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5 O NÚCLEO DE MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA DO BAIRRO JOÃO XXIII

5.3 Mediação

A mediação é um método autocompositivo de resolução de conflitos, significando dizer que, neste procedimento, diversamente do processo judicial, preza-se pela convergência das vontades dos envolvidos no sentido de dissipar um embate. Um mediador, ao contrário de um juiz, encarrega-se de criar um ambiente favorável ao diálogo e propício ao acordo, munindo cada parte de poder e autoestima para solucionar o problema. Para tanto, é vedado ao mediador exprimir apoio a qualquer das partes, ou se sub-rogar na vontade delas. O acordo deve ser construído pelos envolvidos no conflito, isto é, se assim o desejarem.

Há, ainda, outro ponto de divergência entre a jurisdição e a mediação. Enquanto a primeira visa revelar a verdade real dos fatos, escondida nas alegações, e lhe aplicar a providência legal, a segunda intenta dirimir uma desavença e resgatar os laços estremecidos entre as partes, promovendo a pacificação social. O Ribeiro ilustra essa distinção:

Mas, até então, a gente quer que vocês resolvam o problema de vocês porque a solução está em nós no sentido de esclarecer, mas não de baixar o martelo. Porque lá no Fórum, vocês sabem muito bem que, quando o juiz bate o martelo, alguém sai ganhando e alguém sai perdendo, né? Quem sai ganhando, quando sai da mesa do juiz, sai sorrindo; quem sai perdendo, sai chorando. Em muitas das vezes, o que chora, sente-se mal, passa mal, pede pra tomar um copo com água... Chora, né? Aí, em muita das vezes, chega até a mesa do juiz pra saber o porquê que essa pessoa tá chorando... "Meritíssimo, por que a pessoa perdeu o caso?". Aí ele diz: "Pois que recorra!". Né? Não é assim a válvula de escape? E o que o advogado quer é que recorra mermo, que é pra ganhar mais, né? "Que eles recorra!".

O predicado “comunitária” não acresce àquela definição de mediação somente o panorama comunitário, invocando o código de valores e a linguagem que lhe é própria. A comunidade é uma terceira parte implícita em toda audiência, cujo essencial interesse é a solução do conflito e o resgate de um vínculo harmonioso e solidário. A seguir, define o Ribeiro o papel de um mediador:

Quando nós fomos convidados a ser mediador, nós fomos convidados a ser agentes da pacificação social. E você ser um agente da pacificação social, você tem que dar uma de padre, saber escutar; você tem que dar uma de psicólogo, saber orientar nos momentos mais frágeis que a família tá passando; você tem que se calar nos momentos mais emocionais. Você até que pode se emocionar. Como eu sou muito emotivo, tem determinados casos que eu me emociono, muitas das vezes a gente fica até olhando assim para o caso das pessoas e, no meu íntimo, eu fico dizendo “meu

Deus do Céu, tem misericórdia dessas pessoas”.

Em entrevista privada, a Irleida elucidou o passo-a-passo de um procedimento de mediação, possibilitando a seguinte exposição de suas etapas.

Uma mediação possui, no mínimo, três sessões: duas individuais de pré-mediação e uma coletiva de mediação propriamente dita. As particularidades do caso podem determinar o agendamento de mais encontros.

Quando um assistido recorre ao núcleo, trazendo uma questão pessoal e os seus fundamentos, inaugura-se a primeira sessão de pré-mediação. Ao mediador, cumpre explanar os princípios da mediação, realizar a escuta ativa da narração do solicitante e lhe fazer perguntas abertas a fim de estimular a reflexão a respeito de seu pedido, da sua causa de pedir e das possíveis consequências.

Em obediência ao princípio da igualdade de oportunidades, é agendada outra sessão particular, desta vez, figurando o solicitado, se for da sua vontade ingressar no processo não-judicial. Para tanto, o mediador confecciona uma carta-convite (ANEXO C), a ser entregue ao solicitado pelo solicitante. Frise-se que a aceitação do requerido não é obrigatória, nem a sua presença, compulsória.

Aceitado o convite e comparecendo o solicitado, as instruções são idênticas às acima feitas para a sessão de pré-mediação com o solicitante.

Se ambas desejarem, a sessão coletiva, marcada desde a primeira sessão, será realizada. A audiência não prescinde da presença de qualquer das partes.

Na reunião, o mediador deve novamente se apresentar e fixar algumas regras de comportamento para os presentes. A mais importante é o respeito ao turno da fala, isto é, as

partes gozam de iguais direitos de fala e não serão interrompidas no exercício desse direito. Justifica a mediadora, “o importante no momento é ouvir, e cada qual tem o seu tempo”.

A mediadora acredita que a relevância da mediação é devolver aos indivíduos o poder de solucionar as suas próprias questões, considerando as necessidades e possibilidades mútuas. Afinal, o mediador desconhece a realidade dos assistidos. Portanto, “tem de deixar nas mãos deles, ((deixar)) eles serem juízes das causas deles. E o mais interessante é que as pessoas, quando se acham capacitadas para resolver as suas questões, lá fora vão fazer as mesmas coisas”.

Para a mediadora, por vezes, há somente a aparência de um conflito e explicou a declaração por meio de uma metáfora: mediar é como dividir uma laranja, em que nenhuma das partes aceitaria a metade da fruta, contudo, após investigar os reais anseios de cada uma, o mediador conclui que, enquanto a primeira deseja a casca, a segunda deseja o suco.

Por fim, retratou a importância do esforço conjunto das partes e da pré-disposição a fazer concessões para a construção de um acordo, novamente, mediante uma analogia: se dois animais amarrados por uma corda quiserem comer, cada um, uma porção de capim e essas porções estiverem distantes, nada comerão se continuarem a tencionar a corda em sentidos contrários. Eles deverão agir em conjunto, compartilhando com o outro a sua porção de capim.

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