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CAPÍTULO 2 – VIAGENS AO NORDESTE DO BRASIL: OBRA, AUTOR E

2.3 Luís da Câmara Cascudo: tradutor da obra

Câmara Cascudo nasceu em 30 de dezembro de 1898, em Natal/RN, cidade onde também faleceu em 30 de julho de 1986. Filho do militar Francisco Justino de Oliveira Cascudo (27/11/1893 – 19/05/1935) e Ana Maria da Câmara Pimenta (17/02/1871 – 09/03/1962), teve o nome Cascudo (peixe de loca, acari) herdado do seu avô paterno, pois este, nos últimos anos de vida, passou a ser chamado de Velho Cascudo pela devoção ao Partido Conservador, conhecido como Partido Cascudo, que fazia alusão à obstinação e teimosia (CARVALHO, 2013).

Segundo seus biógrafos, Câmara Cascuro aprendeu a ler sozinho aos seis anos e era conhecido por ser um indivíduo curioso para compreender o mundo que o cercava. Estudou no Externato Sagrado Coração de Jesus e no Colégio Diocesano Santo Antônio, mas quando sua família se mudou para uma mansão em outro bairro (1914), seus pais decidiram pelo ensino em domicílio, tendo professores magistrais que acabaram tornando-se amigos de seus

parentes. Quando rapaz, inicou a carreira trabalhando no jornal da família, A Imprensa, adquirindo, dessa forma, gosto pela escrita. Cooperou com vários jornais de Natal e do país, com seções diárias memoráveis. Essas seções foram o ponto de partida para quase todos os seus livros, impulsionando suas obras como folclorista, historiador, antropólogo, sociólogo, etnógrafo, ensaísta, cronista e grande pesquisador da cultura nacional brasileira22.

Em 1921 surgiu seu primeiro livro, Alma Patrícia: uma crítica literária sobre poetas potiguares que não eram conhecidos no resto do país. Logo em seguida, ainda no mesmo ano, publicou na Revista do Brasil (editada por Monteiro Lobato) o artigo “O Aboiador”, um dos seus primeiros trabalhos ligados à cultura popular. Em 1936 fundou a Academia Norte Riograndense de Letras, ocupando o cargo de Secretário Geral. De acordo com Carvalho (2013, p. 17), “em 1939, Vaqueiros e Cantadores o torna um grande personagem no estudo do saber do povo. Ele funda então a Sociedade Brasileira de Folclore em 1941 e surge uma teoria para a Cultura popular”. Já em 1954 sua obra mais importante, Dicionário do Folclore Brasileiro, foi lançada. Esse livro levou mais de dez anos para ser publicado e reúne um acervo rico acerca do folclore nacional, sendo, até hoje, referência no estudo da cultura popular.

Conforme Carvalho (2013), Cascudo era um homem de letras, autor de um conjunto obras, crônicas, opúculos, plaquetes e tradutor de Montaigne e Koster, e dedicou sua vida à pesquisa, aos estudos da cultura de um povo, dos costumes e hábitos, através da escrita. Muito embora sua carreira tenha sido principalmente como escritor, Câmara Cascudo atuou duas vezes como tradutor. Traduziu o capítulo de número XXX (em 1940) – Des Canibales - de Os Ensaios (1580) de Michel de Montaigne “[...] com separata que circulou no mesmo ano, com o prefácio e as notas, e um título cascudiano – Montaigne e o Índio Brasileiro” (GAMELEIRA, 2017, p. 17). Para Campos (1989, p. 265),

Vale lembrar a pouca preocupação do tradutor com maiores precisões quanto à bibliografia: fala do capitulo XXX dos Ensaios no Prefácio assim como no título introdutório à tradução, sem que informe o leitor em nenhum momento a partir de que edição trabalhou nem a que volume pertence o capítulo. Talvez não fosse uma preocupação na época por se tratar de informação óbvia para o leitor.

Possivelmente Campos (1989) tenha razão quando afirma que à época em que Câmara Cascudo traduziu a preocupação com os detalhes sobre a edição consultada para a tradução, bem como sobre outras questões que envolvem o universo tradutório, não eram uma constante, ou pelo menos não recebiam o mesmo tipo de atenção que receberiam atualmente.

Além da tradução do referido ensaio de Montaige, Câmara Cascudo foi o tradutor de Viagens ao Nordeste do Brasil (1942), objeto desse estudo. Na tradução incluiu, além de um prefácio do tradutor e biografia sobre Henry Koster, várias notas de rodapé para opulentar as informações fornecidas pelo autor acerca do Nordeste do Brasil.

Considerado como uma das principais expressões mundiais no domínio do Folclore, e eleito Homem do Século por votação popular realizada pela Rede Globo no Rio Grande do Norte em 2007, Câmara Cascudo morreu aos 87 anos, vítima de um ataque cardíaco. Deixou um legado de mais de 200 livros publicados, muitos deles inspiraram peças teatrais, séries televisivas e documentários23.

Essa foi uma breve exposição acerca do conteúdo da obra e das biografias do autor e tradutor, que me ajudam a compreender as circunstâncias nas quais o livro foi escrito e a importância que o viajante teve para o Brasil como testemunha das condições econômicas, culturais e sociais vividas pelo país no início do século XIX. Conforme Cascudo (1942, p. 10), Henry Koster o “quanto viu, registou fielmente”, e foi mencionado também por Richard Burton, em The Highlands of the Brazil (1869), como “o exato Koster” (CASCUDO, 1942, p. 11) ao citar escritores que trataram do povo brasileiro no primeiro capítulo do livro. Koster é mencionado quando Burton aborda alguns tipos de pedras encontradas no Nordeste, a noção de distância entre os lugares e a utilização da pele de coruja. O capítulo seguinte abordará o arcabouço teórico desta dissertação, onde defino Tradução Cultural e Itens Culturais-específicos e explico os métodos de tradução propostos por Vinay e Dalbernet (2004), que serão utilizados como base para a análise dos itens culturais no capítulo 4.