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1.2. Programa Ética e Cidadania: construindo valores na escola e na sociedade

1.2.4. Módulo: Inclusão Social

O módulo quarto, Inclusão Social, pretende discutir as principais temáticas relacionadas à inclusão e à exclusão no ambiente escolar, com o propósito de desmistificar as representações sociais que menosprezam os indivíduos, por diversos motivos, como etnia, cultura e nível socioeconômico, bem como a construção de uma escola inclusiva, aberta e voltada aos interesses humanos. Uma comunidade escolar com essas características é um caminho para melhorar as condições de vida da população, a igualdade de oportunidades e a construção de valores socialmente desejáveis.

Para se pensar a temática, os elaboradores apresentam um artigo de Stainback (Origens do movimento de inclusão social), que afirma a ocorrência do processo de mudança no âmbito educacional ao dar oportunidade à inclusão social. Entretanto, há ainda certa desconsideração para com as necessidades específicas de cada aluno. A inclusão para a autora, portanto, é uma realidade que deve se firmar, a cada dia mais, com o auxílio de toda a comunidade. Stainback caracteriza a inclusão como um valor social – o qual abrange outros valores como respeito mútuo, compreensão e eqüidade – que pode modificar hábitos. Para promovê-los é necessário traçar alguns caminhos que vençam esse desafio, percurso possível se for coletivo e comprometido. Ademais, a autora enfatiza a educação da criança, pois é

durante sua formação que são adquiridos o entendimento das diferenças, o respeito mútuo, assim como outros valores. Ressalta que a melhoria da educação no que se refere à diversidade e eqüidade ocorreu e ocorrerá devido “a melhoria de oportunidades educacionais oferecida aos alunos e à disponibilidade de informações necessárias aos educadores” (STAINBACK, 2002, apud BRASIL, 2007, p. 15).

Concordamos com a autora e destacamos também que, além dessas informações, será necessário uma formação voltada para o tema e políticas públicas para a valorização do profissional da educação, afinal, um dos requisitos para a formação continuada é ter tempo e motivação para estudar e pesquisar.

No artigo, Ensinando a turma toda, Mantoan define o que entende por escola de qualidade: aquela que forma pessoas para uma “sociedade mais evoluída e humanitária” (no entanto, não explicita o que entende por essas características), não nega que o erro pode ensinar, aproxima os alunos entre si, proporciona o conhecimento do mundo e de outras pessoas. Além disso, essa escola tem as famílias como parceiras, age pautando-se na solidariedade, ensina os alunos considerando seus aspectos lógico, intuitivo, sensorial e afetivo, entre outras características (MANTOAN, 2002, apud, BRASIL, 2007, p. 22). Para a autora, é obrigação da escola “ensinar a turma toda sem exclusões e exceções” ressignificando, portanto, a organização dos processos de ensino-aprendizagem. Contudo, ao falar sobre a educação, diríamos, tradicional, a autora afirma:

Enquanto os professores do ensino escolar (especialmente os do nível fundamental) persistirem em:

• propor trabalhos coletivos, que nada mais são que atividades individuais realizadas ao mesmo tempo pela turma;

• ensinar com ênfase nos conteúdos programáticos da série;

• adotar o livro didático como ferramenta exclusiva de orientação dos programas de ensino;

• servir-se da folha mimeografada ou xerocada para que todos os alunos a preencham ao mesmo tempo, respondendo às mesmas perguntas, com as mesmas respostas;

• [...]

É assim que a exclusão alastra-se e perpetua-se (MANTOAN, 2002, apud BRASIL, 2007, p. 26-27).

O professor, dessa forma, é considerado culpado pela educação não formar sujeitos capazes de transformar a realidade.

Apesar de o texto fazer sugestões para que o professor melhore sua prática, ao culpá- lo, parece não considerar que o docente também foi educado de um modo tradicional e

somente uma formação continuada teórica não seria suficiente para mudar suas práticas metodológicas e seu comportamento como um todo.

Acreditamos que a formação inicial deve objetivar um profissional competente, nos termos em que defende Rios (2001): além da formação técnica, que engloba conteúdos e metodologias, o professor deve ter uma formação política e filosófica, ou seja, fazer seu trabalho com intencionalidade, responsabilidade e compromisso com a educação. Compromisso pressupõe escolha, adesão a uma maneira de agir e ao caminho a percorrer; fatores que conjugam a consciência, o saber e a vontade, aliados ao dever e ao poder. O poder é caracterizado por influenciar o comportamento dos outros (não no sentido de dominação, mas algo que conjuga possibilidades e limites) e o dever por influenciar suas próprias atitudes, estando intimamente ligado aos direitos. Ter competência é perceber que a docência não é uma atividade mágica, mas algo construído mediante a articulação da ética e da política, pois “não basta levar em conta o saber, mas é preciso querer. E não adianta saber e querer se não se tem percepção do dever e se não se tem o poder para acionar os mecanismos de transformação” da escola e da sociedade (RIOS, 2001, p. 57, grifos da autora).

Pensamos que a estrutura da escola, em sua totalidade, teria que mudar com ajuda da comunidade e de políticas públicas. O professor não irá preparar diferentes atividades para suas diversas turmas, normalmente com mais de trinta e cinco alunos, e, talvez, em diversas escolas. Ele não terá tempo nem disposição para ler, pesquisar e propor diferentes atividades. Enfim, destacamos que há uma contradição em ressaltar listas de práticas docentes que impedem a educação inclusiva e lista de práticas escolares que a privilegiam;11 pois, apesar de serem âmbitos que se mesclam e se sobrepõem, são diferentes, visto que o âmbito escolar é mais amplo e considera, inclusive, a participação discente nesse processo.

Mantoan, apesar de criticar a educação tradicional por visar à formação da criança para o futuro e se afastar do presente, afirma:

recriar o modelo educativo refere-se primeiramente ao quê ensinamos aos nossos alunos e ao como ensinamos para que eles cresçam e desenvolvam-se sendo seres éticos, justos e revolucionários, pessoas que têm de reverter uma situação que não conseguimos resolver inteiramente: mudar o mundo e

11 “ [...]

• rompimento das fronteiras entre as disciplinas curriculares;

• formação de redes de conhecimento e significações, em contraposição a currículos conteudistas, a verdades prontas e acabadas, listadas em programas seriados;

• integração de saberes decorrente da transversalidade curricular e oposta ao consumo passivo de informação e de conhecimentos sem sentido;

• policompreensões da realidade;

torná-lo mais humano. Recriar esse modelo relaciona-se ao que entendemos como qualidade de ensino (MANTOAN, 2002, apud BRASIL, 2007, p. 22, grifo nosso).

Percebemos que, de acordo com uma visão muito difundida, a autora responsabiliza as crianças em formação pela necessária transformação social – as escolas são consideradas “incubadoras do novo”. Essa responsabilidade não tem o sentido de autonomia para escolher e agir, mas um imperativo “tem de”. E a dúvida que temos é: vamos obrigá-los a fazer o que não conseguimos? Como torná-los revolucionários se não conseguimos ser?

O relato O desafio de uma experiência, de Santos, sobre a rede municipal de educação infantil de Santo André, adota outro ponto de vista em relação ao texto anterior, porque, ao considerar a inclusão como um valor social, ele amplia o âmbito de responsabilidade pela inclusão da escola para toda a sociedade. Além disso, mesmo na escola, não é um fator de responsabilidade única do docente, mas, antes de tudo, é uma questão política que abrange a parte administrativa, física, de formação docente e a participação de outros profissionais como psicólogos e agentes de saúde.

A formação dos professores, nessa política educacional, visou a romper com a idéia de que a aprendizagem somente ocorre em classes homogêneas. Para isso, teve o auxílio, dentre outros profissionais, de uma sociodramatista para lidar com possíveis bloqueios afetivos em relação à inclusão. Pela arte, foi possível perceber a angústia dos professores quanto à deficiência e não quanto ao deficiente em si. Tal aspecto mostrou a necessidade de desenvolver a sensibilidade para com a pessoa humana, visando à capacitar o professor a trabalhar com as diferenças.

No contexto dessa política inclusiva, a inclusão é entendida do mesmo modo que o resgate da educação de qualidade, assim como um direito de todos os cidadãos, sem preconceitos nem discriminação. Ademais, a inclusão também se refere à construção de mais creches, à alfabetização de adultos, à instalação de cursos profissionalizantes, à inserção de alunos especiais em classes regulares, ao acesso à cultura e à arte.

O objetivo dessa política educacional implantada em Santo André foi formar para o exercício da cidadania, caracterizado pelo reconhecimento dos direitos, pela responsabilidade, pela consciência crítica e pela igualdade de oportunidade, tanto nos estudos quanto no trabalho. A qualidade de ensino que ajudará essa formação tem como “referencial o aperfeiçoamento da condição humana” e a “construção de valores éticos, como respeito à vida, solidariedade e cooperação” visando à formação do sujeito.

Pelo relato, percebemos que a melhoria na qualidade da educação foi um desafio que mobilizou várias instâncias da comunidade. Mas será que eles teriam o mesmo sucesso num projeto que envolvesse alunos do ensino médio, por exemplo, aqueles que já estão moldados a um sistema conservador, ao invés de crianças de 0 a 6 anos? Talvez não, mas é uma iniciativa ampla e profunda que vale a pena ser expandida para outros níveis de ensino.

Neste módulo, a primeira atividade, referente ao texto Ensinando a turma toda, além de sua compreensão, visa à elaboração de exercícios autobiográficos12 sobre experiências escolares no âmbito profissional, para os docentes, e no estudantil, para os alunos. Não sugere, no entanto, que o professor resgate pela rememoração suas experiências como aluno, com a intenção de que se sinta novamente como é estar do outro lado da sala de aula. Acreditamos que esse processo ajudaria a refletir acerca de suas atitudes, palavras, valores, bem como sobre os sentimentos dos alunos.

Os exercícios sugerem também a reflexão e a proposição de alternativas concretas para, por meio de entrevistas, conhecer e lidar com as diferenças tanto da turma como da comunidade local. Na sala de aula recomendam o trabalho com a temática da discriminação e a participação dos alunos na construção da metodologia do professor: o que este poderia fazer para incluir outros conteúdos e para deixar suas aulas mais interessantes.

Por meio das atividades, observamos a importância conferida ao conhecimento da realidade concreta das escolas. Fator relevante para que os alunos não se isolem em um pequeno grupo ou família, configurando-se em uma ótima oportunidade para conhecer e valorizar o ser humano como é ou como deveria ser, nos casos em que não são tratados humanamente.

1.2.5. Considerações acerca do Programa Ética e Cidadania: construindo valores na