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Desde ant iguidade o art ist a foi considerado alguém especial em seu meio, para o bem e para o mal. Respeit ado como t endo uma espécie de dom, o homem que pint ava nas cavernas na época neolít ica deveria ser t ambém at ivo em suas funções de caça, porém, provavelment e possuía algum t ipo de privilégio com seu grupo, assim ele t eria mais t empo para as f unções mágicas de seu ofício. (HABER, 1971).

M udando de época a época, o art ist a vai modificando sua função no seu meio social, de um criador mágico a empregado da realeza e/ou burguesia ou um boêmio livre e louco em suas criações. M as o que mais fica evident e nesse cont ext o é como o lugar de criação, sua sala de ofício não modifica t ant o com o passar do t empo.

Pesquisando pelo t ermo at eliê, encont ramos várias font es que dizem ser um t ermo cunhado por volt a do século XIV, na França. A palavra deriva de t ailler, ou t alhar em francês, segundo, Deonísio da Silva em seu livro A vida ínt ima das palavras (2004),

ATELIÊ s.m. (do f r. At elier.) 1. Lugar onde t rabalham art esãos e, sobret udo, art ist as.

Grande Dicionário Laurosse da Língua Port uguesa

Inf init o Part icular

Eis o melhor e o pior de mim O meu t ermômet ro, o meu quilat e Vem, cara, me ret rat e

Não é impossível Eu não sou dif ícil de ler Faça sua part e

Eu sou daqui, eu não sou de M art e Vem, cara, me repara

Não vê, t á na cara, sou port a bandeira de mim

Só não se perca ao ent rar No meu inf init o part icular Em alguns inst ant es

Sou pequenina e t ambém gigant e Vem, cara, se declara

O mundo é port át il

Pra quem não t em nada a esconder Olha minha cara

É só mist ério, não t em segredo Vem cá, não t enha medo A água é pot ável Daqui você pode beber

suas origens no século XIV, a palavra designava lugar bagunçado. Por isso, o recint o onde t rabalhavam os art ist as era conhecido t ambém como chant ier, cant eiro de obras, depósit o. (SILVA, 2004).

Est e lugar que seria o at eliê at é ent ão era a sala de ofício dos art esãos dent ro da própria casa, onde geralment e acont ecia o t rabalho não só t écnico, mas t ambém criat ivo, geralment e com t oda a f amília e com aprendizes, que eram escolhidos ou designados por out ras f amílias conforme o dom que percebiam que os jovens apresent avam.

Na Hist ória da art e, o at eliê sempre aparece nos relat os como um dos principais prot agonist as dos acont eciment os art íst icos, desde quando a casa era o lugar dos ofícios, passando pelo renasciment o, pela art e moderna at é chegar à nossa art e cont emporânea.

O at eliê como ainda conhecemos hoje, lugar próprio do t rabalho art íst ico, pouco se modificou com o t empo, mudaram-se as ferrament as e a sociedade, porém est e lugar cont inua sendo conhecido como o cent ro do t rabalho art íst ico. Ent ret ant o, já algum t empo vários art ist as pensam modos diferenciados sobre est e lugar e muit os t eóricos e crít icos já fizeram surgir novos debat es sobre o papel do at eliê no século XXI.

A art e cont emporânea mais do que nunca est a acont ecendo não só de forma concret a, mas dent ro de conceit os ou mesmo só de maneira virt ual com novas possibilidades de at é serem t ransformadas pelo espect ador. Com suas muit as experiment ações e as mist uras com novas t ecnológicas, o art ist a já consegue t er mais que um lugar dent ro de muit os espaços não

“ reais” , ou mesmo indo at rás de víeis globalizados, t erem obras acont ecendo simult aneament e em vários pont os do mundo, independent e de t er nascido em um at eliê. É o que a crít ica de art e, Liset t e Lagnado chama de laborat órios ou cant eiros de obras, onde art ist as fazem t rocas disciplinares e podem t ant o ut ilizar a rua arregiment ando pessoas para suas obras acont ecerem como t ambém usar oficinas de maquinarias pesadas, est údios fot ográficos, et c. (LAGNADO, 2002).

[ ...] essa conf iguração da idéia de at eliê, ent re o laborat ório e o cant eiro de obra, permit e rest it uir ao espaço de at uação do art ist a cont emporâneo dois compromissos que haviam dado o vigor que t ant o admiramos na produção dos anos 60-70: o experiment al e sua implicação na colet ividade. (LAGNADO, 2002)

“ Quero carregar comigo o mínimo possível . M eu est údio é quase vazio. Uso muit o pouco mat erial para cada obra. Trabalho mesmo com idéias. “

Cabelo, in LEAL. At eliês do Rio de Janeiro. 2003. Rio de Janeiro: Pact ual.

onde a t roca ent re várias disciplinas t razem a proximidade da art e e ciência, e variações da art e cont emporânea híbridas com nanot ecnologia, virt ualidades, et c., por isso, em sua propost a o nome laborat orium se aproximaria mais com o lugar do art ist a cont emporâneo.

Alguns cient ist as que não fazem part e do mundo art íst ico t ambém defendem a idéia das similaridades ent re o laborat ório cient ífico e o at eliê at ravés das t rocas e t écnicas impregnadas:

[ ...] at eliê e laborat ório se aproximavam e ainda hoje se aproximam. Tant o no at eliê quant o no laborat ório opera-se sobre mat eriais, grande part e deles comuns à prát ica das art es e à realização de processos envolvidos nas invest igações sobre a mat éria. (ROXO,2001)

Independent e do espaço que se faz o at eliê, o olhar sobre esse ambient e nos faz pergunt ar quais element os fazem part e efet iva e afet iva do art ist a, e o que e quais coisas est ão as suas mãos. Perceber est e lugar é buscar ent ender como est e espaço se t ransforma em algo t ão especial aos olhos do art ist a e do espect ador e principalment e da obra que nasce ali. Os seus guardados aparecem como um ser a mais no processo art íst ico? São pedaços da obra? São a obra? Pergunt as assim surgem a

“ O est údio é um espaço espirit ual. M as a rua t ambém é, o est ádio é, o met rô é um espaço espirit ual. E o cont rário: o at eliê é um espaço prof ano t ambém, ele exige essa coisa prof ana, essa at it ude prof ana.”

Cildo M eireles in LEAL. At eliês do Rio de Janeiro. 2003. Rio de Janeiro: Pact ual.

“ Acho que meu at eliê é um híbrido de arquivo, depósit o e laborat ório mult imídia, mas o principal HD é o meu cérebro, ainda que f alt em os sof t w ares adequados para gerenciar a “ coisa t oda” [ ...] ”

Rosangela Rennó in LEAL. At eliês do Rio de Janeiro. 2003. Rio de

part ir de uma curiosidade bast ant e normal em quem observa o t rabalho depois de pront o, quais foram afinal suas inspirações, em qual moment o foi dada a pincelada, o cort e ou a mart elada decisiva?

Est ar dent ro do ambient e do art ist a t ambém nos leva a imaginar seu processo art íst ico e o que pode fazer part e dest e moment o, muit as vezes conseguimos enxergar part es de seu at eliê e objet os que o cerca, out ras parece que nada ali f az part e do t odo, ent ret ant o, percebemos que est e lugar é part e do art ist a e da obra. Como numa casa acolhedora de seus moradores, o at eliê pode t razer um alheament o com o mundo ext erior, necessário para o realizar daquilo que o art ist a imagina e deseja.

A invest igação que proponho nest a pesquisa é conhecer est e lugar com um olhar mais aprofundado, com ênfase no at eliê do art ist a como pont o de part ida para a descobert a do fazer e do porque fazer e de que como os objet os que ali est ão podem conduzir o art ist a, a obra e a vivência do lugar.

Est e ambient e de criação mant ém suas coisas e idéias suspensas, um lugar onde o art ist a pode ent rar a qualquer “ A escolha desses espaços de

t rabalho acont eceu gradualment e, cert as percepções f oram se reit erando. É como se aos poucos esses locais f ossem se t ornando o port o seguro de onde posso part ir e para onde t enho como volt ar prot egida – onde me religo.”

fazer). Se há ou não idéias, inspirações ou a busca e o confort o do fazer, o art ist a sabe que ali ele pode desempenhar aquilo que est a ao seu alcance. Conhecer lugares t ão dist int os é prazer e surpresas, cont ando suas muit as hist órias e dispersando as sement es de obras de art e que ainda não nasceram.

“ As conexões que f aço em meu t rabalho são conexões que não posso encarar. São na verdade conexões inconscient es. O art ist a t em o privilégio de est ar em cont at o com seu inconscient e, e isso é realment e um dom. É a def inição de sanidade. É a def inição de aut o realização.”

Louise Borgeouis. Dest ruição do pai, reconst rução do pai. 2000. São Paulo: Cosac&Naif y.

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