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4. O CURSO MÍDIAS NA EDUCAÇÃO NA VISÃO DE SEUS USUÁRIOS

4.4. ASPECTOS QUE INTERFEREM DE FORMA NEGATIVA NA OFERTA DO

4.4.5 A Mediação dos Tutores

A tutoria foi um dos pontos menos criticados pelos cursistas participantes da pesquisa. Isso pode ter ocorrido por dois motivos principais: a) o fato da pesquisadora, também, ser tutora do curso, o que levaria os cursistas a se sentirem inibidos em apresentar pontos críticos na atuação da tutoria; b) ou todos os tutores tiveram boa atuação, considerando que essa função é um desafio, já que normalmente, os tutores tiveram sua formação inicial em cursos presenciais bem como sua atuação docente.

Porém, quando o tutor não realiza o processo de mediação recomendado pela instituição ofertante do curso, compromete a aprendizagem do aluno. Esse foi um ponto citado por cursitas e que tem sido uma preocupação na realização de cursos a distância. Nesse sentido, o C4 solicita “que os tutores façam comentários das atividades postadas”. O comentário das atividades é uma das principais atribuições do tutor, especialmente, por estar relacionado ao processo de aprendizagem. Essa falta de assistência pedagógica do tutor reverte em desânimo para os cursistas, principalmente, por não saber como está sendo seu desempenho no curso.

Por outro lado, podemos pensar que essa situação acontece pelo fato do tutor não ter domínio do conteúdo do curso, o que interfere, consequentemente, na aprendizagem

dos cursistas. As intervenções do tutor nas atividades são fundamentais no processo de aprendizagem. Assim, o C8 chama a atenção para “A postura da tutoria que deve ser comprometida com o desempenho da aprendizagem do aluno de forma que mantenha uma relação de contato para avaliação das atividades vivenciadas”. Essa “aparente” ausência do tutor pode não favorecer o processo de permanência dos cursistas no curso, ou não manter seu interesse pelo curso. O tutor deve estabelecer uma relação aberta e franca com os cursistas, mostrar-se interessado pela sua aprendizagem, estar aberto ao diálogo e, acima de tudo, ser afetivo. Freire (2010) afirma que “[...] não há diálogo verdadeiro se não há nos seus sujeitos um pensar verdadeiro. Pensar crítico. Pensar que, não aceitando a dicotomia mundo-homens, reconhece entre eles uma inquebrantável solidariedade” (FREIRE, 2010, p. 95). O diálogo que é tão necessário em qualquer relacionamento humano pode influenciar para o encurtamento das distâncias.

A ausência do tutor, também, é sentida nos fóruns de discussão, como aponta o C10: “Acho que deveria haver maior interação tutoria/cursistas nos fóruns”. Essa presença do tutor, junto aos cursistas, contribui para dinamizar a discussão, fazendo esclarecimentos de possíveis equívocos de informações ou de conceitos mencionados, esclarecendo dúvidas, levantando novos questionamentos e sintetizando a discussão. Quando o tutor se ausenta no acompanhamento das atividades dos cursistas, há a possibilidade de que ele não se “coloque no lugar do outro” (o cursista) e, assim, possa prejudicar o desempenho do cursista. Essa ausência, também, pode ser representada por outras tarefas desenvolvidas pelo tutor (diferentes desta função) e, por isso, sobra pouco tempo para dar assistência à turma.

Alguns cursistas reconhecem à importância da tutoria num curso a distância e o seu papel junto, principalmente, aqueles cursistas que participam pela primeira vez de um curso a distância em AVA. Para o C11, “[...] é necessário que haja uma boa atuação da tutoria [...]”. Desta forma, quando o tutor não cumpre o que é de sua competência, há um descompasso entre os propósitos do curso e o seu resultado. Porém, não podemos esquecer de que, numa turma com 50 (cinquenta) cursistas (ou mais) e com uma carga horária semanal destinada à tutoria de 15h – como acontece no curso Mídias na Educação – que, aliás, é muito reduzida, o tutor poderá não dar conta de todas as atribuições exigidas para a sua função: tantas são as tarefas e tamanha é a turma. No entanto, vale destacar que o tutor

deve ficar atento para que não haja ruptura no diálogo e, assim, não deixa de dar retorno às atividades dos cursistas, esclarece as dúvidas e responde os e-mails dos cursistas.

E mais, ainda, não podemos nos omitir de dizer que o problema não seria somente falhas na atuação do tutor, mas também, em sua formação para essa atuação. Afinal, os cursos de EAD estão se expandindo com grande velocidade, porém não há profissionais suficientemente preparados para trabalhar com essa modalidade de ensino. Temos visto que essa formação está ocorrendo, na verdade, no exercício da tutoria, tendo como parâmetros, acertos e erros do processo.

Os tutores do curso Mídias na Educação que responderam ao questionário desta pesquisa, por sua vez, reconhecem que a capacitação é necessária para atuarem na função de tutor, no entanto, parte deles destaca essa formação como sendo voltada, apenas, para os aspectos técnicos. É dessa opinião o T1:

Participei de uma formação em relação ao ambiente Moodle [...]. Durante a formação tivemos oportunidade de conhecer as ferramentas básicas do ambiente virtual e trocar idéias com técnicos, tutores e os colegas da formação. Isso nos fez perceber como deveria ser a atuação do cursista de educação a distância, em ambiente virtual e como o tutor deve proceder.

A capacitação do tutor para conhecimento do ambiente virtual do curso é necessária, mas não é suficiente. A ênfase nessa capacitação, também, é dada pelo T3: “mesmo tendo experiência com informática e Informática Educativa, não conhecemos todos os ambientes, e como tutor, há muitas outras ferramentas a serem utilizadas, diferente de uso como aluno”. Os tutores podem ter feito referência a sua capacitação, nesses moldes, porque pode ter sido a única oferecida. Restringir a formação do tutor, apenas, ao conhecimento do ambiente virtual do curso, é sinal de que o tutor não teve formação necessária para sua atuação. Além disso, devemos levar em conta, também, que o fato, por exemplo, do tutor já ter realizado um curso a distância, em AVA, como aluno, não significa que esteja apto para exercer a função de tutor, embora seja um indício.

O T6, por sua vez, considera que a formação de tutores deve contemplar os aspectos técnicos, os administrativos e os pedagógicos:

É importante que o tutor tenha conhecimento do ambiente virtual tanto em termos técnicos, capaz de detectar alguns problemas de publicação, de acesso e de navegação; quanto administrativos [...]. Outro ponto

primordial na formação de tutoria a considerar é que o tutor ao dominar o ambiente saiba articular as interações realizadas entre os cursistas e as ferramentas virtuais de comunicação e, ainda, ter conhecimento do assunto e das atividades a serem realizadas no curso.

Dos tutores participantes desta pesquisa e que disseram ter participado de curso para formação de tutores (alguns deles não participaram), nenhum deles enfatizou que esta formação contemplou esses três pontos citados pelo T6. Por outro lado, os tutores poderiam reivindicar das universidades uma formação mínima, mas que contemplasse os principais aspectos relacionados à tutoria em ambientes online. Esse diálogo é necessário, pois os maiores beneficiários são os alunos/cursistas. Reconhecemos que, com a expansão da EAD, há a necessidade de docentes para atuarem nos mais diversos cursos, tanto de graduação como de pós-graduação, e de extensão tem crescido bastante, o que pode contribuir na falta de formação desses profissionais.

Dados do CensoEAD.BR (2009) comprovam que grande parte dos docentes que trabalham com EAD não foi formada para atuar nessa modalidade de ensino, ou seja, somente 40% das instituições dispõem de profissionais com titulação de mestrado ou doutorado nessa área. Já as instituições com especialistas em EAD são em maior número, ou seja, em torno de 53%. Um décimo das instituições tem profissionais com graduação nesta área. Assim, de todas as instituições que oferecem cursos a distância, praticamente, um terço somente, háprofissionais que estão se formando em EAD.