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O termo Drama Norte-rio-grandense, que caracterizamos como Macrogêne- ro, conforme a definição de Macrogênero de Martin (2012)31, como um ‗complexo de gêneros interdependentes‘ é utilizado para referir ao fenômeno no qual nosso estudo se foca.

31 Disponível em: http://www1.carleton.ca/slals/research/speaker-series-videos/. Acesso em: nov.

Exemplificando por nosso corpus, o fenômeno que tratamos constitui-se de versos curtos, cantados, encenados em palco, e os que coletamos são apresenta- dos exclusivamente por mulheres da terceira idade, em festas e eventos, no litoral do RN, tendo ocorrências também em grupos no interior do Estado. Relatam com humor temas variados da vida cotidiana das comunidades no qual se inserem. O espetáculo dos Dramas Norte-rio-grandenses em SGAV costuma se iniciar com tipos que elogiam a geografia e a demografia, como nos exemplares As praias, Mané Fi-

deli, Os cinco continentes, nos quais as riquezas da natureza e os residentes do lo-

cal constituem uma espécie de hino do lugar – seria a fase ‗cenário‘ no ‗estágio‘ de introdução –, seguidos por vários outros que retratam cenas sobre trabalho (a pesca, a roça, o trabalho doméstico), sedução (realizada e frustrada), namoro, casamento, com cada gênero servindo como uma fase dentro de estágios do macrogênero. Ou- tros, retratando conflitos sociais de uma maneira cômica, fazendo paródias, por exemplo, de personagens com vícios em bebida, comida ou sexo e diferenças entre comportamentos e valores rurais (Sertão) e urbanos (Natal), bem como os de trai- ções, reflexões de identidade local/estrangeira. Muitas das brincantes e muitos dos residentes desses lugares vieram da sub-região do Sertão para a Zona da Mata, pa- ra poder trabalhar na capital do Estado, Natal, embora as duas dirigentes principais dos dois lugares que investigamos relatem que suas famílias estão na Zona da Mata por gerações.

No caso das apresentações em Pium, às vezes dois Dramas Norte-rio- grandenses eram apresentados em intervalos num show varieté, com uma ou duas outras pessoas, ou com as brincantes em eventos no Centro Social Mário Medeiros com cinco ou mais, dependendo da proposta da festa e quem estivesse disponível para um determinado evento. Elaboramos esse conceito de maneira mais detalhada na seção 4.1.2.

Dessa maneira, estabelecemos o contexto sociocultural do fenômeno e a terminologia da pesquisa. Em seguida, no capítulo 2, apresentaremos o arcabouço teórico que parte dessa perspectiva, base da nossa análise do discurso, que por sua vez não se caracteriza como Análise Crítica de Discurso, apesar de investigar ques- tões de poder, e do nosso olhar crítico sobre determinadas atividades sociais. Dis- tingue-se pela diferença na abordagem investigativa, pois não nos propomos a se- guir o modelo de Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 60). Começamos com um pro-

blema, a ausência do registro do Drama Norte-rio-grandense, apesar da sua presen- ça comprovada em todo o Estado do RN e em outros ao redor. Portanto, central pa- ra nós é a caracterização desse gênero discursivo e a investigação dos papéis das mulheres. Ao considerar que a caracterização do gênero discursivo e o funciona- mento das negociações interpessoais, e concebendo que o discurso é uma realiza- ção da atividade social, o nosso mapeamento levaria melhor entender a função do Drama Norte-rio-grandense na vida das mulheres e nas comunidades nas quais se insere. O ponto central da nossa análise é a noção da realização entre atividade so- cial, discurso, e léxico-gramática. Por conseguinte, o papel da léxico-gramática se torna central à nossa análise de discurso; outra característica que se distingue da Análise Crítica do Discurso. Parafraseando Halliday (1985), uma análise do discurso que não se baseia na gramática não é uma análise, mas apenas comentários sobre o texto, pois são as estruturas léxico-gramaticais que se realizam no texto e permi- tem que o significado seja construído, transmitido e, consequentemente, interpretado (HALLIDAY, 1985, p. xvii).

Portanto, contemplamos a teoria da Análise Positiva do Discurso de Martin (2009), nas reflexões sobre o Drama Norte-rio-grandense como um possível discur- so de empoderamento da mulher dentro do texto e do contexto social.

CAPÍTULO 2

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo objetiva apresentar o arcabouço teórico que embasa esta pes- quisa e que orienta o percurso metodológico. Para atingirmos este objetivo, o capítu- lo está dividido em cinco seções.

Delineamos, na primeira seção, a concepção de linguagem a partir da pers- pectiva da LSF. Partimos do conceito da Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) se- gundo Halliday e Matthiessen (2004), a sua estrutura composicional, o modelo que embasa a noção de constituência e a hierarquia dessa ordem no modelo de escalas de nivelamento, com cada item representando um nível na escala (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 5) e o modelo da língua na sua estratificação – semântico- discursiva, léxico-gramatical, grafofonológica – seguido pelo conceito de instancia- ção.

Ao considerar Gênero e Registro como estratos da língua, respectivamente da cultura e da situação, a segunda seção parte da concepção de Gênero e de Re- gistro pela perspectiva da LSF na sua elaboração por Martin e Rose (2008), a qual propõe agrupamentos de Gêneros em Macrogêneros e Microgêneros dentro de Fa- mílias. Esses agrupamentos são formados pela identificação de padrões de estágios e fases e recursos semântico-discursivos recorrentes no desdobramento dos textos fornecendo uma estrutura esquemática, ou a sua Estrutura Potencial do Gênero (EPG) (Hasan, 1989, 1996). Na estratificação da língua, também examinamos as três variáveis do Registro: Campo, Relações e Modo. Como objetivamos investigar negociações interpessoais, apresentamos a descrição mais detalhada da variável Relações, que nos permite analisar a maneira como poder e solidariedade se confi- guram no discurso.

Em seguida, apresentamos a concepção dos sistemas discursivos, focando naqueles que utilizamos para a análise do nosso corpus: os sistemas de Avaliativi- dade e de Negociação (MARTIN; ROSE, 2007; MARTIN; WHITE, 2005). É por meio desses sistemas que podemos identificar as atitudes das mulheres no discurso, que

é de autoria anônima, ou seja, de domínio público, pelas marcas linguísticas que expressam emoções, avaliam comportamentos e dão valor às coisas em vários graus de intensificação, por meio de suas vozes ou das vozes dos outros, bem como mapear a negociação das trocas de fala que revela como os falantes se posicionam em relação aos outros no discurso. Essa análise nos permite observar quem ocupa um espaço maior ou menor no discurso, quem exerce mais poder e de que tipo no discurso e a maneira como os papéis são negociados.