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O Decreto nº 1.602/95 e o Código Antidumping da OMC

No desenvolvimento dos capítulos anteriores, em várias oportunidades realizou-se a comparação entre o tratamento atribuído pela legislação antidumping brasileira a determinados

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WORLD TRADE ORGANIZATION. Statistical information relating to the operation of the DSB, 1998 apud THORSTENSEN, Vera. Organização Mundial do Comércio: as regras do

comércio internacional e a rodada do milênio, São Paulo: Aduaneiras, 1999, p.342.

20 Ibid.

aspectos do dumping e os correspondentes dispositivos do Código Antidumping da OMC, evidenciando a correspondência entre as normas internas e aquelas que regem o comércio internacional. De forma genérica, pode-se dizer que os dispositivos do Decreto nº 1.602/95 encontram-se em consonância com a legislação antidumping da OMC, apresentando pequenas variações e algumas omissões que não desprestigiam a legislação nacional perante a Organização Mundial do Comércio.

Não obstante a identificação existente entre o Decreto nº 1.602/95 e o Código Antidumping da OMC, não se pode deixar de apresentar os pontos em que a legislação brasileira não atende a determinação das normas antidumping da Organização. Entre as omissões verificadas, destaca-se a ausência na legislação brasileira da previsão de uma instância superiora e independente destinada a julgar os pedidos de recurso das decisões administrativas proferidas no processo antidumping. Outro problema identificado é a inexistência de dispositivo legal prevendo a dispensa de análise de dano para a imposição de direitos antidumping contra as importações provenientes de países não integrantes da OMC.

Josefina Guedes e Silvia Pinheiro21 destacam que o Código Antidumping determina que para casos de países não integrantes da OMC, não é necessária a análise de dano para a imposição de direitos antidumping. Para elas, “o governo brasileiro

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GUEDES, Josefina Maria M.M., PINHEIRO, Silvia M.. Antidumping, subsídios e medidas

perdeu uma grande oportunidade de barganha”, quando não adotou tal dispositivo na regulamentação do Código Antidumping no Brasil, ao contrário de outros Países-Membros, como por exemplo, os Estados Unidos, União Européia e o México. A adoção do dispositivo em questão certamente proporcionaria maior força ao Brasil nos conflitos comerciais envolvendo países não integrantes da OMC.

Referida lacuna do Decreto nº 1.602/95, entretanto, perde interesse na medida em que os países não pertencentes à Organização passam a integrá-la. Atualmente, a OMC é composta por 140 Países-Membros22 e aproximadamente 30 países participantes do comércio internacional estão em processo de acessão à OMC23. Entre os países que buscam seu ingresso na Organização, destacam-se a China, a Rússia, a Arábia Saudita e o Taiwan24.

Em relação ao problema da ausência de instância superiora para a revisão das decisões referentes à aplicação da legislação antidumping, a questão decorre da previsão do art. 13 do Código Antidumping da OMC, que trata da revisão judicial, estabelecendo que todo País-Membro que possua legislação

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MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Secex. Negociações internacionais. OMC. Disponível em: <http//www.mdic.gov.br/comext/secex/pag/ omc2.html>. Acesso em: 21 fev. 2001.

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Para ter acesso à OMC o país solicitante necessita adequar sua legislação interna aos diversos Acordos da Organização. Em seguida vem a fase das concessões tarifárias em que cada País- Membro da OMC faz uma lista de pedidos de redução tarifária para produtos de seu interesse exportador e essa lista é analisada pelo país solicitante. Havendo consenso entre todos os Países- Membros de que a quantidade e o nível de concessões é satisfatório, o país solicitante será aceito como novo membro da OMC, caso contrário as negociações são retomadas, podendo durar por vários anos.

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THORSTENSEN, Vera. Organização Mundial do Comércio: as regras do comércio

antidumping nacional deverá proporcionar às partes afetadas pela decisão administrativa, sobre a imposição ou não de uma medida antidumping, meios adequados para que a decisão seja revista por um outro órgão, tribunal arbitral, administrativo ou ligado ao Judiciário, ou, ainda, prever procedimentos com a finalidade de realizar pronta revisão das medidas administrativas relativas às determinações finais e às revisões das determinações. Esses tribunais ou os procedimentos mencionados, segundo o mencionado dispositivo, deverão ser independentes das autoridades responsáveis pelas determinações ou revisões aludidas.

O Decreto nº 1.602/95 não possui dispositivo indicando a possibilidade de qualquer determinação final ou revisão de determinação ser revista por um outro órgão, tribunal arbitral, administrativo ou ligado ao Judiciário. Uma possível solução para a questão seria a elaboração de um dispositivo prevendo a revisão das aludidas medidas administrativas no âmbito do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), autarquia federal independente da Secex que apresenta amplas condições técnicas para tratar da prática de dumping, considerando que é integrado por um presidente e seis conselheiros com reconhecidos conhecimentos jurídicos e econômicos. Além disso, a Lei nº 8.884/94 considera a prática de dumping uma conduta passível de configurar infração à ordem econômica, não sendo o tema, sob esse aspecto, estranho ao Cade, ainda que o dumping não apresente repercussão no âmbito da autarquia.

Diante da ausência de previsão legal estabelecendo instância superiora para a revisão das decisões por órgão ou tribunal independente da Secex, a parte insatisfeita com a decisão administrativa pode recorrer ao Judiciário, com fundamento no princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional previsto no inciso XXXV, art.5º, da Constituição Federal. Entretanto, a insatisfação originada pela aplicação de medidas antidumping normalmente resulta no encaminhamento do caso ao Órgão de Solução de Controvérsias da OMC, em detrimento às vias judiciais do país importador. A experiência tem demonstrado que o Judiciário não se encontra preparado para decidir questões referentes à aplicação de medidas antidumping, em razão de sua especificidade e complexidade técnica, o que torna a via judicial um meio pouco utilizado pelas partes nos casos de conflitos decorrentes da aplicação da legislação antidumping, sendo raras as decisões judiciais referentes ao dumping no Brasil.

A parte que se sentir prejudicada pela imposição de medidas antidumping deve recorrer às autoridades responsáveis pela defesa comercial do seu país, que poderão encaminhar o caso à Organização Mundial do Comércio, caso julguem que o país importador utilizou a legislação antidumping de forma indevida, afrontando às normas da OMC. Conforme exposto no item anterior, o País-Membro que se sentir prejudicado pela aplicação de medidas antidumping contra as exportações de seus empresários pode

encaminhar o caso à OMC, que dispõe de um efetivo sistema de solução de controvérsias para dirimir os conflitos comerciais.