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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS ITENS CULTURAIS-ESPECÍFICOS NO

4.3 Análise dos itens culturais-específicos

4.3.1 Topônimos

O primeiro item cultural-específico discutido será dentro da categoria “topônimos” e é uma palavra que aparece diversas vezes no decorrer da obra, pois grande parte da trajetória de Koster se deu pelo sertão nordestino.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Empréstimo Sertam sertão Readaptação

ortográfica

Quadro 01 - Sertão

Contexto:

Koster (1816, p. 56): “[...] and hired a guide for the Sertam […]”. Cascudo (1942, p. 96): “[…] contratei um guia para o sertão [...]”.

Ao longo do capítulo, Koster citou a palavra Sertam como um substantivo próprio, escrito com letra maiúscula, terminado com a letra “m”. O autor tomou a palavra emprestada do português, e, possivelmente, fez uma adaptação a partir do som que escutava com sua língua materna. Na tradução, Cascudo apenas corrigiu a palavra para que fizesse sentido aos leitores brasileiros, e a manteve com letra minúscula já que se tratava de um substantivo simples. Esse método ocorreu também em outros momentos da obra, com palavras típicas do Nordeste do Brasil. Cito abaixo mais um exemplo, a palavra “fazenda”.

Tal palavra foi mencionada algumas vezes no livro como moradia característica do interior do país. É interessante que na tradução, Cascudo também traduziu “light materials” e “baze” para “fazenda”, pois assim eram chamados os tecidos na época. A análise abaixo aborda “fazenda” como uma propriedade rural de criação de gado.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução Empréstimo com explicitação Fazendas, or cattle estates fazendas Readaptação ortográfica com omissão de explicitação Quadro 02 - Fazendas Contexto:

Koster (1816, p. 84): “[…] traversing a dead flat, and passing two or three

Fazendas, or cattle estate, each day […].”

Cascudo (1942, p. 130-131): “Passavamos umas terras inteiramente planas

vendo duas ou tres fazendas por dia [...]”.

Nesse trecho, Koster voltou a utilizar a palavra emprestada em itálico. Dessa vez ele a escreveu de forma correta, mas como vinha fazendo antes, manteve a explicação do que é fazenda entre vírgulas. Cascudo readaptou o vocábulo, já que no texto fonte estava com letra maiúscula, e omitiu a explicitação desnecessária para o seu público.

4.3.2 Alimentação

Inicio essa categoria com um tipo de comida característico do Nordeste brasileiro, o pirão, que na época já fazia parte do cardápio de refeições do povo nordestino, e até hoje é prato típico da região.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Empréstimo piram Pirão Readaptação

ortográfica

Quadro 03 - Pirão

Contexto:

Koster (1816, p. 57): “[...] and the flour of the mandioc made into paste, and

Cascudo (1942, p. 97): “[…] farinha de mandioca, tornada em papa, que

chamam Pirão [...]”.

Mais uma vez Koster fez um empréstimo e adaptou a palavra ao sistema anglófono. Cascudo, por sua vez, trouxe de volta a palavra para o português, porém com algumas diferenças: na versão em inglês o termo está em itálico, provavelmente para chamar a atenção do leitor de que se trata de um vocábulo de língua estrangeira, já na tradução para o português o itálico foi retirado e foi utilizada letra maiúscula, o que é curioso porque não se trata de um nome próprio.

Seguindo ainda pela categoria “alimentação”, o “rum”, para Koster, ou “aguardente”, na tradução de Cascudo, era uma bebida comumente consumida nas festas. Essa bebida está presente, por exemplo, quando o autor narra uma dança, que não cita nome, apenas a descreve, mas que conforme Cascudo é o samba25:

Tinham anteriormente preparado bebidas, como era o costume, e quando um deles desejava beber, saía da roda e voltava depois de haver bebido. Continuavam dansando quanto tempo a bebida durasse. As mulheres apreciavam aguardente tanto quanto os homens, inspirando-se com ela, e quando a consumação crescia, cantavam novos canticos e seus movimentos eram mais rápidos (KOSTER, 1942, p. 316).

A seguir, analiso uma outra situação em que a bebida está presente:

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Adaptação rum aguardente Readaptação

Quadro 04 - Aguardente

Contexto:

Koster (1816, p. 56): “[...] and a case, with some bottles of rum and wine […]”. Cascudo (1942, p. 96): “[…] uma caixa contendo algumas garrafas de

aguardente e vinho [...]”.

25 Koster não cita a palavra “samba”, contudo, diante das descrições, Cascudo afirma em nota de rodapé que se trata de tal dança: “É o samba. Com esse ou outros nomes, quasi todos os viajantes estrangeiros registraram a dansa voluptuosa , com outras, emigradas da Africa” (CASCUDO, 1942, p. 331).

Ao se referir às bebidas que consumia, o escritor citou o “rum” (na tentativa de aproximar a palavra ao seu próprio contexto e adaptar o texto para o público inglês), bebida caribenha que tem semelhança com a “aguardente”, bebida típica do Nordeste do Brasil, mas que não é a mesma coisa, e, por isso, o tradutor fez uma intervenção e optou por readaptar a palavra ao contexto brasileiro, dando especificidade ao termo, e, de certa forma, corrigindo Koster já que não se tratava da mesma bebida. Embora ambos possuam a mesma matéria-prima, a cana-de-açúcar, o rum é feito a partir do melaço, um caldo cozido da cana, enquanto que a aguardente é feita a partir do suco fresco da cana, chamado também de garapa26. Além do mais, o rum possui um teor

alcóolico maior que a aguardente.

4.3.3 Fauna

O próximo item cultural-específico é encontrado hoje principalmente em não humanos, mas que antigamente afetava humanos também. Koster, inclusive, narrou um acontecimento em que foi atacado por esse inseto. Um dos episódios que o viajante relatou foi quando sofreu um ataque de carrapatos, aracnídeo desconhecido na Europa, descrito da seguinte:

O carrapato é um pequeno inseto chato, de côr escura, do tamanho de quatros cabeças de alfinetes postas juntas, prende-se á pele e, com o tempo, penetra nela. É perigoso arranca-lo bruscamente de onde se fixou porque, ficando a cabeça, sobrevem frequentemente uma inflamação. A ponta de um garfo aquecida ou de um canivête, aplicada ao inseto, quando esse se enterra pela péle não permitindo retira-lo com os dedos, consegue expulsa-lo (KOSTER, 1942, p. 103-104).

O ataque se deu porque, chegando de uma das viagens, ao tirar a rede da mala, Koster deixou-a cair no chão, “trazendo, desta forma esses desagradaveis visitantes” (KOSTER, 1942, p. 104).

26 Disponível em: https://www.mapadacachaca.com.br/artigos/as-diferencas-entre-rum-e- cachaca/. Acesso em: 10 fev. 2020.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Empréstimo com explicitação

carapato or tick carrapato Readaptação ortográfica com

omissão de explicitação

Quadro 05 - Carrapato

Contexto:

Koster (1816, p. 93): “The carapato or tick, and the chigua had entirely

disappeared, since we left the dry lake, near Natal.”

Cascudo (1942, p. 140): “O carrapato e o bicho de pé tinham desaparecido

inteiramente, depois que deixamos a Lagoa Seca, perto do Natal”.

É interessante porque, nesse caso, Koster se apropriou da palavra do português brasileiro “carrapato”, colocando sua tradução logo em seguida, mas não fez o mesmo com o “bicho-de-pé”, ambos pertencendo a mesma categoria de insetos. De acordo com Campos (1995), Richard Burton registrou a presença desse bicho, repetindo o colega Southey, ao relatar que as pessoas lavavam “cuidadosamente os pés todas as noites como o melhor preservativo contra as chiguas (bicho-de-pé)” e que tal termo é conhecido pelos tupis como “tumyra”, acrescentando que “os espanhóis preferem nigua e chigua, donde os franceses tiraram chique, e o termo chegou até nós (ingleses) sob várias formas: chigre, cheger, chegre, chegoe, chiga, chigos, chiger, e, finalmente, jigger” (BURTON, 1982 apud CAMPOS, 1995, p. 204).

Na tradução, Cascudo fez uma readaptação ortográfica, já que o autor omitiu um “r” e ocultou a explicitação que não faz sentido para o leitor do português. Outro fato interessante é que ao descrever o lugar, Cascudo utilizou o nome próprio “Lagoa Seca”, deixando a percepção do local mais específica, enquanto Koster apenas usou o substantivo “lagoa”.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução Calque com explicitação chigua bicho do pé (chigua) Tradução literal Quadro 06 – Bicho de pé Contexto:

Koster (1816, p. 93): “The chigua has been so often described, that a minute

account of it in this place is unnecessary ; it is a very small insect, which lodges itself principally under the nails of the feet”.

Cascudo (1942, p. 140): “O bicho do pé ( chigua) tem sido descrito muitas vezes

e é inutil descreve-lo aqui minuciosamente. E' um inseto pequenissimo que se aloja na pele, principalmente debaixo das unhas dos pés”.

Nesse caso, Koster fez um empréstimo de uma palavra do espanhol, também utilizada pelo amigo Southey, ao se referir a bicho-de-pé. Cascudo, por sua vez, traduziu “chigua” para “bicho do pé”, adaptando-a ao contexto brasileiro, porém manteve “chigua” entre parêntesis logo após a tradução.

4.3.4 Flora

A próxima análise é sobre o “cajueiro”. Os cajueiros, árvores originárias do Brasil, nativas da região litorânea e encontradas principalmente no Nordeste, são utilizados na construção civil, marcenaria e carpintaria. O caju, considerado por muitos como o fruto dessa árvore, na realidade é um pseudofruto, rico em vitamina C, usado na preparação de várias comidas, assim como consumido naturalmente; sua casca é utilizada também no tratamento de aftas e infecções na garganta. O real fruto é a castanha, que não é consumida crua, mas que depois de torrada é utilizada como petisco ou elemento de diversos pratos, sendo exportada para quase todo o mundo27. É uma planta que está presente nas

compilações de Koster, já que é típica das regiões que o viajante frequentou.

27 Disponível em: https://www.google.com/amp/s/m.brasilescola.uol.com.br/amp/frutas/caju.htm. Acesso em: 11 fev. 2020.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Empréstimo acaju cajueiros Adaptação

Quadro 07 - Cajueiros

Contexto:

Koster (1816, p. 76): “We halted at the place appointed, upon an immense plain;

the grass was all gone, and even the hardy trees, the acaju and mangaba, seemed to feel the want of water, for their leaves had begun to fall.”

Cascudo (1942, p. 122): “Paramos no lugar indicado, uma imensa planície, com

toda relva calcinada pelo sol e os cajueiros e mangabas, arvores resistentes, pareciam sentir a falta d'agua porque suas folhas começavam a cair”.

O caju era característico da região, pois havia cajueiro por toda parte e cresciam em meio dos areais onde estavam reunidos. A mangaba era uma fruta pequena, redonda e doce, que se assemelhava a uma maçã selvagem e estava madura quando caía das árvores. De acordo com Koster (1942, p. 139), “a polpa é fibrosa mas tenra. Contem tres nodulos e o sabor se aproxima de amêndoas”.

Conforme o Dicionário Online de Português, o acaju é uma árvore da América e das Índias, que possui madeira avermelhada de onde se extrai uma essência para tintura de cabelo28. Tal vocábulo foi utilizado por Koster, através

de um empréstimo, e traduzido por Cascudo para cajueiro , palavra mais comumente utilizada no vocabulário nordestino.

Ainda dialogando sobre a flora, os “taboleiros” se tratavam de uma relva curta, onde a morada era rara e dificilmente se encontrava água; era o lugar por onde os grandes rebanhos de gado viajavam, e, por isso, a relva era impedida de crescer (KOSTER, 1942). Segue abaixo uma das passagens na qual esse termo está presente:

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Calque com explicitação

taboleiros taboleiros Manutenção

Quadro 08 - Taboleiros

Contexto:

Koster (1816, p. 68): “Consequently, in an imperfect light, an experienced guide

is necessary, as on these plains no huts are ever to be met with, being, for the most part, destitute of water. These, the Brazilians call taboleiros, distinguishing them by this name, from campinas; upon the latter the soil is closer, and they afford good grass.”

Cascudo (1942, p. 109): “Consequentemente, com pouca luz, um guia

experiente é indispensavel porque nesses plainos é rara a morada e, em maior parte, não ha agua. São denominados pelos brasileiros ‘taboleiros’, distinguindo- os por esse nome das ‘campinas’. Nessas ultimas a terra é mais feraz, dando melhores pastagens”.

Ao contrário dos “taboleiros”, as “campinas” crescem mais, possibilitando que o gado tenha melhor pastagem. Como Koster se apropriou de uma palavra do português brasileiro assim como ela é escrita, Cascudo apenas a manteve na tradução. Esse método foi bastante utilizado pelo autor para levar um pouco da cultura do Nordeste brasileiro para os leitores do seu livro. A diferença é que na edição em inglês, o termo foi colocado em itálico, enquanto que em português, o termo está entre aspas.

4.3.5 Vestimentas

O próximo item cultural-específico é “alpargatas”, sandália típica do interior nordestino, utilizada principalmente pelo sertanejo, e descrita por Koster da seguinte maneira:

As alpargatas são pedaços de couro, de uma dimensão pouco maior do que as da sola dos pés das pessôas que as querem usar. Duas correias prendem a frente, outras passam pela parte anterior, segurando, como anel de couro, ao jarrete, vindo estas pelos dedos do pé. São as sandalias dos brasileiros que residem longe das cidades (KOSTER, 1942, p. 122).

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Calque com explicitação

alpargatas or sandals

alpargatas Manutenção com omissão de explicitação

Quadro 09 - Alpargatas

Contexto:

Koster (1816, p. 76): “Thus was this major, in true Brazilian campaigning style,

in his shirt and drawers, his alpargatas or sandals, upon his feet, his musquet upon his shoulder, his sword by bis side, hanging from a belt over one shoulder, and his long knife in his girdle”.

Cascudo (1942, p. 121): “O major vestia a verdadeira indumentaria de um

brasileiro no interior. Estava de camisa e ceroulas, alpargatas nos pés, espingarda ao ombro, espada ao lado suspensa por um boldrié, e uma faca de caça á cintura”.

Nessa passagem, Cascudo alterou alguns elementos na tradução, principalmente no início do trecho. A ênfase dada por Koster na frase “thus was this major”, por exemplo, foi omitida pelo tradutor. Mas o foco aqui é o item cultural-específico “alpargatas”. Juntamente com essa palavra, Koster acrescentou a expressão “or sandals” para facilitar o entendimento na leitura, e logo depois trouxe uma explicação detalhada do que seria esse item. O tradutor, por sua vez, omitiu o termo “or sandals”, presumindo que seu público alvo compreende o significado de alpargatas.

Outra peça de roupa mencionada no Travels in Brazil (1816) de Henry Koster é o “chambre”, roupão masculino utilizado por homens que não tinham o que fazer, aos quais era dedicado respeito e importância (KOSTER, 1942).

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Calque com explicitação

chambre chambre Manutenção

Quadro 10 - Chambre

Contexto:

Koster (1816, p. 58): “The owner of this mansion wore a shirt and a pair of

drawers, a long bed-gown, called a chambre, and a pair of slippers. This is the usual dress of those persons who have no work to perform”.

Cascudo (1942, p. 98): “O dono da casa vestia uma camisa, ceroulas e um longo

roupão, chamado ‘chambre’, e um par de chinelas. É a indumentaria tipica de pessôas que nada têm a fazer.”

Mais uma vez Koster fez um empréstimo de uma palavra da língua portuguesa, porém, nessa situação, a explicação sobre “chambre” veio antes do vocábulo, o que se difere da maioria das vezes, quando Koster trouxe as explicações, entre vírgulas, após as palavras. Como de costume, as palavras que não pertencem ao léxico inglês estão sinalizadas na obra em itálico, enquanto que na tradução estão entre aspas.

4.3.6 Expressões regionais

No próximo quadro, utilizo uma expressão cultural típica dos lugares que Koster visitou, compreendida somente no contexto que o viajante vivenciou.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Calque com explicitação

a bem morrer a bem morrer Manutenção

Quadro 11 – A bem morrer

Contexto:

Koster (1816, p. 60): “[…] it was only some person helping another ‘a bem

a friend to repeat the word ‘Jezus’, until the sufferer expired, that it might not be forgotten, and, perhaps, to keep the devil off”.

Cascudo (1942, p. 100): “Respondeu-me que alguem ajudava outrem a bem

morrer, como depois soube ser tradicional, que qualquer agonizante deve ter junto de si um amigo repetindo a palavra ‘Jesus’, até que deixe de responder, seja para que esse nome de salvação não fique esquecido, seja para afugentar o diabo”.

Koster fez um empréstimo de uma expressão nordestina, e logo depois explicou o sentido do termo e a situação como ocorreu. Provavelmente, se o autor tivesse traduzido a expressão para o inglês, ela não teria sentido, ocasionando uma falta de compreensão por parte do leitor, pois além de ser um termo típico de uma região do Brasil, é também utilizado em uma situação específica, no leito de morte. Ao traduzir, Cascudo manteve a expressão exatamente como está no texto fonte, como também preservou a explicação do dito fornecida pelo autor.

Durante um dos percursos, o viajante encontrou uma cabana habitada por uma senhora e duas filhas, que pareciam assustadas ao saber que Koster e seu comboio tinham atravessado o rio Ceará-Mirim; o chefe da família não estava lá. O autor relatou que:

Essa infeliz gente é na maior parte das vezes roubada de modo revoltante pelos viajantes que se aboletam em sua casinha, dispõem de seu galinheiro e sáem sem nada pagar. Quando considero a inexistencia da lei nessas paragens, fico surpreendido de que grandes crimes não sejam cometidos (KOSTER, 1942, p. 129).

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução

Empréstimo minhas Senhoras minhas senhoras Readaptação ortográfica

Quadro 12 – Minhas senhoras

Contexto:

Koster (1816, p. 82): “But I paved the way, by making her a present of some

minhas Senhoras. I had purchased a kid and a fowl, and laid down the money immediately”.

Cascudo (1942, p. 129): “Melhorei o ambiente presenteando-a com farinha,

jogando milho ás galinhas e prodigalizando um imenso numero de minhas senhoras. Comprei um cabrito e uma galinha pagando-os a dinheiro imediatamente”.

No trecho acima comparado, o autor narrou que tratou as mulheres como “minhas senhoras” para que se sentissem mais tranquilas, já que era uma expressão utilizada na região que significava respeito, a quem se devia obediência29. Tanto no texto fonte, quanto na tradução, tal expressão está escrita

em itálico. No inglês provavelmente por se tratar de um termo em outra língua, e em português por se tratar de uma expressão. O que se difere em ambas é que Koster utilizou a palavra “senhoras” com letra maiúscula e Cascudo readaptou o vocábulo colocando-o com letra minúscula.

4.3.7 Indivíduos

No que se refere a essa categoria, Koster narrou que saindo de Lagoa Seca e indo em direção a Pai Paulo, encontrou “[...] um homem branco, a pé, com doze cavalos carregados e um pequenino poldro levando as selas” (KOSTER, 1942, p. 120), que ajudou o viajante e seu comboio a encontrar água. Ficou amigo desse homem e logo descobriu que se tratava de um major de milícias, filho de um coronel proprietário de fazendas de gado na região do Assú. O homem se surpreendeu ao saber que havia igrejas na Inglaterra, pois achava que todos os ingleses eram pagãos. Koster, então, explicou que um dos pontos que diferenciava a sua religião da religião do major, era que na Inglaterra a confissão não era uma obrigação.

A partir desse acontecimento, retirei o próximo item cultural-específico.

29 Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/minha+senhora/. Acesso em: 31 mar. 2020.

Método de tradução

Koster Cascudo Método de

tradução Empréstimo com explicitação pagoens, heathens pagãos Readaptação com omissão de explicitação Quadro 13 - Pagãos Contexto:

Koster (1816, p. 78): “He said he should not believe henceforwards that the

English were Pagoens, heathens.”

Cascudo (1942, p. 124): “Declarou que não mais acreditaria que os inglêses

fossem pagãos”.

Koster destacou o vocábulo advindo do léxico brasileiro, utilizando-o em itálico, mas moldou a palavra a partir de um fonema que se assemelhasse mais com a língua inglesa, e logo depois do termo colocou a tradução em inglês. Cascudo, por sua vez, retornou essa palavra para o português, e omitiu a explicitação do autor, que é desnecessária para os leitores do Brasil.

Ainda sobre o major, Koster descreveu o amigo como um típico sertanejo do Nordeste, robusto e bem feito, “com cerca de 40 anos de idade, e sua pele não exposta era tão clara quanto a dos europeus, mas o rosto, o pescoço e as pernas eram de um moreno-escuro” (KOSTER, 1942, p. 122). O sertanejo, figura típica do sertão nordestino, é também citado por Euclides da Cunha (CUNHA, 1984, p. 66) como “homem permanentemente fatigado” que “reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto