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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.2 O percurso da pesquisa

Para abordar os procedimentos metodológicos é preciso inicialmente ressaltar o percurso desta pesquisa ao longo da qual ocorreram vários deslocamentos relacionados ao meu interesse de investigação e ao próprio objeto de estudo, o qual foi gradativa e pacientemente bordado, em um processo eminentemente autorreflexivo, tal como definem Gastaldo e Mckeever (2002), e assumiu maior nitidez e inteireza após as interrogações significativas da banca de qualificação. Após a reconfiguração do nosso objeto – o modo

éticopolítico do cuidado – foi consequentemente necessário revisitar tanto a pergunta norteadora, quanto os quesitos para escolha das pessoas com acúmulo subjetivo para se tornarem os informantes do estudo.

Interessante ressaltarmos ainda que nessa tessitura do objeto foram importantes os vários estágios do campo, o qual, na realidade, foi iniciado cinco anos atrás com a pesquisa CNPq, da qual esta tese se origina, como ressaltamos anteriormente. Foram, inclusive, essas várias inserções no campo que possibilitaram nossa maior apropriação do objeto.

Sobre o campo, e com intuito de facilitar a compreensão, delimitaremos aqui uma divisão em quatro fases, considerando sempre o caráter dinâmico de um campo de investigação como o nosso – um dispositivo de saúde mental – e a complexidade do próprio objeto:

 Momento 1: fase exploratória do nosso campo de investigação, com registro das atividades em um diário de campo, e, ao mesmo tempo, de construção coletiva da pesquisa CNPq, ocorrida no período de 2009 até meados do segundo semestre de 2011;

 Momento 2: fase de início da ‘rearrumação’ do objeto e de realização do estágio doutoral na UC em Portugal, no período de outubro de 2011 a fevereiro de 2012;

 Momento 3: período de reinserção no campo para nova fase exploratória e realização de observação participante em uma das atividades de cuidado do dispositivo – registrada em forma de versão de sentido a ser explicitada adiante – e de entrevistas com trabalhadores e usuários com o intuito de maiores aproximações e consequente tentativa de configuração do nosso objeto. Esta fase ocorreu no ano de 2012, ao final do qual houve o exame de qualificação;

 Momento 4: retorno ao campo no ano de 2013 para realização de novas observações e das entrevistas individuais com os trabalhadores das práticas de cuidado, agora com as necessárias e devidas delimitações: do objeto, da pergunta disparadora e dos informantes do nosso estudo.

Em relação às técnicas utilizadas em nossa investigação e de acordo com o princípio da triangulação próprio das abordagens qualitativas (BOSI, 2012; MINAYO, 2006, 2012), o qual consiste em olhar o objeto sob diferentes ângulos e comparar os achados das técnicas ou das fontes de informação na coleta de dados, utilizamos distintas técnicas complementares: entrevista em profundidade, observação e fontes secundárias – como material publicado na mídia impressa e eletrônica e relatórios ou documentos produzidos pelo dispositivo em investigação.

Sobre documentos, Creswell (2007) esclarece que, durante o processo da pesquisa, o investigador qualitativo pode coletar documentos públicos, tais como reportagens em jornais e relatórios oficiais da instituição, ou privados, como os registros pessoais ou do banco de dados de nossa autoria, formatado ao longo do período de participação na pesquisa CNPq. Muitas das referências de tais documentos constam em notas de rodapé ao longo do nosso texto.

A entrevista é a técnica mais comumente utilizada em pesquisa no âmbito de serviços de atenção à saúde (BRITTEN, 2009) com a premissa básica de não ser “simplesmente um trabalho de coleta de dados, mas sempre uma situação de interação” (MINAYO, 2000, p. 114). É, sobretudo, uma conversa que possui propósitos bem definidos, quais sejam: a obtenção e compreensão de dados que se relacionam aos valores, às atitudes e às opiniões das pessoas entrevistadas.

Neste estudo, privilegiamos as entrevistas individuais em profundidade orientadas pelo princípio da não diretividade o qual nos possibilitou um desdobramento fenomenológico a partir dos conteúdos que emergiram nos depoimentos dos informantes. Nossa intenção naquelas conversas era melhor apreender o significado do modo éticopolítico do cuidado na

experiência dos trabalhadores do dispositivo Movimento para aprofundar uma compreensão. Para tanto, apresentamos a seguinte questão disparadora: “Como é para você esta experiência de trabalhar aqui no Movimento?”. Evidentemente utilizamos um momento

inicial de ‘quebrar o gelo’ com interrogações sobre o tempo de atuação no dispositivo e sobre a forma de chegada para então privilegiarmos essa pergunta, que foi desdobrada em outras questões surgidas de acordo com as singularidades de cada entrevistado e com a disponibilidade deles e minha, como entrevistadora, para estabelecermos um diálogo com uma certa finalidade. Essa interação exigiu-nos entrega e presença, livre o máximo possível de a prioris para dali produzir elementos que pudessem responder às nossas perguntas e, desse modo, abrir um novo campo de respostas. Todas as entrevistas ocorridas na terceira e quarta fases foram por mim realizadas.

À exceção de duas trabalhadoras que solicitaram ser entrevistadas em conjunto, no ‘Momento 4’ do campo, e de outras duas com quem conversei também em dupla por solicitação delas ainda no ‘Momento 3’, todos os demais informantes de nossa pesquisa foram entrevistados individualmente. Inclusive as duas trabalhadoras da fase 3 voltaram a ser novamente entrevistadas – dessa vez em separado – haja vista a nova delimitação do nosso objeto e a consequente demanda por aprofundamento de temas não explorados naquela fase.

Nesta tese, consideramos necessário selecionar a entrevista realizada com RB na pesquisa CNPq, dada sua liderança e sua própria participação na idealização, estruturação e organização das práticas de cuidado desenvolvidas no Movimento. Essa entrevista foi realizada coletivamente pelo grupo de pesquisa e ocorreu em abril de 2010, em uma sala de aula da Universidade Estadual do Ceará. Neste estudo, e com intuito de facilitar a compreensão, os trechos de sua fala aparecerão no capítulo da discussão dos resultados referenciados pelas iniciais do seu nome e pelo relatório final da pesquisa CNPq5 (BOSI, 2011).

Também foram selecionados os seguintes materiais construídos na referida pesquisa: duas entrevistas individuais e os depoimentos de dois trabalhadores que participaram das entrevistas em grupo focal (FLICK, 2009) – os quais estiveram presentes tanto no primeiro grupo focal (GF), quanto no segundo grupo e, nesta tese, ao aparecerem no

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Essa entrevista, na íntegra, é parte do banco de dados oriundo da pesquisa CNPq e por constar no seu relatório final apenas em formato de resumo não aparecerá, nesta tese, paginada; assim como as demais entrevistas individuais e os depoimentos dos grupos focais construídos naquela pesquisa.

quarto capítulo serão referenciados de GF I e GF II. Todas essas entrevistas foram realizadas no ‘Momento 1’ de nosso estudo.

Em relação ao grupo focal, foi selecionado inicialmente um conjunto de trabalhadores que entraram para o dispositivo como usuários e representavam a diversidade de práticas inseridas no Movimento; no segundo grupo foi possível aprofundar temas não suficientemente explorados no primeiro; e ambos ocorreram na investigação financiada pelo CNPq no ano de 2010.

Importante ainda ressaltarmos dois fatores: estive na co-facilitação do GF II, junto a outra investigadora do grupo de pesquisa; e uma das entrevistas individuais citadas acima foi por mim realizada. A decisão pela seleção de tais entrevistas ocorreu por considerá-las mais significativas e ilustrativas em relação ao nosso objeto de estudo e por serem todos trabalhadores de práticas de cuidado, com os quais voltamos a conversar individualmente na fase 4 desta tese.

Quanto às transcrições, as entrevistas das fases 3 e 4 foram transcritas em sua maioria por uma bolsista de iniciação científica que já trabalhava comigo desde o início de 2012, quando desenvolvíamos um outro projeto de pesquisa na Unifor; um número menor de entrevistas foi transcrito por mim mesma. Essas transcrições ocorreram entre os meses de outubro a dezembro do ano passado, concomitantemente à realização das entrevistas no último momento do campo.

Sobre os locais de realização das entrevistas, à exceção de apenas uma ocorrida no ‘Momento 4’, todas as demais – de todas fases – foram realizadas nas dependências do próprio Movimento. A única entrevista externa ocorreu em uma lanchonete no bairro Dionísio Torres por solicitação e indicação da própria entrevistada. O tempo médio de duração das entrevistas da quarta fase girou em torno de 1h15 minutos.

Além das entrevistas, a outra técnica utilizada nesta investigação foi a observação que tem “como principal vantagem, em relação a outras técnicas, a de que os fatos são percebidos diretamente, sem qualquer intermediação.” (GIL, 2008, p. 100). Utilizamos dois tipos de observação: a não-estruturada ou livre, cuja intenção é focalizar questões próprias ao campo de investigação; e a modalidade participante, definida por Gil (2008) como aquela que permite obter um conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo – especificamente a do subtipo artificial. A observação participante artificial ocorreu quando integramos o grupo de TC das terças-feiras à tarde do MSMC como observadora sem

pertencer propriamente ao grupo investigado, com o objetivo de maior aproximação com o cotidiano de uma prática de cuidado ali desenvolvida.

Interessante expormos o comentário de uma das facilitadoras desse grupo, no momento da solicitação para desenvolver esse trabalho de observação, após seu acolhimento ao pedido e posterior aceite: “Nós não gostamos de ser observados... Você pode vir quando quiser, mas é pa ra participar!”. Diante dessa exigência, sentimos provocadas e um tanto perturbadas, pois só intencionávamos realizar a observação (como se possível fosse...), mas prontamente acatamos tal exigência. A propósito, consideramos pertinente a seguinte assertiva de Gastaldo e Mckeever (2002, p. 478): “Existen importantes cuestiones éticas em cada etapa del processo de investigación.”, desde a maneira de conceber o problema ao modo de coletar e analisar os dados, além de sua interpretação e forma de difundir e utilizá-los.

Essa inserção no campo ocorreu no ‘Momento 3’ durante nove visitas realizadas entre os meses de agosto e novembro de 2012, com frequências ora semanais, ora quinzenais. A escolha pela observação nesse grupo se deu, sobretudo, devido à facilidade e viabilidade do grupo que coincidia com um turno nosso livre, pois outras atividades de cuidado do dispositivo ocorriam em horários nossos já previamente ocupados com compromissos letivos assumidos naquele ano.

Em relação aos instrumentos de pesquisa, utilizamos o registro das atividades de campo (Apêndice A) e as versões de sentido (AMATUZZI, 2001b), expostas no Apêndice B, que nos possibilitaram melhor definição e, consequente, compreensão do novo objeto. A versão de sentido é um instrumental utilizado tanto na formação da clínica psicológica – de onde origina minha formação – como em pesquisas fenomenológicas, sendo considerada uma espécie de radiografia fenomenológica de um encontro e definida como:

um relato livre, que não tem a pretensão de ser um registro objetivo do que aconteceu, mas sim de ser uma reação viva a isso, escrito ou falado imediatamente após o ocorrido, e como uma palavra primeira [autêntica ou da ordem do pré- reflexivo]. Consiste numa fala expressiva da experiência imediata de seu autor, face a um encontro recém-terminado. (AMATUZZI, 2001b, p. 74)

Quanto aos sujeitos desta pesquisa, delimitamos os trabalhadores que atuam nas atividades de práticas de cuidado, com ou sem formação em nível superior, com ou sem vínculo formal – na fase exploratória deste estudo (Momento 1), constatamos atuar no MSMC uma equipe bastante distinta daquela que compõe os dispositivos institucionalizados. Mesmo sabendo ser o cuidado produzido na esfera das relações, a escolha pelos trabalhadores ocorreu porque os consideramos atores privilegiados para operacionalizar outras possibilidades de

práticas de saúde ocupadas com a produção de novos modos de estar diante do outro. Ao assumirem cotidianamente o desafio de deixar-se afetar e de pôr seu saber-poder em questão

no campo da saúde coletiva – em especial no que se refere à saúde mental – e buscarem tecer, continuamente, novas possibilidades de produzir vida, foram então esses os informantes deste estudo.

Dado o diminuto número de trabalhadores e dada a nossa intenção de melhor compreender o fenômeno investigado, optamos por trabalhar na última fase do campo com a totalidade, considerando-os como informantes-chave desta pesquisa. Foram então 11 informantes de todas as práticas de cuidado ali desenvolvidas – TC, grupo de autoestima, massoterapia, reiki, biodança e farmácia viva – sendo, naquele momento de investigação, três deles trabalhadores remunerados e todos os demais, voluntários. Em relação à biodança, devemos aqui esclarecer, entrevistamos apenas uma das facilitadoras, haja vista a segunda fazer parte do mesmo laboratório de pesquisa, LAPQS/UFC, e ter participado das discussões e revisões teóricas deste trabalho.

Quanto ao dispositivo investigado, que tem inovado no campo da saúde mental ao buscar dar uma outra resposta ao adoecimento e promover rupturas e tensionamentos com o modelo tradicional de atenção em saúde (BOSI, 2011; BOSI et al., 2011; BOSI et al., 2012; CARVALHO, 2010; GODOY et al.,2012; LIBERATO, 2011), sua missão6 é enfrentar o desafio de trabalhar as dimensões subjetivas e psicossociais no sentido de favorecer a autoestima, acolher e valorizar as pessoas que chegam em situações de sofrimento, oferecendo-lhes distintas modalidades de cuidado e favorecendo um processo de transformação pessoal e coletivo. A leitura atenta dessa missão parece aproximar o MSMC de outros dispositivos na comunidade caracterizados por um não centramento no internamento ou na doença, que buscaram romper a associação entre doença mental e exclusão (LEFF; WARNER, 2008).

Sobre a atuação do MSMC, as atividades são sistematizadas em torno de cinco eixos: o Terapêutico, o Educativo; da Arte, Música Espetáculo e Cultura; o Profissionalizante; e o de Formação (BOSI, 2011). Apesar da diversidade de atividades e de muitos usuários circularem ao mesmo tempo por várias delas – como as de saúde mental, arte, cultura,

6 Missão “O Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim acolhe o ser humano, respeitando suas

dimensões bio-psico-sócio-espiritual, promovendo o desenvolvimento dos seus potenciais, através do resgate dos valores humanos e culturais, no sentido de favorecer a qualidade das relações pessoais, interpessoais e comunitária para a promoção do dom da vida.” (MOVIMENTO DE SAÚDE MENTAL COMUNITÁRIA DO BOM JARDIM, 2006, p. 3).

educação ou profissionalização – o cerne no dispositivo gira em torno do eixo terapêutico, conforme concluímos em Bosi (2011).

Em nossa investigação, porém, constatamos no ‘Momento 4’ do campo uma mudança de terminologias: ao invés de eixo Terapêutico encontramos “Atividades de Práticas de Cuidado do MSMC”, cujo mapa, obtido nessa última fase, pode ser visualizado no Anexo A. Desse modo, fizemos a opção nesta tese pela nova expressão. Voltaremos a discutir sobre o dispositivo no próximo capítulo quando abordaremos o primeiro tema da rede interpretativa produzida com a categorização do material empírico.

Sobre a etapa final de organização e interpretação das informações, após realizadas todas as transcrições, ocorreram, inicialmente, leituras sucessivas e exaustivas de cada uma das entrevistas separadamente, com o objetivo do pesquisador ficar impregnado do seu conteúdo – a chamada leitura vertical. Nesta, há o momento de nomeação das categorias, de forma livre e despreocupada, de acordo com as temáticas singulares citadas por cada informante – é a etapa da categorização ou paragrafação. Em seguida, passamos para uma leitura horizontal das entrevistas, com o objetivo de dar conta das recorrências e repetições e assim traçar eixos comuns que nos levassem à classificação das informações em temas, dimensões e sub-dimensões, os quais possibilitaram – de modo interrelacionado e a partir de uma postura crítico-interpretativa – a construção de modo tradicionalmente artesanal de nossa rede interpretativa.

Para a construção da rede, foram necessários processos sucessivos e exaustivos de categorização e recategorizações para alcançar um número menor possível de temas e dimensões, com especial atenção aos mutuamente excludentes. Essa sistematização em torno de temas, no entanto, “não expressa uma autonomia de cada tema (e de suas dimensões) em relação aos demais; trata-se, antes, de um recurso de exposição que, na medida do possível, buscará revelar o entrelaçamento entre eles, daí a idéia de rede” (GODOY; BOSI, 2004, p. 247). A categorização do material empírico revelou quatro temáticas centrais, nomeadas como segue:

I) Oásis no Deserto;

II) Condições de Acolhimento; III) Tramas da Autonomia; IV) Despertar do Ser.

A Figura 3, exposta a seguir, serve para facilitar o entendimento da rede interpretativa construída a partir desses temas e das dimensões que estruturam os sentidos – a mesma pode ser visualizada na íntegra no Apêndice C. A rede terá na hermenêutica crítica uma estratégia de problematização de aspectos da realidade investigada para apontar novas possibilidades. REDE INTERPRETATIVA TEMAS I. OÁSIS NO DESERTO II. CONDIÇÕES DE ACOLHIMENTO III. TRAMAS DA AUTONOMIA IV. DESPERTAR DO SER DIMENSÕES Ia SEMENTES ORIGINÁRIAS IIa O CUIDADO EM SUAS POSSIBILIDADES IIIa AS LUTAS NA REDE IVa O SER SAUDÁVEL Ib O DISPOSITIVO IIb EXPERIÊNCIAS DE VOLUNTARIADO IIIb COMUNIDADE, PERTENÇA E PARTICIPAÇÃO IVb DESEJOS DE VIDA IIc OS CUIDADOS ATUAIS

FIGURA 3 – Rede Interpretativa

Em relação aos aspectos éticos, esta pesquisa obedece aos parâmetros e itens que regem a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, à época regulamentadora de pesquisas com seres humanos, e obteve aprovação no comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal do Ceará – parecer de nº 60/09 (Anexo B). Utilizamos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento para Participação em Pesquisa, assinados por todos que aceitaram colaborar com nossa investigação, conforme modelo no Anexo C. Explicitamos a cada informante os objetivos e finalidades da pesquisa, como também a metodologia aplicada, a não obrigatoriedade de participação, e, sobretudo, o asseguramento do sigilo das informações e do seu anonimato.

Ainda relacionado a questões éticas, necessário ressaltar que o próprio campo nos exigiu uma devolutiva de nossa pesquisa ao dispositivo, não apenas no formato de um encontro para apresentação dos achados desta investigação – devolutiva já anunciada para os informantes no ‘Momento 4’, com previsão para logo depois da defesa e entrega de uma cópia da tese –, mas, sobretudo, na possibilidade desta investigação contribuir efetivamente para o dispositivo continuar a produzir novos modos de andar a vida na complexa arena das práticas

de cuidado em saúde mental. E para a comunidade científica, além de vários trabalhos já apresentados em eventos da área, dois artigos já foram publicados, com nossa co-autoria; outro artigo teve seu aceite, com previsão de publicação este ano; um artigo teórico com a lente compreensiva tecida nesta tese foi submetido para apreciação; e outros dois produtos, um em formato de artigo foi aceito em publicação estrangeira e outro, capítulo de livro, será publicado no segundo semestre deste ano. Intencionamos ainda publicar em artigo os achados de nosso campo.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: uma tessitura possível

Ostra feliz não faz pérola. A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer... Rubem Alves Este estudo, importante recuperarmos, buscou analisar o modo éticopolítico do cuidado com base nas experiências de trabalhadores de um dispositivo comunitário de saúde mental no Nordeste do Brasil e teve como premissa a conclusão apontada na pesquisa CNPq (BOSI, 2011), que deu origem a esta tese, de haver ali uma produção de práticas inovadoras de cuidado – termo inovação já anteriormente definido.

Neste desafiante capítulo, buscaremos expor o texto interpretativo – um dos momentos mais significativos do estudo – inspirado metodologicamente na perspectiva hermenêutica em conjunção com o método fenomenológico e tecido na trama dos seguintes fios: os depoimentos dos informantes, que gentilmente desvelaram como é ser trabalhador das práticas de cuidado no Movimento; o percurso teórico construído com a lente compreensiva do cuidado em seu modo éticopolítico, revelado no capítulo da fundamentação teórica; e por fim os meus próprios pressupostos, em uma teia de significações com o intuito de buscar aprofundar uma compreensão do objeto demarcado neste estudo.

A partir da rede interpretativa, exposta na íntegra no Apêndice C e de modo esquemático no capítulo sobre os aspectos metodológicos, teceremos agora a discussão, iniciando pelo primeiro tema.