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O ambiente do artista. O ateliê e seus guardados

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Academic year: 2017

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UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “ Julio de M esquit a Filho” Inst it ut o de Art es Programa de Pós-Graduação em Art es M est rado

O ambient e do art ist a. O at eliê e seus guardados.

Liliane Pires dos Sant os

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“ Julio de M esquit a Filho” Inst it ut o de Art es Programa de Pós-Graduação em Art es M est rado

O ambient e do art ist a. O at eliê e seus guardados.

Liliane Pires dos Sant os

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S237a

Sant os, Liliane Pires dos. 1971-

O ambient e do art ist a : o at eliê e seus guardados / Liliane Pires dos Sant os. - São Paulo : [ s.n.] , 2010.

168f . ; il.

Bibliograf ia

Orient ador: Prof . Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira Dissert ação (M est rado em Art es) – Universidade Est adual Paulist a, Inst it ut o de Art es.

1. At elies de art ist as. 2. Art e. I. Oliveira, Pelópidas Cypriano de. II. Universidade Est adual Paulist a, Inst it ut o de Art es. III. Tít ulo

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M eus mais sinceros agradeciment os a t odos os meus amigos que est iveram comigo nessa t rajet ória, incent ivando, aconselhando, indicando e at é mesmo pergunt ando como iam as coisas.

Aos art ist as que me receberam em seus variados at eliês, aceit ando minhas pergunt as e o vasculhar das suas coisas.

Aos art ist as Alzira Cat t ony, Cida Ferreira, Cláudio Barros, Iole Di Nat ale e Valdo Rechelo, t ão gent is em ceder um pouco de seu t empo e de seus lugares para as minhas curiosidades.

Ao meu orient ador Professor Pelópidas Cypriano de Oliveira, que acredit ou e me recebeu em sua van.

A t odos os professores da UNESP que com suas disciplinas nos recebem e nos orient am para t rilharmos o caminho do mest rado.

Aos colegas da van, do mest rado e desse caminhar.

Aos professores Clice de Toledo Sanjar M azzilli e Sérgio Regis M oreira M art ins, pela gent ileza em aceit ar part icipar de minha banca de qualificação e mest rado, me dando valiosas dicas e indicando caminhos.

Ao pessoal da secret aria da pós - obrigada especialment e a M arisa - por est ar sempre a post os quando nasciam as dúvidas burocrát icas.

Ao M arcelo Vent uroli, meu querido companheiro que est eve comigo por t odo o caminho me puxando quando necessário e me dando abrigo quando precisava.

Aos meus pais: minha mãe por sempre me incent ivar e ao meu pai (em memória) por acredit ar em meus sonhos.

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O at eliê é conhecido como o lugar de produção do art ist a e onde suas indagações são mat erializadas, pode ser um espaço const ruído e pensado para ist o ou ser improvisado em algum cant o, mas é resumidament e um lugar onde o fazer ocorre mesmo em pensament os que lá fluem. Est e ambient e de criação est á replet o de objet os escolhidos pelo art ist a que coexist em e o t orna propício a criação, um lugar cheio de memórias e escolhas est ét icas e o que t alvez fique depois da obra e do art ist a.

Est a pesquisa invest iga os guardados do at eliê, como são eleit os e quais são suas influências na formação dest e ambient e que se t ransforma com a art e, assim como t em o poder de t ransformação no art ist a e obra. O int eresse é abrir est es espaços a novos olhares, invest igar suas ações e buscas e como o lugar cont a sobre a obra do art ist a e suas escolhas.

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The st udio is know n as t he place of product ion of art ist and w here your key quest ions can be mat erialized. Can be a space built and t hought t o t his, some may be improvised, but briefly corner is a place w here do occurs even in t hought s t hat flow s. This aut horing environment is f ull of object s chosen by art ist w ho co-exist and makes it conducive t o creat ing a place full of memories and aest het ic choices and w hat might be aft er w ork and art ist .

This research invest igat es t he object of t he st udio, as t hey are elect ed and w hat are your influences on t raining environment t ransforms w it h art , as w ell as it has t he pow er of t ransformat ion in t he art ist . The int erest is open t hese spaces t o new sight s, invest igat e t heir act ions and searches and how t he place on t he w ork of art ist and your choices.

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1.

2. Lugar 1 – Espaço e lugar... 17

2.1 A necessidade do lugar... 18

2.2 O lar, a casa... 22

2.3 A experiência do lugar... 26

3. Lugar 2 – Guardados... 30

3.1 Objet os que cont am hist órias... 31

3.2 Os Guardados no at eliê... 35

4. Lugar 3 – O at eliê... 48

4.1 O lugar do art ist a... 49

4.2 Olhando por t rás da cort ina do at eliê... 55

4.3 Visit as a at eliês abert os... 61

4.3.1 At eliês São Paulo... 64

4.3.1.1 Projet o Out ubro Abert o... 66

4.3.1.2 Projet o Art e na Vila... 68

4.3.1.3 Abert ura dos f ornos Noborigamas/Cunha/SP... 70

4.3.1.4 At eliês abert os Paranapiacaba... 73

4.3.1.5 At eliês em Embu das Art es... 74

4.3.2 At eliês Paris... 76

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5.1 O at eliê de Cida Ferreira – A ext ensão da cabeça

art ist a... 90

5.1.1 Quest ionário respondido pela art ist a Cida Ferreira... 98

5.2 O at eliê de Alzira Cat t ony - O Ref úgio... 101

5.2.1 Quest ionário respondido pela art ist a Alzira Cat t ony... 109

5.3 O at eliê de Iole Di Nat ale – A Gênese do t rabalho ... 111

5.3.1 Quest ionário respondido pela art ist a Iole di Nat ale... 119

5.4 O at eliê de Cláudio Barros – o mundo de visit as diárias... 124

5.4.1 Quest ionário respondido pelo art ist a Cláudio Barros... 132

5.5 O at eliê de Valdo Rechelo – A casa, o gat o e o jardim... 138

5.5.1 Quest ionário respondido pelo art ist a Valdo Rechelo... 145

6. Considerações f inais... 147

7. ilust rações... 151

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INTRODUÇÃO

Posso dizer: Minha curiosidade me moveu at é aqui.

Sempre t ive uma imensa curiosidade de conhecer o int erior dos lugares que eu chamava, quando criança, de t ransformadores de coisas. Eram oficinas, marcenarias e at eliês, que despert avam em mim um jogo de imaginação sobre como uma coisa podia se t ransformar em out ra coisa. Dent ro daqueles lugares havia mil ferrament as e objet os que só quem ali morava ou t rabalhava sabia manusear, e a part ir deles out ras coisas eram criadas. O que será que a pessoa pensava ao criar est es objet os, o que passava por sua cabeça em det erminados moviment os, como imaginava est a t ransformação? Iam se t ransformando e pront o?

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Um dia, quando criança, minha professora de art es most rou várias fot os do at eliê de Pablo Picasso, ele em volt a com pessoas, objet os e obras de art e. Lembro-me de t er ficado encant ada, era como se eu est ivesse present e no fazer do art ist a, podia ver a obra quando ainda ela est ava sendo gerado, além de poder conhecer o que o aquele lugar mant inha a sua volt a. Percebi a janela, fiquei pensando no cachorro, vi a t ela at rás virada de cost a, um lugar meio bagunçado... Depois o quadro ao lado. M ágica e o t empo. Obra e objet o.

Cresci com est e fascínio pelo at eliê e suas coisas, e sempre quando t ive oport unidades visit ei alguns. Descobri mais t arde que est a at ração pelos lugares de criação, não era só minha, mas a maioria das pessoas leigas, admiradores de art e, crít icos e out ros art ist as, t inham e t êm est e t ipo de curiosidade sobre onde o art ist a passa seu t empo, quais e como são suas coisas e como é o lugar que ele t rabalha.

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realment e influência nest e espaço? Podem eles moldar pensament os ou mesmo resgat á-los? Podem ajudar na criação?

Nest a pesquisa procuro conhecer est e ambient e, como ele é const ruído pelo art ist a e a obra e falar um pouco sobre os objet os que o cercam e que o ajuda a est abelecer de alguma maneira est e lugar chamado at eliê. Est es objet os que eu considero como condut ores de memórias, eu chamarei aqui, nest a pesquisa, de GUARDADOS.

Guardados são os objet os que mant emos pert o de nós por alguma seleção: est ét ica, emocional ou at é financeira, mas t ambém não é só isso. É o objet o que t emos conosco e que por isso t em a nossa marca, cont a hist órias e acaba sendo um guardador de memórias. No at eliê é a linha t ênue ent re ofício e a criação, são os objet os e ferrament as que rodeiam o art ist a e o ajuda na cont ação de sua hist ória com obras e vida.

Pensando que cada objet o t raz em si fragment os de memórias, podemos ent ender seu vínculo com a pessoa, Dulce Crit elli em seu livro analít ica do sent ido, nos coloca sobre o objet o em si, vist o pela fenomenologia:

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relacionament os int erpessoais... Sem significados as coisas são vazias, embora pat ent es. As coisas não são meros t roços em si e por si mesmas, mas são aquilo que elas signif icam e como elas realizam est a signif icação. (CRITELLI, 1996)

Quando me proponho t er um foco sobre o at eliê do art ist a e seus guardados, pret endo cont ribuir com uma reflexão sobre o espaço criador e de como foi escolhido e mont ado pelo art ist a det erminado ambient e para a criação de seu t rabalho, já que a part ir dest e lugar que a obra se faz acont ecer.

É import ant e frisar que minha int enção não é afirmar que o at eliê seja um lugar sagrado ou de ext rema import ância para a criação art íst ica, mas sim, est udar como est e ambient e é t ransformador no art ist a e obra e principalment e desbravar o espaço com seus guardados e semeadores de idéias. M esmo porque o at eliê como o único lugar de criação possível, não é o que acredit o. Para mim a obra acont ece primeiro na cabeça do art ist a, que est e sim é o primeiro at eliê, e depois conforme as circunst âncias e necessidades, e mesmo para poder se t ransformar em objet os palpáveis, vai adquirindo seus espaços e formando lugares.

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de sent iment os e afet os, onde t udo cont a uma hist ória. (TUAN, 1973). O at eliê é um espaço que vai nos cont ar muit as coisas, pelos seus objet os e pelas suas obras. Por isso considero nest a pesquisa o at eliê como lugar, não simplesment e um espaço. Não pret endo falar dele simplesment e como obra arquit et ônica, mas ambient e const ruído primeiro at ravés das afet ividades, sensações e memórias.

Para um melhor desdobrament o do assunt o, vou me at er ao at eliê clássico conhecido desde meados do século XIV e que permanece ainda como o espaço conhecido do art ist a para a criação, independent e do nome que poderá agora com a art e cont emporânea surgir e do t ipo de at eliê que pode, conforme a época, circunst ância ou propost a do art ist a, ser a mesa da cozinha, um espaço nas áreas que sobram dent ro do lar, uma sala alugada e dividida com mais pessoas ou at é um bloco de anot ações. M inha int enção mesmo é poder dissecar um pouco o espaço do art ist a, seus objet os e ent ender seu lugar.

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art ist as ligados a art es visuais por ser t ambém a minha área de t rabalho e pesquisa. Foram cinco art ist as ent revist ados, procurei por pessoas que de alguma forma possuem o at eliê há algum t empo, t endo assim um maior vínculo com o espaço. Foram cinco art ist as at uant es em suas áreas, com muit as exposições e t rabalhos art íst icos variados.

Visit ei e ent revist ei: * Alzira Cat t ony, origamist a.

* Cida Ferreira, art ist a plást ica e cenógrafa.

* Cláudio Barros, art ist a plást ico.

* Iole Di Nat alle, art ist a plást ica, com at eliê de calcografia.

* Valdo Rechelo, art ist a plást ico.

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com o art ist a. E para complement ar, est udei vários diários e biografias de art ist as e seus at eliês.

Eu dividi a est rut ura dest a pesquisa em quat ro part es, na primeira part e, coment o sobre o espaço e lugar do ser humano e sua ligação com seus objet os e ambient es. Na segunda sobre os guardados, como se t ornam t al e como t ambém ajudam a const ruir o espaço de criação. Na t erceira part e vou discorrer sobre o at eliê como ambient e do art ist a e como são ent endidos seus vários desdobrament os, além de coment ar sobre minhas visit as informais a projet os e at eliês abert os. E finalment e, na quart a part e est ão minhas visit as e ent revist as com os art ist as em seus lugares de criação.

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sent idos humanos, para a criação de habit at . E para falar sobre os espaços ínt imos e objet os procuro seguir os pensament os fenomenológicos de Gast on Bachelard e Heidegger. Além das reflexões de crít icos e hist oriadores da art e e de vários art ist as sobre seus processos de t rabalho e at eliês.

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A NECESSIDADE DO LUGAR

Todo ser humano procura seu lugar, o seu assent ament o no mundo, um espaço onde ele possa se ident ificar, se prot eger e sent ir acolhido.

Podemos começar imaginando o homem pré-hist órico e como e quando criou o seu lugar. Um espaço onde ele se reconhecia e poderia se prot eger criando seus rit uais cot idianos e os mágicos. Era seu t errit ório para dormir, comer e guardar coisas.

Quando o ser humano se sent iu ent re as adversidades da nat ureza, procurou em primeiro lugar ent ender o que se passava a sua volt a, criando explicações míst icas e cient íficas. Est e homem procurou se adapt ar ao seu meio e mais t arde dominar o que podia com habilidades e t ecnologias que com seu poder imaginat ivo e de adapt ação foram cada vez mais sendo invent ados, começou assim a criar seu mundo que ainda procurava ent ender.

A necessidade social e de abrigo, é compart ilhada por muit os animais, além do homem, alguns pássaros, inset os, peixes e mamíferos criam abrigos e convivem socialment e para se prot eger e cuidar de sua prole. Cont udo o ser humano se dest acou na evolução da criação de seu lugar, é quando se

LUGAR s.m. (do lat . localis, de lócus.) 1. Porção delimit ada de um espaço, de uma superf ície 2. Local adequado para det erminado f im 3. Local, sít io, post o.

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considera que o homem criat ivo e sensível surgiu, t endo o cuidado de deixar sepult uras marcadas e t úmulos colet ivos assinalados por decorações rudiment ares, mas especiais. “ os seres humanos ‘descobrem’ o out ro mundo... deixavam, ao lado dos corpos ut ensílios e objet os que deviam a ajudar em out ra vida” (DE M ASI, 2000). Não exist e out ro animal com t al preocupação pelos mort os, como há com o ser humano.

Pouco depois de se t er descobert o a t rilha do homem no mais ant igo dos acampament os ou dos inst rument os de pedra lascada, encont ra-se a prova de int eresses e inquiet ações que não t êm correspondent e animal; em part icular, uma cerimoniosa preocupação pelos mort os, manif est ada em seu sepult ament o deliberado – com evidências cada vez maiores de piedosa apreensão e t emor. (M UM FORD, 2004)

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M ais t arde com o invent o da agricult ura e da domest icação de animais, o ser humano pôde t er seu próprio domínio, não necessit ava t ant o sair por ambient es desconhecidos em busca do aliment o ou prot eção, isso t rouxe o confort o de permanecer num mesmo lugar sem precisar percorrer grandes dist âncias para as necessidades mais básicas.

A permanência num mesmo habit at t ambém mant eve o convívio com out ros. A vant agem f oi a prot eção ao clã, da família e do lugar escolhido como morada. O ser humano se reconhecia cada vez mais ent re os seus pares e sua t erra e se descobriu cada vez mais próximo do que chamamos hoje de nosso lar.

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ant igos começaram a dar import ância para o ambient e escolhido para sua morada.

Na ant iga Roma, por exemplo, exist ia um conceit o que se referia à essência do lugar: GENIS LOCI, o espírit o do lugar. Acredit ava-se que t odos os seres possuíam um espírit o guardião, que det erminava sua essência desde o nasciment o à mort e. O espírit o que daria vida as pessoas e lugares.

A est rut ura do lugar poderia at é modificar-se, mas sua essência não, o genius loci não mudaria. Por isso a import ância de se ent ender seu lugar, sua morada e sua posição no mundo que vivia.

O genius denot a o que uma coisa é, ou o que “ ela quer ser” [ ...] Os ant igos reconheciam a suma import ância de ent rar em acordo com o genius da localidade onde viviam. (SCHUZ, 2007)

Tudo levou com que o homem procurasse seu abrigo no mundo com sua essência e a necessidade de saber onde se est a, de ident ificar-se com seu meio, de ent ender e aceit ar seu genius loci. E ant es de qualquer out ro espaço, foi na sua casa que o homem pôde se sent ir por complet o e guardar t odas as memórias e os seus sagrados.

“ É um element o real, uma presença em t udo que concebemos. Tudo é espaço, em t udo est a penet ra.”

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O LAR, A CASA

A casa é mais que um espaço para dormir e comer, é onde podemos nos sent ir mais complet os.

Necessit amos de um espaço nosso, onde podemos nos mult iplicar, unificar e ser. Começa-se a criar est es lugares reunindo em volt a coisas reconhecíveis, memórias selet ivas e lembranças percept ivas. O homem precisa dest e lugar de exist ir, ser ele mesmo, que pode de ser o país, a cidade, o bairro, a rua, a casa, o quart o, a cama. Cada um dest es espaços vai t ornando-se lugar, a part ir do moment o que nos reconhecemos nele e vão se t ornando mais lugar ainda, conforme vão se aproximando em coisas mais reconhecíveis e só nossas. A casa é o maior exemplo, é lá que se pode est ar mais próximo de si mesmo, é lá que est á o cent ro de nosso mundo.

Dent ro desse espaço, const ruímos nosso lar que se const it ui de cheiros, sons, t ext uras e coisas que podemos reconhecer. A morada é t ida como o nosso lugar no mundo, sem est a nos sent imos perdidos e sem est rut ura perant e a sociedade. Como Bachelard coment a em A poét ica do espaço: “ Porque a casa é o nosso cant o do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo.” (Bachelard, 1998)

A casa, em nossa cult ura ocident al, nem sempre foi o que conhecemos hoje, ela se modificou muit o conforme as Casa

É seu único lugar no mundo

Que é seu abrigo A sua casa Que t raz a liberdade Em clima de f elicidade Onde pode f icar nú! Onde pode f icar Onde pode f icar nú!

Cidade Negra: Toni Garrido / Lazão / Da Gama / Bino

CASA s.f . (do lat . casa) 1. Edif ício dest inado a habit ação, vivenda, morada, domicílio, residência. 2. Conjunt o das coisas que se relacionam com a vida domést ica.

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necessidades que mudaram com o homem. A morada no principio foi prot eção às int empéries do mundo e ao desconhecido: animais e t empo, depois se t ornou a reunião dos clãs e a prot eção a família, além do lugar apropriado para os ofícios.

A habit ação at é o século XVIII, não era só a moradia, mas t ambém onde as relações de t rabalho acont eciam. Não se separava em cômodos, era adapt ada conforme as necessidades da ocasião, cadeiras, mesas e camas se locomoviam pelo ambient e conforme o moment o familiar. Com as revoluções que surgiam out ras relações com a casa acont eciam, f amílias e maneiras de se t rat ar a int imidade f oram modeladas com as novas formas de se pensar a morada. A revolução indust rial foi uma dos períodos mais marcant es para a renovação da relação com o lar, suas máquinas e produção em massa t rouxe não só uma nova analogia do homem X t rabalho, mas t ambém de t odo o viver social humano e a função da casa foi uma dessas principais mudanças.

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sua residência volt ando horas depois, a casa agora adquiria só a função de habit ação.

É óbvio que as f ábricas são result ados da revolução indust rial, mas rarament e pensamos que os lares, t al como conhecemos hoje, são uma criação da mesma revolução. Ant es, a maior part e da produção e do comercio eram realizada nas residências dos art esãos, comerciant es ou prof issionais envolvidos, e compreendia-se a casa como um lugar que incorporava o t rabalho às at ividades habit uais de morar, comer, dormir e assim por diant e. Porém, quando o t rabalho foi removido para as f ábricas, escrit órios ou lojas, o lar t ornou-se um lugar exclusivament e para comer, dormir, criar f ilhos e desf rut ar o ócio. A casa adquiriu um carát er novo e dif erenciado. (Fort y, 2007)

Dent ro do lar, homens e mulheres dividiram suas t arefas e t eve o princípio de ser t ornar um dos lugares mais ambicionados do ser humano, já que dent ro de sua casa, consegue-se prot eção para si e aos seus. Foi uma maneira de se separar a figura opressiva do t rabalho em fábricas e escrit órios e mant er a casa com um novo carát er para desf rut ar o ócio. (FORTY, 2007)

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A EXPERIÊNCIA DO LUGAR

O lugar do homem no planet a Terra vai além do espaço geográfico e concret o. Aprendemos o mundo usando uma perspect iva psicológica, de apt idões, necessidades e capacidades. Experenciamos e aprendemos nosso ambient e de t rês maneiras que se ent relaçam:

1. De forma biológica; com o corpo e suas post uras – alt o e baixo, frent e e cost as, direit a e esquerda, et c. , e como isso se comport a com o espaço circundant e;

2. De forma relacionais; que são as experiências do espaço e de valores adot ados, t ransformando o espaço em lugar;

3. As experiências de conheciment o que podem ser ínt ima e diret a ou conceit ual e indiret a.

Aprendemos com t oda nossa vivência que é const it uída de sent iment os e pensament os, além de nossos sent idos: visão, olfat o, t at o, paladar e audição. As influências biológicas e emocionais vão fazendo com que percebamos e ent endemos nosso meio.

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pessoa e povo t êm seu próprio jeit o de medir e dar valor ao espaço, mas basicament e o homem organiza seu meio a part ir das necessidades e relações. Com nossos valores espaciais formamos e vemos o mundo, usamos frent e, at rás, acima, embaixo, deit ado, eret o, esquerda, direit a, et c. e cada cult ura, especialment e ent re a ocident al e orient al, podem t er relações diferent es com est as orient ações, afinal t oda pessoa est á no cent ro de seu mundo, e o espaço circundant e é diferenciado de acordo com o esquema de seu corpo. (TUAN, 1983).

O ant ropólogo Edw ard T. Hall, afirma:

[ ...] por mais que o ser humano se esf orce, é impossível para ele desf azer-se de sua própria cult ura, pois ela penet rou at é as raízes de seu sist ema nervoso e det ermina como ele percebe o mundo. A maior part e da cult ura mant ém-se ocult a, f ora do cont role volunt ário, compondo a t rama do t ecido da exist ência humana. (HALL, 2005)

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mundo. Segundo Tuan: “ A idéia de lugar t orna-se mais específica e geograficament e à medida que a criança cresce. As localizações são mais precisas. Seu int eresse se foca primeiro na pequena comunidade local, depois na cidade e para a nação.” (TUAN, 1983).

O lugar pode ser a casa, a rua, o bairro, a cidade, et c., conforme seu dist anciament o e proximidade do que é reconhecível e basal para você. Quando nos deslocamos pela cidade e vamos saindo de ambient es conhecidos vamos nos afast ando de nossos lugares e indo para out ros espaços, que poderão ou não se t ornar out ros lugares. Christ ian Norberg-Schulz (2006), exemplifica isso:

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OBJETOS QUE

CONTAM HISTÓRIAS

O homem em alguma part e da pré-hist ória separou algo para mant er consigo: uma pedra mais roliça ou colorida, algum osso de animal, ferrament as produzidas, et c., era o início do homem sensível e do homem ut ilit ário. A part ir daí, vieram as ornament ações, as novas ut ilidades para o mat erial de sempre, algumas lembranças e coisas acumuladas pelo t empo.

Sabemos que guardamos em nossa ment e, alma e imaginação muit as coisas que se passaram conosco e muit as dessas lembranças podem ser at ingidas ou revividas at ravés de objet os especiais que porvent ura mant emos. Algumas pessoas não gost am de se lembrar do passado, out ras não t em objet os supérfluos e muit as não podem nem possuir coisas, mas é inerent e ao ser humano t er por pert o alguns objet os que considera especiais.

Criamos ambient es e colocamos neles coisas que nos ajudam: ferrament as para o t rabalho, lazer, cot idiano, lembranças. Nossos lugares no mundo est ão replet os de nossas hist órias que são cont adas pelos objet os que elegemos para De t odas as obras humanas, as que

mais amo

São as que f oram usadas. Os recipient es de cobre com as bordas achat adas e com mossas Os garf os e f acas cujos cabos de madeira

Foram gast os por muit as mãos: t ais f ormas

São para mim as mais nobres. Assim t ambém as lajes

Em volt a das velhas casas, pisadas e

Polidas por muit os pés, e ent re as quais

Crescem t uf os de grama: est as São obras f elizes.

Admit idas no hábit o de muit os Com f reqüência mudadas, aperf eiçoam seu f ormat o e t ornam-se

Valiosas

OBJETO s. m. (do lat . escolást ico object um.) 1. O que se apresent a à vist a; o que é apreendido pelo sujeit o do conheciment o. 2. Tudo o que f ornece mat éria a uma ciência, a uma art e, a uma obra lit erária. 3. Tudo que se apresent a ao espírit o, que se of erece ao pensament o. 4. Bem mat erial f abricado para t ender a det erminado uso.

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[ ...] os ambient es criados pelo homem incluem art ef at os ou “ coisas” que servem de f ocos int ernos e sublinham a f unção de reunião de assent ament o. Nas palavras de Heidegger: “ t he t hing t hings w orld” (a coisa reúne o mundo). (Norberg-Schulz, in NESBITT org. , 2006)

Querendo ou não, nossa hist ória est á at relada com os ut ensílios que criamos para sobreviver, viver e guardar memórias. Conservadores, modernos, cont emporâneos ou simplesment e uma miscelânea de t udo, não há possibilidades do ser humano não carregar algo consigo, mesmo aquele desprendido do mundo mat erial, t em algum objet o que mant êm, para sobrevivência e/ou para memória afet iva. Talvez não percebamos, mas t odos nossos objet os cont am muit o o que somos e o que acredit amos.

Os guardados são esses objet os que est ão ao nosso redor, são os fragment os das vivências e do cot idiano present e em uso das coisas e que nos ajudam a compor o mundo em nossa volt a e est ão replet as desses vest ígios. A fenomenologia vê o objet o não só como o ent e que se manif est a, mas como o ser que nele se apresent a at ravés de nossa percepção e do nosso próprio ser no mundo. Para a fenomenologia, é um equivoco não ent ender o ser dos ent es, porque é como se fosse possível a “ É o sonho de t er aquelas

f errament as t odas, aquelas bugigangas t odas, lá, est ocadas. Enf im, colet adas. Basicament e é isso, t er paz, inspiração e f errament as.”

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independência do homem. O ser das coisas est á no ser do homem no mundo, int eragindo com t udo e as coisas só são no mundo da exist ência humana. Dulce Crit elli coment a:

Para a f enomenologia, o ser dos ent es que ela busca conhecer se most ra at ravés dos ent es; não est á por t rás do que se manif est a, mas coincide com sua própria manif est ação [ ...] M as est es ent es são apreendidos como ent es ou coisas no mundo e não como coisas em si. Só assim o ser se t orna acessível: não pert ence à coisa como seu próprio at ribut o, mas a uma t rama de relações signif icat ivas que a precede e sust ent a. (CRITELLI, 1996.)

Os objet os de uso vão viabilizar nossa forma de habit ar o mundo, seu desgast e det ermina sua duração e podem at é chegar a gerações fut uras cont ando suas servent ias, como eram usadas e as vidas de quem as usavam. Os objet os nos fazem relacionar no mundo e com os out ros e revelam o sent ido na exist ência do homem no seu t empo. O objet o não exist e sem nossa part icipação, mas não é só uma mera coisa.

O carát er desses art efat os est á no seu uso. É quando ele marca em si nossa presença, e pode at ravés disso se t ornar “ Aqui é t ambém meu depósit o de

memória, onde est á t udo armazenado.”

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somos e escolhemos para t er ao nosso lado. É um modo de cont ar sobre nós ao mundo, agora ou num fut uro qualquer.

Eclea Bossi falando sobre as memórias dos mais velhos relaciona nosso lugar no mundo com os objet os que nos cercam e coment a sobre os ut ensílios de nosso cot idiano:

Quant o mais vot ados ao uso cot idiano, mais expressivos são os objet os: os met ais se arredondam, se ovalam, os cabos de madeira brilham pelo cont at o com as mãos, t udo perde as arest as e se abranda.(BOSSI, 1999.)

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OS GUARDADOS NO ATELIÊ

Quando iniciei est a pesquisa me det ive muit o no aspect o part icular dos guardados no at eliê, por que geralment e é um espaço de t rabalho de criação int enso e que guarda ferrament as, objet os para est udos e obras acabadas ou não, porém percebi que é muit o mais que isso. Os objet os que cercam o art ist a são linhas t ênues para sua criação, e podem ser considerados part es de seu repert ório e pedaços de sua invest igação part icular sobre o t odo.

M uit as vezes, o art ist a mant ém objet os e ferrament as numa t ent at iva de dominar a t écnica de t odo o fazer, porém muit as out ras vezes est es mesmos objet os se t ornam pont es para os acasos de criação e as novas invest idas criat ivas.

Quando olhamos de pert o o espaço do at eliê podemos perceber que cada ação ali é pensada para t al acont ecer. A bagunça organizada ou a organização dent ro da bagunça, t udo e t odos os objet os são dispost os para ajudar o dia a dia, a f acilit ação do processo de t rabalho ou lazer daquele ambient e. É quando verdadeirament e o espaço se t orna lugar, guardando em si afet os e hist órias.

GUARDADOS s.m. pl. Bras. Pequenos objet os pessoais que se guardam numa gavet a, cof re, et c.

Grande Dicionário Larousse da Língua Port uguesa Coisas

Não só me t ocaram

ou as t ocou minha mão,

mas acompanharam

de t al modo

minha exist ência

que exist iram comigo

e f oram pra mim t ão exist ent es

que viveram comigo meia vida

e morrerão comigo meia mort e

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objet o escolhido não só pela beleza, mas t ambém por algo a mais, inexplicável. E a beleza aqui, vai além do que se cost uma achar belo: são pedras, flores mort as, papéis amassados, pedaços de madeira, embalagens vazias, et c.

O art ist a quando coloca cert os objet os dent ro de seu lugar, procura dar ênfase não só aquilo que vai ajudá-lo na part e física do projet o como as ferrament as, mas t ambém na part e do seu processo poét ico, no que pode auxiliá-lo a realizar sua criação, seu modo de pensar e fazer. Ele como criador, acaba t endo est as escolhas na sua própria busca, seja ela art íst ica, est ét ica, filosófica ou por crenças. Suas colet as e guardados ficam pelo at eliê não só por deleit e est ét ico, como t ambém para ser uma espécie de memorial para a const rução de seus t rabalhos, objet os que aparecem ou não em suas obras.

Cecília Almeida Salles exemplifica:

O processo vai assim desenvolvendo-se nesse ambient e sensível. Podemos, ent ão, ent ender os “ est ímulos de escrit ório” (Leminski, 1987), que são t razidos para o espaço de criação como propiciadores de sensações: f ot os, objet os ou qualquer out ra coisa que int eresse ao art ist a. (SALLES, 2004)

“ - nunca ouso jogar f ora uma caixa de f ósf oros, aliás nem uma caixa de cigarros. Conservo-os, amont ôo-os. “

Picasso in BRASSAÏ, Gilbert . Conversas com Picasso, 2003. São Paulo: Cosac&Naif y

“ - M eu at eliê t em um pouco de t udo e muit o de coisa nenhuma [ ...] ”

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M esmo dent ro de uma casa a “ coleção” de objet os, é sempre algo a realizar não só pela beleza, mas principalment e pela memória e imaginação. O objet o armazena nossa exist ência at ravés do cot idiano. Gast on Bachelard diz:

espaço que duplicamos com a consciência de nossa exist ência [ ...] Cada objet o invest ido de espaço ínt imo t ransf orma-se, nesse coexist encialismo, em cent ro de t odo o espaço. Para cada objet o, o dist ant e é o present e, o horizont e t em t ant a exist ência quant o o cent ro. (BACHELARD,1989)

São os guardados part iculares, que num out ro espaço não cont am nada, se t ornando ou um simulacro ou só num deslocament o de uma coisa que não aquela daquele lugar. Por isso, são objet os únicos e part iculares, não coisas enfiadas numa gavet a ou armário, são elas que nos cont am hist órias singulares de quem os possui, fazendo assim um espaço se t ornar lugar. “ Só um pobre de espírit o poderia guardar uma coisa qualquer, de qualquer maneira, em um móvel qualquer, isso indica uma enorme fraqueza da função habit ar.” (BACHELARD, 1989)

O habit ar que nos dá um sent ido de prot eção. O at eliê

“ Ao mesmo t empo que preciso de solidão, preciso de uma cert a desorganização f ísica, um desarranjo que t em meu escrit ório...peço que respeit em meu caos. É um lugar sagrado para o escrit or.”

Pat rícia M elo in CHIODETTO, Eder. O lugar do escrit or. 2002. São Paulo:Cosac&Naif y.

“ O est údio, assim como a casa, faz conhecer a verdadeira origem do desenvolvimento de uma obra.”

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rit mo próprio para o t rabalho, criando e most rando suas verdades ele guarda afeições e marcas próprias.

M uit os art ist as cont am sobre est as coisas que elegem para si como pont e para criação, Jean Genet quando de suas visit as ao at eliê de Giacomet t i, narra sobre os objet os que cercam o art ist a enquant o t rabalha: “ sobre o objet o que cria seu espaço infinit o” , (GENET, 2003) e como est es element os envolvem o art ist a e cria a at mosfera do at eliê e de suas obras. “ Cada objet o ali eleva-se como um ser que olha o art ist a: Se olho para o armário a fim de saber afinal o que ele é, elimino t udo o que ele não é.” (GENET, 2003).

Algumas vezes escolher e t er algo para si e para compor seu ambient e de t rabalho não é uma escolha lógica, mas algo que chama, não de maneira compulsória pela compra, porém de um jeit o que pode moldar ou t er conot ações com a poét ica e obra do art ist a. Paul Klee em uma part e de seu diário cont a: “ -uma mesa de modelar, gesso. Para quê? Simplesment e comprei!” , ou em out ra passagem; a mont agem de seu ambient e de t rabalho para a prat icidade e o confort o:

[ ...] não é de se recusar um cert o conf ort o, ainda que t alvez um t ant o insidioso. Um quart o de t rabalho muit o simpát ico, aquecido. A avó de Lily present eou-nos com uma enorme chiffonnière no melhor est ilo

“ O meu espaço é t ot alment e emocional, nunca é racional.”

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empire burguês; as muit as gavet as servem para colocar em ordem meus objet os de t rabalho. (KLEE, 1990)

É int eressant e perceber como o t er e mant er coisas, que parecem inút eis para muit as pessoas, para o art ist a é quase como t er ferrament as a disposição o t empo t odo, já que esses guardados acabam sendo na verdade part e do processo criat ivo, são part es vindas de vários lugares, do cot idiano e de sua vivência e que podem aparecer na obra ou ser um dos mot es criat ivos.

Em levant ament os hist óricos sobre épocas, poét icas e obras de art ist as sempre há buscas sobre objet os e lugares que viviam ou visit ava, suas anot ações, livros, objet os e maneiras de viver. Cada busca desses pedaços de memórias passa pelas pequenas coisas que cerca o t errit ório criat ivo, como uma maneira de ent ender e f azer um esboço de quem seria est e art ist a.

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A exposição ret rospect iva de Iberê Camargo, na Pinacot eca do Est ado em São Paulo em 2003, por exemplo, mont ou uma vit rine onde est avam seus carret éis (forma t ão emblemát icas em suas pint uras), pincéis e godês. Esses art efat os acabam t endo ident idades próprias, pois são eles que foram manuseados e usados pelo art ist a e que carregam consigo um pouco dele. É isso que faz os carret éis de iberê Camargo serem diferent es de qualquer out ros, é o que os t ornam especiais.

Hoje, na Fundação Henry Moore, na Inglat erra o memorial do escult or Henry M oore é uma part e import ant e da most ra de seu processo criat ivo. O art ist a mant inha várias coisas recolhidas numa espécie de pequena amost ragem de formas da nat ureza, são pedras, ossos e sement es recolhidos pelas paisagens que o cercava, e que eram usadas como est udos das formas em escult uras que criava.

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Pablo Picasso, t ambém mant inha seu at eliê at ulhado de objet os que ele recolhia ou guardava, numa das conversas com Brassaï ele diz: “ - nunca ouso jogar fora uma caixa de fósforos, aliás nem uma caixa de cigarros. Conservo-os, amont ôo-os.” (Picasso in BRASSAÏ, 2000) e o fot ografo complet a:

Os bolsos sempre est iveram demasiado cheios de chaves, de canivet es, de f ósf oros, de cigarros, de isqueiros, de cordões, de pont as de papelão e, conf orme o acaso dos lugares, dessas coisas t ão vulgares e t ão raras, t ão banais e t ão maravilhosas quant o podem ser um seixo, uma concha, um pedaço de madeira ou de cort iça, uma raiz, um f ragment o de vidro corroído pelo mar, para aquele que nelas já vê a imagem lat ent e de uma pomba, de um t ouro, de um mocho, de uma cabeça de carneiro. (BRASSAÏ, 2000)

Há muit os out ros exemplos pelo mundo de objet os de art ist as mant idos para se cont ar a hist ória e devemos saber que muit o do que conhecemos hoje sobre art e de muit as épocas devemos a esses guardados t ão part iculares do at eliê, foram eles que mant iveram nossa curiosidade at iva e saciada, nos cont ando sobre esse t errit ório t ão part icular do art ist a.

“ [ ...] Lá dent ro os universos se acumulam debaixo de poeira, não quero que nada saia do lugar, porque é ali que vou poder encont rá-los, ainda que de uma out ra maneira, num out ro t empo. Eu preciso de um est údio aonde não vá quase ninguém, onde possa exist ir o vazio, para que eu possa sent ir a minha relação com o t rabalho que est á sendo pensado. O est údio é o meu lugar de pensar [ ...] ”

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O LUGAR DO ARTISTA

Desde ant iguidade o art ist a foi considerado alguém especial em seu meio, para o bem e para o mal. Respeit ado como t endo uma espécie de dom, o homem que pint ava nas cavernas na época neolít ica deveria ser t ambém at ivo em suas funções de caça, porém, provavelment e possuía algum t ipo de privilégio com seu grupo, assim ele t eria mais t empo para as f unções mágicas de seu ofício. (HABER, 1971).

M udando de época a época, o art ist a vai modificando sua função no seu meio social, de um criador mágico a empregado da realeza e/ou burguesia ou um boêmio livre e louco em suas criações. M as o que mais fica evident e nesse cont ext o é como o lugar de criação, sua sala de ofício não modifica t ant o com o passar do t empo.

Pesquisando pelo t ermo at eliê, encont ramos várias font es que dizem ser um t ermo cunhado por volt a do século XIV, na França. A palavra deriva de t ailler, ou t alhar em francês, segundo, Deonísio da Silva em seu livro A vida ínt ima das palavras (2004),

ATELIÊ s.m. (do f r. At elier.) 1. Lugar onde t rabalham art esãos e, sobret udo, art ist as.

Grande Dicionário Laurosse da Língua Port uguesa

Inf init o Part icular

Eis o melhor e o pior de mim O meu t ermômet ro, o meu quilat e Vem, cara, me ret rat e

Não é impossível Eu não sou dif ícil de ler Faça sua part e

Eu sou daqui, eu não sou de M art e Vem, cara, me repara

Não vê, t á na cara, sou port a bandeira de mim

Só não se perca ao ent rar No meu inf init o part icular Em alguns inst ant es

Sou pequenina e t ambém gigant e Vem, cara, se declara

O mundo é port át il

Pra quem não t em nada a esconder Olha minha cara

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suas origens no século XIV, a palavra designava lugar bagunçado. Por isso, o recint o onde t rabalhavam os art ist as era conhecido t ambém como chant ier, cant eiro de obras, depósit o. (SILVA, 2004).

Est e lugar que seria o at eliê at é ent ão era a sala de ofício dos art esãos dent ro da própria casa, onde geralment e acont ecia o t rabalho não só t écnico, mas t ambém criat ivo, geralment e com t oda a f amília e com aprendizes, que eram escolhidos ou designados por out ras f amílias conforme o dom que percebiam que os jovens apresent avam.

Na Hist ória da art e, o at eliê sempre aparece nos relat os como um dos principais prot agonist as dos acont eciment os art íst icos, desde quando a casa era o lugar dos ofícios, passando pelo renasciment o, pela art e moderna at é chegar à nossa art e cont emporânea.

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A art e cont emporânea mais do que nunca est a acont ecendo não só de forma concret a, mas dent ro de conceit os ou mesmo só de maneira virt ual com novas possibilidades de at é serem t ransformadas pelo espect ador. Com suas muit as experiment ações e as mist uras com novas t ecnológicas, o art ist a já consegue t er mais que um lugar dent ro de muit os espaços não

“ reais” , ou mesmo indo at rás de víeis globalizados, t erem obras acont ecendo simult aneament e em vários pont os do mundo, independent e de t er nascido em um at eliê. É o que a crít ica de art e, Liset t e Lagnado chama de laborat órios ou cant eiros de obras, onde art ist as fazem t rocas disciplinares e podem t ant o ut ilizar a rua arregiment ando pessoas para suas obras acont ecerem como t ambém usar oficinas de maquinarias pesadas, est údios fot ográficos, et c. (LAGNADO, 2002).

[ ...] essa conf iguração da idéia de at eliê, ent re o laborat ório e o cant eiro de obra, permit e rest it uir ao espaço de at uação do art ist a cont emporâneo dois compromissos que haviam dado o vigor que t ant o admiramos na produção dos anos 60-70: o experiment al e sua implicação na colet ividade. (LAGNADO, 2002)

“ Quero carregar comigo o mínimo possível . M eu est údio é quase vazio. Uso muit o pouco mat erial para cada obra. Trabalho mesmo com idéias. “

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onde a t roca ent re várias disciplinas t razem a proximidade da art e e ciência, e variações da art e cont emporânea híbridas com nanot ecnologia, virt ualidades, et c., por isso, em sua propost a o nome laborat orium se aproximaria mais com o lugar do art ist a cont emporâneo.

Alguns cient ist as que não fazem part e do mundo art íst ico t ambém defendem a idéia das similaridades ent re o laborat ório cient ífico e o at eliê at ravés das t rocas e t écnicas impregnadas:

[ ...] at eliê e laborat ório se aproximavam e ainda hoje se aproximam. Tant o no at eliê quant o no laborat ório opera-se sobre mat eriais, grande part e deles comuns à prát ica das art es e à realização de processos envolvidos nas invest igações sobre a mat éria. (ROXO,2001)

Independent e do espaço que se faz o at eliê, o olhar sobre esse ambient e nos faz pergunt ar quais element os fazem part e efet iva e afet iva do art ist a, e o que e quais coisas est ão as suas mãos. Perceber est e lugar é buscar ent ender como est e espaço se t ransforma em algo t ão especial aos olhos do art ist a e do espect ador e principalment e da obra que nasce ali. Os seus guardados aparecem como um ser a mais no processo art íst ico? São pedaços da obra? São a obra? Pergunt as assim surgem a

“ O est údio é um espaço espirit ual. M as a rua t ambém é, o est ádio é, o met rô é um espaço espirit ual. E o cont rário: o at eliê é um espaço prof ano t ambém, ele exige essa coisa prof ana, essa at it ude prof ana.”

Cildo M eireles in LEAL. At eliês do Rio de Janeiro. 2003. Rio de Janeiro: Pact ual.

“ Acho que meu at eliê é um híbrido de arquivo, depósit o e laborat ório mult imídia, mas o principal HD é o meu cérebro, ainda que f alt em os sof t w ares adequados para gerenciar a “ coisa t oda” [ ...] ”

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part ir de uma curiosidade bast ant e normal em quem observa o t rabalho depois de pront o, quais foram afinal suas inspirações, em qual moment o foi dada a pincelada, o cort e ou a mart elada decisiva?

Est ar dent ro do ambient e do art ist a t ambém nos leva a imaginar seu processo art íst ico e o que pode fazer part e dest e moment o, muit as vezes conseguimos enxergar part es de seu at eliê e objet os que o cerca, out ras parece que nada ali f az part e do t odo, ent ret ant o, percebemos que est e lugar é part e do art ist a e da obra. Como numa casa acolhedora de seus moradores, o at eliê pode t razer um alheament o com o mundo ext erior, necessário para o realizar daquilo que o art ist a imagina e deseja.

A invest igação que proponho nest a pesquisa é conhecer est e lugar com um olhar mais aprofundado, com ênfase no at eliê do art ist a como pont o de part ida para a descobert a do fazer e do porque fazer e de que como os objet os que ali est ão podem conduzir o art ist a, a obra e a vivência do lugar.

Est e ambient e de criação mant ém suas coisas e idéias suspensas, um lugar onde o art ist a pode ent rar a qualquer “ A escolha desses espaços de

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fazer). Se há ou não idéias, inspirações ou a busca e o confort o do fazer, o art ist a sabe que ali ele pode desempenhar aquilo que est a ao seu alcance. Conhecer lugares t ão dist int os é prazer e surpresas, cont ando suas muit as hist órias e dispersando as sement es de obras de art e que ainda não nasceram.

“ As conexões que f aço em meu t rabalho são conexões que não posso encarar. São na verdade conexões inconscient es. O art ist a t em o privilégio de est ar em cont at o com seu inconscient e, e isso é realment e um dom. É a def inição de sanidade. É a def inição de aut o realização.”

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OLHANDO POR TRÁS

DA CORTINA DO ATELIÊ

At ravés de algumas visit as e ent revist as invest iguei o processo e o lugar de diversos art ist as, e com uma abordagem principalment e fenomenológica t ent o most rar um pouco das generalizações comum aos at eliês, mas principalment e suas part icularidades.

Est a curiosidade por conhecer onde nascem às obras e onde o art ist a convive com seus guardados move muit o dos espect adores. É int eressant e como a visit a a qualquer at eliê leva-nos a parecer que est amos visit ando uma cat edral, um lugar sagrado e mist erioso, onde não podemos imaginar nem como é a luz e nem a escuridão, mas lá est amos t ent ando desvendar est e lugar. Como afirma Nelson Brissac Peixot o:

O at elier do art ist a é uma das cat edrais do nosso t empo, lugar possível da art e. Onde, dif erent ement e do museu, exist e criação. O at elier é um alvo de peregrinos. (PEIXOTO, 2006)

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t ambém se t ornou cost umeiro expor est es “ lugares” , já que t raz para o espaço exposit ivo um pedaço do processo criat ivo do art ist a em quest ão. Aqui no Brasil, muit as exposições dest e t ipo já foram mont adas, como por exemplo, na 24ª Bienal Int ernacional de São Paulo, onde houve a mont agem de uma réplica do escrit ório de t rabalho de Piet Mondrian e t ambém na 26ª Bienal Int ernacional de São Paulo que t inha a propost a curat orial art e t errit ório livre, que t rouxe o at eliê de Paulo Brusky (art ist a pernambucano), com t odos seus objet os e det alhes arquit et ônicos para ser mont ado num ambient e que reproduzia fielment e seu at eliê em Pernambuco numa sala da Bienal.

M as, o que nos faz acredit ar que expondo est e “ lugar” podemos ent ender a obra? Devemos ent ender o lugar como algo que se t orna especial e verdadeiro quando vai adquirindo afet ividades (TUAN, 1973) e o uso dest e espaço é que faz isso. David Sylvest er coment a sobre est e crescent e int eresse pelo espaço do art ist a:

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art e t em sido cada vez mais vist o como processo de sua própria f eit ura, e menos como algo ext erior a ela, de modo que o espaço onde o art ist a lut a com seus problemas se t orna como o t erreno onde Jacó lut ou com o anjo. (SYLVESTER, 2002)

Na verdade, est as exposições pret endem t razer ao apreciador de art e, um pouco do clima que é at ingido no local de criação quando a obra est a sendo realizada, most rando um pouco do lugar da criação e dos objet os que est ão ao seu redor t alvez o espect ador possa se aproximar mais da obra e do art ist a. É obvio que a sensação que podemos t er observando t al ambient e, não é a mesma que sent e o art ist a, mas t ent am nos aproximar do que seria est e lugar e assim se t orna uma most ra didát ica desse ambient e. É o mesmo que ocorrem com objet os que vão parar num museu, est es objet os perdem o significado real e se t ornam apenas símbolos do verdadeiro objet ivo a que foi criado. Como Yu Fu Tuan nos coloca:

O museu, af inal, consist e apenas em objet os deslocados. Os t esouros e as raridades são arrancados de suas mat rizes cult urais de dif erent es part es do mundo e colocados em pedest ais em um

“ Gost o de at eliês com aspect o de casa, não muit o grandes, em locais que me f açam sent ir isolada do universo de art e. Quase um ref úgio.”

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ent ant o, algumas cerâmicas são reconst it uídas a part ir de poucos f ragment os. É semelhant e o princípio para rest aurar um quart o hist órico...uma f unção import ant e do museu é produzir ilusões didát icas. (TUAN, 1983)

Apesar de se acredit ar cada vez mais que most rar o at eliê é uma boa forma de ser didát ico com o público consagrando cada vez mais est e espaço, não devemos confundir acredit ando que espaço exposit ivo e at eliê possa ser a mesma coisa para a obra e seus guardados. O at eliê sempre será um lugar diferenciado para o art ist a porque ali a obra acont ece t odos os dias no t rabalho ou no pensar, e os guardados, apesar de nos cont ar muit o do art ist a, será cada vez que for deslocado met ade do que já foi no lugar da criação e ao lado do art ist a.

O art ist a Luiz Zerbini fala sobre isso numa ent revist a a Pedro Bório no livro at eliês do Rio de Janeiro.

O ent revist ador: os museus, galerias e exposições t êm algo de at eliê para um art ist a?

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Out ros art ist as não consideram o at eliê como um ambient e ou só um ambient e. O art ist a plást ico Art ur Barrio, fala de suas exposições onde leva seu at eliê não como idéia de espaço, mas do processo que envolve o at eliê. Ele cont a que seu at eliê já foi a rua, praças e praias e at é um bloco de papel que carregava no bolso. Para ele, o at eliê sempre foi algo mais próximo de um programa do que de um equipament o. (LEAL, 2003)

Além dest as exposições sobre os lugares e objet os do art ist a, muit os criadores abrem seus ambient es de t rabalho para visit ação ou part icipam de projet os que abrem vários at eliês numa dat a det erminada, numa união de forças para divulgação de suas obras e para a venda de t rabalhos diret ament e ao visit ant e, além de divulgar a região onde vivem.

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Assim, no decorrer dessa pesquisa me desloquei por muit os dest es ambient es, querendo conhecer e olhar com mais cuidado muit os at eliês e seus guardados. Minha int enção foi most rar um pouco dest es at eliês visit ados procurando ent ender se est e lugar é como um coadjuvant e do art ist a na criação ou é só um espaço onde se guardam as obras , suas ferrament as e os objet os.

“ [ ...] est e lugar t inha uma at mosf era que me f ez sent ir que poderia t rabalhar nele. Não sei explicar por quê. Exist em lugares onde a gent e sabe que consegue t rabalhar e out ros onde logo se sabe que não. Isso é muit o engraçado: não sei como explicar a at mosf era dos lugares. Acho que ela t em a ver com a maneira como eles est ão const ruídos. “

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VISITAS A ATELIÊS ABERTOS

Por est ar sempre at ent a a assunt os relacionados a at eliês, t omei conheciment o de vários projet os sobre at eliês abert os. A part ir daí aproveit ei para fazer algumas visit as para minhas invest igações sobre o lugar e seus guardados no at eliê. Alguns desses projet os, são de art ist as reunidos que abrem seus at eliês em det erminadas dat as para o público leigo, out ros são art ist as individuais que recebem visit as semanais ou mensais, ou mesmo projet os de várias cidades que at ravés da abert ura dos at eliês de art ist as e art esãos mont am rot eiros de art e, além de muit os sit es e blogs que divulgam est es espaços pela int ernet .

Pude visit ar várias dest as propost as, t ant o aqui no Brasil em São Paulo e algumas cidades do Est ado, como em Paris na França em uma viagem que realizei no início dest e ano. M uit os desses projet os eu só fui conhecer, na maioria conversei com art ist as e pessoas envolvidas no projet o e pude fot ografar alguns.

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Também t ive o conheciment o sobre out ros vários projet os de at eliês abert os pelo país, que infelizment e não pude visit ar pessoalment e. Como no bairro da Lapa e em Sant a Teresa, no Rio de Janeiro que abrem duas vezes por ano vários at eliês para visit ação de t urist as e int eressados em conhecer os art ist as e seus ambient es de criação.

Há um verdadeiro int eresse em conhecer est es lugares, não só pessoalment e, mas nos últ imos anos de forma virt ual em sit es de relacionament os, são espaços de criação de art ist as plást icos, designs, escrit ores e criadores em geral que nos leva a conhecer o lugar que se passa a maior part e do t empo na feit ura da obra, com seus objet os e seu processo criat ivo, já que se pode fot ografar repet idas vezes e acrescent ar isso na sua página pessoal.

Um dest es projet os virt uais muit o int eressant e é o “ w rit er’s roons” , promovido pela revist a elet rônica Guardian, t odas as edições t razem fot os e descrição de algum ambient e de escrit ores, a int enção é most rar est es lugares, vasculhando um pouco o espaço e o processo criat ivo do art ist a.

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ATELIÊS | SÃO PAULO

Sabendo de alguns projet os sobre at eliês abert os na cidade de São Paulo e algumas cidades vizinhas, e t endo a oport unidade de conhecer alguns art ist as, me programei para visit ar o que podia, conversar com os art ist as e f azer algumas fot os dos ambient es.

Por mot ivos diversos, nem sempre foi possível fot ografar ou conversar com o art ist a da maneira que gost aria, como por exemplo, no projet o art e na vila, que recebe muit as pessoas nos dias programados. Em out ros projet os ou at eliês, alguns art ist as se sent iam desconfort áveis com fot os, mas sempre fui recebida com muit a at enção e pude bat er papos gost osos e int eressant es sobre o espaço e suas obras.

Procurei em cada visit a, conhecer como o ambient e foi criado pelo art ist a, quais suas necessidades e como o at eliê e seus guardados acont ecem na obra. São quest ões sut is de sent ir e perceber, já que muit as vezes a obra e seu processo criat ivo são subjet ivos, no ent ant o, observar a at mosfera que vive o criador já foi uma ót ima pesquisa de campo.

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PROJETO OUTUBRO ABERTO

Um dos projet os que visit ei bast ant e at raent e foi

Out ubro abert o, propost a curat orial em que o escrit ório de art e Francês RC-bureau d’art abre os at eliês que represent a em São Paulo para visit ant es int eressados em ver o processo art íst ico e o lugar da criação de seus art ist as. São at eliês individuais em várias part es da cidade de São Paulo, com art ist as que fazem ocasionalment e exposições junt os e a divulgação do escrit ório de art e e de seus at eliês.

Est e event o acont ece t odo mês de out ubro, est ando em 2008 em sua quart a edição. A abert ura dos at eliês t em a int enção de divulgar os art ist as e seus t rabalhos compart ilhando o fazer e seus conceit os para além de um público especializado. Aproveit ei o projet o para visit ar alguns art ist as e conversar informalment e sobre seus t rabalhos e det alhes dos espaços.

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PROJETO ARTE NA VILA

Em São Paulo no bairro da vila M adalena e Pinheiros, visit ei o projet o Art e da Vila. São at eliês da região que abrem suas port as a visit ação pública num final de semana específico. Nest e dia é dist ribuído um rot eiro impresso com os endereços dos at eliês part icipant es e algumas vans saem do met rô e levam os visit ant es aos endereços do projet o. Tive a oport unidade de acompanhar várias edições do Art e na Vila e conheci muit os at eliês da região.

Est e projet o já ent rou no calendário oficial da cidade de São Paulo e em 2009 já est á na sua 8ª edição, at raindo, a cada ano, mais visit ant es. Na edição de 2008 foram 10 mil pessoas circulando pela Vila M adalena, o que at rai não só visit ant es para os at eliês, mas t ambém para as galerias, pont os t uríst icos, bares e rest aurant es da região.

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é sempre uma surpresa e encant o. Os art ist as t em um cont at o grande com o público, as obras são acessíveis, há oficinas e cursos e pode-se experiment ar o que é o oficio de at eliê, com suas ferrament as e cores.

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ABERTURA FORNOS NOBORIGAM AS / CUNHA/ SP

Out ro projet o que conheci, e já se t ornou um diferencial na cidade de Cunha (a 217 km de São Paulo), foi a abert ura dos fornos noborigama e a visit a a vários at eliês de cerâmica.

Em algumas dat as anuais, os art ist as ceramist as da cidade de Cunha queimam suas peças nest es fornos medievais de origem japonesa, e abrem a fornada para o público, at raindo um bom número de t urist as e int eressados em conhecer a t écnica e est es fornos especiais.

O primeiro forno noborigama, em Cunha, foi const ruído em 1975, por japoneses e port ugueses que encont raram ali um ót imo lugar, já que est e forno precisa de t errenos inclinados e a cerâmica ser f eit a com uma boa argila, coisa oferecida pela região. Com o passar dos anos, muit os moradores se especializaram na cerâmica e out ros ceramist as chegaram e se inst alaram na cidade const ruindo seus fornos e fazendo com que hoje a cidade seja muit o conhecida por seus at eliês de cerâmicas.

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que cada peça se t orna única e há a t roca de informações com o t odos os int eressados que não t em a chance de ver sempre a queima de peças de argila.

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ATELIÊS ABERTOS/PARANAPIACABA

Na vila de Paranapiacaba em Sant o André, visit ei o projet o At eliês abert os.

Nest e projet o a subprefeit ura de Paranapiacaba aluga por preços módicos as casas da vila operária, comprada pela cidade de Sant o André da rede ferroviária, os art ist as t em o compromisso da preservação dessas casas, além de fazerem part e de um projet o que nos finais de semana propõe a abert ura dos at eliês para aos t urist as, que podem visit ar, conhecer os art ist as e comprar suas obras.

Muit os art ist as da região do grande ABC se inst alaram ali criando um charmoso rot eiro de at eliês com muit as linguagens art íst icas acont ecendo na Vila, proporcionando no local uma cert a efervescência cult ural.

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ATELIÊS EM EM BU DAS ARTES

Out ro rot eiro conhecido de at eliês fica em Embu das art es a 25 km da cidade de São Paulo. Art ist as recebem visit ant es em exposição e venda das obras de art e e art esanat o na famosa feira que acont ece t odos nos fins de semana, além de muit os at eliês abert os para visit ação dos t urist as.

Durant e os domingos a visit a à feira é muit o procurada e a cidade se enche de t urist as para conhecer a produção art íst ica e art esanal da região e do Brasil. É um lugar t ambém muit o visit ado por t urist as est rangeiros que procuram por art esanat o ou objet os e obras diferenciadas.

Durant e a semana onde o moviment o na cidade é menor pode-se visit ar os at eliês que ficam na cidade e conhecer com mais calma as obras e os art ist as, alguns deles t ambém abrem para aulas part iculares de desenho, pint ura ou escult uras.

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ATELIÊS | PARIS

Em minha visit a a Paris, procurei ir a alguns lugares conhecidos pelos art ist as e int elect uais que ali circulavam ou viviam. Em Mont mart re, bairro parisiense, conheci endereços e ruas onde muit os art ist as se inst alaram. Não segui rot eiros t uríst icos pré-est abelecidos, muit os acabaram sendo descobert os por curiosidade e anot ações que eu t inha ou at é acident alment e pelos passeios que nos fazem esbarrar com placas informat ivas sobre edificações ou ruas.

Na Rua Abbesses em Mont mart re, há uma sedução t uríst ica com suas ruelas, brasseries, lojas e igrejas nos dando dicas que naquele lugar muit a hist ória acont eceu. At eliês que não exist em mais, t omados por moradias ou comércios, mas que mant ém cert a aura do passado por t erem sidos freqüent ados por algum f amoso art ist a que ali morou ou criou obras de art e.

Não t ive a oport unidade de conhecer at eliês part iculares naquele bairro, como por exemplo, do art ist a brasileiro Juarez Machado, que há muit os anos reside e t rabalha em Paris, e que mant ém um belo at eliê exat ament e na Rua

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Aproveit ei a viagem para t ambém conhecer o at eliê de Brancusi, deixado como legado para a cidade de Paris, que agora est a no pát io do M useu George Pompidou, e ver de pert o como um at eliê pode ou não ser conservado em sua memória.

Também visit ei o at eliê e o Jardim de M onet , em

Giverny, que t odos os anos na primavera e no verão recebem milhares de t urist as querendo conhecer de pert o o famoso jardim que foi uma das grandes inspirações do art ist a, além de alguns at eliês de art ist as que vivem na região que recebem o público e vendem suas obras.

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ATELIÊ BRANCUSI

Em Paris fui conhecer o espaço dedicado ao at eliê do escult or Brancusi, que hoje se encont ra no complexo do M useu George Pompidou. Foi uma ót ima oport unidade de conhecer de pert o seus t rabalhos e ferrament as, deixada como legado a cidade de Paris.

Brancusi mant eve seu at eliê no bairro de

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t amanho, disposição de cômodos e luminosidade, expondo as obras, mat eriais e ferrament as usadas pelo escult or Brancusi, porém aqui se comprova como o lugar chamado at eliê necessit a de uso e afet ividades para que não se t orne soment e um espaço exposit ivo, sem nos remet er ao seu Genius Loci.

São quat ro salas com as ferrament as e bancada expost as num t ipo de vit rine e as obras dispost as, da maneira de Brancusi, com a visão 180º ou mesmo escult oras sem pedest ais. Cont udo não há vida produt iva nesse local e nem t ransparece que algum dia houve alguma, mesmo porque t udo ali foi deslocado para est e ambient e que t ent a reproduzir algo perdido. At é seus guardados ficam sem memórias aparent es.

O próprio arquit et o responsável pela reconst rução do ambient e que seria o at eliê de Brancusi reconhece que é impossível recriar um lugar de criação sem at ividade e o art ist a e diz: “ - O espaço não t em a int enção de ser recriação et nológica da disposição do lugar nos mínimos det alhes, mas t ransmit ir a unidade que Brancusi criou ent re suas escult uras dent ro do espaço do est údio.” (PIANO, 2007).

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ATELIÊ E JARDIM DE M ONET

O jardim de M onet já se t ornou uma visit a obrigat ória

de qualquer t urist a que chega à França. Sua casa e at eliê ficam

em Giverny, cidade aos arredores de Paris. A casa, hoje museu de

M onet , abre t oda primavera e verão, fechando no out ono e

inverno. M inha curiosidade era ver como esse lugar foi

preservado e de que forma recebe o olhar curioso de quem a

visit a.

É int eressant e not ar, que de alguma maneira est e

ambient e conserva mais coisas de um lugar, que, por exemplo, o

at eliê de Brancusi, - ret irando, claro, suas diferenças de locais e

de circunst âncias. Apesar do espaço que seria o at eliê, hoje ser

uma loja que vende souvenirs das pint uras de Monet ao t urist a; a

casa preserva os objet os e móveis usados pelo art ist a e família,

resguardando assim um pouco da aura que vivia o art ist a.

Seu jardim é minuciosament e conservado e sua casa

mant ém a luminosidade que provavelment e t ambém penet rava

quando o art ist a lá vivia, isso t raz ao visit ant e uma sensação de

ver seus quadros de forma viva, possivelment e como o art ist a via

a paisagem. Preservar coisas e o lugar f oi essencial para o genius

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PROJETO CENT QUATRE

Projet o criado pela prefeit ura de Paris, onde vários art ist as de muit as linguagens, podem durant e um t empo det erminado usar espaços criados para serem seus at eliês.

Est e prédio se localiza em um bairro periférico de Paris, numa ant iga fábrica de caixões e urnas funerárias e foi t odo reformado para receber além dos espaços de at eliê, uma bibliot eca, audit ório e lanchonet e.

Em minha visit a, numa t erça feira depois das 16 horas, não havia muit os art ist as em at ividade, porém fui recebida por uma guia – que para minha surpresa e alegria, era brasileira – que me most rou t oda a est rut ura do prédio e seus projet os, me apresent ou a um grupo de designers em t rabalho, dois cineast as em processo de finalização de rot eiro e um art ist a uruguaio resident e e bolsist a, que t rabalha art e pública.

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VISITAS E ENTREVISTAS

Desde o início da pesquisa me dispus a conhecer alguns ambient es para um ent endiment o do que era o lugar e o espaço, além dos at eliês abert os à visit ações colet ivas, queria t er uma aproximação com art ist as para um invest igar aprofundado dos guardados e o lugar de criação.

Escolhi cinnco art ist as que conhecia de alguma forma e que sabia t erem um espaço de t rabalho há algum t empo, expliquei minha int enção de pesquisa e gent ilment e t odos foram muit os solícit os nest e meu vasculhar de suas coisas e part icularidades.

Visit ei cada um deles em dat as pré det erminadas, alguns pude visit ar mais de uma vez e pedi licença para a invest igação fot ográfica que t rago aqui. Nest as visit as procurei saber além do at eliê em si, mas principalment e suas hist órias e guardados.

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das peças t eat rais que fez a cenografia ou figurinos, e a origamist a Alzira que mant ém formas não só no que produz, mas inst int ivament e nos móveis que possui.

Cada art ist a aqui t em suas caract eríst icas, mas t ambém similariedades, não só na seriedades perant e a obra como t ambém nas alegrias no fazer e ent endiment o de cada objet o ali que permanece como t est emunhas do lugar.

Imagem

Foto Biblioteca sendo montada-Projeto 104 | 2009 L.s. Foto Pátio Central-Projeto 104 | 2009 Liliane Santos

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