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1. Enquadramento Teórico

1.5. Métodos de ensino da leitura

Como tem vindo a ser reiterado, um dos passos mais importantes na vida escolar de um aluno é, sem dúvida, aprender a ler. No entanto, existem diversos métodos aplicados com o intuito de ajudar a juntar as letras e a reproduzir os sons.

Os professores têm a responsabilidade de escolher um ou mais métodos, para que esta aprendizagem seja consolidada, desenvolvendo nas crianças esta importante competência. Contudo, esta aprendizagem requer, dos alunos, alguns pré-requisitos linguísticos, cognitivos e até emocionais. As aprendizagens e vivências que um aluno traz, mesmo antes da entrada para o 1.º ano, são importantíssimas, pois determinam a aprendizagem da leitura, influenciando o sucesso da aquisição da mesma.

Neste sentido, é essencial que uma criança, disposta a aprender a ler, traga como ferramenta uma boa discriminação fonológica, aprendendo que um “a” ou um “e” não têm sempre o mesmo som. De acordo com a pesquisa realizada12, tendo como base a opinião de alguns

professores do 1.º CEB, o método mais utilizado para ensinar a ler é aquele que acompanha os manuais escolares, ou seja, o método sintético.

12 Informação alusiva aos métodos de ensino da leitura, consultado em:

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Os professores referem também que atualmente a existência do PNL (Plano Nacional de Leitura) desperta a curiosidade de ler, visto que a criança se habitua à presença das letras, cada vez mais cedo, em articulação entre a educação pré-escolar e 1.º CEB.

No que concerne aos diferentes métodos adotados para o ensino da leitura, Soares (2012) refere que o mais utilizado, no ensino inicial da leitura é o método mistos, uma vez que este é caraterizado por ser a combinação e a utilização conjunta dos métodos fónico e global. Passaremos, de seguida, a explicitar, de forma sucinta, as caraterísticas de cada um deles.

• Método Sintético (ou fónico) – este método, parte do pressuposto que o ensino da leitura

se inicia através dos modelos de leitura ascendentes. Nele é preconizado que a leitura começa pelo conhecimento das letras e pelos seus respetivos fonemas (sons) passando, posteriormente, para a aquisição das silabas, depois das palavras e, consequentemente, das frases, ou seja, parte das partes para o todo, do simples, para o complexo, tendo como ponto de partida as unidades da língua.

Seguindo esta linha de pensamento, Soares (2012) salienta a existência de determinadas variantes do método sintético: a alfabética, a fonémica e a silábica.

Na variante alfabética, o aluno é capaz de reconhecer a letra e atribuir-lhe as regras de sonorização da escrita. Aprende o abecedário, associa a letra a um símbolo, combina as

consoantes e vogais e repete sílabas sem significado (pa, pe, pi, po, pu). Depois de muitos exercícios deste tipo é que o aprendiz se confronta com a leitura (p.40).

Na variante fonémica, atribui-se destaque ao fonema e substituição da letra correta, insistindo na correspondência entre o oral e o escrito, o fonema e o grafema. Os procedimentos

metodológicos ligados a este método são considerados mecânicos (p.40).

Na variante silábica, é sugerida uma aprendizagem prévia das vogais, seguida de

consoantes labiais unidas a vogais de silabação direta (Sousa, 2000, cit. por Soares, 2012, p. 40). • Método Analítico (ou global) – este método parte do pressuposto que o ensino da leitura

se inicia através dos modelos de leitura descendentes. Nele é preconizado que o ensino da leitura começa por a aquisição de elementos mais complexos da língua, a palavra, a frase, o texto, até chegar à sílaba, letra, ou fonema, com base em análises sucessivas. Este método é, portanto, inverso ao método sintético.

Este método atribui mais relevância ao significado das palavras e menos importância ao ensino das letras que formam as palavras. A criança é vista como o principal agente ativo da sua própria aprendizagem, visto que deve descobrir, por si própria, e não ser uma recetora passiva de conteúdos estruturados pelo professor. Podemos observar a utilização deste método quando, por

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exemplo, o professor lê um texto, para que, seguidamente, os alunos o repitam, servindo de base para que no mesmo identifiquem e compreendam o significado das palavras que o constituem.

O método global, tal como o método fónico, apresenta limitações, apesar de se apoiarem em diferentes conceções do funcionamento psicológico e em diferentes teorias da aprendizagem, ambos dão prioridade a estratégias percetivas que entram em jogo no ato de leitura: a auditiva e a visual (Soares 2012, p.41).

Deste modo, os dois métodos são alvo de críticas, uma vez que ambos não têm em consideração uma importante competência essencial na aprendizagem da leitura, a competência linguística e as capacidades cognoscitivas, tal como é defendido por Borges (1998). Contudo, Harley et al (2001) consideram que na prática continuada da leitura, tendo como base a utilização deste método, a criança desenvolverá o vocabulário de palavras e passará a reconhecê-las de forma global. Na opinião de Viana & Teixeira (2002, p. 98) este método permite transformar a leitura num ato de compreensão, defendendo que, ler é tomar consciência do conteúdo de uma

mensagem, tomada de consciência esta que não passa pela decifração. A criança aprende a ler, lendo, como aprende a falar, falando.

Consideramos ainda pertinente referir que existem algumas variantes deste método, dependendo do ponto de partida: o método global de frases, o método global de palavras e o método global das vinte e oito palavras. Uma variante deste método é o método natural, desenvolvido por Freinet (1925, cit. por Soares 2012).

A par destes existe ainda o:

• Método Misto – Este método é utilizado, na maior parte das vezes, na aprendizagem da

leitura, visto que mistura os princípios preconizados pelos dois métodos descritos anteriormente. Este método engloba os processos de leitura ascendentes e descendentes, denominados de modelos interativos. Assim, podemos salientar que este é composto por fundamentos de diferentes métodos de ensino da leitura, seguindo passos diferentes de cada um deles.

Como elenca Soares (2012, p.42), o processo de ensino da leitura, com a utilização deste método, inicia com a apresentação global da palavra para a decompor em sílabas e letras. A segunda

parte da sílaba associada a vogais e consoantes, apresentadas a partir de palavras com sentido.

Este método atribui relevância a competências como a identificação dos grafemas e a compreensão dos mesmos, as quais devem ser desenvolvidas simultaneamente. A criança, desta forma, consegue também descobrir as letras, a partir da comparação com outras palavras.

Todavia, normalmente, para o ensino da leitura, não se utiliza apenas um método, de forma exclusiva, tendo o professor a liberdade de misturar métodos, consoante as necessidades dos alunos. Assim, apesar de existirem diversos métodos para ensinar a ler, os professores

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utilizam uma junção de variados métodos. Há professores13 que da palavra ensinam a letra, ou da

letra chegam à sílaba e depois à palavra, ou através das histórias conduzem à letra, entre outras metodologias. Consideram, portanto, que não existe um método rígido, visto que o mais importante não é o método utilizado, mas sim, a diversidade de estratégias utilizadas na aula de português.

Neste sentido, e após descrevermos, de forma resumida, cada um dos métodos de ensino da leitura, referimos também que mais importante que a escolha de um método eficaz é a existência de determinadas caraterísticas nos alunos iniciantes na leitura, como os seus conhecimentos prévios, as suas capacidades cognitivas, o desenvolvimento da linguagem, assim como também fatores motivacionais.

Na frase de João de Deus (s/d) em que é referido que ser homem é saber ler: e nada mais

importante, nada mais essencial que essa modesta e humilde coisa chamada primeiras letras, é percetível a importância atribuída a esta tarefa complexa, que é ensinar uma criança a ler.

Cabe ao professor dotar os alunos de ferramentas que o vão ajudar a decifrar, a compreender e interpretar, participando ativamente no mundo que os rodeia. Deste modo, tal como refere Araújo (2007), inicialmente, o ensino da leitura deveria ter como finalidade fulcral o exercício de mecanismo de descodificação das palavras escritas e, só posteriormente, deveria recair no treino da capacidade de compreensão da linguagem, quando a leitura já for satisfatoriamente fluente e, assim, permitir a sua compreensão.

Para se conseguir, com sucesso, ensinar uma criança a ler, o professor deverá possuir determinadas informações e ferramentas importantes que permitam uma consciente escolha, acerca dos suportes e ferramentas que utilizará em sala de aula, de modo a auxiliar o aluno a adquirir essa competência essencial, com êxito.

Ensinar uma criança a ler é uma tarefa e responsabilidade árdua e significativa e para a apreensão desta tão rica competência é essencial que a leitura seja contextualizada e integrada em atividades do quotidiano. Como refere Mata (2003, p. 23), deve ser um processo motivante e

relevante, para a criança. Portanto, não basta aprender a ler num ambiente repleto de diferentes utilizações funcionais da linguagem escrita, é necessário também envolver ativamente as crianças neste processo e atividades impulsionadoras dessa aprendizagem.

Como é reiterado por Sim-Sim (s/d, cit. por Teixeira & Viana, 2002, p.5), a complexidade

envolvida no processo de aprendizagem da leitura requer do aprendiz de leitor motivação, vontade, esforço e consciencialização do que está a ser aprendido e exige que o seu ensino se não limite à descodificação alfabética e se prolongue por todo o percurso escolar. A aprendizagem da leitura é uma tarefa para a vida inteira.

13 Informação alusiva aos métodos de ensino da leitura, consultado em:

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A aquisição desta importantíssima competência, é, indubitavelmente, essencial, não só para o contexto escolar, para a aprendizagem e retenção dos conhecimentos de todas as áreas curriculares, como também para o fomentar da autonomia e formação da criança como cidadão ativo. A escola tem, portanto, a função de fazer de cada criança um leitor fluente e crítico, capaz de adquirir informação e conhecimento, através da leitura e, deste modo, usufruir do prazer que a leitura é capaz de proporcionar.