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OLHANDO POR TRÁS DA CORTINA DO ATELIÊ

At ravés de algumas visit as e ent revist as invest iguei o processo e o lugar de diversos art ist as, e com uma abordagem principalment e fenomenológica t ent o most rar um pouco das generalizações comum aos at eliês, mas principalment e suas part icularidades.

Est a curiosidade por conhecer onde nascem às obras e onde o art ist a convive com seus guardados move muit o dos espect adores. É int eressant e como a visit a a qualquer at eliê leva- nos a parecer que est amos visit ando uma cat edral, um lugar sagrado e mist erioso, onde não podemos imaginar nem como é a luz e nem a escuridão, mas lá est amos t ent ando desvendar est e lugar. Como afirma Nelson Brissac Peixot o:

O at elier do art ist a é uma das cat edrais do nosso t empo, lugar possível da art e. Onde, dif erent ement e do museu, exist e criação. O at elier é um alvo de peregrinos. (PEIXOTO, 2006)

t ambém se t ornou cost umeiro expor est es “ lugares” , já que t raz para o espaço exposit ivo um pedaço do processo criat ivo do art ist a em quest ão. Aqui no Brasil, muit as exposições dest e t ipo já foram mont adas, como por exemplo, na 24ª Bienal Int ernacional de São Paulo, onde houve a mont agem de uma réplica do escrit ório de t rabalho de Piet Mondrian e t ambém na 26ª Bienal Int ernacional de São Paulo que t inha a propost a curat orial art e t errit ório livre, que t rouxe o at eliê de Paulo Brusky (art ist a pernambucano), com t odos seus objet os e det alhes arquit et ônicos para ser mont ado num ambient e que reproduzia fielment e seu at eliê em Pernambuco numa sala da Bienal.

M as, o que nos faz acredit ar que expondo est e “ lugar” podemos ent ender a obra? Devemos ent ender o lugar como algo que se t orna especial e verdadeiro quando vai adquirindo afet ividades (TUAN, 1973) e o uso dest e espaço é que faz isso. David Sylvest er coment a sobre est e crescent e int eresse pelo espaço do art ist a:

Há diversas razões para que o at eliê do art ist a t enha se t ornado um lugar privilegiado para expor art e. O cult o do gênio f az da of icina uma M eca, quer o prof et a vivo ou mort o. Uma vez que a exposição individual se const it ui no principal veículo para exibir a obra de um art ist a, o at eliê pode ser uma exposição ret rospect iva permanent e. O cont eúdo da

art e t em sido cada vez mais vist o como processo de sua própria f eit ura, e menos como algo ext erior a ela, de modo que o espaço onde o art ist a lut a com seus problemas se t orna como o t erreno onde Jacó lut ou com o anjo. (SYLVESTER, 2002)

Na verdade, est as exposições pret endem t razer ao apreciador de art e, um pouco do clima que é at ingido no local de criação quando a obra est a sendo realizada, most rando um pouco do lugar da criação e dos objet os que est ão ao seu redor t alvez o espect ador possa se aproximar mais da obra e do art ist a. É obvio que a sensação que podemos t er observando t al ambient e, não é a mesma que sent e o art ist a, mas t ent am nos aproximar do que seria est e lugar e assim se t orna uma most ra didát ica desse ambient e. É o mesmo que ocorrem com objet os que vão parar num museu, est es objet os perdem o significado real e se t ornam apenas símbolos do verdadeiro objet ivo a que foi criado. Como Yu Fu Tuan nos coloca:

O museu, af inal, consist e apenas em objet os deslocados. Os t esouros e as raridades são arrancados de suas mat rizes cult urais de dif erent es part es do mundo e colocados em pedest ais em um

“ Gost o de at eliês com aspect o de casa, não muit o grandes, em locais que me f açam sent ir isolada do universo de art e. Quase um ref úgio.”

Beat riz M ilhazes in LEAL. At eliês do Rio de Janeiro. 2003. Rio de Janeiro: Pact ual.

ent ant o, algumas cerâmicas são reconst it uídas a part ir de poucos f ragment os. É semelhant e o princípio para rest aurar um quart o hist órico...uma f unção import ant e do museu é produzir ilusões didát icas. (TUAN, 1983)

Apesar de se acredit ar cada vez mais que most rar o at eliê é uma boa forma de ser didát ico com o público consagrando cada vez mais est e espaço, não devemos confundir acredit ando que espaço exposit ivo e at eliê possa ser a mesma coisa para a obra e seus guardados. O at eliê sempre será um lugar diferenciado para o art ist a porque ali a obra acont ece t odos os dias no t rabalho ou no pensar, e os guardados, apesar de nos cont ar muit o do art ist a, será cada vez que for deslocado met ade do que já foi no lugar da criação e ao lado do art ist a.

O art ist a Luiz Zerbini fala sobre isso numa ent revist a a Pedro Bório no livro at eliês do Rio de Janeiro.

O ent revist ador: os museus, galerias e exposições t êm algo de at eliê para um art ist a?

Zerbini: Não. At eliês são lugares únicos. M uit os art ist as já expuseram seus at eliês em galerias e museus, inclusive eu, mas at eliê t em vida própria, mesmo que não se f reqüent e a poeira t rabalha pelo art ist a. (in LEAL, 2003)

Out ros art ist as não consideram o at eliê como um ambient e ou só um ambient e. O art ist a plást ico Art ur Barrio, fala de suas exposições onde leva seu at eliê não como idéia de espaço, mas do processo que envolve o at eliê. Ele cont a que seu at eliê já foi a rua, praças e praias e at é um bloco de papel que carregava no bolso. Para ele, o at eliê sempre foi algo mais próximo de um programa do que de um equipament o. (LEAL, 2003)

Além dest as exposições sobre os lugares e objet os do art ist a, muit os criadores abrem seus ambient es de t rabalho para visit ação ou part icipam de projet os que abrem vários at eliês numa dat a det erminada, numa união de forças para divulgação de suas obras e para a venda de t rabalhos diret ament e ao visit ant e, além de divulgar a região onde vivem.

M uit as cidades no Brasil e no mundo t em projet os semelhant es de abert uras de at eliês ao público. É int eressant e observar que a abert ura para visit as assim, capt a muit os int eresses de art ist as, crít icos, marchands e o público leigo em geral. São projet os que geralment e t em um grande número de visit ant es e part icipant es com int uit os variados, desde conhecer seu at eliê e o art ist a pessoalment e at é mesmo comprar obras por

Assim, no decorrer dessa pesquisa me desloquei por muit os dest es ambient es, querendo conhecer e olhar com mais cuidado muit os at eliês e seus guardados. Minha int enção foi most rar um pouco dest es at eliês visit ados procurando ent ender se est e lugar é como um coadjuvant e do art ist a na criação ou é só um espaço onde se guardam as obras , suas ferrament as e os objet os.

“ [ ...] est e lugar t inha uma at mosf era que me f ez sent ir que poderia t rabalhar nele. Não sei explicar por quê. Exist em lugares onde a gent e sabe que consegue t rabalhar e out ros onde logo se sabe que não. Isso é muit o engraçado: não sei como explicar a at mosf era dos lugares. Acho que ela t em a ver com a maneira como eles est ão const ruídos. “

Francis Bacon. SYLVESTER, David. Ent revist as com Francis Bacon. 2000. São Paulo: Cosac&Naif y.

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