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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 Marco teórico-conceitual

O caminho mais básico de caracterização de estudos qualitativos é referi-los a objetos que possibilitem respostas a questões sobre o que, como e o por que de um fenômeno (GREEN; THOROGOOD, 2009). A pesquisa possibilita construir uma reflexão crítica sobre uma determinada realidade que se deseja conhecer para gerar produtos, tidos por Deslandes e Gomes (2004) sempre como aproximações sucessivas e provisórias dessa mesma realidade. Este estudo segue uma abordagem qualitativa de compreensão dos significados dos fenômenos e dos processos sociais complexos (MARTINEZ-SALGADO, 2012), cuja marca é eminentemente compreensiva, pois

Está relacionada aos significados que as pessoas atribuem as suas experiências do mundo social e à maneira como as pessoas compreendem este mundo. Tenta, portanto, interpretar os fenômenos sociais (interações, comportamentos etc.) em termos dos sentidos que as pessoas lhes atribuem; em função disso, é comumente referida como pesquisa interpretativa. (POPE; MAYS, 2009, p. 14, grifo no original)

Em Minayo (2002), a pesquisa é um processo intenso e complexo que envolve teoria, método e operacionalização, além do reconhecimento da imbricação do pesquisador no mundo e uma certa dose de criatividade. Interessado na análise em profundidade das relações e vivências, o enfoque qualitativo em pesquisa se caracteriza por ter como ponto comum a centralidade na compreensão dos significados das ações sociais: “Las ciencias comprensivas están fundadas em el nexo entre experiência, vivencia y compreensión.” (MINAYO, 2010, p. 254).

Para compreender a ação humana, esse tipo de investigação considera possível traduzir analiticamente os significados singulares próprios dessas ações, tais como crenças e valores, reconhecendo, porém, que “por mais cuidadosa que seja [a interpretação qualitativa] e realmente voltada para a construção de um conhecimento que possua validade, nunca incluirá tudo que é expresso (e escondido) nas falas e nas práticas.” (DESLANDES; GOMES, 2004, p. 109).

São múltiplas as perspectivas desse enfoque, cuja intenção maior é dar conta do modo como se percebe e se interpreta o mundo (BOSI; MERCADO, 2004). Em nossa pesquisa, o delineamento compreensivo é dado pela perspectiva crítico-interpretativa. Nesta tradição a busca é pelo desvelamento do “sentido das experiências humanas, reconhecendo, contudo, que o sofrimento, a dor, a angústia e qualquer processo de significação são também

produto e manifestação das condições objetivas e estruturais em que vivem os coletivos humanos.” (BOSI; MERCADO, 2004, p. 59, grifo no original).

Alinhada ainda aos contornos da perspectiva de avaliação qualitativa, este estudo busca a apreensão dos sentidos dos fenômenos no espaço da intersubjetividade, qual seja o “espaço do encontro entre a subjetividade que se inscreve na vivência dos informantes e na vivência do próprio pesquisador, através das compreensões e interpretações compartilhadas.” (UCHIMURA; BOSI, 2004, p. 94). Considerar essa aproximação implica o privilégio da produção subjetiva que permeia as práticas em saúde experienciada nos programas e serviços, o que nos leva a privilegiar a dimensão subjetiva da qualidade a partir da compreensão das experiências vividas dos trabalhadores das atividades de práticas de cuidado.

A ênfase é na experiência, termo que em Gadamer (1997) tem relação com uma forma de entendimento, uma abertura, dizendo melhor, com a qualidade de abrir-se para novas possibilidades, deixando valer a própria tradição na forma em que ela, a tradição, tem algo a dizer – experiência como abertura pode implicar o sentido de ex-posição, disponibilidade e passividade (BONDIA, 2002). É a partir da experiência e dos estados

intencionais do sujeito, imersos na cultura, que se dão o desenvolvimento dos processos de interpretação da vida cotidiana e, por conseguinte, a construção do significado da existência do próprio homem (GIORGI; SOUSA, 2010).

Por ser constitutiva da existência humana, a experiência, para Minayo (2012), alimenta a reflexão e se expressa na linguagem, não podendo ser confundida com vivência, entendida como produto da reflexão pessoal sobre a experiência: “A vivência possui uma acentuada imediaticidade, que se subtrai a todas as opiniões sobre seu significado.” (GADAMER, 1997, p. 126). É somente a própria pessoa que tem a dimensão de seu vivido (AMATUZZI, 2001a), o qual não se esgota em uma determinada compreensão:

Embora a experiência possa ser a mesma para vários indivíduos (irmãos numa mesma família, pessoas que presenciam um fato, por exemplo) a vivência de cada um sobre o mesmo episódio é única e depende de sua personalidade, de sua biografia e de sua participação na história. Embora pessoal, toda vivência tem como suporte os ingredientes do coletivo em que o sujeito vive e as condições em que ela ocorre. (MINAYO, 2012, p. 622, grifo nosso)

Diante do nosso entendimento da experiência como possibilidade de vivência, a preocupação neste estudo é com a compreensão da experiência imediata da dimensão

éticopolítica do cuidado a partir da singularidade dos trabalhadores que atuam nas denominadas atividades de cuidado do Movimento – o que implica também uma compreensão da vivência desses atores. Tais práticas, e seus respectivos horários, constam no mapa exposto no Anexo A obtido na última fase de investigação no campo.

Sabendo não haver uma só realidade que possa ser totalmente compreendida, mas múltiplas realidades com diversas atribuições de significado, a pesquisa qualitativa se caracteriza pela sucessão não linear das etapas de investigação, as quais podem ocorrer em espiral, demarcando um modelo de maior flexibilidade e de mútua implicação:

modelo circular (em espiral), coerente com uma concepção dialética de processo de investigação ou de construção do conhecimento, no qual as etapas não necessariamente se seguem ao pé da letra exigindo, permanentemente, uma postura flexível tanto no processo em seu conjunto como na sequência de passos a seguir. (BOSI; MERCADO, 2004, p. 50)

Consideramos importante esclarecer ser este estudo um reflexo da marca em espiral do referencial qualitativo, pois nossas inserções e explorações no e do campo ocorreram tanto antes da demarcação do nosso objeto, quanto durante e após sua própria reconfiguração. Inclusive, essa marca foi facilitadora da revisão e consequente produção do objeto aqui desvelado.

Diante dos diferentes desenhos metodológicos de investigação qualitativa, a opção foi pelo estudo de caso, com base em uma perspectiva crítico-interpretativa que tem uma conjunção com o método fenomenológico – a ser mais explicitado ainda neste tópico.

Sobre estudo de caso, caracteriza-se como um desenho de pesquisa interessado em aprofundar exaustivamente um ou poucos objetos para permitir o seu conhecimento detalhado (GIL, 2008). Surge do desejo de compreender fenômenos sociais complexos que permita preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real investigada, o que lhe confere um estatuto compreensivo e explicativo (YIN, 2005) – aqui diríamos compreensivo no sentido interpretativo, que vai além da mera explicação.

Enquanto estratégia de pesquisa é indicada para investigar um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre fenômeno e contexto não estão claramente definidos; e para possibilitar uma abrangente construção de conhecimentos a partir da singularidade de um caso (YIN, 2005). A expressão

estudo de caso surgiu no âmbito das pesquisas médica e psicológica, nas quais cada estudo é considerado uma aproximação em última instância da realidade do caso:

Assim, quando tentamos minimamente compreender o que estamos focalizando em nosso estudo, na realidade lidamos com as principais marcas identitárias do nosso caso, caracterizando-as, estabelecendo relações entre elas, identificando modelos que as estruturam e as suas relações com seu contexto. (DESLANDES; GOMES, 2004, p. 106)

Na investigação aqui apresentada, a busca é por uma aproximação qualitativa da realidade de um dispositivo comunitário no âmbito da saúde mental, que se constitui como

caso enquanto experiência singular de interface com a rede de saúde mental da capital cearense, embora não esteja formalmente nela inserido.

Através de uma investigação em profundidade da questão éticopolítica do cuidado, não temos a intenção de generalizar conceitos ou esgotar o tema, nem dar conta de conhecer o dispositivo em sua totalidade. Nosso propósito é tão somente olhar o Movimento para tentar apreender alguns aspectos da experiência de cuidado sem reduzir, como alerta Minayo (2002), haja vista ser elemento fundamental de qualquer estudo qualitativo compreensivo e interpretativo, como este, o caráter provisório e incompleto de seus achados.

Enquanto estudo compreensivo, a fundamentação epistemológica foi dada pela hermenêutica gadameriana, cujo pressuposto básico é entender que em toda compreensão há sempre a possibilidade de interpretação, o que embasa a perspectiva crítico-interpretativa

desta pesquisa. Para Gadamer (1997), sua hermenêutica está assentada metodicamente em solo fenomenológico; e a fenomenologia, a partir de uma leitura heideggeriana, tem o sentido de deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se revela, sendo por isso considerada “hermenêutica no sentido originário da palavra em que se designa o oficio de interpretar.” (HEIDEGGER, 1989, p. 68, grifo no original). Portanto, cabe reconhecer que nosso estudo é hermenêutico assentado em solo fenomenológico.

Ao propor o retorno às origens, a fenomenologia demarca um método de conhecimento do mundo e da consciência dita intencional e um meio de busca da verdade, orientando-se exclusivamente pela evidência manifestada, a qual é a presença livre o máximo possível de quaisquer pré-conceitos (AMATUZZI, 1996).

A fenomenologia, desde seu inicio com as ideias husserlianas, e conforme já venho estudando desde o mestrado acadêmico, teve como intuito maior pôr em questão o já dito para realizar o exercício da suspensão de a priori – sem perder de vista jamais a

impossibilidade de uma redução total. Assentar este estudo nesse solo autoriza-nos a interrogar os pré-conceitos, no sentido de conceitos prévios ou já estabelecidos – sejam os dos trabalhadores das práticas de cuidado do dispositivo, sejam os nossos ou os encontrados na literatura pesquisada – das condições de possibilidade do que aqui compreendemos como o cuidado em um modo éticopolítico. Ressaltamos ainda que a delimitação neste estudo da fenomenologia é por sua relação de implicação e não de aplicação.

O objeto de um estudo fenomenológico é de natureza subjetiva – o vivido ou a experiência imediata de ordem pré-reflexiva – que leva em consideração a subjetividade do pesquisador (AMATUZZI, 1996) e impõe reflexividade – princípio orientador da pesquisa que envolve uma capacidade de autocrítica e de atenção constantes às contradições da relação entre o pesquisador, sujeito epistêmico, e a teoria (BOSI, 2012).

Como campo de estudo, o método fenomenológico demarca o esclarecimento, a revelação ou o desvelamento – desvelar é dar um significado (LEVINAS, 1988). Ocupada com a existência ou com o modo como o ser-no-mundo se manifesta, constitui-se como uma ciência basicamente descritiva e compreensiva, podendo ser apreendida como condição de possibilidade, uma vez que “Da própria investigação resulta que o sentido metódico da descrição fenomenológica é interpretação.” (HEIDEGGER, 1989, p. 68, grifo no original).

Por serem vários os modelos de pesquisa fenomenológica (AMATUZZI, 1996; GIORGI; SOUSA, 2010; MOREIRA, 2004), o lugar delimitado para fundamentar a análise

das informações deste estudo foi baseado na perspectiva crítico-interpretativa, de inspiração hermenêutica-fenomenológica. Construir um estudo a partir de uma lente crítica é reconhecer tanto o potencial de estranhamento4, como as condições históricas e reais da existência:

Al intentar un puente posible entre el comprender y el criticar, durante todo el trabajo de investigación y en su producto final es importante que el investigador cultive una perspectiva dialéctica. Que su postura le permita tener conocimiento sobre las condiciones de producción de lo que es observado y del discurso, sobre las condiciones reales de existencia de los indivíduos que produjeron la narrativa, siempre buscando una elaboración contextualizada de las contradicciones y de los consensos. (MINAYO, 2010, p. 260)

Ao ter como pressuposto a interpretação da realidade investigada, a hermenêutica na perspectiva gadameriana é considerada, sobretudo, arte, e não uma técnica ou um procedimento metodológico. Também não pode ser vista como uma ocupação voltada à reconstrução de algo original, pois “Um labor hermenêutico, para quem a compreensão significasse reconstrução do original, permaneceria do mesmo modo, apenas num sentido morto”, alerta-nos Gadamer (1997, p. 166/7).

Enquanto arte da compreensão, a hermenêutica aqui privilegiada tem como “locus

da compreensão” o terreno da intersubjetividade (MINAYO, 2002). O interesse é pelo sentido do texto que pode estar oculto para o próprio autor ou então escapar-lhe, no qual o intérprete dará sua própria compreensão – devemos ressaltar que o termo gadameriano texto fará referência, neste estudo, às entrevistas quando transcritas.

O sentido de um texto, na hermenêutica gadameriana, supera seu autor não ocasionalmente, mas sim sempre, explicita Gadamer (1997, p. 444) ao assegurar ser por isso que “a compreensão não é nunca um comportamento somente reprodutivo, mas é, por sua vez, sempre produtivo”. Compreensão implica produção, movimento e relação circular – o círculo hermenêutico – do todo à parte e dela ao todo, em um processo de junção de cada parte e do todo de uma forma tal que nunca estejam completos. Sobre isto, esclarece-nos um comentador de Gadamer:

A ideia do círculo hermenêutico é de que o entendimento parcial de uma porção do texto sempre modifica o todo, e o todo, as partes. O processo da leitura, do entendimento e da interpretação é, portanto, interminável; não existe uma leitura definitiva de um texto.(LAWN, 2007, p. 190, grifo nosso).

4

Em um dos encontros de setembro/2012 do LAPQS, onde ocorrem as orientações tutoriais, a profa Dra Malu problematizou o termo critico ao expor haver nele um potencial de, segundo suas próprias palavras, “significar estranhamento. Fenomenologia hermenêutica critica é uma interpretação, mas não de qualquer jeito, e sim um estranhamento”. Estranhamento este que, ao longo deste trabalho, se revela alinhado com o que destacamos como suspeitar, suspender, pôr em xeque ou pôr em questão.

A compreensão é configurada não em saber mais, ou melhor, apenas em compreender num sentido diferente, uma vez que o verdadeiro sentido de um texto não se esgota no dito pelo autor nem em um determinado ponto, mas implica sempre um processo infinito, pois “constantemente, surgem novas fontes de compreensão que tornam patentes relações de sentido insuspeitadas.” (GADAMER, 1997, p. 446).

A partir do círculo, o material empírico, o quadro teórico e nossa própria experiência como pesquisadora dialogam para recompor um texto, a partir do contexto em que foi produzido. Desse modo, compreender não é um procedimento mecanizado e tecnicamente hermético, pois nada daquilo que se interpreta pode ser entendido de uma só vez e de uma vez por todas (MINAYO, 2002). Eis porque toda compreensão é sempre parcial e inacabada: “todo compreender acaba sendo um compreender-se”, destaca Gadamer (1997, p.

394, grifo no original).

Na hermenêutica gadameriana, compreender é sempre condição da interpretação: só se interpreta depois de compreender, não sendo possível considerá-los isoladamente, dada uma interdependência constitutiva entre ambos. A primeira de todas as condições hermenêuticas é o ter de se haver com a coisa em questão (GADAMER, 1997), ou, dizendo de outro modo, é a pré-compreensão dos nossos próprios pressupostos como pesquisadora- intérprete. Enquanto não entendermos esses nossos pré-conceitos não conseguiremos dar o passo seguinte: o da desconstrução ou desvelamento – sabendo que aquilo que desvela pertence ao que está velado (HEIDEGGER, 1989). Pressupostos os quais não são um problema para o conhecimento hermenêutico, mas na realidade a sua própria condição, esclarece Minayo (2010).

Essa condição hermenêutica suprema é iniciada quando algo no texto afeta o intérprete ou intima-o e exige a suspensão desses mesmos pressupostos. Então, ciente dos nossos pré-conceitos, temos que colocá-los à prova e deixá-los afastados – mesmo sabendo ser impossível a abstenção total deles – para poder entrar em contato com a alteridade do próprio texto; senão nos tornaremos surdos– outra expressão gadameriana – a essa diferença.

Contato o qual é para Gadamer (1997) de uma distância insuperável entre o intérprete e o autor: há, como já exposto, uma diferença e uma distância histórica, social e de experiência de vida entre os atores que constituem o Movimento e esta pesquisadora, proveniente do meio acadêmico e não pertencente ao dispositivo.

Assim, a tarefa hermenêutica está exposta: compreender o sentido, ou os sentidos, de um texto a partir da situação concreta em que foi produzido para, dessa forma, revelar os

sentidos ocultos através da interpretação. Com a suspensão dos pressupostos, o intérprete tem a possibilidade de produzir uma pergunta e iniciar um diálogo, no qual o interrogado – no caso, os informantes deste estudo – será instigado, ou melhor, colocado em uma nova perspectiva. É na interação de perguntas e respostas que o compreender e o interpretar vão sendo realizados, pois, como afirma Ayres (2005), o modo de proceder hermenêutico é o de uma contínua conversação:

En la acción interpretativa, el primer paso es oír los relatos de campo como narrativas en perspectiva y no como informaciones, mucho menos como verdades. El conjunto de entrevistas o de cualquier material cualitativo debe ser comprendido como una interpretación de la realidad realizada, primero, por el narrador bajo la influencia del investigador. (MINAYO, 2010, p. 258/9, grifo no original)

Os textos produzidos a partir das falas transcritas dos participantes desta pesquisa colocaram-nos uma pergunta – sabendo ter sido o diálogo iniciado por nós mesmos e

orientado na direção do nosso objeto, com zelo para não induzir a conversação e, por conseguinte, impedir o encontro entre alteridades. E para poder dar essa resposta, interrogamos os mesmos textos com a clareza de saber que ao perguntar deixamos em aberto possibilidades várias de sentidos.

O entendimento então se deu em uma fusão: “O pensamento aqui é de que um horizonte pode ser colocado em contato com outro horizonte. Ao invés de um oblitera r o outro, acontece um processo de fusão.” (LAWN, 2007, p. 92, grifo nosso). Foi a partir da

fusão de horizontes que se constituiu a arte da compreensão possibilitadora da emergência do(s) sentido(s) numa rede interpretativa, a ser mais explicitada no próximo tópico.

A busca aqui empreendida não se voltou apenas para o objeto ou para o que se revelou no campo, mas se referiu, sobretudo, ao modo como se revelou, pois entendemos que qualquer pesquisa de base fenomenológica aponta para uma condição de possibilidade e os estudos hermenêuticos de solo fenomenológico intencionam abrir novas linhas de questionamentos como revelação daquilo que se vela e assim produzir novos sentidos. Nessa perspectiva, buscamos um acesso e uma compreensão do modo como a questão do cuidado em sua dimensão éticopolítica se revela no Movimento, a partir das informações fornecidas e vivenciadas pelos informantes da questão investigada, bem como a partir de minhas próprias observações e vivências enquanto pesquisadora-intérprete.

Este estudo qualitativo é compreensivo, portanto, interpretativo, do ponto de vista crítico, a partir da hermenêutica gadameriana, com a pretensão de subsidiar ações interventoras futuras, entendendo a pesquisa como processo potencializador de

transformações em um contexto social, no sentido de ampliar os horizontes de compreensão dos atores envolvidos e, por conseguinte, suas práxis.

Explicitaremos no próximo tópico nossas considerações sobre o percurso desta pesquisa realizada no Movimento, sabendo que ali tem-se configurado uma nova prática de cuidado, buscaremos pôr em questão nossa suspeita de haver algum alinhamento com o que aqui denominamos modo éticopolítico do cuidado – desafio a ser desvelado no último capítulo desta tese.