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2.1 Solicitações de usuários e patologias recorrentes após a entrega do imóvel

2.1.2 Patologias recorrentes após a entrega da edificação

2.1.2.2 Método de análise de patologias dos SPHS segundo Gnipper (2010)

Existem alguns métodos de investigações patológicas como o de Lichtenstein (1985 apud GNIPPER, 2010); o de Almeida (1994), no qual é proposta uma metodologia baseada na Avaliação de Pós-Ocupação para vistoria dos Sistemas Prediais enquanto estão sendo operados, nomeando o processo de Avaliação Durante Operação (ADO) e; o método proposto pelo CIB - Building Pathology Working Commission na publicação Building

Pathology a state-of-the-art report (CIB, 1993 apud GNIPPER, 2010).

Segundo Gnipper (2010), estes métodos possuem características em comum: primeiramente, eles consistem na identificação da patologia; em uma segunda etapa destes métodos, há um levantamento de dados acerca da patologia identificada, por meio da aplicação de questionários às pessoas que tiveram contato com o problema, vistorias ao local, exames de laboratório e ensaios expeditos no local, entre outros. Em um terceiro momento, existe o estabelecimento do diagnóstico e determinação da(s) causa(s) da patologia em estudo; logo após, é decidido se haverá intervenção ou não e dadas as alternativas de intervenção, um prognóstico sobre a reabilitação ou recuperação e avaliação das consequências da decisão de não intervir. Depois é feita a proposição da terapia ou remediação do problema com vista a sua solução, consistindo na recomendação de intervenções corretivas para patologias manifestas e de medidas preventivas para patologias latentes e não conformidades (profilaxia contra eventual nova incidência da patologia em questão na mesma edificação). Finalmente, na sexta etapa, são envolvidas ações subsequentes à solução do problema, como o registro do problema sanado, definição de responsabilidades e retroalimentação como forma de prevenção contra novas incidências da mesma patologia em situações semelhantes à investigada.

Entretanto, Gnipper (2010) relata sobre a ausência ou pouca descrição sobre determinados passos essenciais à investigação de patologias dos SPHS, como, por exemplo: destaca que nos métodos há deficiência na explicitação da atividade de identificação dos sintomas de manifestações patológicas; há omissão ou pouca ênfase à análise dos projetos executivos, sendo estes fundamentais para a identificação de problemas e não conformidades e para a determinação de suas causas. Também cita a ausência comum da etapa de profilaxia, como forma de coibir, por meios adequados, a sua reincidência. Sobre outros passos, o autor fala que não são de muita aplicação prática aos componentes dos SPHS para a formulação de diagnóstico, como a ênfase que é dada em alguns métodos sobre a utilização de instrumentação e realização de exames e ensaios de laboratório. O diagnóstico de patologias e o levantamento de não conformidades em SPHS têm sido feitos principalmente a partir de inspeções visuais às partes acessíveis e mediante análise comparativa dos respectivos projetos (Gnipper, 2010).

Assim, após análise dos métodos acima citados e, ainda, do método adotado na Engenharia Legal para investigação de patologia, Gnipper (2010) propôs um método de análise e supressão de patologias que pode ser aplicado diretamente sobre os problemas ligados aos SPHS.

Após escolher o método de Lichtenstein, por ser o mais conhecido e de uso mais generalizado entre os investigadores de patologias construtivas no país, o autor utilizou este como modelo base em dois estudos pilotos para busca da catalogação de patologias nos SPHS. O referido autor viu, na prática, que havia lacunas neste método quando aplicado diretamente para estes sistemas. Confirmou sua generalidade após promover posterior comparação do método adotado com o Método de Análise e Solução de Problemas (MASP), associado ao Ciclo PDCA (Plan – Do – Check – Act), um processo bastante geral de análise e solução de problemas.

Foram feitas adaptações no método de Lichtenstein visando a sua aplicabilidade aos SPHS. Por conseguinte, Gnipper (2010) fez a aplicação do método adaptado para os SPHS em outros 25 edifícios na cidade de Curitiba-PR, permitindo o seu gradativo aperfeiçoamento, com posterior inclusão de um processo de hierarquização das recomendações de intervenções corretivas e de medidas preventivas, em virtude da necessidade de priorização destas, uma vez que estão relacionadas medidas de custos de implementação e diferentes níveis de riscos à vida ou à saúde, de desconforto, de dificuldade na manutenção e/ou operação desses sistemas, entre outros (GNIPPER, 2010). O autor põe em discussão, nesse ínterim, a necessidade de hierarquização a partir de algum método de

auxílio à tomada de decisão, cuja aplicação possa resultar na análise a partir de vários critérios. Entretanto, ele não tem como objetivo principal testar essa hierarquização, mas propor diretrizes para formulação de um método de investigação de patologias que permita a posterior hierarquização dos problemas de SPHS por meio de métodos multicriteriais, como o método ELECTRE III (ROY, 1991; VINCKE, 1992 apud Gnipper, 2010).

Para maior compreensão, segue, na Figura 5, delineamento do método proposto por Gnipper (2010):

Figura 5 – Delineamento resumido do método hierarquizado para supressão de patologias em SPHS.

Fonte: adaptado de Gnipper (2010).

Como primeira etapa, Gnipper (2010) traz a importância da necessidade de identificação geral dos problemas. Esta fase compreende tanto as atividades antecedentes à investigação patológica propriamente dita como também as etapas de anamnese, sintomatologia e exame. Devem, pois, nesta fase, ser realizada a vistoria inicial e o registro dos primeiros dados sobre os sintomas de patologias manifestas e não conformidades, podendo as não conformidades mais evidentes já serem completamente identificadas por simples inspeção visual. Caso não seja, cabe a realização da análise inicial do projeto de SPHS, levantamento de documentos complementares, adequação e aplicação de questionários padronizados e específicos aos usuários e realização de visitas técnicas seletivas a partes do edifício, buscando também fazer um levantamento do histórico do tipo de problema reportado

e identificado até àquele momento no edifício, por isso, esta etapa é chamada pelo autor de anamnese.

Passa-se, a seguir, ao estudo dos sintomas de patologias levantados, atividade designada por Gnipper como sintomatologia. Esta etapa conduz à confirmação ou refutação de suspeitas de ocorrências de patologias ligadas aos SPHS por meio de realização de ensaios, testes e simulações, seguindo-se o exame do projeto e a inspeção aprofundada aos SPHS da edificação.

Na segunda fase (diagnóstico), cabe a identificação das causas dos problemas. O autor, por exemplo, traz as falhas sistemáticas mais expressivas de projeto dos SPHS, a citar: falhas de concepção sistêmica; erros de dimensionamento; inobservância a normas técnicas, regulamentos e leis vigentes; falha de comunicação com outros projetistas; inexistência ou insuficiência de compatibilização com outros projetos; inexistência ou insuficiência de detalhes construtivos nos desenhos e inexistência, insuficiência ou incorreções de especificação de materiais e serviços.

Na terceira fase, ou prognóstico, é feita a definição da conduta a ser tomada, com base na ideia de evolução que se faz do problema, antecipando-se à evolução dos sintomas de uma dada patologia e suas consequências para os SPHS do edifício e para os seus usuários.

Em sequência, na quarta fase, é realizada a solução proposta para os problemas detectados e, ou tomadas as medidas preventivas para a sua não evolução, sendo estas etapas denominadas terapia e profilaxia, respectivamente. Nestes casos, segundo o autor em discussão, são tomadas medidas urgentes; medidas de curto, médio e longo prazo; medidas paliativas ou medidas apenas mitigatórias. Quando não, pode ainda ser feito apenas o registro de não conformidades de difícil solução. Após estas etapas, ainda na fase de solução dos problemas, é proposta uma avaliação das intervenções realizadas, levando-se em consideração que as ações devem atender a diferentes critérios simultaneamente, considerando diferentes objetivos, interesses, julgamentos ou pontos de vista em relação à importância, gravidade e urgência de cada medida.

Por último, o autor do método de supressão de patologias aqui descrito propôs a retroalimentação dos resultados de levantamentos patológicos dos SPHS para os diversos intervenientes do processo construtivo. Para esta proposta de retroalimentação, o autor citou a carência generalizada de retroalimentação sistemática de experiências e conhecimento na área da Construção Civil, entretanto não se deteve nesse ponto.