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De acordo com o disposto no art. 11 do Decreto nº 1.602/95, margem de dumping é a diferença entre o valor normal do produto e o preço de exportação. Com a finalidade de se determinar com total precisão a existência da prática desleal, realiza-se a comparação justa entre o preço de exportação e o valor normal vigentes durante o período estabelecido para a investigação antidumping, chegando-se, assim, a determinação da margem de dumping.

Para uma comparação justa, os dois preços deverão ser avaliados na mesma fase ou nível comercial, normalmente o ex fabrica (ex factory). Assim, do valor normal devem ser deduzidos custos referentes ao transporte e ao seguro, diretamente relacionados às vendas sob consideração, incorridos pelo exportador desde a porta da fábrica até a colocação do produto nas instalações do primeiro comprador independente. Do preço de exportação devem ser desconsiderados os custos de transporte e seguro diretamente ligados às vendas analisadas, incorridos pelo exportador desde a porta da fábrica até o Brasil. O período referente à comparação deverá ser o mais próximo possível, como determina o art. 9º do Decreto nº 1.602/95. Diferenças na tributação, níveis comerciais, quantidades, características físicas, condições de comercialização e todas as outras que afetem a comparação de preços devem ser consideradas e, nas condições possíveis, eliminadas por meio de ajustes.

Na hipótese da comparação entre o preço de exportação e o valor normal do produto exigir conversão cambial, de acordo com os §§5º, 6º e 7º, art. 9º, do Decreto nº 1.602/95, será utilizada a taxa de câmbio em vigor no dia da venda (correspondente à data do contrato, da ordem de compra ou da confirmação de encomenda ou da fatura), a não ser que ocorra venda de moeda estrangeira em mercados futuros diretamente ligada à exportação em causa, hipótese em que a taxa de câmbio adotada na venda futura será aplicada. Flutuações na taxa de câmbio devem ser ignoradas.

O art. 12 do Decreto nº 1.602/95 estabelece que a existência da margem de dumping será determinada com base na diferença entre o valor normal e o preço de exportação apurado em cada transação; ou com base na diferença entre o valor normal médio ponderado e o preço médio ponderado de exportação de todas as transações comparáveis. A margem de dumping será calculada para cada um dos conhecidos produtores estrangeiros do produto sob investigação ou, caso esse número seja muito grande, o §1º, art. 13, do Decreto nº 1.602/95 permite que a margem de dumping seja definida por meio de amostragem. Nessa última hipótese, a margem de dumping será calculada para cada um dos produtores que compõem a amostra. Para os não incluídos na amostragem, será atribuída a margem ponderada de dumping obtida a partir das margens de cada um dos produtores nela incluídos.

A definição da margem de dumping, definida isoladamente ou por meio de amostragem, é calculada por meio de fórmulas que envolvem a comparação entre o valor normal e o preço de exportação do produto. No Brasil, a margem de dumping é definida por meio de um procedimento que considera a margem de dumping em caráter absoluto e relativo.

Margem de dumping absoluta corresponde ao montante de dumping calculado pela diferença aritmética entre o valor normal do produto no mercado doméstico (ex fabrica) do país exportador e o preço de exportação FOB (livre de frete e de seguro), normalmente no país de origem. A margem de dumping relativa é definida com base no montante de dumping (margem de dumping absoluta) apurado, correspondendo a razão entre a margem de dumping absoluta encontrada e o preço de exportação FOB do produto.

A margem de dumping absoluta, correspondente ao montante de dumping, é definida pela seguinte fórmula: md = vn - pe (em que md: margem de dumping absoluta; vn: valor normal; pe: preço de exportação FOB). A definição da margem de dumping relativa resulta da fórmula MD = md / PFOB (em que MD: margem de dumping relativa; md: margem de dumping absoluta; PFOB: preço de exportação FOB)10.

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GUEDES, Josefina Maria M.M., PINHEIRO, Silvia M.. Antidumping, subsídios e medidas

A definição da margem de dumping apresenta grande relevância no processo antidumping porque permite a verificação preliminar sobre a existência ou não da prática desleal, possibilitando também a definição de sua amplitude e a adequação do processo antidumping ao caso concreto. Na atual legislação, o dumping capaz de motivar a aplicação de medidas coercitivas é aquele em que a margem de dumping apurada é superior a margem de minimis. Assim, a comparação entre o valor normal e o preço de exportação do produto que resulte em margem de dumping insignificante (inferior a margem de minimis) demonstra a impossibilidade da prática comercial sob análise ser objeto de medidas antidumping.

De acordo com o §7º, art. 14, do Decreto nº 1.602/95 e art. 5.8 do Código Antidumping da OMC, a margem de dumping será considerada como de minimis quando, expressa como um percentual do preço de exportação, for inferior a 2%. Antes da solicitação da abertura de uma investigação antidumping é fundamental a realização de um estudo sobre esse percentual, já que o art. 41 do Decreto nº 1.602/95 prevê, entre outras hipóteses, o encerramento da investigação sem aplicação de direitos antidumping no caso da margem de dumping for de minimis. O art. 5.8. do Código Antidumping da OMC, determina que uma petição deverá ser rejeitada quando as autoridades competentes determinarem que a margem de dumping é de minimis.

Para verificar se a margem de dumping é superior ou não a de minimis, procede-se da seguinte forma: calcula-se a margem

de dumping absoluta por meio da fórmula md = vn - pe. Obtida a margem de dumping absoluta, realiza-se o cálculo da margem de dumping relativa, utilizando a fórmula MD = md / PFOB. Conhecida a margem de dumping relativa é possível verificar a possibilidade ou não da aplicação de medidas antidumping, conforme demonstram os seguintes exemplos, de acordo com a metodologia utilizada pelo Decom.

Exemplo 1: O empresário A, estabelecido no país Y, vende determinado produto nesse país por US$ 100, exportando o mesmo produto ao Brasil, em condições normais de comercialização, por US$ 80.

Na hipótese o valor normal do produto (vn) é de US$ 100 e o preço de exportação do produto (pe) de US$ 80. Utilizando-se a fórmula (md = vn - pe Ö md = 100 - 80 Ö md = 20), encontra- se a margem de dumping absoluta (md = 20). A seguir, calcula-se a margem de dumping relativa por meio da fórmula MD = md / PFOB, chegando-se à margem de dumping relativa de 25% (MD = md/PFOB Ö MD = 20/80 Ö MD = 0,25).

Definida a margem de dumping, constata-se a ocorrência de prática desleal que autoriza a aplicação de medidas antidumping, já que a margem de dumping apurada em 25% é superior a margem de minimis de 2%. Na hipótese, mostra-se adequada, sob esse aspecto, a abertura do processo de investigação antidumping, que

poderá resultar na aplicação de medidas antidumping se houver a comprovação que a prática de dumping em análise causou danos aos empresários locais.

Exemplo 2: O empresário B, estabelecido no país Z, vende determinado produto nesse país por US$100, exportando o mesmo produto ao Brasil por US$99, em condições normais de comercialização.

No caso, o valor normal do produto (vn) é de US$100 e o preço de exportação do produto (pe) US$99. Por meio da fórmula md = vn - pe (md = 100 - 99 Ö md = 1), chega-se a margem de dumping absoluta igual a 1, a partir da qual é definida a margem de dumping relativa em 1,0% (MD = md / PFOB Ö MD = 1/99 Ö MD = 0,010).

Como a margem de dumping apurada é inferior a margem de minimis (MD = 1,0% Ö 1,0 < 2%), o dumping verificado não é condenável, afastando a aplicação de medidas antidumping em razão do disposto no inciso II, art. 41, do Decreto nº 1.602/95, que determina o encerramento da investigação sem aplicação de direitos antidumping quando a margem de dumping for de minimis.