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6 A PARTICIPAÇÃO POPULAR NOS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DOS PLANOS

6.2   Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado 1996 176

O tema Plano Diretor foi retomado em 1986, no 1º mandato do Prefeito José Gualberto Tuga Martins Angerami, quando, através do Decreto nº 4.722 de 18 de junho de 1986, constituiu-se Comissão Provisória para revisão e atualização do Plano Diretor de Bauru, formada pelo Secretário de Planejamento, pelo Presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural - EMDURB e por um Assessor de Gabinete, com prazo de 30 dias para apresentação de relatório circunstanciado e do programa de atividades.

O presidente da Comissão, Engenheiro Elder Gadotti, "que chama o plano de 'Plano Diretor da Bauru 2000', exortou toda a comunidade a participar de suas discussões através de associações de moradores, sindicatos, clubes de serviço e todas as demais entidades que reunissem um número representativo de pessoas da comunidade. Ele considerava que mais importante que a implantação, era a participação da comunidade na elaboração do Plano Diretor" (JC, 20 jun. 1986).

No entanto, passados mais de dois anos sem que houvesse registro de reuniões públicas voltadas à discussão desse tema, o Engenheiro Elder Gadotti encaminhou um relato das providências tomadas para revisão do Plano Diretor, constante do processo Seplan (1988, p.1), referentes ao levantamento de dados e à elaboração de mapas e de um cronograma para o ano seguinte (quando tomaria posse a nova administração e se iniciaria, de fato, a elaboração do Plano). Propôs, entre outras providências, a criação de um grupo de divulgação envolvendo todos os estratos da população; criação do Conselho Consultivo do Plano Diretor, que de fato representasse toda a comunidade; criação de um Conselho Municipal de

Planejamento Urbano de caráter deliberativo, constituído por entidades de classe e associações de bairros (grifo nosso).

Percebe-se, no discurso, a grande preocupação com o envolvimento de toda a comunidade no processo de elaboração do Plano Diretor, porém nenhuma ação prática foi adotada nesse sentido.

Nesse período, o país vivia um processo de ampla mobilização popular em função da Constituinte, consolidada no Movimento Nacional pela Reforma Urbana, seguida da aprovação da Constituição Federal de 1988, em que o Plano Diretor passou a ser exigido para todas as cidades com mais de vinte mil habitantes, e a participação popular passou a ser uma exigência constitucional. Na seqüência, a Constituição Estadual, em 1989, estendeu a obrigatoriedade dos planos diretores a todos os municípios do Estado de São Paulo, incluindo a zona rural. A Lei Orgânica do Município de Bauru - LOM, promulgada em 4 de abril de 1990, também impôs para o município a elaboração de Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, com ampla participação popular, no prazo de 18 (dezoito) meses de sua promulgação. Assim como as demais Constituições, a LOM não estabeleceu responsabilidades ou punições.

O novo prefeito, Engenheiro Antônio Izzo Filho, ao assumir o governo em 1989, declarou que o Plano Diretor deveria aguardar a aprovação da Lei Orgânica do Município (JC, 11 jan. 1989). Portanto, aprovada a LOM de Bauru, a Secretaria de Projetos Comunitários - Seprocom, através da Divisão de Organização da Participação Comunitária, dando continuidade a um trabalho de fortalecimento das lideranças e das associações de moradores iniciado na administração anterior, promoveu encontros de capacitação de lideranças, discussões sobre o Plano Diretor e visitas às cidades que estavam desenvolvendo seus planos diretores de forma participativa. Foi criada a Comissão Pró-Participação Popular do Plano Diretor, constituída por Associações de Moradores, Coordenadoria da Defesa Civil, Instituto dos Arquitetos do Brasil - subseção Bauru e Centro Bauruense de Ação Comunitária, que promoveu várias reuniões de mobilização nas regionais administrativas para esclarecimentos sobre Plano Diretor, divulgadas através de cartazes, de 'outdoors' e da imprensa local; realizou pesquisa de demandas juntamente à população, e distribuiu 3.000 cartilhas sobre Plano Diretor (JC , 18 out.1990; DB, 30 maio1991; DB, 10 jul.1991; JC, 13 jul.1991).

Paralelamente, uma comissão técnica composta por funcionários da Secretaria de Planejamento, com assessoria do Centro de Estudos e Pesquisa em Administração Municipal da Fundação Prefeito Faria Lima - CEPAM, foi encarregada do levantamento de

dados e de sugestões junto às secretarias municipais para composição de um documento "a ser discutido com os demais segmentos da sociedade civil, a comunidade em geral, através de seus representantes, para que esta também apresente propostas e sugestões" (DB, 09 maio1991).

Em documento arquivado na Secretaria Municipal de Planejamento com o texto e tabelas referentes ao diagnóstico, estão relacionadas 38 entidades (órgãos públicos estaduais e federais, entidades de classe, universidades) e seus respectivos representantes que compunham a 'Comissão do Plano Diretor', porém não existe registro de presença, atas ou outros documentos comprobatórios da realização de reuniões dessa Comissão.

O Seminário Pró-Plano Diretor - Bauru em Temas, promovido pela Prefeitura nos dias 12 a 16 de agosto de 1991, teve "por objetivo incentivar a participação de toda comunidade bauruense" (DB, 9 ago. 1991). O evento consistia de dois blocos: primeiramente a exposição dos temas abordados no dia, com apresentação de um diagnóstico, seguido de debate com a participação dos presentes e exposição de eventuais dúvidas sobre os temas enfocados (JC, 11 ago.1991).

No Seminário, a Comissão Pró-Participação Popular entregou um documento aprovado em Assembléia Popular (DB, 08 ago.1991) com as linhas básicas do plano. Pelo depoimento do Secretário de Planejamento, Engenheiro Carlos Roberto Vieira da Costa, a participação popular foi considerada o ponto alto: "Nós tivemos, neste aspecto, as nossas expectativas superadas pela participação ordenada, organizada e bastante consciente das pessoas que representaram a população bauruense na elaboração do Plano Diretor até agora" (DB, 16 ago. 1991).

Os trabalhos foram finalizados e o Projeto de Lei nº 67/1991, que instituiu o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Bauru, foi encaminhado à Câmara de Vereadores em 7 de outubro de 1991, com a proposta de análise em dois meses, para que ele pudesse ser viabilizado ainda naquela administração (DB, 8 out. 1991). No entanto, após um ano e dois meses, em dezembro de 1992, na última seção daquela legislatura, o projeto de lei foi novamente sobrestado e deixado para ser votado pela nova composição da Câmara, sob a argumentação de que se tratava de um projeto polêmico, que precisava de mais tempo para ser analisado (DB, 12 dez. 1992).

Em fevereiro de 1993, com a troca de administração, o Prefeito Engenheiro Antônio Tidei de Lima retirou o PL 67/91 da Câmara com a promessa de revisão e de apresentação de substitutivo até o segundo semestre daquele ano. No entanto, o assunto só foi retomado após mais de dois anos, em outubro de 1995, quando uma polêmica sobre

construção de prédios foi levada à Câmara pelos moradores, trazendo à tona a questão da falta de um Plano Diretor, com cobranças por parte dos vereadores (JC, 4 out.1995). Nessa mesma semana, através do Decreto 7.457 de 1995, foi constituída uma Comissão para elaborar o Plano Diretor do Município de Bauru, no prazo de 90 dias (JC, 5 out. 1995).

Inicialmente composta de 21 elementos, entre representantes da administração municipal e da sociedade civil, teve esse número acrescido para 25, em razão de protestos de algumas entidades que se sentiram excluídas do processo. Vale salientar que, além do poder público, predominavam entidades de classe ligadas à área de arquitetura, de urbanismo, de engenharia, de comércio e de indústria, sem representação das áreas sociais e dos movimentos populares, o que gerou protesto da Diretora da Faculdade de Serviço Social de Bauru - ITE, citando o exemplo da "belíssima Conferência Municipal de Assistência Social, onde tivemos oportunidade de ver os setores governamentais, entidades sociais, associações de moradores (grifo nosso), profissionais e estudantes da área, discutindo justamente esses déficits e apresentando propostas" (Ofício FSSB-ITE, 24 out. 1995).

Em novembro de 1995, o Secretário de Planejamento e presidente da Comissão do Plano Diretor foi substituído. Os trabalhos só foram iniciados em fevereiro de 1996 (JC, 08 fev. 1996), quando foi constituído um Grupo de Trabalho que ficou sediado em local específico para desenvolvimento dessa atividade, denominado Centro de Estudos do Plano Diretor, com a perspectiva de ser o embrião de um Instituto de Planejamento. Foram realizadas mais de 40 reuniões para discussão dos diversos temas a serem abordados pelo texto legal (JC 17 abr.1996; DB, 24 abr.1996; DB, 26 abr.1996; JC, 05 maio1996; JC, 26 maio1996; DB, 31 maio1996), durante as quais eram chamados a colaborar, além dos membros da Comissão, os demais órgãos e entidades que trabalhavam com a questão, utilizando-se, também, as deliberações das conferências municipais da saúde e de assistência social. O material produzido pela Comissão Pró-Participação Popular e Seminário 'Bauru em Temas' foi resgatado e serviu de subsídio para as discussões comunitárias realizadas nas Regionais Administrativas e nas Associações de Moradores.

Amanhã começam as reuniões temáticas e, durante toda a semana, eventos similares acontecem nas regionais de bairro. Na última segunda-feira, por exemplo, a Seplan reuniu-se com a administração da Bela Vista. Ontem foi a vez da Vila Falcão, sempre com a participação de representantes das associações de moradores, e hoje acontece reunião no Centro de Estudos do Plano, na rua 13 de Maio, com as Regionais centro/sul. Amanhã tem reunião agendada na Regional do Redentor e, nesta sexta-feira, na administração do Parque São Geraldo. Essas reuniões paralelas, nas regionais, são para levantamento de problemas e apresentação de sugestões, visando possíveis soluções voltadas às diversas regiões da cidade a ser colocadas no Plano Diretor (JC, 17 abr. 1996).

O Projeto de Lei do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado foi apresentado em Audiência Pública na Câmara Municipal (JC, 20 ago. 1996) e aprovado através da Lei Municipal n.° 4.126 de 1996 (BAURU, 1997).

O processo que culminou com a aprovação do Plano Diretor de 1996 apresentou avanços em relação ao período anterior, no entanto, a participação só ocorreu de forma institucionalizada, por meio de entidades representativas, deixando a população em geral distante do debate. Também não houve um processo de capacitação da comunidade sobre os assuntos mais técnicos tratados no Plano Diretor.