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2 O MOVIMENTO DIALÉTICO DA PESQUISA: (RE)CONSTRUINDO

2.1 Um Curso de Especialização: encontros e desejos

2.1.3 Lucássia sua escola e as crianças do G III “E”

Lucássia nasceu em 1986 e começou a atuar na área de Educação em 2008. É formada em Pedagogia e concluiu a pós-graduação em docência na Educação Infantil no ano de 2016, período de construção dos dados desta pesquisa. Ao longo de 8 (oito) anos de docência, atuou no Ensino Fundamental inicial em uma escola privada e na Educação Infantil desde o primeiro ano de ingresso na docência. Atualmente, dedica-se integralmente ao trabalho como docente da Educação Infantil na rede municipal de Uberlândia. Quando tem oportunidade, faz dobra de turno, substituindo alguma colega algumas vezes durante o ano. Inclusive, durante o último mês da pesquisa em campo, a professora optou por assumir aulas no contraturno na mesma escola em que era lotada.

A professora atua na Escola Municipal de Educação Infantil do Bairro Tibery (Anexo). Em 2015, ano do desenvolvimento da pesquisa e da construção dos dados, atuou como professora RI31 – regente I – em uma turma

31 Para cumprimento da Lei nº 11.738 de 16 de Julho de 2008 que institui o piso salarial profissional

nacional para os profissionais do magistério público da educação básica e discorre sobre a jornada de trabalho do docente – esta lei estabelece o limite máximo de 2/3 da carga horaria do docente a ser direcionada ao desempenho das atividades de interação com os educandos – a Prefeitura Municipal de Uberlândia cria a Instrução Normativa nº 001 de 2014. Esta instrução regulamenta o cumprimento do

de GIII, agrupamento de crianças que iniciavam o ano letivo com 3 (três) anos de idade completos. É uma professora envolvida com seu trabalho e demonstrou muito interesse em buscar uma formação continuada que respondesse a seus conflitos e indagações da prática pedagógica.

Dentre as questões que a incomodavam na docência em 2015, destacava-se o fato de trabalhar em um espaço físico muito precário, pois a escola em que atuava funciona em uma casa adaptada para tal. A falta de espaço para atender melhor às necessidades das crianças, inclusive no que se refere ao trabalho com o movimento, foi o que mais teve destaque entre suas queixas acerca de seu trabalho. Essas reclamações eram constantes em momentos de diálogos e encontros coletivos, inclusive aparecendo nos momentos de planejamento. Entretanto, na medida em que a pesquisa foi se desenvolvendo, as queixas foram diminuindo de proporção, e o foco de atenção da professora centrando-se mais em sua problemática de pesquisa.

O grupo em que atuava Lucássia era constituído por 18 (dezoito) crianças – 10 (dez) meninos e 8 (oito) meninas –, a professora e uma educadora. Era heterogêneo, com crianças falantes, espertas e muito envolvidas com a escola. Todas elas eram naturais da cidade de Uberlândia/MG e residentes na zona urbana, em sua maioria no mesmo bairro em que se localiza a escola, na zona leste da cidade.

Embora não tenhamos encontrado nos registros de matrícula das crianças informações sobre o perfil socioeconômico de suas famílias, foi possível inferir que tal perfil varia entre as classes média-baixa e baixa. Dentre o grupo de crianças, uma delas chamava mais a atenção da professora Lucássia, que se dizia muito preocupada. Era o caso de Miguel, que demonstrava, segundo a avaliação da professora, pouco aproveitamento e compreensão das atividades propostas na escola.

Miguel tinha a fala pouco desenvolvida e um comportamento que demonstrava não compreender os comandos dados pela professora. módulo I e II e dispõe sobre o modo de exercício da lei para com o outro 1/3 da jornada de trabalho do docente. Foi publicada no Diário oficial do município sob o nº 4501 no dia 09 de outubro de 2014 e estabelece critérios para o cumprimento do Módulo I e II e do dia de formação continuada na rede municipal de Uberlândia. A distribuição das aulas nesses módulos é organizada com base no Plano Curricular da Educação Infantil do município que distribui os eixos de trabalho entre os docentes Regente I e Regente II de modo a cumprir a citada lei.

Dispersava-se com facilidade e não correspondia ao que era proposto nas atividades em sala. Durante a pesquisa, Miguel foi alvo de muitas reflexões e discussões nos encontros coletivos, e também teve uma atenção especial nas intervenções da professora. Outra criança que marcou o trabalho de Lucássia durante a pesquisa foi Ana Clara, uma menina muito tímida que se recusava a expressar-se no grupo maior, muitas vezes dependendo da total mediação da professora em seu processo expressivo. Com o passar das intervenções propostas, foi possível perceber um grande avanço nos modos de se relacionar com os colegas e com a professora por parte desta criança.

Abaixo, é possível perceber as idades, bem como algumas informações mais específicas de cada uma delas. A maioria das crianças completou 4 anos próximo ou durante a realização da pesquisa. Esse agrupamento atendeu as crianças com 3 anos completos no início do ano e que completavam 4 a partir de maio/2015.

Quadro 01 – Grupo GIII E

Prof.ª Lucássia – Escola Municipal do Bairro Tibery – Ano 2015

TURMA AGRUPAMENTO GIII – E -

NOME SEXO DATA NASC. RAÇA IDADE NO INÍCIO

PESQUISA

CAMPO/SETEMBRO/2015

1 Ana Cecília F 31/10/20011 Branca 3 anos e 11 meses 2 Ana Clara F 10/06/2011 Branca 4 anos e 3 meses 3 Bruna F 14/07/2011 Branca 4 anos e 2 meses 4 Bryan M 01/07/2011 Parda 4 anos e 2 meses

5 Cauã M 28/12/2011 Branca 3 anos e 9 meses

6 Daniel M 21/05/2011 Branca 4 anos e 4 meses 7 Gabriel M 08/12/2011 Negra 3 anos e 9 meses 8 Isabella F 29/06/2011 Branca 4 anos e 3 meses 9 Isabelly F 10/11/2011 Branca 3 anos e 10 meses 10 João Pedro M 06/10/2011 Branca 3 anos e 11 meses 11 João Victor M 24/10/2011 Branca 3 anos e 11 meses 12 Léo M 01/06/2011 Branca 4 anos e 3 meses 13 Maria Júlia F 02/06/2011 Branca 4 anos e 3 meses 14 Maryanne F 17/06/2011 Parda 4 anos e 3 meses 15 Miguel M 07/02/2012 Parda 3 anos e 7 meses 16 Paulo Renato M 09/02/2012 Parda 3 anos e 7 meses 17 Raul M 29/09/2011 Branca 3 anos e 11 meses

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

As crianças demonstravam gostar da escola e das atividades propostas por meio da participação e da expressão de suas ideias quando lhes era possibilitado que isso acontecesse. Os momentos em que a professora explorava os livros de histórias levados para casa foram, para nossa pesquisa, os que mais demonstraram o gosto das crianças pelas atividades escolares. Poder falar sobre o que aconteceu em seu grupo familiar com a proposta da leitura de um livro, compartilhar com seus colegas as impressões que tiveram acerca da história lida e, ainda, ocupar o lugar de “Contador de história” em sala para seus colegas foi algo muito significativo e marcante, como veremos no decorrer das discussões apresentadas nesta tese. Embora no grupo houvesse algumas crianças tímidas, esse era o momento mais esperado, inclusive para os pequenos com mais resistência a se expressar.

As relações estabelecidas entre a professora e as crianças passaram por um processo de (trans)formação à medida que a docente foi estudando e compreendendo o papel da linguagem no processo constitutivo dos sujeitos. Tais relações serão mais bem problematizadas e discutidas adiante, entretanto apresentar esse comentário aqui se torna importante na medida em que, ao serem (trans)formadas as relações, transformam-se, também, os sujeitos que se (inter)relacionam na dialética das relações educativas. Professora, crianças e pesquisadora (re)descobrindo-se e descobrindo novos modos de ser criança e ser professora na escola e na sala de aula.