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Para o primeiro workshop do projeto NPO desenvolvemos um diário baseado em cartões a ser preenchido por famílias. A ideia era que cada membro registrasse em seu diário informações sobre momentos em que assistissem a vídeos pelo período de sete dias corridos. A proposta foi estimula-los a refletir sobre suas próprias práticas e prepará-los para o primeiro workshop de co-criação do projeto.

O diário consistia em uma caixa pré-moldada de papel onde continham 88 cartões coloridos, sendo:

• 80 cartões com um breve formulário para registro de uma situação de assistência de vídeo, na qual o participante precisava anotar sempre que assistisse algo (Figura 5). Desse total, 30 continham um ícone laranja no canto inferior direito indicando a existência de uma pergunta no verso (Figura 6). Figura 5 – Exemplo de cartão (frente e verso padrão) criado para uso no projeto NPO97 Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. 96 Tradução de trecho original: “our experience with the diary-interview method recapitulates the basic structure of most ethnography” (ZIMMERMAN & WIEDER, 1977, p. 491).

97 No formulário há campos para preenchimento de informações sobre dia e horário de assistência, tela usada,

Figura 6 – Exemplos de cartões (frente padrão e 2 versos) com perguntas extras do projeto NPO98 Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. • 8 cartões especiais na cor preta, com perguntas mais gerais sobre práticas de assistência de vídeo dos participantes, sendo: local onde mais assiste vídeos; se há pagamento para assistir determinados conteúdos; o conteúdo que assistiu nos últimos dias e que mais gostou; o gênero de programa que mais gosta; utilização aplicativos de segunda tela; se já teve algum problema técnico; se costuma produzir vídeos e se compartilha; se realizou recentemente alguma dessas atividades (reagi a um vídeo através de rede social; deixei uma mensagem para um programa de TV; interagi via segunda tela; outras formas de interação), (Figura 7); Figura 7 – Exemplo de cartões especiais (2 frentes e verso padrão) do projeto NPO99 Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. 98 As perguntas extras são sobre uso de segunda tela e como se selecionou o conteúdo assistido. 99 Perguntas relacionadas ao uso de aplicativo de segunda tela e se costuma gravar e disponibilizar vídeos.

• 1 cartão de instrução de como usar o diário, contendo no verso formulário com um exemplo de preenchimento (Figura 8). Figura 8 – Exemplo de cartões especiais (2 frentes e verso padrão) do projeto NPO100 Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. Cada membro das famílias participantes recebeu um conjunto de cartões para preenchimento individualizado pelo período de uma semana (de 22 a 30 de junho de 2017). As caixas de uma família continham um símbolo comum aplicado no canto superior esquerdo do cartão. Este ficava sobreposto a uma cor, atribuída a cada membro da família participante. Como tínhamos o levantamento prévio do número de membros por família, os diários foram criados para a demanda exata de participantes.

A proposta era que o diário baseado em cartões permitisse um preenchimento não-linear, e que isso dinamizasse o preenchimento e o tornasse fácil e pouco trabalhoso aos participantes. Da mesma forma, ao preencher os cartões, os participantes já estariam criando o material que eles mesmos usariam no primeiro workshop de co-criação, realizado no dia 01 de julho de 2017, tanto na sede na NPO, com quatro famílias holandesas, quanto no Mintlab, em Leuven, com duas famílias belgas (Figura 9). 100 Instruções sobre o que está contido na caixa e como o diário deve ser preenchido, incluindo um exemplo de cartão formulário preenchido.

Figura 9 – Primeiro workshop de co-criação na sede da NPO em Hilversum, Bélgica Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO.

Durante o primeiro workshop, as famílias trabalharam separadamente na organização dos cartões preenchidos a partir de fichas previamente produzidas e impressas em A3 (Figuras 10 e 11). Nestas havia categorias pré-estabelecidas, tais como local de assistência, telas utilizadas, horários do dia, entre outos aspectos. A partir dessas organizações, os participantes eram convidados a anotar, na base das fichas, quais hábitos de assistência eram mais comuns entre os integrantes da família, como se estivessem analisando seus próprios registros e tirando conclusões sobre suas próprias práticas.

Figura 10 – Fichas usadas no primeiro workshop do projeto NPO (Telas usadas) Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. Figura 11 – Fichas usadas no primeiro workshop do projeto NPO (Local de assistência X Tipo de conteúdo) Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO.

Na sequência, as famílias utilizaram os cartões especiais relativos a práticas mais gerais e não situacionais de assistência como as registradas nos cartões do tipo formulário. A partir disso, elas precisaram propor possíveis soluções/serviços que melhorassem a assistência de vídeos, viáveis de serem implementadas em curto prazo (2 anos) e, sobretudo, que tivessem interesse de utilizar (Figura 12).

Figura 12 – Fichas usadas no primeiro workshop do projeto NPO (Cartões especiais) Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. Ao final do workshop, cada família fez um breve relato das ideias que tinha tido ao realizar as dinâmicas com os cartões (Figura 13). Figura 13 – Momento de socialização de ideias pelas famílias no primeiro workshop do projeto NPO Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. Esse foi um momento bastante rico, pois ao longo do processo de concepção do diário e acompanhando sua aplicação em uma atividade de co-criação, percebemos mais claramente que a pesquisa da tese, voltada à compreensão de práticas cotidianas e correntes dos jovens, poderia ser dinamizada a partir do uso de ferramentas

criativas e com potencial de suscitar reflexão e a discussão entre os participantes, como o diário baseado em cartões desenvolvido para o projeto NPO.

Além do potencial de sensibilização do método de estudo de diários, verificamos como esse poderia funcionar como instrumento de coleta de informações entre os futuros participantes de nossa tese. 3.2.1 Inspirações e constatações sobre o método Percebemos que o estudo de diários poderia se tornar procedimento interessante para engajamento dos jovens preparando-os para as entrevistas sobre suas práticas de consumo. Por seu formato baseado em cartões – como se fosse um jogo de baralho – e a possibilidade de um preenchimento não linear e em qualquer lugar, o diário se mostrou um procedimento estruturado e que possibilitava uma abordagem lúdica e não invasiva para trabalhar com jovens, de modo a envolvê-los no processo de observação e registro de suas próprias práticas de assistência.

Igualmente observamos que esta poderia ser uma produtiva forma de coletar dados detalhados sobre as práticas diárias de assistência de vídeo entre os participantes, já que – como vimos no Capítulo 1 – atualmente as pessoas tem acesso e acompanham conteúdo audiovisual em diferentes momentos do dia e não apenas em ambientes domésticos e privados.

Além de uma forma criativa e possivelmente atrativa de trabalhar com jovens, o processo de preenchimento de um diário nos permitiria construir uma materialidade sobre as mais diversas situações de assistência de vídeo, experienciadas pelos próprios jovens, pois são difíceis de serem acessadas por métodos empiristas, especialmente, com a riqueza de detalhes que cada cartão preenchido apresenta.

Entendemos ainda que seu uso permitiria o mapeamento de dados fluidos (LAZAR et al., 2010), ou mais precisamente, práticas de assistência de vídeo dos jovens que estão hoje dispersas em tempo e espaço e ocorrem em uma diversidade de telas (conectadas ou não).

Diante do exposto, decidimos fazer a leitura dos dados registrados pelas famílias participantes do NPO e experimentar uma forma de análise dos cartões preenchidos na ocasião da primeira fase do projeto. Nas Figuras 14 e 15 é possível verificar alguns dos clusters feitos com os cartões preenchidos.

Figura 14 – Exemplo de cluster feito com cartões do projeto NPO (Dia da pesquisa X Fonte de conteúdo) Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO. Figura 15 – Exemplo de cluster feito com cartões do projeto NPO (Tela X Fonte de conteúdo X Formato conteúdo) Fonte: Acervo de pesquisa do projeto NPO.

No primeiro cluster, verificamos a possibilidade de leitura não linear dos cartões, de modo a recompor o fluxo de assistência do participante durante a pesquisa. Nesse caso, cruzamos dia da pesquisa com fonte de conteúdo. Já na Figura

15, fizemos agrupamentos mais simples de formato de conteúdo e fonte por tela. É importante destacar que em ambos os agrupamentos utilizamos cartões preenchidos por apenas um participante. Pelo formato impresso e codificado por cores, porém, o diário criado permite a leitura e análise conjunta de dados de mais participantes e que podem ser rearranjados de diversas maneiras, a partir da definição de categorias de análise.

Nesse momento, verificamos que o próprio processo de leitura e análise das informações registradas nos cartões por si só, poderia facilitar a identificação e compreensão das diferentes combinações feitas pelos participantes, considerando que cada cartão representa uma configuração específica de assistência de vídeo.

Constatamos ainda que os cartões funcionariam como ferramenta de construção de dados em campo, por meio dos quais poderíamos gerar mapeamentos únicos e detalhados das práticas de assistência dos jovens, e das combinações que estes fazem das dimensões constitutivas dos fluxos interacionais. Isso porque, no preenchimento dos cartões, são registrados tanto dados de uma situação presente e efêmera/pontual, quanto informações sobre hábitos de consumo, posse e tipos de uso de tecnologia, acesso à internet, entre outros fatores decisivos para a compreensão do consumo de vídeos.

Além de apresentar uma revisão de literatura sobre estudo de diários, a principal contribuição deste capítulo foi relatar como fomos inspiradas a adotar esta técnica de pesquisa e como articulamos as recomendações da literatura para criar o material do diário e definir a estratégia metodológica da tese. No capítulo seguinte detalharemos a estratégia metodológica proposta, como ela foi pré-testada e quais as contribuições de sua primeira aplicação com jovens participantes belgas.

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ESTRATÉGIA METODOLÓGICA E PRÉ-TESTE

Neste capítulo apresentamos a estratégia metodológica da tese e detalhamos o processo de criação do material do estudo de diário, este inspirado no modelo usado no projeto NPO. Ao final, apresentamos ainda os procedimentos e resultados do pré- teste da metodologia desta pesquisa, realizado em Leuven na Bélgica com dez jovens universitárias (Etapa 6). 4.1 Definindo a estratégia metodológica

Tal como mencionado no início da tese, entendemos que um fenômeno complexo como o consumo de vídeos não pode ser investigado a partir de arranjos metodológicos tradicionais e/ou centrados em procedimento metodológico único. Dado o nível de penetração e apropriação alcançado pelas tecnologias digitais, o consumo de vídeos se complexificou e precisa ser analisado de forma abrangente, de modo que a compreensão vá além dos aspectos ligados ao uso das tecnologias, e que leve em conta as motivações, sentimentos e emoções que marcam o antes, durante e depois das interações comunicativas a partir das quais os jovens combinam as dimensões que configuram os fluxos interacionais.

Entendemos que investigar o consumo de vídeos demanda a articulação de perspectivas distintas de estudo, sendo elas orientadas à compreensão do que as pessoas fazem e do que elas falam, conforme orienta Sanders (2001, 2002). Por esses motivos, ao longo de nosso percurso nos pareceu pertinente articular procedimentos

metodológicos de matrizes teóricas distintas, sendo o estudo de diários, de origem naturalista, e a entrevista semiestruturada, de origem empirista.

Uma contribuição do paradigma metodológico naturalista está em estudar processos microssociais e compreender a gramática relacional que é própria da interação comunicativa. E ao estudarmos esses processos e os possíveis novos rituais que orientam o consumo de vídeos, reconhecemos a existência de interações comunicativas que se processam tanto no âmbito privado quanto público.

Pelo fato das telas de exibição de vídeos serem portáteis e estarem em todo lugar, os sujeitos agora são impelidos a fazer uso das mesmas em ambientes de convivência com outros, e nesse processo lançam mão das regras já conhecidas de comportamento social, bem como são estabelecidas novas formas de se portar na frente do outro. De acordo com Goffman (1999, p. 200), toda situação de co-presença oferece riscos e também implica rituais. Estes, cada vez mais, são delineados a partir da relação que as pessoas tecem com as telas. Os modos de convivência agora dependem diretamente do nível de imersão e atenção dedicado às telas que carregam consigo, conectadas ou não, e aos conteúdos assistidos. E não se tratam somente de situações de isolamento social, pois nos usos feitos, as pessoas estabelecem formas tão ou até mais intensas e significativas de contato e interlocução em ambientes virtuais do que as interações tecidas em assistências em companhia presencial de alguém.

De acordo com Braga & Gastaldo (2010, p. 96-97), “é muito pouco provável que se consiga ‘isolar’ o consumo de uma mídia da rede de inter-relações na qual ela ocorre, nem o uso de um meio de seu contexto interacional”. Logo, os processos de consumo de vídeos que investigamos são baseados em experiências tanto objetivas quanto subjetivas com a realidade vivida.

Como explicam França & Simões, os significados dessas ações não se encontram dados a priori, “mas sim são construídos na interação social e tratados em um processo interpretativo. [...] A comunicação assume, assim, um papel constituidor da experiência dos sujeitos e da sociedade que edificam” (FRANÇA & SIMÕES, 2016, p. 101).

Por esses motivos, a associação de estudo de diário com entrevista semiestruturada se mostrou caminho coerente e produtivo a ser seguido. Entendemos que o estudo de diário proposto, este baseado em cartões, nos permitiu acessar dados do cotidiano dos jovens com o mínimo de interferência e as entrevistas complementaram o preenchimento do material, com dados aprofundados sobre as

experiências vividas, apropriações e interpretações feitas pelos participantes a partir dos registros que fizeram.

A opção por trabalhar com entrevistas do tipo semiestruturada101 se deu por quatro motivos principais: (i) orientar o foco da entrevista às práticas relatadas no diário e não a aspectos mais gerais de seu consumo de mídia; (ii) assegurar que realizássemos as mesmas dinâmicas de organização dos cartões com todos os participantes, já que esse momento se configuraria como um momento complementar à coleta de informações a partir dos diários, bem como para aproveitar a materialidade dos cartões preenchidos para envolver o jovem a falar durante a entrevista e refletir sobre suas práticas com base em exemplos concretos e não apenas em percepções aleatórias sobre suas ações; (iii) controlar, ainda que de forma parcial, o tempo de duração das entrevistas, já que estas são agendadas com antecedência logo no momento da entrega do diário ao participante, e sem essa informação não teríamos condições de estabelecer a agenda e logística das pesquisas de campo; (iv) produzir dados estruturados sobre o fenômeno estudado no sentido de facilitar a aproximação dos resultados obtidos em ambas as realidades investigadas, localizadas em extremos do Brasil.

Vale ressaltar ainda que tanto a entrevista quanto o estudo de diários são entendidos aqui como técnicas e não como métodos. Especificamente no caso do estudo do diário, entendemos este como instrumento que tem duas funções específicas: (i) ser uma técnica de registro e coleta sistemática de dados – já que fornece informações detalhadas e de modo estruturado sobre situações de difícil observação; (ii) atuar como procedimento preparatório do participante para o momento da entrevista ao suscitar a auto-reflexão sobre suas próprias práticas.

Acreditamos que ao preencher os cartões de forma rotineira, o participante passa a ficar atento ao quantitativo de vídeos que assiste, o que busca mais e como, qual a frequência de determinadas situações, se isso é recorrente ou não, entre outros aspectos. A proposta foi que a partir dessas primeiras reflexões, o jovem se tornasse mais sensível e melhor preparado para falar de suas experiências de consumo de vídeos.

De modo complementar ao preenchimento dos diários, as entrevistas semiestruturadas permitiram a checagem de informações sobre as práticas de assistência registradas no diário, e possibilitaram a coleta de relatos mais aprofundados sobre dados históricos e contextuais sobre o repertório midiático dos

101 Entendemos entrevista a partir de Flick (2009). A semistruturada seria um formato no qual dispomos de um

jovens, bem como suas motivações de consumo de vídeo nas mais variadas situações cotidianas. A entrevista foi o momento em que o participante devolveu o diário preenchido e, só nesse momento, tivemos acesso ao que ele registrou. Para isso, organizamos a entrevista a partir de três eixos principais (ver roteiro no Apêndice 1). O primeiro foi orientado por uma dinâmica de organização e classificação das cartas feita pelo próprio participante em um calendário/cronograma da pesquisa previamente montado no local da entrevista. Naquele momento, convidamos o jovem a relatar as situações de assistência no período do preenchimento no sentido de apreender as impressões que ele teve ou não a respeito de suas próprias práticas.

Para isso, os jovens distribuíram seus cartões no calendário contendo os dias da pesquisa, estes divididos por horários do dia: manhã, tarde e noite. Em seguida, o participante categorizou seus cartões por provedor (usando post-its) e por tela (usando etiquetas previamente produzidas). Com base nessa primeira organização, os jovens usaram adesivos coloridos para identificar os cartões em que assistiram algo de forma online e sozinhos.

Ainda durante o primeiro eixo, com duração prevista de 20 a 30 minutos (o tempo variou de acordo com o montante de cartões preenchidos), exploramos perguntas sobre a metodologia da pesquisa, especialmente sobre o estudo de diários: se havia sido cansativo; como fez o preenchimento dos cartões; se houve algum problema no preenchimento.

No segundo eixo, as questões eram sobre dados contextuais, incluindo informações sobre posse de tecnologia, e para isso utilizamos os cartões de perfil contidos no material que fornecemos

No terceiro eixo, a proposta foi que o participante comparasse o perfil de comportamento que tem atualmente e que possivelmente tinha quando era mais novo. O foco foi verificar se o jovem reconhecia alguma diferença ou determinado processo de transição de suas práticas de assistência de vídeos, e como e quando isso começou a ocorrer.

Por se tratar de um estudo que associa procedimentos metodológicos semiestruturados e que geram uma quantidade significativa de dados, optamos por trabalhar com 10 participantes de 18 a 24 anos de cada município onde a pesquisa foi realizada, se possível equilibrando o número de pessoas por sexo, cinco do feminino e cinco do masculino. Para o recrutamento, porém, optamos por convidar e distribuir material para 12 jovens evitando que, por desistências ao longo da pesquisa, o número de participantes não fosse o esperado. A ideia foi que a entrevista ocorresse

sempre em seção individual e no mínimo após 10 dias de preenchimento do diário pelo participante.

Definida a estratégia, orientamos, então, nossos esforços para pré-testar a metodologia em um estudo com jovens universitárias belgas. Mais do que coletar dados de um cenário empírico bastante distinto do universo de nossa pesquisa, a proposta foi verificar o funcionamento de nossa estratégia metodológica e reconhecer vantagens e limitações da associação de estudo de diários e entrevistas, ainda que esta já tenha sido adotada em outras investigações (ZIMMERMAN & WIEDER, 1977; OBRIST et al., 2008).

É importante esclarecer que ainda que estejamos trabalhando com essa associação, não reconhecemos nossa investigação como diretamente ligada à proposição de Zimmerman & Wieder (1977). Isto porque os autores costumam pedir que os participantes entreguem o material construído antes da entrevista, para que esse possa ser previamente analisado e, apenas a partir dele, seja conduzida a entrevista. Nesse caso, as entrevistas acabam sendo um balanço do que foi encontrado nos diários, bem como o momento para checagem de informações que possam não ter ficado claras e ainda a complementação/expansão da narrativa dos