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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS Símbolos latinos

3.3 INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DE LARANJA

3.4.3 Material Sólido Úmido

Normalmente, os materiais sujeitos ao processo de secagem consistem de um material estrutural sólido contendo certa quantidade de água. Assim, tais materiais recebem a denominação de “materiais úmidos”, os quais podem possuir diferentes propriedades físicas, químicas, estruturais, mecânicas, bioquímicas e outras propriedades resultantes da estrutura do material e do estado da água nele (STRUMILLO; KUDRA, 1986).

Embora os parâmetros da secagem possam influenciar significativamente o processo e, consequentemente, determinar a técnica e a tecnologia de secagem, o mais importante na prática são as propriedades estruturais, o tipo de umidade nos sólidos e a ligação material-umidade (IBIDEM, 1986).

O conteúdo de umidade do material pode ser definido em base seca (equação 3.7) ou em base úmida (equação 3.8) (KEEY, 1992):

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1 ⁄ 2 ⁄ " (3.8)

Onde: X: umidade em base seca (kg de água ou umidade / kg de material seco); X’: umidade em base úmida (kg de água ou umidade / kg de material úmido); mA: massa de água ou umidade

(kg) ; mSS: massa de material seco (kg); mSU: massa de material úmido (kg).

Frequentemente, o conteúdo de umidade é expresso como uma percentagem (100%.X ou 100%.X’). A relação entre os conteúdos de umidade em base úmida e base seca é dada pela equação 3.9.

1 1⁄ 1 1 (3.9)

3.4.3.1 Classificação dos Materiais Sólidos Úmidos

Luikov (1968) classificou os materiais úmidos em três tipos, baseando-se em seu comportamento durante a secagem:

− Materiais tipicamente coloidais (géis elásticos): mudam de tamanho, mas preservam suas propriedades elásticas durante a secagem (por exemplo: gelatina, agar).

− Materiais capilares-porosos: tornam-se quebradiços, sofrem leve encolhimento e podem ser facilmente moídos durante a secagem (por exemplo: areia, carvão).

− Materiais capilares-porosos-coloidais: apresentam propriedades dos tipos anteriores. As paredes dos capilares são elásticas e incham durante a umidificação (por exemplo: madeira, couro).

Segundo Luikov (1968), em materiais capilares-porosos, cujos raios dos poros são menores que 10-7 m (microcapilares), a umidade é mantida no material por forças de tensão superficial. Quando os raios dos poros são maiores que 10-7 m (macrocapilares), além das forças capilares, a força gravitacional também atua.

Outra classificação proposta por Mujumdar e Menom (1995) divide os materiais em:

− Não-higroscópicos capilares-porosos: neste material o espaço poroso está preenchido com líquido (material saturado) ou ar (material seco). A quantidade de água

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fisicamente ligada é desprezível e o material não sofre encolhimento durante a secagem. Exemplos: areia, partículas poliméricas e algumas cerâmicas.

− Higroscópicos porosos: neste tipo de material o espaço poroso é reconhecível, apresenta grande quantidade de umidade fisicamente ligada e sofre encolhimento no início da secagem. Pode ser subdivido em: material higroscópico capilar-poroso, quando apresenta macroporos e microporos (por exemplo: argila, madeira e têxteis), ou material estritamente higroscópico, quando apresenta apenas microporos (por exemplo: sílica gel, alumina, zeólitas).

− Coloidais: neste tipo de material não há poros, a evaporação ocorre apenas na superfície e todo o líquido apresenta fisicamente ligado. Exemplos: sabão, cola, nylon e diversos produtos alimentícios.

3.4.3.2 Tipos de Umidades em Sólidos

No estudo de processos de secagem, é necessário definir tipos característicos de umidade, como (STRUMILLO; KUDRA, 1986; KEEY, 1992; GEANKOPLIS, 1993):

− Umidade inicial (X0): umidade do material no início da secagem.

− Umidade de equilíbrio (XEq): conteúdo de umidade do material que está em equilíbrio

com o vapor contido no agente de secagem. Este é o conteúdo de umidade mínimo que teoricamente um material sendo seco pode atingir em dadas condições de processo. Frequentemente, o XEq é chamado de “conteúdo de umidade higroscópico mínimo”. − Umidade crítica (XC): é uma umidade característica para a mudança de um período de

taxa de secagem constante para uma de taxa decrescente.

− Umidade higroscópica máxima (Xmáx): é a umidade de equilíbrio do sólido quando a

atmosfera ao seu redor está saturada.

− Umidade máxima: é o conteúdo de umidade do sólido quando todos os espaços vazios encontram-se saturados de umidade

− Umidade superficial: este é um filme líquido formado na superfície do material úmido devido efeitos de tensão superficial.

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− Umidade ligada, higroscópica ou dissolvida: é o líquido que exerce uma pressão de vapor menor que a do líquido puro em dada temperatura (umidade retida em pequenos poros, em solução em paredes celulares, adsorvida química ou fisicamente).

− Umidade não-ligada, livre ou capilar: umidade que pode ser eliminada sob dadas condições de processo. Em materiais higroscópicos é o excesso em relação à umidade de equilíbrio, correspondente à umidade de saturação. Em materiais não-higroscópicos, representa todo o conteúdo de umidade interna presente.

A FIG. 5 ilustra os tipos de umidade através de uma isoterma de sorção genérica.

Figura 5 – Ilustração gráfica dos diversos tipos de umidade

(HR – umidade relativa do ar; X – umidade em base seca).

Fonte: STRUMILLO; KUDRA (1986).

A umidade não-ligada pode estar presente no material em uma das duas formas (FIG. 6): estado funicular (quando existe um líquido contínuo dentro dos poros) ou estado pendular, quando o líquido existente ao redor e entre partículas é descontínuo de modo que a umidade é intercalada por bolhas de ar (STRUMILLO; KUDRA, 1986).

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Figura 6 – Estados da umidade não-ligada: (a) estado funicular e (b) estado pendular.

(a) (b)

Fonte: STRUMILLO; KUDRA (1986).

No estado funicular, o movimento do líquido para a superfície externa do material ocorre por capilaridade. Conforme a umidade é removida, a continuidade da fase líquida vai diminuindo devido à sucção de ar para dentro dos poros, levando ao isolamento de porções de umidade (estado pendular). Então, o fluxo capilar só é possível em uma escala localizada (STRUMILLO; KUDRA, 1986).

3.4.3.3 Comportamento Higroscópico

Dados de equilíbrio para materiais úmidos são frequentemente mostrados como relações entre a umidade relativa do gás (HR) e a conteúdo de umidade do material em base seca (X).

Exemplos de relações de equilíbrio são as isotermas de sorção mostradas nas FIG. 7 e 8 (GEANKOPLIS, 1993; MCCABE, 2001).

A umidade de equilíbrio varia bastante com o tipo de material em uma determinada umidade relativa, conforme mostrado na FIG. 7. Sólidos insolúveis não-porosos tendem a apresentar umidade de equilíbrio muito baixa como a do caulim (FIG. 7, curva 5). Certos materiais de origem orgânica ou biológica geralmente apresentam elevadas umidades de equilíbrio, como os mostrados na FIG. 8 (GEANKOPLIS, 1993; MCCABE, 2001).

O conhecimento das isotermas de sorção é importante na concentração, desidratação e secagem de materiais; na previsão da estabilidade química, enzimática e biológica; entre outros. Conforme pode ser notado nas FIG. 7 e 8, as isotermas de sorção são representações gráficas da umidade de equilíbrio do material em função da umidade relativa do ar à qual o material é exposto, a uma determinada temperatura (LABUZA, 1968; DURAL; HINES, 1993).

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FIGURA 7 – Curvas de umidade de equilíbrio a 25ºC para diversos materiais: lã (1), sabão (2), seda (3), papel (4) e caulim (5)

Fonte: MCCABE (2001).

Figura 8 – Curvas de umidade de equilíbrio a 25ºC para gêneros alimentícios: (1) macarrão, (2) farinha, (3) pão, (4) biscoito, (5) albumina de ovo.

24 3.4.4 Cinética de Secagem

A cinética de secagem pode ser definida como a variação do conteúdo de umidade média do material e da sua temperatura com o tempo (X = f (t) e T = f(t), respectivamente). A cinética de secagem permite quantificar a umidade evaporada do material, o tempo de secagem, o consumo de energia, etc. Os parâmetros que influenciam a cinética de secagem são: temperatura, umidade do ar, velocidade relativa do ar e a pressão total (STRUMILLO; KUDRA, 1986).

O processo de secagem é bem ilustrado em diagramas como: a curva de secagem (relaciona a variação da umidade do material em função do tempo), curva de taxa de secagem (relaciona a taxa de secagem do material em função da sua umidade) e curva de temperatura (mostra a variação da temperatura do material com a umidade do material) (STRUMILLO; KUDRA, 1986).

Os dados para a determinação de uma curva representativa são geralmente obtidos em laboratório pela medida da massa e temperatura do material com o tempo. Nas FIG. 9 e 10 são mostradas curvas de secagem e de taxa de secagem típicas, respectivamente.

FIGURA 9 – Curva típica de cinética de secagem

25 FIGURA 10 – Curva típica de taxa secagem

Fonte: STRUMILLO; KUDRA (1986).

Observa-se que no tempo igual a zero, o teor de umidade livre é mostrado no ponto A. No início da secagem (curva A-B), geralmente a temperatura do material úmido (TS) é diferente da

temperatura do agente de secagem (Tg) e, normalmente, após um período curto, a variação da

umidade com o tempo (X = f (t)) apresenta uma característica linear. No período seguinte (caracterizado pela linha B-C), a taxa de secagem é constante e a umidade do material varia linearmente (período de taxa de secagem constante). Quando atinge a umidade crítica (ponto C), a linha torna-se uma curva até atingir a umidade de equilíbrio do material (período de taxa de secagem decrescente), para dada condição de secagem (STRUMILLO; KUDRA, 1986; GEANKOPLIS, 1993; MCCABE, 2001).

A taxa de secagem (W) é definida como a quantidade de umidade removida do material sendo seco por unidade de tempo pela superfície de secagem, ou seja:

3 5 ·44 6167 (3.10),

ou como a equação 3.11, válida para materiais com encolhimento desprezível durante a secagem:

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Strumillo e Kudra (1986) apresentam curvas de taxa de secagem características para diferentes tipos de materiais, conforme sua higroscopicidade.