4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 21
4.4 Alguns métodos de consulta e sua aplicação 85
4.4.33 Modelo Colaborativo 149
O Modelo Colaborativo é um método de trabalho comunitário desenvolvido em Curitiba, na Regional Cajuru, a partir de 1999 - resultado de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Curitiba, o Grupo de Estudos do Terceiro Setor (GETS) e a United Way of Canadá - Centraide Canadá (UWC-CC), com o apoio da CIDA (Agencia Canadense para o Desenvolvimento Internacional).
Essa experiência tem os fundamentos baseados no trabalho de John Kretzmann e John McKnight, adaptados para a realidade do local de intervenção.
Curitiba (2003) relaciona os princípios e os valores do Modelo Colaborativo: • a comunidade somos todos nós: governo, iniciativa privada e sociedade civil, organizada ou
não;
• a comunidade possui valores individuais e coletivos, base do processo de colaboração; • a colaboração acontece entre as diferentes pessoas a partir de uma rede de relações, que
busca valorizar toda forma de contribuição, por meio de habilidade e de experiências pessoais, dos recursos e das potencialidades existentes na comunidade;
• esse trabalho tem como foco a pessoa, portanto, todo esforço deve se reportar a essa premissa e nunca supervalorizar outros aspectos que não sejam o ser humano;
• toda pessoa é portadora de conhecimentos que advém da experiência de vida;
• o processo colaborativo é uma metodologia eficaz na solução de problemas, porque mobiliza lideranças comunitárias, recursos dispersos em várias organizações e, ainda, cria sinergia no planejamento e na execução das ações;
• o trabalho do Modelo Colaborativo é um processo, e não um projeto;
• a colaboração se desenvolve melhor no âmbito de uma organização que tenha a intenção de fazê-la, ou seja
a proposta do Modelo colaborativo pode ser resumida numa mudança de olhar. Em vez de ver a comunidade apenas como portadora de problemas, essa maneira de trabalhar sugere olhar para a comunidade como um lugar onde existem também muitas potencialidades, recursos e talentos (CURITIBA, 2003, p. 21)
Assim, a proposta é que se faça um exercício na forma apresentada no Quadro 7, a seguir:
QUADRO 7: Mudança de Olhar-Modelo Colaborativo. MUDANÇA DE OLHAR
DE PARA Deficiências
foco sobre problemas e dificuldades
Capacidades
foco sobre habilidades e potencialidades Peritos
prevalece a opinião técnica
Comunidade
prevalece o saber da comunidade Poder sobre a comunidade Poder compartilhado com a comunidade Processo decisório centralizado Processo decisório compartilhado
Recursos ofertados vêm de fora Recursos estão na comunidade Dependência e clientelismo Co-responsabilidade e cidadania
Mudando a forma de olhar a comunidade, é possível realizar os seguintes itens: • Mapeamento de Potencialidades e recursos da comunidade:
- talentos individuais; - associação dos cidadãos; - instituições locais.
• Mapeamento de necessidades e deficiências da comunidade: - problemas pessoais;
- problemas sociais; - problemas estruturais.
Antes de deflagrar o processo, recomenda-se definir claramente duas funções: • Articuladores: são aqueles que decidem, em conjunto, mobilizar a comunidade (entidades e
pessoas) para se envolver no processo;
• Facilitadores: são aqueles que coordenam as reuniões, que sabem como dinamizar o grupo e valorizar e envolver as pessoas numa discussão que vise o trabalho conjunto.
Os Passos para a construção do Modelo Colaborativo são descritos a seguir, sendo que as dinâmicas específicas sugeridas constam de Curitiba (2003):
1.º Passo - Reunir as pessoas
• além do público-alvo (comunidade atingida), identificar as pessoas-chave, que têm representatividade e acesso aos recursos e às lideranças;
• fazer contatos deixando claros os objetivos do trabalho;
• elaborar convite contendo o local, o dia, o horário, a duração e a pauta da reunião;
• cuidar da infra-estrutura (local, alimentação, transporte, atendimento às crianças) e preparar os equipamentos e os materiais com antecedência;
• realizar reunião, preferencialmente, em local na própria comunidade;
• preparar uma recepção acolhedora, com dinâmicas que propiciem a integração dos participantes (sugere- se: 'A tempestade' e 'Agarre o par') ;
• realizar reunião dinâmica, na qual as pessoas se sintam a vontade;
• estabelecer um grupo de coordenação que auxilie os trabalhos, identificar pontos falhos e envolver as pessoas;
• escolher um facilitador para coordenar o grupo - alguém com capacidade de valorizar as pessoas e as instituições envolvidas;
• usar ferramentas adequadas a cada tipo de reunião;
• antes de encerrar a reunião, devem ser revistas as decisões, definidas as tarefas e marcada a próxima reunião;
• um relator deve fazer o relatório da reunião anotando as decisões, os responsáveis e os prazos.
2.º Passo - Confirmar a visão: essa etapa é de compartilhamento dos sonhos, ou seja, das visões que cada um tem para melhorar a comunidade, definindo-se, assim, um sono comum. Pode ser utilizada a dinâmica 'Sonho', descrita a seguir:
• criando um clima propício ao relaxamento, o facilitador convida a todos para uma breve reflexão sobre o sonho e as aspirações que têm para o futuro. Fala da idealização da comunidade, incluindo o que as pessoas querem para si e para todos, projetando sua concretização para um determinado tempo;
• os participantes são divididos em grupos e convidados a construir maquetes, desenhos e colagens representando o sonho do grupo;
• em conjunto, são convidados a identificar pontos comuns em suas idealizações e visão de futuro;
• na seqüência, são convidados a construir indicadores de sucesso que nortearão as ações para os resultados desejados.
3.º Passo - Conquistar a confiança: ao longo do trabalho, as pessoas se reunirão para discutir e planejar ações. Mas, durante todo o tempo, devem ser pensadas ações específicas para unir o grupo num ambiente de confiança, tais como reuniões sociais, celebrações e dinâmicas de grupo (sugere-se a dinâmica denominada 'Pêndulo').
4.º Passo - Apoiar os integrantes: apoio não é uma atitude individual e momentânea. Para isso, deve traduzir-se num comportamento do grupo e ser assumido como princípio norteador. Muitas vezes, o desânimo e o estresse não vêm do trabalho árduo, mas da falta de reconhecimento e de motivação. É importante, durante o processo:
• realizar trabalhos em grupo, respeitando o potencial de cada um; • celebrar sucessos, comemorar conquistas;
• realizar dinâmicas (sugere-se a dinâmica denominada 'Jornada às cegas');
• cuidar da infra-estrutura, como transporte (recursos para os que necessitam), tempo (reuniões em horários adequados) e alimentação (um lanche promove a confraternização).
5.º Passo - Solucionar conflitos: quando o conflito se instala é importante percebê-lo de imediato e solucioná-lo. Sugere-se a dinâmica 'Lista de Valores'.
6.º Passo - Organizar a colaboração: identificar os colaboradores, seus papéis e recursos disponíveis, por meio das seguintes perguntas:
• qual o papel de cada um no grupo? • que estrutura o grupo vai adotar?
• quais recursos temos para executar o trabalho?
• qual estilo de tomada de decisão será usado nas diversas situações? - por consenso
- por votação (democrático) - por consulta
- por delegação
Nesse caso, sugere-se a dinâmica 'Montar um quebra-cabeça'.
7.º Passo - Criar um Plano de Ação: o Plano de Ação é a missão, é o que precisa ser feito para o sonho comum se realizar. Nele devem estar claros os resultados que se deseja alcançar em cada etapa:
• definir prioridades: mapear potencialidades, recursos e habilidade, possibilitando priorizar as ações e os projetos a serem desenvolvidos;
• dividir responsabilidades: com mais pessoas se envolvendo, os trabalhos são agilizados e as lideranças não ficam sobrecarregadas;
• prazo para cada ação: definição de prazo evita que o processo se torne algo interminável; • flexibilidade: é necessário que o plano permita mudanças sem que se perca o foco da visão
definida pela comunidade;
• resultados esperados: a definição de indicadores que permitam mensurar os resultados alcançados é importante para a avaliação do processo e fundamental para a motivação dos participantes.
Nesse passo, sugere-se a dinâmica 'Construção do Relógio'.
8.º Passo - Avaliação Participativa: para uma boa avaliação é importante: • definir o trabalho a ser realizado, com objetivos claros e mensuráveis;
• construir indicadores quantitativos (medidas de quantidades) e qualitativos (julgamento e percepção das pessoas);
• coletar informações por meio de questionários, de entrevistas, de telefone;
• analisar e interpretar as informações recebidas, procurando identificar o que foi aprendido e o que precisa ser corrigido;
• compartilhar os resultados.
Pode-se refletir sobre as seguintes questões: - nós fizemos o que iríamos fazer?
- o que nós aprendemos com os acertos e os erros? - que diferença fez esse trabalho?
- o que poderíamos ter feito de maneira diferente?
- como podemos utilizar o que descobrimos por meio da avaliação?
Para esse último passo, sugere-se as dinâmicas 'Ponto de vista' e 'Elegendo indicadores'.