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DEMOCRATA NO PENSAMENTO MARXISTA EM EDUCAÇÃO

2. Democracia e educação no Brasil

2.2 Lutar por Boas Políticas

Na esteira deste raciocínio, nós brasileiros não nos democratizamos: “(...) a idéia central que vou desenvolver é de que a configuração de uma democracia débil e formal,

no âmbito geral no Brasil pós-ditadura, se explicita de forma aguda no campo educacional.” (FRIGOTTO, 2003 a, p. 53); mesmo que tenhamos vivido a rica experiência dos anos 80:

Não é difícil, olhando no retrovisor de nossa história recente, perceber que a sociedade brasileira, paradoxalmente, experimentou na década de 80 um rico processo de luta pela redemocratização, no sentido forte da democracia, cuja direção confrontava o ideário neoliberal já em franca experimentação na Inglaterra, EUA e Chile (Frigotto, 2003, p. 54).

Assim, dos anos de 1980 não teria nos restado nada, apenas a derrota daquele projeto democratizador expresso na realidade das políticas, particularmente as educacionais, dos anos de 1990.

O resultado dos sete anos do Governo Fernando Henrique Cardoso mostram que as conquistas da década de 1980 foram sendo uma a uma anuladas em nome do ajuste da economia e da atração de capital especulativo, mediante os mecanismos da desregulamentação, descentralização, flexibilização e privatização (Frigotto, 2003 a, p. 54).

Não é casual que o discurso oficial, apoiados pelas grandes redes de informação, busque sistematicamente silenciar as concepções pedagógicas dos anos 80 sobre formação e qualificação humana emancipatória, educação tecnológica ou politécnica e o foco uníssono sejam as noções de competências, de habilidades, qualidade total, cidadão produtivo e de empregabilidade (Frigotto, 2003 a, p. 62).

Essa mesma lógica impede que se reconheça que a universalização que temos e todos os limites que carrega é a universalização adequada às condições dadas de desigualdade social a que estamos inseridos. Há, portanto uma negação da universalização, como pontuamos no capítulo I e buscamos então, explicitar:

Em estudo recente, Davies (2003) aponta discrepâncias nas análises estatísticas do Ministério da Educação e questiona a campanha de 1997/1998, “Toda criança na escola”, que teria sido viabilizada pelo FUNDEF (FRIGOTTO, 2003b, p. 114).

(...) O dogma de não comprometer o ajuste fiscal não poupou a prioridade do ensino fundamental. O governo aumentou as estatísticas de acesso, o que é um dado positivo, mas insuficiente, pois degradou as condições de democratização do conhecimento (FRIGOTTO, 2003b, p. 114).

A possibilidade de ampliação do acesso sem ampliação das dotações orçamentárias para a educação não poderiam produzir outra realidade, ocorre que há um

desprezo pelo acesso universal como se este fosse uma estatística absolutamente descolada do real, mais que isso, um falseamento, uma “maquiagem de dados”. E, desconfiando, portanto, da estatística apresentada pelo governo, os autores não tocam nas questões essenciais para formular sua crítica ao governo, mesmo que as reconheçam, como em Gentili:

De modo diferente ao que denuncia o neoliberalismo, persistem ainda enormes problemas de “quantidade” no sistema: não só a universalização da escola tem sido muito mais uma promessa do que uma realidade em grande parte dos países da região, como, ainda, o aumento dos índices de exclusão demonstra que, longe de ampliar-se, o acesso às escolas de qualidade reduziu-se como possibilidade real para um importante setor da população. Sociedades dualizadas e marcadas pela miséria e discriminação não podem ter senão sistemas educacionais dualizados, miseráveis e discriminadores (GENTILI, 2001 d, p. 35).

Ao contrário de indicar os limites do governo como elaboração de uma crítica ao Estado, os autores seguem defendendo a ampliação do Estado – como veremos adiante, e denunciando o governo. Essa postura, associada à idéia de que pela ampliação da democracia chegaremos ao socialismo nos autoriza a formular a seguinte proposição, já que seria um desdobramento da tese aqui defendida. Entendemos que os autores indicam que o capitalismo é a expressão de toda perversidade e barbárie, porém, se no interior desse modo de produção pudermos eleger um governo de esquerda, ou, dito de outra forma, sensível às demandas democráticas da sociedade e, pudessemos tensionar esse governo a ponto de garantir a implementação de políticas sociais cada vez mais ampliadas na mesma medida em que ampliam a participação democrática dos cidadãos, nós estaríamos então, em pleno processo de construção do socialismo. Essa formulação parece-nos absolutamente confirmável no conjunto de textos aqui analisados, que pelas condições evidentes deste trabalho, limitam-se a excertos, mas que buscam revelar a viabilidade da identificação com a tradição da social- democracia.

Por um lado, e como já foi enfatizado, para ele[Hayek], nada transforma a democracia num bem em si mesmo. Decorre disso que qualquer abuso de poder, por parte das maiorias – dado que não se pode solucionar por mecanismo de decisão majoritária -, obriga que certas minorias assumam a responsabilidade de suspender a própria democracia por um prazo que variará segundo a magnitude dos “excessos”. O limite da democracia, dirá Hayek, é o funcionamento normal do mercado. Violá-lo supõe violar o estado de direito, entendido aqui como o respeito inalienável à propriedade privada e aos direitos que a protegem (Seigan, 1993). Uma democracia que viola o direitos dos indivíduos de disporem livremente de suas propriedades legítimas transforma-se, de maneira irreversível, num abuso totalitário contra a liberdade individual. Nesse sentido, se um governo eleito pelo voto popular decide levar a cabo uma reforma agrária que pretenda realizar uma redistribuição territorial baseada na expropriação dos grandes latifúndios e das propriedades improdutivas, tal governo, ao violar o

direito de propriedade das minorias latifundiárias, tornar-se-á antidemocrático por mérito próprio, mesmo que tenha apoio social maciço. Em tal caso, a suspensão da democracia transforma-se num requisito essencial para o restabelecimento da ordem (GENTILI, 2001d, p. 58).