chaves (demolida em 2006). Esse complexo é um espaço cultural que possui Pinacoteca, salas de música e dança, cine-teatro-auditório, entre outros espaços que são destinados ao fazer artístico. Ao lado desse complexo, está situado também o campus da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), conforme podemos observar na Imagem 11 a e b.

102 Fonte: PESQUISA DE CAMPO, 2019.

Ressaltamos que esse campus da UERN encontra-se ainda em fase de construção e algumas aulas estão sendo ministradas em salas do Complexo Cultural.

No período que compreende os anos de 2011 a 2013, foram inaugurados quatro empreendimentos verticais voltados para o segmento residencial. Esses empreendimentos verticais foram construídos nos bairros de Pontegi, Pajuçara e Redinha. Somente com as instalações desses empreendimentos é que a verticalização na Região Administrativa Norte ganhou destaque, principalmente por ser entre esses empreendimentos que está a primeira torre residencial da referida região, o Condomínio Residencial Riverside, com 16 pavimentos.

Sobre a produção dos condomínios verticais nas áreas periféricas das cidades, Volochko (2015a, p. 111) assevera que

o que está posto no horizonte da produção dos novos condomínios habitacionais-enclaves formalmente construídos em meio a áreas, em sua maioria, autoconstruídas- é uma reprodução permitida pela dinâmica urbana, justamente da valorização do capital no plano imobiliário e financeiro, enredando certas camadas sociais e mobilizando-as para novos espaços habitacionais nas periferias.

Essa produção residencial na periferia é permitida pela intensificação da relação do capital financeiro com as políticas públicas que possibilitam a produção de habitação de interesse social para a população de menores rendimentos, diferenciando-se de outros períodos em que o tipo de moradia representado pelo apartamento só era possível para a classe com maior poder aquisitivo. Em 2013, foi entregue o condomínio residencial Nova Europa, no bairro Potengi, próximo a

A

103 diversos estabelecimentos comerciais, tais como farmácia, supermercado, clínicas médicas, posto de gasolina, e próximo à avenida Dr. João Medeiros Filho.

No ano de 2014, foi entregue mais um empreendimento vertical no bairro Pajuçara, o condomínio residencial Florais do Brasil. Ressalta-se ainda que foi nesse mesmo ano que o aeroporto internacional Aluízio Alves foi inaugurado no município de São Gonçalo do Amarante. Embora não esteja instalado na Região Administrativa Norte, podemos afirmar que esse elemento influencia na atração de investimentos imobiliários e de serviços para a mencionada região administrativa, a qual se tornou a área da cidade de Natal mais próxima do aeroporto.

Em 2015, também no bairro Pajuçara, foi entregue o condomínio residencial Nova Aurora, nas proximidades da avenida Dr. João Medeiros Filho. Esse enclave foi construído em terrenos que até então não possuíam nenhum tipo de ocupação, mas que detinham em suas imediações melhores infraestruturas e uma localização considerada estratégica que possibilita melhor acessibilidade e mobilidade a seus moradores.

A principal característica desses empreendimentos verticais que vinham sendo construídos na Região Administrativa Norte era o fato de eles possuírem até 4 pavimentos, com exceção apenas para o Condomínio Residencial Riverside, que tem 16 pavimentos. No entanto, em 2016, foi inaugurado o condomínio residencial Colinas do Potengi, com 7 pavimentos. Esse empreendimento vertical foi construído no bairro da Redinha, nas imediações da ZPA 8.

Em dezembro desse mesmo ano, inaugurou-se mais um estabelecimento econômico de grande porte, o Assaí Atacadista, que foi instalado ao lado da indústria Coteminas, na margem da avenida Tomaz Landim, em São Gonçalo do Amarante. Embora esse empreendimento não esteja instalado na Região Administrativa Norte de Natal, não podemos deixar de citá-lo, por compreender que ele traz dinamicidade econômica para a parte norte da cidade de Natal. A avenida Tomaz Landim é uma importante via de circulação que compõe a BR-101; além disso, ela separa os limites da mencionada região administrativa com o município de São Gonçalo do Amarante.

O Assaí Atacadista faz parte do Grupo Pão de Açúcar, maior grupo varejista e de distribuição do país, com mais de 140 mil colaboradores. Segundo uma entrevista realizada pela revista de negócios Newtrade com o presidente da referida empresa, alguns dos motivos para a construção da unidade na localidade foi a demanda dos clientes, o desenvolvimento da região, o potencial econômico e o crescimento de

104 Natal. Em outra reportagem, realizada pelo portal de notícias Agora RN, sobre a inauguração desse estabelecimento, o referido presidente da empresa relatou que

Começamos a construção em setembro. Se não fosse o apoio do poder

executivo municipal e o empenho dos dirigentes e funcionários locais,

com certeza não estaríamos abrindo essa unidade. O Assaí se sente orgulhoso em fazer parte de São Gonçalo, assim como para o município, com certeza é muito importante nos ter como integrante (REVISTA

NEWTRADE, 2017). (Destaque da autora).

Nessa conjuntura, é perceptível que a produção desse espaço econômico ocorreu por intermédio do Estado, que agiu em consonância com o capital financeiro a fim de permitir sua reprodução na cidade ao mesmo tempo em que promoveram o discurso de que essa parceria seria em prol do crescimento e do desenvolvimento econômico do município.

No ano de 2017, inaugurou-se nas margens da avenida Dr. João Medeiros Filho, o condomínio residencial Spazio Andrier, com 8 pavimentos, construído no bairro Pajuçara. O terreno onde foi edificado o referido empreendimento também faz parte dos terrenos localizados nas áreas bem servidas de infraestrutura que não possuíam ocupações, conforme podemos visualizar na Figura 5.

Figura 5 – O antes e o depois do terreno do Condomínio Spazio Andrier

105 O espaço urbano que está sendo produzido por meio dos novos produtos residenciais é uma das

inúmeras estratégias utilizadas para a reprodução do capital que tem se destacado com a verticalização, cujo crescimento quantitativo e espacial apresenta peculiaridades que ao longo de seu processo, vem alterando a paisagem urbana e o modo de viver nas cidades (MENDES, 2009, p. 19). Essas novas formas de habitar, representadas pelos condomínios verticais, passaram a valorizar ainda mais a Região Administrativa Norte da cidade; porém, essa valorização não atingiu de modo contínuo todas as áreas, ocasionando o enobrecimento de algumas partes em detrimento de outras.

A construção desses empreendimentos residenciais tem reconfigurado o espaço periférico da Região Administrativa Norte de Natal, tornando-o uma nova fonte para a mercantilização habitacional que busca atender as necessidades e anseios da nova classe média31, tornando-se um verdadeiro nicho de mercado. Volochko (2015b) afirma que esse novo produto habitacional é uma nova morfologia e um novo processo baseado na produção imobiliária-financeira-estatista, que está representado pelos novos condomínios habitacionais populares, ou seja, seriam as novas formas de produção de moradias do Estado substituindo aquelas da década de 1970/80, com a atuação da COHAB e do INOCOOP, na produção dos conjuntos habitacionais de casas horizontais.

Nessa conjectura, os novos produtos imobiliários representados pela construção dos condomínios verticais são produtos de uma lógica imobiliária que vende o espaço da periferia para a classe média, que, todavia, precisa ser convencida dessa nova “necessidade de habitar” (CARLOS, 2009, p. 312).

No ano de 2018, mais um estabelecimento comercial de grande porte foi inaugurado na margem da avenida Tomaz Landim, em São Gonçalo do Amarante, limite com o município de Natal: a loja Carajás, que é uma loja na linha Home Center e vende materiais de construção, artigos de decoração, eletroeletrônicos e artigos para o lar. Esse empreendimento comercial foi instalado em uma parte do

31 Para a nossa pesquisa adotamos a divisão das classes econômicas a partir do estudo realizado pela

Fundação Getúlio Vargas (FGV), na qual a estratificação das classes sociais está dividida em A (com renda mensal superiores a R$ 6.329,00) , B ( renda mensal entre R$ 4.854,00 e R$ 6.329,00) , C (renda mensal entre R$ 1.126,00 e R$ 4.854,00 ) , D ( renda mensal entre R$ 705 e R$1.126,00 ) e E (renda entre R$ 0,00 a R$ 705) . Sendo a classe C aquela considerada como a nova classe média, pois “aufere em média a renda média da sociedade, ou seja, é classe média no sentido estatístico” (NERI, 2010, pág. 29). De acordo como estudo, a quantificação das faixas de rendas é calculada a partir de a renda domiciliar per capita do trabalho e depois expressa em termos equivalentes de renda domiciliar