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de menor rendimento que durante muito tempo ficou excluída do mercado formal de moradias, aconteceu, sobretudo, a partir das recentes políticas habitacionais. A produção da moradia para essa população em tempos pretéritos resultava principalmente na construção de casas horizontais, predominantemente em áreas periféricas, que eram distantes das áreas centrais, valorizadas e bem servidas de infraestrutura e de equipamentos urbanos, uma vez que os terrenos urbanos nessas áreas afastadas eram mais baratos e não incidiam tanto no preço da moradia.

Enquanto isso, a produção de casas mais sofisticadas em áreas centrais e os edifícios verticais se destinavam quase que exclusivamente para a população que possuía melhor rendimento, uma vez que o custo da produção vertical era muito elevado devido às exigências técnicas e o material que era utilizado e o terreno urbano na área central também tinham um custo muito alto, que era repassado pelo preço do imóvel aos compradores. Portanto, tornava-se praticamente impossível a população de menor poder aquisitivo adquirir tais empreendimentos.

Villaça (1986) evidencia que a desigualdade de acesso a diferentes moradias é produzida e controlada pelo sistema capitalista, pois há razões estruturais que impedem o modo capitalista de produção de oferecer habitação decente a todos os indivíduos da sociedade. Entre essas razões estruturais, destaca-se o fato de a habitação estar vinculada ao solo, ou seja, ela está amarrada à terra e à propriedade privada da terra, o que onera violentamente o preço da habitação, dificultando o acesso da população mais pobre à moradia digna.

157 No entanto, na conjuntura atual das políticas habitacionais articuladas com o mercado imobiliário, as habitações estão sendo produzidas tanto em formato de casas horizontais/verticais como em formato de condomínios verticais, o que possibilita que a população de menor poder aquisitivo adquira seu imóvel conforme o seu desejo de consumo e a sua necessidade. Assim, no contexto da discussão proposta nesta pesquisa acerca da produção do espaço urbano da Região Administrativa Norte a partir da inserção dos empreendimentos verticais, pretendemos analisar neste momento o perfil da população residente desses empreendimentos na perspectiva da reprodução das relações sociais, conforme as peculiaridades de quem adquire esses produtos imobiliários.

Para tanto, aplicamos 170 formulários estruturados (APÊNDICE B) com os proprietários/moradores dos apartamentos de 7 condomínios50, 5 formulários estruturados com os promotores imobiliários51 (APÊNDICE C) e, para a complementação de informações sobre os moradores dos condomínios aos quais não conseguimos acesso, realizamos a pesquisa documental no 3º Ofício de Notas.

Dessa forma, com base nos formulários aplicados com os moradores dos condomínios verticais analisados, verificamos que nem sempre quem reside é o proprietário. Dos 170 formulários aplicados, 20% estão alugados, 1,18% estão na condição de cedido/emprestado e em 78,82% são os próprios proprietários que residem. Nesse contexto, evidencia-se o que Pádua (2015, p. 148) assevera

o produto moradia toma um conteúdo que não é só de moradia, mas também de investimento. Não podemos dizer que essa é uma característica do momento atual, mas ela toma fora hoje, quando o processo de valorização está ligado à produção do espaço. O investimento imobiliário, mesmo para pequenos investidores, reforça-se como alternativa de grande rentabilidade e com garantias, o que demonstra o desenvolvimento de novas formas de aplicação em fundos imobiliários. Assim, o próprio apartamento, mesmo comprado para moradia, aparece também como um investimento.

50 Os condomínios onde foram aplicados os formulários com a população residente foram: Condomínio

Residencial East Park; Condomínio Residencial Nova Europa; Condomínio Residencial Nova Aurora; Condomínio Residencial Spazio Andrier; Condomínio Residencial Florais do Brasil; Condomínio Residencial Estuário do Potengi. Salienta-se que, entre os que não conseguimos acesso, estão dois ainda em construção (Condomínio Residencial Morar Bem Pajuçara e Condomínio Residencial Oásis Paradise). Além disso, o Condomínio Residencial Nova América ainda estava na etapa final de construção e entrega dos apartamentos a seus moradores; com isso, não se tinha um síndico responsável para conseguirmos acesso ao empreendimento. No caso do Condomínio Residencial Colinas do Potengi e do Condomínio Residencial Riverside, entramos por diversas vezes em contato com o síndico responsável, mas nos foi negado o acesso em todos os contatos.

51 Para a entrevista com esses agentes sociais, optou-se por realizar a pesquisa com os corretores de

imóveis responsáveis pelas vendas dos apartamentos. Para tanto, foram entrevistados dois corretores de cada agência imobiliária.

158 Isso nos remete ao que Harvey (1978) afirma quando analisa a moradia como valor de troca. Para esse autor, alguns proprietários de moradia operam, na maioria das vezes, com vista ao valor de troca, uma vez que buscam obter uma renda a mais do capital investido. Esse fato também foi constatado ao dialogarmos informalmente com alguns proprietários dos imóveis que compraram mais de um apartamento para obter uma renda mensal extra e também com a pretensão de revendê-los por um preço maior do que o de ter adquirido inicialmente.

Diante disso, para delinear o perfil dos proprietários desses imóveis, aplicaram- se formulários com os proprietários que iam sendo identificados, chegando ao total de 134. Desses, constatamos que 53% se enquadram na faixa de 31 a 40 anos; 19% correspondem à faixa etária de 20 a 30 anos; 18% pertencem à faixa de 41 a 50 anos; 7% estão na faixa de 51 a 60 anos; e 3% se enquadram na faixa etária acima de 61 anos. Com relação ainda ao perfil desses proprietários, temos o Gráfico 4, que representa o estado civil desse público-alvo.

Os dados do Gráfico 4 apontam para um perfil de proprietários que se enquadram predominantemente no estado civil solteiro, com 60%; casados são 30%. Fazendo uma correlação desses dados com os relatos dos corretores imobiliários e dos próprios moradores, temos que esse perfil se configura em sua grande maioria como famílias muito jovens, com potencial real de compra, inseridas no mercado de trabalho e

30% 60% 2% 2% 6% Casado Solteiro União Estável Viúvo Divorciado

Gráfico 4 – Estado Civil dos Proprietários e Residentes dos condomínios verticais da Região Administrativa Norte de Natal-RN

159 que buscaram através dos programas habitacionais, sobretudo o PMCMV, uma forma de adquirir seu primeiro imóvel como uma conquista pessoal e também como um investimento.

No que se refere aos rendimentos mensais dos moradores (chefes e/ou responsáveis pelo núcleo familiar) e proprietários dos apartamentos, adotamos o seguinte procedimento: utilizamos dados somente dos formulários aplicados nos empreendimentos, pois nem todos os registros de compra dos apartamentos no cartório possuíam a renda comprovada pelo comprador.

Para isso, perguntamos de forma livre no formulário estruturado qual era a renda mensal familiar; a partir das respostas, criaram-se os intervalos entre R$ 0,00 até mais de R$ 9.540,0052. Optamos por não criar intervalos fechados de rendimento, para não deixar de abarcar as respostas dos moradores que podiam não se encaixar em um ou em outro intervalo. A Tabela 4 representa a distribuição dos rendimentos mensais pela população entrevistada.

Tabela 4 – Rendimentos Mensais dos moradores e/ou proprietários residentes dos condomínios verticais da Região Norte de Natal-RN

Valor Mensal População Entrevistada Dados Proporcionais

(%) R$ 0,00 a R$ 954,00; 18 10,59% R$ 954,01 a R$ 1.908,00 48 28,23% R$ 1.908,01 a R$ 2.862,00 42 24,70% R$ 2.862,01 a R$ 3.816,00 36 21,17% R$ 3.816,01 a R$ 4.770,00 22 12,95% R$ 4.770,01 a R$ 5.724,00 2 1,18% R$ 5.724,01 a R$ 6.678,00 - R$ 6.678,01 a R$ 7.632,00 - R$ 7.632,01 a R$ 9.540,00 Acima de R$ 9.540,00 2 1,18% Total 170 100%

Fonte: PESQUISA DE CAMPO 2017; 2018.

52 Consideramos para os intervalos de rendimentos o salário mínimo vigente do ano de 2018, que é de R$

160 Com base nos dados da Tabela 4, há uma predominância de rendimentos mensais entre R$ 954,01 a R$ 3.816,00, que representam o intervalo de 1 a 4 salários mínimos, com aproximadamente 74,1% da população entrevistada. Esses valores confirmam a discussão realizada anteriormente a respeito de esses empreendimentos estarem sendo produzidos para os segmentos populacionais de renda média e média baixa.

De acordo com as informações obtidas no cartório e com a aplicação dos formulários com os residentes dos empreendimentos analisados, temos uma heterogeneidade com relação às profissões desse público-alvo. Algumas dessas profissões e ocupações podem ser vislumbradas no Quadro 4.

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Quadro 4 – Profissões/ocupações dos Residentes dos condomínios verticais.

Condomínio Residencial Estuário do Potengi Condomíni o Residencia l North Park Condomínio Residencial Riverside Condomínio Residencial East Park Condomínio Residencial Parque Nova Europa Condomínio Residencial Florais do Brasil Condomínio Residencial Nova Aurora Condomíni o Residencia l Colinas do Potengi Condomínio Residencial Spazio Andrier Condomínio Residencial Nova América Condomínio Oásis Paradise Auxiliar de Dentista Técnica em Segurança Bióloga Diarista Açougueiro Supervisora Administrativa Auxiliar de Engenharia Gerente Técnico de Informática Vendedor Gerente Técnica em Enfermagem Porteiro Administrador a Vendedor Administrador Supervisor de Transporte Auxiliar de Manutenção Auxiliar de Escritório Auxiliar de Escritório Agente administrativo Nutricionista Policial Militar Gerente

Enfermeira Supervisor Administrativo Gari Manicure Cabelereira Enfermeir o Vendedor De Comercio Varejista e Atacadista Técnico em Edificações Enfermeira Despachante Técnico Eletricista Agrônomo Mecânico Auxiliar de Enfermagem Motorista de Aplicativo Técnico em

Informática Contador Professor

Técnica em Enfermagem Agente Administrativo Técnico Eletricista Vendedor Enfermeira Administrador Agente administrativo Agente Administrativo Militar Administra dor Eletrotécnico Professor Professor Técnico em Edificações Policial Militar Técnico em Mecânico Professor Policial Militar Operador de Telemarketing Trabalhador Informal Professor Técnico de Segurança do Trabalho Corretor Supervisora Agente Administrativo Analista de Sistema Empresária Técnica em Enfermagem Programador Técnico de sistema de segurança Técnica em

Enfermagem Vendedora Farmacêutica

Recepcionista Porteiro Gari Marinheiro Engenheiro Civil Militar Motorista Proprietário de microempresa Frentista Auxiliar de Escritório Microempresá rio Auxiliar de Escritório Trabalhadores dos serviços de proteção Microempresário Supervisor Financeiro Odontólogo Recepcionista Professora Vendedor Cabelereira Policial Militar Enfermeira

Técnico Eletricista Gerente de vendas Fonte: PESQUISA DE CAMPO 2017; 2018.

162 Analisando as informações do Quadro 4, é perceptível que a heterogeneidade de profissões reflete também na variedade de rendas dessa população. Não existem níveis de profissão (nível fundamental, médio ou superior) que predominem; portanto, os diferentes profissionais ocupam e usufruem dos mesmos empreendimentos. Entretanto, apesar de ocuparem a mesma tipologia habitacional, isso não anula a forte disparidade social ainda existente na Região Administrativa Norte, pois, como mencionado anteriormente, nem todos que residem de fato são proprietários dos imóveis.

Em alguns relatos da população residente que mora sob a condição de aluguel nos empreendimentos verticais, nos foi proferido que essa condição de moradia lhes foi imposta, pois o preço do imóvel para compra geralmente é elevado, o que comprometeria boa parte da sua remuneração. Além disso, eles afirmaram que não conseguiram se enquadrar em uma das faixas de renda do PMCMV, por isso recorreram aos aluguéis. Essa condição rentista é um setor regulado pelo mercado, inexistindo controles estatais sobre os seus valores que são fixados pela lei da oferta e da procura (BONDUKI, 1998), principalmente devido à localização dos empreendimentos e das atribuições positivas que são dadas ao condomínio fechado, especialmente a questão da segurança.

Nesse contexto, quando questionados sobre o porquê de escolherem residir em condomínios fechados mesmo morando de aluguel em vez de procurar casas que se encaixassem em suas condições financeiras, aproximadamente 73,5% dos residentes que moram de aluguel afirmaram que optaram pelos apartamentos devido à questão da segurança. Analisando as respostas dos residentes no geral, essa justificativa é validada, pois, quando questionado53 aos moradores/proprietários sobre as razões que os levaram a optar por esse tipo de moradia, as respostas da Tabela 5 foram as mais recorrentes.

53 Essa pergunta foi estruturada de forma aberta, pois buscamos obter a resposta de forma livre, sem

induzir a qualquer opção previamente determinada. Ressalta-se que, quando a resposta era mais de uma opção, foi considerada a primeira.

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Tabela 5 – Motivo da escolha do imóvel

Motivo da Escolha Nº de moradores/proprietários Dados Proporcionais (%) Segurança 67 39,41% Imóvel Próprio 43 25,30% Localização 40 23,53% Outros 20 11,76% Total 170 100%

Fonte: PESQUISA DE CAMPO, 2017; 2018.

Notamos que o principal motivo de a população ter escolhido residir em condomínios fechados foi a segurança (ou a insegurança na cidade), que representou 39,41%; isso condiz com a discussão realizada por Sposito e Góes54 (2013) ao afirmarem que os espaços residenciais fechados são a materialização no espaço das representações simbólicas da insegurança urbana55, que se encaminha para um acentuado processo de segregação e mais especificamente de autossegregação, uma vez que a opção em residir em espaços fechados é de livre vontade daqueles que decidem se separar do restante da cidade.

Essa opção fica evidente em muitos relatos dos moradores sob a condição de aluguel e também dos proprietários dos condomínios verticais. Vejamos algumas transcrições extraídas desses depoimentos:

Vim morar no condomínio fechado porque tenho medo de ao chegar em casa me deparar com um ladrão [...] aqui você chega próximo ao prédio e o porteio já abre o portão. É muito mais seguro (Informação oral56).

Prefiro morar aqui, mesmo que seja de aluguel do que em uma casa porque sinto que para minha família aqui é mais seguro, aqui não tenho medo. (Informação oral57).

Isso evidencia uma autossegregação voluntária, que é desejada pelos moradores desses empreendimentos, condizendo à formação de um caráter homogêneo dessa

54 Pesquisa realizada com três cidades médias do estado de São Paulo (Marília, Presidente Prudente e São

Carlos) que deu origem ao livro “Espaços Fechados e Cidades – Insegurança Urbana e Fragmentação Socioespacial”.

55 As autoras trabalham com o termo “insegurança urbana” por compreenderem que essa vai muito além

da violência urbana; desse modo, evitam possíveis encobrimentos e simplificações, uma vez que a palavra “violência” é polissêmica, pois pode representar violência física, violência psicológica, violência interpessoal, entre outras.

56 Depoimento de moradora/ proprietária do Condomínio Residencial East Park em Junho de 2018. 57 Depoimento de morador do Condomínio Residencial Nova Europa em Junho de 2018.

164 população no que se refere aos seus desejos, pois esses encontram nos seus espaços privativos os elementos básicos para suprir suas necessidades diárias.

Outro motivo que recorrentemente foi citado pelos residentes dos apartamentos refere-se à aquisição de seu imóvel próprio, representando 25,30%, tendo em vista que essa é uma das maiores pretensões dos indivíduos, conforme já mencionado anteriormente. Tem-se também que a localização foi uma das razões que fizeram os indivíduos optarem por residir em condomínio fechado, tendo em vista que 23,53% afirmaram ser essa a causa de sua escolha. Ressalta-se ainda que alguns indivíduos, em sua resposta, se mostraram taxativos ao pontuarem a relação localização: casa-trabalho, casa-escola dos filhos e casa-proximidade com estabelecimentos comerciais.

No que se refere ao grau de menor prioridade, aparecem área de lazer, qualidade de vida, proximidade a parada de ônibus, entre outros que, por serem citados poucas vezes, nos fizeram criar uma classe de representação juntos, o que corresponde a 11,76%.

Consoante às informações obtidas com a aplicação dos 170 formulários e com o acesso a 110 registros de compras obtidos no 3º Ofício de Notas sobre o local de origem da população residente dos empreendimentos verticais, é perceptível que há um intenso fluxo de mobilidade residencial para a Região Administrativa Norte (Mapas 15

(a;b;c;d;e) e Tabela 6). Sendo que, das 280 informações, constatamos que 49,29% são

provenientes dos bairros dessa mesma região administrativa, portanto, informação condizente também com as dos corretores de imóveis. Os fluxos provenientes das demais regiões administrativas se configuram da seguinte forma: 9,29% correspondem aos moradores advindos dos bairros da região administrativa leste, 5,71% da região administrativa sul e 3,57% da região administrativa oeste da cidade de Natal.

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Tabela 6 – Locais de origem dos proprietários/residentes dos condomínios da Região Administrativa Norte de Natal-RN

Locais de Origem Quantidade de

moradores/proprietários Dados Proporcionais (%) Norte 138 49,29% Leste 26 9,29% Sul 16 5,71% Oeste 10 3,57%

Total das Regiões Administrativas

190 67,86%

Outros Municípios do RN 72 25,71%

Outros Estados do Brasil 18 6,43%

Total 280 100%

166 Fonte: ELABORADO POR MIQUÉIAS SILVA A PARTIR DE DADOS DA SEMURB (2007); IBGE ( 2015); PESQUISA DE

167 Fonte: ELABORADO POR MIQUÉIAS SILVA A PARTIR DE DADOS DA SEMURB (2007); IBGE ( 2015); PESQUISA DE CAMPO (2017/2018).

168

Fonte: ELABORADO POR MIQUÉIAS SILVA A PARTIR DE DADOS DA SEMURB (2007); IBGE ( 2015); PESQUISA DE CAMPO (2017/2018).

169

Mapa 15(d)- Origem e Destino dos moradores dos condomínios verticais do Riverside e do Spazio Andrier

170

Mapa 15(e)- Origem e Destino dos moradores dos condomínios verticais do Colinas do Potengi e do Estuário do Potengi

Fonte: ELABORADO POR MIQUÉIAS SILVA A PARTIR DE DADOS DA SEMURB (2007); IBGE ( 2015); PESQUISA DE CAMPO (2017/2018).

171 Conforme pesquisa realizada, notamos que os moradores dos condomínios verticais produzidos no processo de habitação social de mercado são procedentes em sua grande maioria dos bairros da mesma região administrativa na qual estão inseridos, ou seja, a Região Administrativa Norte, apenas tendo como exceção a ausência de indivíduos provenientes do bairro Salinas. De acordo ainda com informações dos corretores imobiliários, o fato de a grande maioria dos residentes já ser da própria região administrativa é resultante de que muitos deles já residiram com seus familiares e que agora, com seu poder de compra, por estarem iniciando sua vida conjugal ou até mesmo com a pretensão da sua emancipação social, decidem continuar nas proximidades de onde residiam.

No que se refere aos bairros das demais regiões administrativas de Natal, observamos que a origem da população residente ainda parte de outros 16 bairros; entre esses, merecem destaque, por serem mais recorrentes, Petrópolis, Santos Reis, Tirol, Candelária e Rocas. Essa mobilidade residencial é influenciada também pelos corretores de imóveis, como é possível observar na transcrição abaixo,

[...] Nós vendemos imóveis também na zona sul e na zona leste, quando achamos alguém que não se encaixa dos padrões financeiros para os imóveis nestas áreas, já indicamos para os imóveis aqui na zona norte. Por exemplo, se um individuo tem renda de uns R$ 3.000,00 e tem interesse em morar em condomínio na zona sul, nós mostramos a ele que a renda que possui naquele momento é inviável mas que ele pode vim a morar num condomínio com as mesmas características destes da zona sul, aqui na zona norte, onde sua renda vai ser mais proveitosa [..]. (Informação oral 58).

Essas estratégias utilizadas pelos corretores de imóveis contribuem de certa forma, com o direcionamento da produção imobiliária para determinadas camadas da população (MENDES; SCHMIDT, 2009). Identificamos também que 25,71% da população residente dos condomínios verticais são provenientes de outros municípios do estado, ganhando destaque os municípios de São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Parnamirim, todos pertencentes à Região Metropolitana de Natal, sendo o primeiro e o segundo municípios que fazem limites com a Região Administrativa Norte. Além do mais, averiguou-se também que 6,43% são de municípios de outros estados, sendo o mais recorrente Recife-PE.

Sobre a quantidade de pessoas que residem nos apartamentos, constatamos que aproximadamente 52% equivalem a famílias com 3 a 4 pessoas; 37% são compostos por

58 Informação oral concedida em entrevista realizada no dia 16 de junho de 2018, com o representante

172 1 a 2 pessoas; e 11% correspondem a famílias compostas por mais de 4 pessoas. Sobre a expansão desse tipo de moradia na parte norte da cidade de Natal, Lima (2017, p. 09) afirma que

Esse avanço dos condomínios verticais [...] evidencia novas dinâmicas de valorização imobiliária e do cenário urbano, convenientes para a captura de lucros – sobretudo, aos incorporadores - em localidades tradicionalmente restritas a população de baixo poder aquisitivo. No caso específico da Zona Norte, na busca de potencializar os ganhos, os incorporadores investem em condomínios verticais [...] e ofertam um novo estilo de vida em comunidade através de torres ilhadas entre muros para garantir aos futuros moradores a privacidade, o prestígio social e a segurança com o exterior, isto é, formam enclaves formalmente construídos em meio a áreas, em sua maioria, autoconstruídas e ilegais.

O fato é que tanto para os agentes produtores quanto para os moradores, a Região Administrativa Norte no momento atual se configura como o espaço ideal para a