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RESPONDIDO PELO ARTISTA

PLÁSTICO CLÁUDIO BARROS

O que significa ateliê para você?

At eliê é o lugar do t rabalho. É onde eu penso, reflit o, e const ruo os meus projet os. Significa para mim o lugar de exercício da minha vida, ou melhor da minha vocação. Desde que me reconheci pint or o at eliê me acompanha, a exist ência de um at eliê est á sempre present e na minha vida e é t alvez o lugar onde passe a maior part e do meu t empo.

O at eliê é um grande inst rument o de t rabalho, que define o próprio t rabalho, como o campo de fut ebol em relação ao jogador. Não há jogo sem o campo, e é lá que o homem exerce aquilo que o define no mundo. No campo o homem é o jogador. No at eliê o homem exerce aquilo que ele é - art ist a. É claro que exist em art ist as que exercem seu t rabalho na rua ou em projet os de sít ios específicos. Nest e caso a obra se confunde com o espaço de at eliê, e quando chega a seu t ermo o art ist a t em que buscar out ro espaço físico/conceit ual para prosseguir. Não acho que nesse caso o art ist a prescinda de at eliê, mas sim que o seu “ at eliê” se desloque para o local da obra, pois que ele vai levar para lá t udo o que precisa, e mesmo aquilo de que no meu caso preciso de dialogar com as coisas do at eliê, aquele art ist a vai

dialogar com as coisas que t alvez t ipifiquem o especificament e o lugar físico e conceit ual onde irá t rabalhar e ou inst alas sua obra. A diferença é que o at eliê deixa de t er a função de inst rument o para assumir a condição de mat erial expressivo. No caso o suport e.

O que é e como é o SEU ateliê?

O meu at eliê at ualment e est á numa sala isolada da minha casa com dimensões mais ou menos de 27 m². Lá est ão t odas as minhas ferrament as e inst rument os de t rabalho, os mat eriais, t ambém muit os t rabalhos os que est ão em andament o e os que est ão arquivados ou simplesment e guardados, são t rabalhos de pint uras – quadros de diferent es t amanhos, gravuras, mat rizes e est ampas, pint uras em papel, desenhos, rascunhos. O espaço , ou part e dele é bast ant e at ulhado dessas coisas t odas, no ent ant o a maior part e da sala é dest inada ao t rabalho propriament e da pint ura ent ão est á vazio Trabalho muit o com a t ela na parede, enfrent ando-a de frent e na vert ical. Por vezes ut ilizo mesas e at é o chão. M ês pigment os ficam organizados num carrinho de chá com rodas , o que facilit a sua locomoção no at eliê. Tenho mesas reversíveis que mont o e desmont o quando preciso. Uso mesa

banheiro que ut ilizo t ambém para lavar pincéis. Tenho t ambém um aparelho de t elefone, som, para que fique est ável nesse lugar para que possa permanecer o máximo sem int errupções event uais.

Qual sua relação com este espaço?

Acho que é uma relação vit al. A hist ória da minha vida se const rói nesse espaço/t empo . Espaço t empo porque não é apenas mais um cômodo da minha casa , mas um espaço vivo que exist e em função das minhas ações lá. A vida que é vivida nesse espaço , os pensament os que t enho os livros que leio e folheio, os desenhos, os escrit os, t udo isso vai const it uindo um conjunt o de experiências, pelas quais eu vou me const ruindo como pessoa e como art ist a. Meus filhos em algumas épocas Têm t ambém espaços ou objet os próprios no meu at eliê, para que sejam t ambém deles o espaço, no sent ido de a minha relação com meus filhos t ambém passar pelo at eliê. No moment o est ou vivendo uma crise de espaço com o at eliê. Aliás uma crise um t ant o crônica (se é que ist o é possível). O espaço est á pequeno para as funções, e agora que est ou na eminência de const ruir um espaço novo e bem maior parece que a crise se acent ua. M as isso não me impede de t rabalhar, senão que de uma maneira apert ada,

limit ada, com dificuldade de acessar meus arquivos, visualizar com largueza a produção at ual, enfim problemas de at eliê.

Você acredita que este lugar é imprescindível para seu processo criativo?

Sim . Complet ament e. É claro que se algo acont ecer e eu não puder ut ilizar f isicament e aquele espaço, vou ut ilizar out ro, como já ocorreu de a sala da casa, ou o meu quart o de dormir ser meu at eliê. Quando est iver reformando a casa para const ruir o novo at eliê , o at eliê at ual est ará int erdit ado, ent ão est arei envolvido com t rabalho de escala reduzida, provavelment e t rabalharei sobre papel, ou preparando mat rizes de xilogravura, mas conceit ualment e o at eliê est ará funcionando num out ro espaço provisório at é que possa inst alá-lo novament e em espaço próprio

Você guarda objetos que fazem parte especialmente deste lugar? Que objetos são estes e porque estão lá?

Além de t oda parafernália própria do t rabalho, inst rument os e ferrament as de t oda a sort e, além dos arquivos de t rabalhos meus e de amigos, t em algumas coisas que ficam lá esperando que um dia eu lhes dê algum fim, ou não dê nenhum, como peças

falo das de t rabalho ou regist ro, mas de meus filhos, Um carrinho do Lucas que ficou lá e eu gost o de vê-lo, Já mencionei o t elefone, livros e cat álogos com os quais est ou dialogado (não os guardo mais no at eliê, t enho a est ant e nout ro lugar, mas alguns livros ficam lá enquant o t êm relação com o que est ou pensando no moment o.)

Uma coisa que não mencionei, (t alvez se refira à quest ão ant erior) mas que é uma caract eríst ica, t em a ver com a relação com o espaço. Volt a e meia, ou melhor, de vez em quando, me envolvo em arrumações e faxina, porque fica impossível fazer qualquer coisa no local devido à profusão de coisas espalhadas por t odos os cant os. No ent ant o quando arrumo e fica cada coisa em seu lugar cust o a aquecer de novo o t rabalho, já percebi que apenas quando exist e uma medida de caos, é que o t rabalho flui. Quero dizer que preciso de que as coisas/ quadros mais ant igos, fot ografias, desenhos, rascunhos, papéis, jornal, livros est ejam de cert a forma t odos ao alcance do olhar imediat o, para que não haja int errupção do fluxo de pensament o, e possa me dedicar não a um quadro ou a um desenho, mas ao projet o de t rabalho, que deve se dar numa pluralidade. M esmo que não se efet ive visivelment e em várias linguagens ao mesmo t empo, mas que esses liames de idéias permaneçam lat ent es para que nada se perca, e mesmo que t udo se possa conect ar e reconect ar, em

função desse projet o que vai se est abelecendo. Por isso o espaço do at eliê é t ão vit al e não se rest ringe apenas a dimensão do espaço e sim ao espaço/t empo.

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