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O termo semiótica vem do grego “semeiotiké ou “a arte dos sinais”, essa definição leva à seguinte compreensão: “A semiótica é a doutrina geral dos signos, ( Peirce apud Araújo, 2004, p.54).

Vygotsky se utiliza do conceito de mediação semiótica para constatar a utilização dos signos, instrumentos ou ferramentas psicológicas e culturais, construídas pelo homem, no sentido de mediar as ações deste com a natureza que o cerca.

Os signos são produtos da ação do próprio ser humano e decorrem, portanto, da história da humanidade. Uma vez apropriados, caracterizam o psiquismo humano sígnico e, em conseqüência, inexoravelmente social. Sendo o signo um elemento que representa alguma coisa de alguma forma para alguém, a sua característica fundamental é a reversibilidade (ZANELLA, 2004, p. 131).

Essa mediação dá-se através de uso dos instrumentos ou signos que servem para propiciar ao homem interações, apropriações e internalizações psíquicas, por meio de interações culturalmente mediadas com o outro mais experiente, conforme Valsiner (1.998): “Vygotsky coloca ênfase na comunicação, e advoga a interação social como uma base para as funções psicológicas humanas. Para Vygotsky, a atividade do sujeito adquire significado através da influência de outras pessoas” (Valsiner apud Lyra, 1998, p. 55).

Nessa perspectiva, Vygotsky elaborou sua concepção de consciência, considerando que os seus fundamentos não são fisiológicos, nem biológicos, mas sim sociológicos. Para ele, entende-se o uso das ferramentas semióticas como um processo de intervenção, através dos signos, sejam lingüísticos ou materiais, como meios de interações e construções de novas capacidades mentais superiores no processo de ensino e aprendizagem, que se dão através das relações sociais com o uso da linguagem, enquanto processo de construções de novos conceitos no dia-a-dia na esfera escolar.

Para entender, na concepção de Vygotsky, o que vêm a ser os instrumentos psicológicos, faz-se primeiro saber o que se entende por signos, que se apresentam como instrumentos psicológicos/materiais, servem de instrumentos semióticos de mediação construídos historicamente e são utilizados sob a representação da linguagem nos processos da interação social.

Segundo Moro e Rodrigues (1998): “a mediação sob o uso dos signos – analisada por Vygotsky, sobretudo na perspectiva da linguagem – são instrumentos de suma

importância entre a comunicação e o pensamento” (Miro e Rodrigues in Lyra apud Valsiner, 1998, p. 55).

Em Wertsch (1998, p.62), encontra-se a denominação de instrumentos em duas concepções: uma delas diz respeito aos instrumentos culturais que abordam as ferramentas e servem para mediar a ação humana em suas atividades que, para Vygotsky, é uma “ação mediada”. Quanto à outra concepção, o autor aborda a questão das ferramentas psicológicas que, no seu entendimento, é fundamental enquanto meios “mediacionais”, “por estarem incluídas no processo de comportamento, onde a ferramenta psicológica altera todo o fluxo e a estrutura das funções mentais...”.

Neste trabalho, as ferramentas semióticas se representam sob a forma de ferramentas psicológicas e culturais, que no primeiro caso dá-se quanto ao uso da linguagem, seja ela oral ou escrita, enquanto práticas sociais. No seu sentido oral acontece em forma de questionamentos, explicações, citações e exemplificações, que servirão de uso e práticas de ensino e aprendizagem para motivar a formação e apropriação de novos conceitos pelos alunos durante as intervenções nas práticas de ensino e de aprendizagem.

Em relação às ferramentas culturais/materiais, entende-se a utilização de ferramentas que contribuem para mediar a ação das atividades de ensino como: retroprojetor, slides, cartazes, escritas, desenhos e outros, que para Vygotsky (1930/1982 - 1996/2004, p.94), “...o instrumento técnico modifica o processo de adaptação natural e determina a forma das operações laborais”.

Nessa concepção, entende-se que, para a visão sócio-histórica, os signos são reconhecidos como instrumentos psicológicos e que servem para orientar no processo da mediação das ações dos sujeitos envolvidos durante os momentos de ensino e aprendizagem, possibilitando a troca de experiências sociais, que serão apropriadas e internalizadas pelo indivíduo nas inter-relações.

Para Vygotsky, a transformação de uma atividade intrapessoal é um processo de ações (atividades) mediadas com o auxilio, seja de instrumentos psicológicos, seja de instrumentos culturais, que podem contribuir para uma mudança significativa dos processos mentais superiores a um nível mais complexo de conhecimentos ou generalizações.

Sem maiores detalhes, apenas como norte para uma compreensão distintiva entre as duas concepções de ferramentas psicológicas e culturais, Vygotsky expõe alguns esclarecimentos:

Uma diferença muito importante entre o instrumento psicológico e o técnico é a orientação do primeiro para a psique e o comportamento, ao passo que o segundo, que também se introduziu como elemento intermediário entre atividade do homem e o objeto externo, orienta-se no sentido de provocar determinadas mudanças no próprio objeto. O instrumento psicológico, ao contrário, não modifica em nada o objeto: é um meio de influir em si mesmo (ou em outro) – na psique, no comportamento, mas não no objeto (VYGOTSKY,[1930/1982] 1996/2004, p.97).

Conquanto, Vygotsky demonstrou a importância do uso da linguagem como ferramenta semiótica, tornando-a chave de compreensão para as principais questões epistemológicas que atravessam as ciências humanas e sociais.

Portanto, o sentido das coisas, para Vygotsky, é dado ao ser humano através do uso da linguagem. Para ele, na linguagem, no diálogo, na interação estão, o tempo todo, o sujeito aprendiz e o outro, onde o ser humano, através de suas relações, por intermédio das ferramentas semióticas, constitui-se e desenvolve-se como sujeito ativo no processo de apropriação do conhecimento.

Vygotsky , ao fazer uma epistemologia da Psicologia, sugere um novo caminho a partir da cultura, do outro, da linguagem em busca do sujeito. O conhecimento na perspectiva desse autor, é construído na interação, em que a ação do sujeito abre o objeto é mediada pelo outro através da linguagem. Assim, da discussão entre uma ênfase no sujeito ou no objeto, emerge um sujeito interativo ( FREITAS, 1999, P. 161).

Conforme Cavalcanti (2005), “a ação humana está subordinada à criação de meios técnicos e semióticos, estes últimos particularmente destacados por Vygotsky”. Assim, o mundo para o sujeito é construído a partir de representações sociais através de simbologias construídas culturalmente dentro de um processo histórico, pela humanidade.

2. O PROFESSOR MEDIADOR, A LINGUAGEM E A APROPRIAÇÃO DE

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