• Nenhum resultado encontrado

Magnitude do problema

No documento INFEÇÕES ASSOCIADAS A CUIDADOS DE SAÚDE (páginas 38-40)

7. O MRSA COMO CASO DE ESTUDO

7.1. Magnitude do problema

A IACS transmitida pelo Staphylococcus aureus resistente à me- ticilina, mais conhecido pela sua designação em língua inglesa de Methicillin-resistant Staphilococus aureus (MRSA) é um dos pro- blemas mais preocupantes de saúde pública associados à IACS em Portugal.

O Staphylococcus é um constituinte da flora normal e também um importante patogénico humano. A característica isolada mais importante para classificar o género Staphylococcus é determi- nada pela prova da coagulase, que avalia a capacidade de pro- dução da enzima. As bactérias que produzem a coagulase são capazes de promover uma reação de coagulação, aglutinando o plasma humano73. O S. aureus é coagulase-positivo e a incidência

deste microrganismo é elevada em casos de infeção hospitalar. O S. aureus é o agente patogénico mais importante do género Staphylococcus. Está amplamente distribuído na natureza e faz parte da microbiota normal da pele e mucosa de uma grande parte dos mamíferos. O S. aureus está frequentemente associado a infeções humanas, tanto de origem comunitária como hospi- talar, podendo ser encontrado no ambiente externo, nariz, pele, axila ou períneo em 20 a 40% dos adultos saudáveis.

Em 1961 foi documentado o primeiro caso de MRSA. A partir de 1975 tornou-se um problema nos EUA, com aumento do núme-

ro de surtos em várias instituições e a partir de então tornou-se um problema clínico, epidemiológico e de saúde pública a nível mundial. Na década de 1980 passou a ser considerado uma causa comum de infeção, sendo implicado como um patogénico fre- quente em infeções hospitalares. Desde então verifica-se um grande aumento do número de IACS causadas por MRSA74.

O estudo de base populacional efetuado por  Klevens et al75 desenhado para estudar infeções invasivas por MRSA nos EUA

detetou uma incidência de 31,8 infeções por 100.000 pessoas-ano. Nesse estudo identificou-se que a parte mais significativa das infeções estudadas provinha da comunidade (53,3%) sendo apenas 26,6% adquiridas no hospital. As taxas de incidência foram maiores entre doentes com mais de 65 anos (127 infeções por 100.000). Este estudo demonstra que a infeção por MRSA é um importante problema de saúde pública que afeta predominantemente populações mais fragilizadas e que não se encontra disseminada tanto em ambiente hospitalar como na comunidade.

Em Portugal, as espécies MRSA foram encontradas pela primeira vez entre 1992 e 1997 num hospital pediátrico de Lisboa, apre- sentando um padrão de resistência para antibióticos betalactâ- micos, algumas com carácter multirresistente76.

77. Miller LG, Diep BA. Clinical practice: colonization, fomites, and virulence: rethinking the pathogenesis of community-associated methicillin- resistant Staphylococcus aureus infection. Clin Infect Dis Off Publ Infect Dis Soc Am. 1 de Março de 2008;46(5):752–60.

78. Calfee DP, Salgado CD, Classen D, Arias KM, Podgorny K, Anderson DJ, et al. Strategies to prevent transmission of methicillin-resistant Staphylococcus aureus in acute care hospitals. Infect Control Hosp Epidemiol. Outubro de 2008;29 Suppl 1:S62–80.

79. Miller et al, op.cit. 80. Calfee et al. op.cit.

81. Widmer AF, Lakatos B, Frei R. Strict infection control leads to low incidence of methicillin-resistant Staphylococcus aureus bloodstream infection over 20 years. Infect Control Hosp Epidemiol. Junho de 2015;36(6):702–9.

82. Kotilainen et al, op.cit.

83. Afif W, Huor P, Brassard P, Loo VG. Compliance with methicillin-resistant Staphylococcus aureus precautions in a teaching hospital. Am J Infect Control. Novembro de 2002;30(7):430–3.

84. Kallen AJ, Mu Y, Bulens S, Reingold A, Petit S, Gershman K, et al. Health care-associated invasive MRSA infections, 2005-2008. JAMA. 11 de Agosto de 2010;304(6):641

só uma preocupação no contexto hospitalar. Pela elevada rotati- vidade de doentes entre hospital e comunidade, o MRSA passou a estar presente no contexto comunitário. A má utilização de an- timicrobianos, tanto em humanos como em explorações animais, levou a que este também fosse um problema a que os humanos podem estar expostos pelo contacto com gado.

Nos fatores de transmissão desta infeção incluem-se as alterações das defesas do hospedeiro, a colonização pelo agente77 e o contac-

to com meio hospitalar, em relação ao qual se destaca o prolonga- do tempo de internamento hospitalar, a exposição a antibioterapia de largo espectro e a utilização de dispositivos médicos invasivos78.

Hoje atribui-se, cada vez mais, uma importância crescente à pa- togénese do S. aureus para otimização das estratégias de pre-

venção79. O sucesso do controlo da infeção por MRSA tem variado

substancialmente de acordo com as estratégias aplicadas80. Al-

guns países europeus conseguiram manter baixa a prevalência desta infeção usando metodologias de rastreio e precauções de contacto, com ou sem descolonização (Holanda, França, Finlân- dia)81 82. Em outros, apesar das tentativas de controlo, verificou-

-se uma progressão nas taxas de infeção (Alemanha, Canadá)83.

Nos EUA, um dos países com maior taxa de incidência de infeção por esta bactéria, começou a verificar-se uma tendência decres- cente em relação à incidência84. Num estudo realizado pelo ECDC

cujos resultados foram publicados no Anual Epidemiological Report 2014, sete dos 29 países apresentavam percentagem de isolamentos de MRSA superior a 25%, sendo que Portugal se en- contrava entre esses países, com uma percentagem de isolados invasivos de MRSA de 53.8%, no ano de 2012.

85. Huskins WC, O’Grady NP, Samore M, Wallace D, Goldmann DA, Pappas PG. Design and methodology of the Strategies to Reduce Transmission of Antimicrobial Resistant Bacteria in Intensive Care Units (STAR-ICU) trial. Infect Control Hosp Epidemiol. Fevereiro de 2007;28(2):245–6; author reply 246–8.

86. Muto CA, Jernigan JA, Ostrowsky BE, Richet HM, Jarvis WR, Boyce JM, et al. SHEA guideline for preventing nosocomial transmission of multidrug- resistant strains of Staphylococcus aureus and enterococcus. Infect Control Hosp Epidemiol. Maio de 2003;24(5):362–86.

87. Lacey S, Flaxman D, Scales J, Wilson A. The usefulness of masks in preventing transient carriage of epidemic methicillin-resistant Staphylococcus aureus by healthcare workers. J Hosp Infect. Agosto de 2001;48(4):308–11.

No documento INFEÇÕES ASSOCIADAS A CUIDADOS DE SAÚDE (páginas 38-40)