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4   REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21

4.4   Alguns métodos de consulta e sua aplicação 85

4.4.3   Método Bauru 92

O processo de elaboração do PDP de Bauru, durante 2005 e 2006 encontra-se relatado em detalhes no item 6.3. No entanto, neste item, o método utilizado em Bauru foi descrito esquematicamente, possibilitando a avaliação constante do item 7.1 e análise comparativa com Método – referência do Ministério das Cidades, constante do item 7.2.

As etapas do processo seguiram as orientações do Ministério das Cidades, sendo, portanto, muito semelhantes às do método descrito no item 4.4.1. No entanto, incorporamos nessa descrição as dinâmicas realizadas em cada etapa e as recomendações baseadas na avaliação feita do processo em Bauru, visando o seu aprimoramento em próximos processos participativos:

1.ª Etapa - Núcleo Gestor: o processo inicia-se com a instalação do Núcleo Gestor, composto por representantes do poder público e da sociedade civil, a quem caberá preparar, conduzir e monitorar a elaboração do Plano Diretor.

Recomenda-se que a composição do NG seja paritária, com 1/3 do poder público (secretarias e órgãos envolvidos com a questão a ser abordada); 1/3 de movimentos sociais e 1/3 de entidades de classe, sindicatos e instituições de pesquisa. É muito importante a participação dos movimentos sociais nessa fase para auxiliar no processo de comunicação, definição da metodologia mais adequada para atingir a população em geral e 'alertar' com relação ao linguajar usualmente utilizado pelos técnicos.

Na escolha dos técnicos representantes do poder público e da sociedade civil deve-se buscar formações diversas (arquitetura, urbanismo, engenharia, agronomia, geografia, direito, serviço social e pedagogia, por exemplo) para permitir uma complementaridade de visões e de formas de abordagem.

A escolha dos representantes para o NG pode ocorrer na Conferência da Cidade ou plenárias chamadas especialmente para essa finalidade, dando oportunidade de participação a todos os interessados.

2.ª Etapa - Preparação do processo: identificação dos atores sociais presentes no município, suas territorialidades e suas formas de organização; dos canais de participação; do processo de tomada de decisão e das estratégias de comunicação/divulgação.

Recomenda-se que a divisão territorial (setorização) respeite as bacias hidrográficas, tanto na área urbana quanto na zona rural, compatibilizando suas divisas com os limites dos setores censitários, para que haja uma base de dados consistente. Essa diretriz segue orientação da Organização dos Estados Americanos (OEA, 1978 apud Santos, 2008, p. 24) no sentido de realizar um tipo de planejamento que considere os aspectos ambientais, os cuidados com a saúde e o equilíbrio ecológico.

Com relação à representatividade, propõe-se: • Na Área urbana:

- 60% - Movimentos Sociais / população em geral: a proposta é que seja proporcional à densidade populacional do setor, no caso 1 delegado para cada 3000 habitantes, não sendo exigida a vinculação à uma entidade formalizada;

- 20% - Sindicatos, entidades de classe, instituições de pesquisa; - 20% - Poder público municipal, estadual e federal

- 60 % - Movimentos sociais / população em geral: como na zona rural a densidade populacional é muito baixa, não é possível seguir o mesmo critério da área urbana. Propõe- se que cada setor tenha ao menos 3 delegados representando os proprietários rurais, os trabalhadores rurais e os moradores da zona rural, pois as demandas são diferentes. Esse número pode aumentar em função da maior participação nas reuniões:

- até 30 participantes: 3 delegados; - de 30 a 60 participantes: 4 delegados; - mais de 60 participantes: 5 delegados.

- 20% - Entidades organizadas do setor rural (sindicatos, associações de produtores); - 20% - Poder público municipal, estadual e federal com atuação na zona rural.

A estratégia de comunicação/divulgação deve considerar as especificidades de cada comunidade, utilizando os meios e as linguagens acessíveis, em especial na zona rural, de forma a despertar o interesse na participação. O uso de faixas, de carros de som, de participação em programas de rádio e de abordagem direta das lideranças comunitárias têm dado resultados mais efetivos.

É importante que o NG elabore um Plano de Trabalho para deixar claro o objetivo do trabalho, a metodologia adotada, as metas, os prazos e as responsabilidades, observando os recursos humanos e os materiais disponíveis.

Ao organizar reuniões comunitárias, deve-se considerar: • local neutro, de fácil acesso (de preferência escola pública do bairro); • dimensão compatível com o público previsto;

• equipamentos de projeção (multimídea ou retroprojetor, tela), paredes para exposição de mapas;

• horário adequado a quem trabalha (a noite ou final de semana);

• previsão de café e de água (no mínimo), para ser oferecido no intervalo;

• registro das reuniões com lista de presença (nome, endereço, telefone), fotos, relatório ou atas;

• identificação dos participantes com crachá;

• pessoal de apoio para recepção, controle de presença e de monitores para trabalho com crianças durante o evento;

3.ª Etapa - Lançamento: marca o início dos trabalhos e deve receber ampla divulgação para despertar a comunidade à participação. Tem um caráter didático, pois deve esclarecer os objetivos, os temas a serem abordados e como participar, disponibilizando contato para esclarecimentos.

4.ª Etapa - Capacitação: nesse primeiro momento, a capacitação é imprescindível para os integrantes do Núcleo Gestor e equipe de apoio (funcionários municipais que auxiliarão no trabalho de mobilização, de divulgação e de preparação das reuniões públicas). Eles serão os multiplicadores nas reuniões públicas.

Dependendo da complexidade do tema abordado, em especial nos planos diretores, deve ser prevista capacitação das lideranças comunitárias e elaboração de material didático (cartilhas e folhetos explicativos). Todas as reuniões públicas devem ser iniciadas com esclarecimentos sobre o tema, cronograma dos trabalhos e fase em que se encontra, para situar os participantes no processo.

5.ª Etapa - Mobilização/Divulgação: precedendo as reuniões comunitárias, deve ser realizado amplo trabalho de mobilização na comunidade, divulgando dia, horário e local da reunião e tema a ser discutido. A abordagem pessoal, dando maiores esclarecimentos sobre o processo, é fundamental.

6.ª Etapa - Leitura Comunitária: as reuniões comunitárias realizadas nos diversos setores urbanos e rurais têm por objetivo ouvir a opinião e as sugestões da comunidade sobre o assunto em questão, portanto, deve seguir uma dinâmica que facilite a manifestação de todos os presentes. Propõe-se que na primeira parte seja feita a apresentação da equipe de coordenação e uma breve exposição sobre o tema. Na segunda, devem ser formados grupos de, no máximo, 10 pessoas, que, sentadas em círculos, devem ser estimulados a falar sobre os aspectos positivos e negativos do tema abordado. Em cada grupo deve haver um 'moderador' e um 'relator', que pode ser escolhido entre os participantes. Todo o material produzido deverá ser entregue à coordenação para sistematização e, havendo tempo, deverão ser expostas as propostas apresentadas nos grupos para visualização de todos. Caso contrário, outra reunião já fica pré-agendada, quando as sugestões serão transcritas e mapeadas (se for o caso) para exposição, podendo, ainda, serem feitas complementações até que se esgote o assunto.

7.ª Etapa - Leitura Técnica: todos os temas abordados e as propostas apresentadas devem ser avaliados, realizando-se, se for o caso, vistorias conjuntas entre técnicos e representantes da comunidade para discussão do problema no local, buscando uma solução de consenso.

8.ª Etapa - Reuniões técnicas: paralelamente às reuniões comunitárias, deverão ser promovidas reuniões com entidades de classe, universidades, grupos de interesse para discussão de temas específicos. Essa é uma oportunidade para, também, se transmitir as reivindicações e as propostas da comunidade.

9.ª Etapa - Formalização das propostas: compatibilização da leitura comunitária com a leitura técnica, sob supervisão do Núcleo Gestor, elaborando as propostas a serem apresentadas à comunidade para aprovação.

10.ª Etapa - Aprovação das propostas e eleição dos delegados representantes dos setores (movimentos sociais): retorno à cada comunidade, precedida de novo trabalho de divulgação (agora facilitado pelo contato com os participantes das reuniões anteriores) para apresentação e aprovação das propostas. Nessa etapa. deve-se demonstrar, claramente, como as sugestões e os desejos estão transformados em planos, projetos e/ou texto legal. Nessa mesma reunião, são eleitos os representantes daquela comunidade para a participação no Congresso final, de acordo com as regras estabelecidas e divulgadas no início do processo.

11.ª Etapa - Eleição dos delegados dos demais segmentos: a eleição dos delegados do segmento sindicatos/entidades de classe/instituições de pesquisa deve ocorrer em plenária específica. Os delegados do poder público são indicados pelas instituições que representam, sendo conveniente que sejam os técnicos que já participam do processo.

12.ª Etapa - Congresso final: finalizando esse processo é realizado o Congresso final para votação das propostas. No caso do Plano Diretor Participativo, foi apresentado o texto do Projeto de lei, porém, dependendo do tema e da escala, os trabalhos podem culminar com a elaboração de um projeto arquitetônico, um plano de obras e as diretrizes de ocupação do solo. A dinâmica da reunião segue as orientações de uma Conferência, cujas regras serão estabelecidas pelo regimento interno discutido e aprovado pelos participantes.

13.ª Etapa - Monitoramento: implementação de um sistema de gestão para monitoramento das ações realizadas e dos resultados obtidos. Se o processo depende de aprovação na Câmara de Vereadores, esse grupo também fica encarregado de acompanhar o andamento dos trabalhos e o impacto das emendas apresentadas.

Os recursos necessários são:

• Pessoal: os facilitadores podem ser técnicos municipais, desde que capacitados para usos de técnicas participativas.

• Local: dimensões adequadas ao público previsto, de fácil acesso e referência da comunidade, com possibilidade de espaços independentes para discussão em grupos (o ideal é uma escola pública).

• Orçamento: recursos para elaboração de material didático, divulgação das reuniões e publicação do relatório final.