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Como afirma Campos (2011, p. 63): “A lógica do setor da indústria da construção, assim como de toda atividade capitalista, traduz-se na busca de estratégias que permitam que a mercadoria habitação produzida tenha o mais alto valor possível, como forma obviamente de alcançar os mais elevados lucros, tendo no preço da terra urbana o fator central do processo de produção de moradias”.

Entre o ano de 2009, datando o início do PMCMV, e o ano 2018, nem todos os municípios da Ride da Grande Teresina, possuem os empreendimentos promovidos pelo programa. A maior concentração se destaca no município núcleo, no caso, no município de Teresina, e ocupando a 2° posição se encontra a cidade de Timon pertencente do município do Maranhão, os demais municípios apresentam um número bem diferencial segundo os dois primeiros resultados. Como pode ser visto na tabela 16, que representa todas as unidades habitacionais contratadas de 2009 a 2018:

Tabela 16 - Ranking dos municípios por número de unidades habitacionais contratadas da faixa 01

UF Município Nº Unidades Contratadas

PI Teresina 20.123 MA Timon 7.464 PI União 1.038 PI Altos 1.023 PI José de Freitas 849 PI Demerval Lobão 490 PI Beneditinos 217 PI Curralinhos 216 PI Nazária 143 PI Lagoa Alegre 119 PI Lagoa do Piauí 107 PI Coivaras 104 PI Monsenhor Gil 70 PI Miguel Leão 39 Total 32.002

Fonte: Ministério das Cidades 2018. Elaboração própria do autor (2018).

Aa unidades habitacionais contratadas do PMCMV no decorrer dos anos teve índices de diferenciação, logo no seu ano de implantação da política em 2009 observa-se a iniciativa com a entrega de 3.955 em toda a Ride da Grande Teresina (gráfico 2), já entre os anos de 2010,

9 2011 e 2012 ocorreu algumas alterações no quadro quantitativo, embora no ano de 2013 seja o pico de todos esses anos com o total de 10.252 unidades habitacionais contratadas. Mas no decorrer dos anos do seu momento de pico no caso de 2013 até o ano de 2018 constata-se um baixo rendimento, onde os números mostram uma queda brusca em toda a trajetória do PMCMV chegando a resultados negativos no caso de 2017 com a quantidade 0 de unidades. E logo no mês de janeiro de 2018 já apresenta uma quantidade de 1.044 de unidades prestes a serem construídas.

Como o PMCMV é um programa de caráter privado, os municípios não têm nenhuma influência de escolha da localidade, pelo contrário, muitas vezes a própria legislação da Caixa diverge das leis municipais. Com isso, cabe aos empresários das construtoras fazerem a escolha da localização, e logo após os projetos estarem aprovados perante a Caixa, fica liberado o início do processo de construção (ARANTES e FIX, 2009).

Gráfico 2 - Unidades habitacionais contratadas da faixa 1 na Ride da Grande Teresina – 2009/2018

Fonte: Ministério das Cidades 2018. Elaboração própria do autor (2018).

A localização pode ter influência no surgimento de consequências para a população beneficiada pelo PMCMV, principalmente para as famílias das faixas 1, devido à falta de infraestrutura e serviços urbanos considerados necessários, como pode ser explicado por Bonduki (2009, p. 9):

A localização dos empreendimentos poderá ser inadequada, em áreas carentes de emprego, infraestrutura e equipamentos, correndo o risco, ainda, de gerar 3955 6241 3011 6087 10252 780 132 500 1044 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

impactos negativos como a elevação do preço da terra, que representaria a transferência do subsídio para a especulação imobiliária, desvirtuando os propósitos do programa.

Considerando a falta de articulação da política de habitação com a política urbana, e ainda a ausência de punição efetiva aos municípios que desrespeitam o Estatuto das Cidades, é comum verificar incorporadores procurando terras mais baratas e como consequência as mais distantes das centralidades urbanas e com incidência maior de precariedade no acesso à infraestrutura oferecida (CARDOSO e ARAGÃO, 2013).

Portanto, o fator localização é algo bastante propício à existência ou não de serviços públicos como também o acesso à infraestrutura. Nesse caso, percebe-se que o poder público na maioria das vezes não tem se utilizado do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) como norteador das políticas habitacionais, autorizando a construção dos empreendimentos em locais com dificuldade de acesso aos serviços urbanos e infraestruturas, impossibilitando até mesmo o direito à cidade dos moradores com a existência de dificuldades no acesso aos serviços públicos oferecidos por ela. Campos e Mendonça (2013, p. 70) afirmam:

Algumas premissas que nortearam a PNH foram o reconhecimento de que não se pode pensar em habitação isoladamente do contexto da cidade, sendo fundamental garantir à população também o acesso a infraestruturas urbanas; o reconhecimento da função social da terra e da necessidade de regulação com o intuito de evitar a sua utilização especulativa [...].

Como afirma Silva e Silva (2013, p. 279), "A realidade local demonstra a influência desta ação na reorganização espacial do território e nas condições de acesso à habitação, caracterizada pela periferização e descaso com a otimização dos equipamentos, infraestrutura e melhor mobilidade urbana".

O fato do morador ter sua residência reconhecida de maneira formal, bem como desta moradia estar localizada em zona periférica, longe dos serviços oferecidos em outras áreas da cidade, aliado à ausência de uma infraestrutura urbana básica, acaba por permitir que esses cidadãos não sejam integrados à sociedade e aos direitos que a cidade possa proporcionar, com o auxílio de serviços que façam essa integração e proporcionem condições de vida menos desiguais (SILVA e SILVA, 2013).

Portanto, é importante lembrar que o governo federal tem possibilidades limitadas em relação à garantia de uma localização adequada dependendo também dos municípios intervirem e contribuírem de maneira satisfatória, por meio dos planos diretores e planos de habitação,

9 responsáveis por definir os locais onde serão construídas as habitações como também a possível oferta de serviços e infraestruturas necessárias a essa nova população que residirá nos conjuntos habitacionais. (BONDUKI, 2009)

Diante disso, se os municípios aplicarem a importância devida na elaboração e execução dos Planos Diretores Municipais e dos Planos Locais de Habitação de Interesse Social e unissem as ideias e estratégias com os instrumentos urbanísticos que estão previstos no Estatuto da Cidade, esses seriam um ponto bastante positivo em relação aos locais onde se encontram os conjuntos habitacionais da faixa 1, de tal forma que se controlaria a especulação imobiliária sendo viabilizada ainda a oferta de suporte a serviços urbanos e infraestruturas necessárias para a população (NETO, MOREIRA e SCHUSSEL, 2012).

Cabe lembrar que a legislação básica e as instruções normativas que regulamentam o PMCMV estabelecem critérios para se aprovar os projetos visando justamente a resolução de problemas futuros a respeito das condições de habitação e ausência de serviços básicos necessários à população. A Caixa Econômica Federal (CEF), por exemplo, prioriza a contratação de empreendimentos em áreas com infraestrutura básica, providos ainda de serviços urbanos de educação, saúde e transporte (CARDOSO, ARAGÃO e ARAUJO, 2011).

Dessa forma, podemos citar a segregação como um elemento ocasionado pela desigualdade de renda. A segregação residencial é um elemento bastante visualizado hoje nas cidades brasileiras, no qual a sua localização na cidade está condicionada a sua situação econômica, que no caso da população de baixa renda são os mais afetados. Segundo Jacobs (2000, p. 02) "Para alojar pessoas desse modo planejado, pregam-se etiquetas de preço na população, e cada coletividade etiquetada e segregada passa a viver com suspeição e tensão crescentes em relação à cidade circundante".

Elementos esses que qualificam o direito à cidade, segundo Lefebvre (2001). Cabe, aos planejadores enquanto técnicos e profissionais trabalharem junto com órgãos públicos, no intuito de ofertar a essa população segregada a integração na cidade não no quesito espacial devido a cidade está se expandindo, mas em relação a oferta de serviços necessários. A moradia não tem que ser pensada de forma dissociada do "direito à cidade", a cidade tem que ser um conjunto de relações que se completam.

As periferias que eram conhecidas como as áreas onde havia a inserção de conjuntos habitacionais do PMCMV que sofriam pela inexistência de infraestrutura e serviços urbanos,

atualmente ocorrem alterações, como a existência de equipamentos antes inexistentes, e a presença de serviços e comércios. Com essa maior facilidade, tem propagado novas áreas de expansão devido a oferta desses bens (SHIMBO, 2015).

É importante verificar se os agentes que contemplam o PMCMV visualizam a questão de localização como um importante fator no planejamento urbano territorial, e quais possíveis consequências tais modificações podem trazer para a vida da população que são beneficiadas e que são peças importantes, já que não tem como dissociar a questão espacial da sociedade. Mas a questão do valor da terra é um caso que determina justamente essa questão, como Rufino (2015, p. 55) trata:

O reforço de uma lógica financeira está pautado em grande medida pelo papel das empresas de construção no Programa, que passam a atuar como proponentes de empreendimentos junto à Caixa, seguindo as normas e condições mínimas estabelecidas. Dentro dessa racionalidade, conduzida pelas empresas, a escolha dos terrenos e as características dos projetos são condições essenciais para “viabilizar” os empreendimentos. A seleção de terrenos mais baratos, a ampliação da escala e padronização dos projetos tornam-se assim estratégias financeiras essenciais no desenvolvimento do PMCMV.

Conforme Lefebvre (2001), a forma é um elemento imposto por pessoas responsáveis por planejar a cidade, mas somente o cotidiano- como exemplo dos moradores dos conjuntos habitacionais da faixa I do PMCMV- a relação social (a práxis) é que vai dar funcionalidade ao que foi proposto. Então, deve se considerar como serão as condições de vida da população que estão inseridas nesses locais distantes perante seu cotidiano, pensando não somente na questão do habitat, mas também do habitar.

O que se constata, portanto, é que as construtoras não tratam com prioridade a condição de habitação das famílias. Dá-se prioridade ao fator preço, que precisa ser baixo, o que culmina na construção de empreendimentos, que em muitos casos já relatados na literatura, que são quase totalmente desprovidos de infraestruturas e serviços públicos necessários a uma boa qualidade de vida. Tudo isso em meio à constatação atual de que a moradia digna requer não apenas o acesso à casa própria, mas também a uma série de benefícios que teoricamente a acompanham. Como afirma (CARDOSO, ARAGÃO e ARAÚJO, 2011, p. 6):

Como o objetivo das empresas é necessariamente o de ampliar seus lucros, e os preços finais estão pré-determinados pelos tetos de financiamentos, os ganhos com a produção habitacional poderão ser realizados a partir de duas possibilidades não excludentes: pela redução do custo de construção ou pela

9 redução do preço da terra, dois tipos de lucratividade de natureza diferenciada. O ganho com a redução do preço pago pela terra é de natureza mercantil e pode ser definido como lucro imobiliário, enquanto os ganhos com a redução do custo de construção são de natureza propriamente produtiva e podem ser definidos como lucro da construção.

A especulação a partir da terra será sempre um fator bem forte no quesito da construção de moradias. A mercantilização da produção acerca da busca por lucros é algo comum no Brasil. Que no caso do PMCMV, grande parte do subsídio irá diretamente para o capital, que se preocupa com a questão da sua rentabilidade voltado a produção de moradias (ARANTES e FIX, 2009, p. 9). Contendo nessa atuação a presença de dois atores produtores do espaço urbano já citados no caso os promotores fundiários e os imobiliários.

E como a população que necessita de habitação, que se candidata ao benefício do PMCMV, principalmente na questão da faixa 1 que não escolhem a localidade que provavelmente vão morar, é que a falta de uma moradia não deixa uma opção de escolha em relação a sua localidade. De acordo com Ribeiro e Holanda (2010, p, 1)

Essas concentrações podem levar a uma reformulação da circulação e do próprio desenho urbano, o que faz com que ocorram prejuízos para a qualidade de vida e qualidade ambiental urbana. Isso ocorre em função da demanda por habitação ser bem maior que a oferta, o que leva à população, principalmente a de menor renda, a ocupar regiões cada vez mais distantes do centro da cidade. Por tratar-se, muitas vezes, de ocupações irregulares, pode-se verificar que vários fatores relacionados à qualidade de vida e qualidade ambiental não são observados.

Devido os espaços vazios e o preço da terra nas áreas periféricas tem contribuído para novas dinâmicas imobiliárias propiciando maior inserção de conjuntos habitacionais do PMCMV na faixa 1, causando novas áreas de ocupação, contribuindo assim para uma produção do espaço e possivelmente um forte indutor de expansão urbana.

Diante de tal visualização dos empreendimentos do PMCMV, pode se considerar como um novo contexto urbano para Ride da Grande Teresina, isso acontece pelo fato de como é destinada a uma população de baixa renda, no qual, não tem muita opção de escolha em relação a localização das habitações, mesmo essas se encontrando em regiões periféricas e nas franjas urbanas, já que a menor oferta de moradias não se equivale a demanda que é disponibilizada.

O mercado imobiliário como maior interesse pelo segmento das faixas 2 e 3, pela questão já mencionada de destinar a uma camada de população que possa pagar um valor a mais diante da moradia, também se distribuem no espaço urbano na Ride da Grande Teresina

de forma quantitativa bem interessante. O setor privado como um agente que tem forte poder dentro do PMCMV tem o livre critério a respeito da produção, assim também como onde querem construir, de maneira que fique mais agradável de seu interesses e lucros dependendo de qual faixa de renda se estaria direcionada as construções (CARDOSO; MELLO; JAENISCH, 2015). O município de Teresina, ainda apresenta o maior detentor de recebimento de unidades da faixa 2, e Timon ocupando a segunda posição, como pode ser visto no mapa 3.

Diferentemente do que foi apresentado no mapa 2, nem todos os municípios apresentam empreendimentos destinados a faixa 01, agora no mapa 3 demonstra a existência de conjuntos habitacionais da faixa 2 em municípios como Monsenhor Gil e Miguel Leão, antes não apresentados no mapa 2, relatando o caráter de interesse por parte do mercado imobiliário em relação a maior absorção de lucros por conta dessa faixa ser direcionada a uma camada da população que não se sustenta absolutamente por subsídios de caráter direto, e assim representando uma demanda solvável de caráter diferenciado da faixa 1.

Partindo do pressuposto que o preço da terra seria um incentivo à produção de moradias, assim também com a relação à faixa de renda a que se destinaria, pode-se visualizar a seguir no mapa 4 , que seis municípios como: Coivaras, Pau D’Arco do Piauí, Nazária, Curralinhos, Monsenhor Gil e Miguel Leão não receberam empreendimentos da política pública destinada a faixa 3, referente ao nível maior de renda.

Os conjuntos habitacionais da faixa 3, ainda são os que possuem uma carência maior de construções, isso se deve tanto pelo interesse de mercado em investir em municípios de menor porte, ou por não possuir uma demanda de população que possa arcar com produtos imobiliários que requerem um maior investimento econômico. No entanto, mesmo em caráter de menor escala, a faixa 3 ainda se encontra distribuída entre 10 municípios da Ride da Grande Teresina.

Não diferente dos outros exemplos, Teresina e Timon são os resultados que mais possuem a concentração de habitações das variáveis rendas, de forma a serem consideradas as que mais recebem investimentos do PMCMV em relação a oferta de moradias a população beneficiada. Sofrendo algumas alterações no contexto de faixas, e assim possibilitando a visualização de quais municípios seriam de maior interesse por parte do mercado imobiliário em relação a construção de moradias.

Diante do que foi exposto, pode-se perceber que o PMCMV se organiza na Ride da Grande Teresina de forma bem dispersa e em camadas de renda variadas, possivelmente

9 propondo uma dinâmica imobiliária que corresponde também tanto a uma expansão urbana, como a necessidade das famílias beneficiadas em se locomoverem no contexto metropolitano em diferentes escalas.

Deste modo, a organização e a produção do espaço urbano em relação aos empreendimentos do PMCMV são definidos pelo setor privado, que de forma desordenada e totalmente sem estratégias de um planejamento urbano e regional, segue a construção das habitações apenas como opção de interesse econômico.