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CONTAM HISTÓRIAS

O homem em alguma part e da pré-hist ória separou algo para mant er consigo: uma pedra mais roliça ou colorida, algum osso de animal, ferrament as produzidas, et c., era o início do homem sensível e do homem ut ilit ário. A part ir daí, vieram as ornament ações, as novas ut ilidades para o mat erial de sempre, algumas lembranças e coisas acumuladas pelo t empo.

Sabemos que guardamos em nossa ment e, alma e imaginação muit as coisas que se passaram conosco e muit as dessas lembranças podem ser at ingidas ou revividas at ravés de objet os especiais que porvent ura mant emos. Algumas pessoas não gost am de se lembrar do passado, out ras não t em objet os supérfluos e muit as não podem nem possuir coisas, mas é inerent e ao ser humano t er por pert o alguns objet os que considera especiais.

Criamos ambient es e colocamos neles coisas que nos ajudam: ferrament as para o t rabalho, lazer, cot idiano, lembranças. Nossos lugares no mundo est ão replet os de nossas hist órias que são cont adas pelos objet os que elegemos para De t odas as obras humanas, as que

mais amo

São as que f oram usadas. Os recipient es de cobre com as bordas achat adas e com mossas Os garf os e f acas cujos cabos de madeira

Foram gast os por muit as mãos: t ais f ormas

São para mim as mais nobres. Assim t ambém as lajes

Em volt a das velhas casas, pisadas e

Polidas por muit os pés, e ent re as quais

Crescem t uf os de grama: est as São obras f elizes.

Admit idas no hábit o de muit os Com f reqüência mudadas, aperf eiçoam seu f ormat o e t ornam-se

Valiosas

OBJETO s. m. (do lat . escolást ico object um.) 1. O que se apresent a à vist a; o que é apreendido pelo sujeit o do conheciment o. 2. Tudo o que f ornece mat éria a uma ciência, a uma art e, a uma obra lit erária. 3. Tudo que se apresent a ao espírit o, que se of erece ao pensament o. 4. Bem mat erial f abricado para t ender a det erminado uso.

Grande Dicionário Larousse da Língua Port uguesa

[ ...] os ambient es criados pelo homem incluem art ef at os ou “ coisas” que servem de f ocos int ernos e sublinham a f unção de reunião de assent ament o. Nas palavras de Heidegger: “ t he t hing t hings w orld” (a coisa reúne o mundo). (Norberg-Schulz, in NESBITT org. , 2006)

Querendo ou não, nossa hist ória est á at relada com os ut ensílios que criamos para sobreviver, viver e guardar memórias. Conservadores, modernos, cont emporâneos ou simplesment e uma miscelânea de t udo, não há possibilidades do ser humano não carregar algo consigo, mesmo aquele desprendido do mundo mat erial, t em algum objet o que mant êm, para sobrevivência e/ou para memória afet iva. Talvez não percebamos, mas t odos nossos objet os cont am muit o o que somos e o que acredit amos.

Os guardados são esses objet os que est ão ao nosso redor, são os fragment os das vivências e do cot idiano present e em uso das coisas e que nos ajudam a compor o mundo em nossa volt a e est ão replet as desses vest ígios. A fenomenologia vê o objet o não só como o ent e que se manif est a, mas como o ser que nele se apresent a at ravés de nossa percepção e do nosso próprio ser no mundo. Para a fenomenologia, é um equivoco não ent ender o ser dos ent es, porque é como se fosse possível a “ É o sonho de t er aquelas

f errament as t odas, aquelas bugigangas t odas, lá, est ocadas. Enf im, colet adas. Basicament e é isso, t er paz, inspiração e f errament as.”

Art ur Omar in LEAL. At eliês do Rio de Janeiro, 2003. Rio de Janeiro: Pact ual.

independência do homem. O ser das coisas est á no ser do homem no mundo, int eragindo com t udo e as coisas só são no mundo da exist ência humana. Dulce Crit elli coment a:

Para a f enomenologia, o ser dos ent es que ela busca conhecer se most ra at ravés dos ent es; não est á por t rás do que se manif est a, mas coincide com sua própria manif est ação [ ...] M as est es ent es são apreendidos como ent es ou coisas no mundo e não como coisas em si. Só assim o ser se t orna acessível: não pert ence à coisa como seu próprio at ribut o, mas a uma t rama de relações signif icat ivas que a precede e sust ent a. (CRITELLI, 1996.)

Os objet os de uso vão viabilizar nossa forma de habit ar o mundo, seu desgast e det ermina sua duração e podem at é chegar a gerações fut uras cont ando suas servent ias, como eram usadas e as vidas de quem as usavam. Os objet os nos fazem relacionar no mundo e com os out ros e revelam o sent ido na exist ência do homem no seu t empo. O objet o não exist e sem nossa part icipação, mas não é só uma mera coisa.

O carát er desses art efat os est á no seu uso. É quando ele marca em si nossa presença, e pode at ravés disso se t ornar “ Aqui é t ambém meu depósit o de

memória, onde est á t udo armazenado.”

José Bechara in LEAL. At eliês do Rio de Janeiro, 2003. Rio de Janeiro: Pact ual.

somos e escolhemos para t er ao nosso lado. É um modo de cont ar sobre nós ao mundo, agora ou num fut uro qualquer.

Eclea Bossi falando sobre as memórias dos mais velhos relaciona nosso lugar no mundo com os objet os que nos cercam e coment a sobre os ut ensílios de nosso cot idiano:

Quant o mais vot ados ao uso cot idiano, mais expressivos são os objet os: os met ais se arredondam, se ovalam, os cabos de madeira brilham pelo cont at o com as mãos, t udo perde as arest as e se abranda.(BOSSI, 1999.)

Percebemos a habit ação de um lugar at ravés de cert as marcas de uma vida viva (BOLLNOW, 2008). As coisas irradiam a vida e escolhas, são elas que t ornam um espaço num lugar, t razendo segurança e confort o para quem o const ruiu com seus afet os e memórias e mesmo para quem ent ra nesse ambient e poder conhecer a expressão do habit ant e.

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