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SAÚDE ANIMAL, AMBIENTE E AGRICULTURA

No documento INFEÇÕES ASSOCIADAS A CUIDADOS DE SAÚDE (páginas 30-34)

O uso de antibióticos na saúde animal, assim como na saúde humana, é vital no combate às infeções. Mas o seu uso exces- sivo e inapropriado causa graves problemas. Como na saúde humana, verifica-se na saúde animal uma correlação entre o aumento de uso de antibióticos e o aumento de resistências. O aumento de exposição de bactérias a antibióticos naturalmen- te desenvolve mais resistências. Apesar do papel essencial dos antibióticos no combate às infeções animais, verifica-se que a sua utilização, na maioria dos casos, não é terapêutica. Quan- tidades significativas estão a ser utilizadas, especialmente na agricultura intensiva, de forma profilática em animais saudáveis para prevenção de infeções, administradas com produtos que promovam o rápido crescimento.

Uma extensa revisão da literatura realizada em 201557 demons-

tra que a maioria dos estudos evidencia uma clara associação entre o consumo de antibióticos nos animais e as resistências em humanos. O risco associado à utilização massiva de antibió- ticos tem 3 vertentes: (i) o risco de as estirpes resistentes serem transmitidas diretamente dos animais para os humanos, (ii) a transmissão aos humanos através da cadeia alimentar e (iii) a transmissão indireta através de excrementos de animais. Estes

últimos podem ser veículo de bactérias resistentes ou antibió- ticos consumidos. Trata-se de uma importante fonte de conta- minação do ambiente, que posteriormente poderá potenciar o aparecimento de novas resistências.

A produção de antimicrobianos é também uma fonte de conta- minação do ambiente. Desperdícios não tratados, largados em cursos de água, criam locais com concentrações elevadas de antibióticos, levando inevitavelmente à emergência de bacté- rias resistentes.

O tipo de antibiótico utilizado é também para ter em conside- ração na prevenção de novas resistências. Atualmente na agri- cultura são utilizados com frequência antibióticos de última geração. Caso as bactérias resistentes a tais antibióticos sejam transmitidas a humanos não será possível combater a infeção no futuro.

A situação é crítica, mas evitável, se forem adotadas medidas corretas de prevenção da emergência de bactérias resistentes. Felizmente o assunto tem merecido alguma atenção de investi- gadores, decisores e políticos.

58. World Health Organization. Global Action Plan on Antimicrobial Resistance. WHO: 2015.

CAIXA Nº 6: O CONCEITO “UMA SAÚDE”

O conceito “Uma Saúde” nasceu em 2004. Em 2008 foi desenhada uma estratégica colaborativa para a redução dos riscos das doenças infeciosas na interface humano-animal-ecossistema. No mesmo ano, a UE apoiou esta iniciativa e integrou-a em vários documentos estratégicos. O seu objetivo final é melhorar a saúde e bem-estar através da prevenção dos riscos e a mitigação dos efeitos das crises. A abordagem foi formalmente apoiada pela União Europeia, várias instituições do governo dos EUA, CDC, Banco Mundial, OMS, Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e Nações Unidas.

O Plano de Ação Global da OMS foi apresentado em Maio de 2015 na Assembleia Mundial da Saúde e tem, entre outros, o objetivo de combater a resistência antimicrobiana, de forma a assegurar a continuidade do sucesso do tratamento e prevenção de doenças infeciosas com medicamentos eficazes e seguros, utilizados de forma responsável e acessível a todos os que deles precisam58. Estas finalidades serão atingidas através de cinco objetivos estratégicos: (i) melhorar

a sensibilização e compreensão da resistência antimicrobiana, (ii) reforçar o conhecimento por meio da vigilância e da investigação, (iii) reduzir a incidência de infeções, (iv) otimizar o uso de antimicrobianos e (v) desenvolver o investimento sustentável em novos medicamentos, diagnóstico, vacinas e outras intervenções. A UE pretende ter um papel determinante na implementação do Plano de Ação Global, da OMS, sobre multirresistência antimicrobiana.

A abordagem “Uma Saúde” é o reconhecimento de que a saúde dos humanos, animais e seus ecossistemas estão interligados. Envolve a aplicação de uma abordagem coordenada, colabo- rativa e multidisciplinar para responder a reais ou potenciais riscos originados pela relação entre os três atores do sistema: humanos, animais e ambiente. Admite que apenas uma abor- dagem que reconheça que esta interligação e interdependência poderá ter sucesso no combate às resistências aos antimicro- bianos. Atualmente encontra-se em fase de conclusão o plano

de ação, iniciado em 2011, que se estende a vários setores rela- cionados com a multirresistência a antibióticos: saúde pública, saúde animal, segurança alimentar, biossegurança, produção, transportes, I&D e cooperação internacional. Os seus objetivos consistem em reforçar a prevenção das infeções e o controlo da multirresistência a antibióticos, envolver os diferentes atores, aumentar a vigilância, fomentar a utilização mais prudente dos antibióticos e encontrar novas alternativas para o tratamento das infeções.

5.2. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL.

SAÚDE HUMANA E ANIMAL,

59. https://ec.europa.eu/commission/2014-2019/andriukaitis/announcements/ministerial-conference-antimicrobial-resistance-amr- amsterdam-netherlands-10-february-2016_en

60. http://english.eu2016.nl/documents/publications/2016/03/10/conclusions-and-findings-as-presented-during-the-eu-ministerial-one- health-conference-on-amr-on-the-10th-of-february-2016-amsterdam-copy

61. Review on Antimicrobial Resistance. Antimicrobials in agriculture and the environment: reducing unnecessary use and waste. London: Review on Antimicrobial Resistance; 2015.

CAIXA Nº 7:

SAÚDE HUMANA E ANIMAL,

PROBLEMAS SEMELHANTES

O relatório da AMR Review, instituição independente que trabalha na área da resistência aos antimicrobianos no Reino Unido sugere, em dezembro de 2015, três grandes medidas globais61: (i) Um objetivo global que permita a

redução significativa do uso de antibióticos na agricultura e a restrição de utilização de antibióticos importantes para os humanos. Para tal é necessário um melhor controlo de infeções, melhorias nas condições de vida dos animais, maior utilização de vacinas e utilização de metodologias de diagnóstico que permitam uma prescrição veterinária mais adequada. (ii) O desenvolvimento de normas que permitam reduzir ou eliminar o lançamento no ambiente de desperdícios associados à fabricação de antimicrobianos. (iii) A melhoria na monitorização dos problemas associados à agricultura e resistências aos antibióticos e do progresso dos objetivos definidos.

O comissário europeu Vytenis Andriukaitis revelou na conferência realizada em fevereiro de 2016 sobre resistência a antimicrobianos, no contexto da presidência holandesa da UE, alguns resultados preliminares deste plano de ação59. O plano ajudou a mitigar o risco

de propagação de multirresistências através do reforço da moni- torização e vigilância nos Estados-membros e das políticas nacio- nais implementadas. No setor animal, as conclusões preliminares indicam que o plano contribuiu para uma implementação mais alargadas das melhores práticas e a utilização mais prudente dos

antibióticos. No que respeita a I&D, os resultados indicam que os esforços realizados permitiram aumentar a coordenação e eficiên- cia neste setor. Foi reconhecida a importância de banir a utilização preventiva de antibióticos em animais e recomendado que cada país promovesse a investigação de novas moléculas, de tratamen- tos alternativos e de novas metodologias de diagnóstico. Foi ainda recomendado que novos modelos de negócio venham a gerar o desenvolvimento de novos antibióticos, através da dissociação dos custos de desenvolvimento do volume de vendas60.

O trabalho realizado pelas instituições internacionais tem sido meritório e revela grande esforço no sentido de manter os antibi- óticos como uma forma viável de tratamento das infeções. Existe um consenso global, um trabalho coordenado e uma perspetiva holística relativamente à resistência aos antimicrobianos. Apenas a ação concertada entre a saúde humana, animal e ambiental po- derá produzir resultados a longo prazo.

FOI RECOMENDADO QUE CADA PAÍS

PROMOVESSE A INVESTIGAÇÃO DE NOVAS

MOLÉCULAS, DE TRATAMENTOS ALTERNATIVOS

E DE NOVAS METODOLOGIAS DE DIAGNÓSTICO.

No documento INFEÇÕES ASSOCIADAS A CUIDADOS DE SAÚDE (páginas 30-34)