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Perfil Diferente do Exigido para o Curso

4. O CURSO MÍDIAS NA EDUCAÇÃO NA VISÃO DE SEUS USUÁRIOS

4.4. ASPECTOS QUE INTERFEREM DE FORMA NEGATIVA NA OFERTA DO

4.4.1. Perfil Diferente do Exigido para o Curso

Os professores que participam do curso Mídias na Educação são aqueles profissionais que trabalham em escolas públicas de educação básica, que em sua maioria, possuem programas como TV Escola e Proinfo (com os laboratórios de informática). Esses profissionais, em sua vida pessoal, também, convivem com TV e computador conectado à Internet (este último, não todos), porém muitos deles não sabem lidar com esses recursos tecnológicos, especialmente, o computador e, assim, não o utilizam em atividades básicas como enviar um e-mail, por exemplo. Fiorentini (FIORENTINI, 2003, p. 31) diz o seguinte:

[...] não podemos esquecer que, como adultos, a maioria de nós é originada do sistema convencional e presencial de educação, o que influencia e pode condicionar nossas concepções, nossas maneiras de perceber, de organizar, de avaliar os processos, os materiais, os conteúdos, de maneira frequentemente implícita, até mesmo inconsciente. Isso ocorre porque estamos influenciados pela força pedagógica de nossas práticas sociais, individuais e coletivas, dos conhecimentos existentes, do cotidiano de nossa formação, experiência e trajetória, como aprendizes e ensinantes, e também de nossa experiência previa com os meios, linguagens e textos.

Na escola, na maioria das vezes, os professores não utilizam os recursos tecnológicos nas atividades pedagógicas, ou quando o fazem, é de forma esporádica. Por causa disso, muitas vezes, são vistos como acomodados ao se negarem a fazer uso desses recursos tecnológicos em sua prática pedagógica. Segundo o T8,

O público específico deste curso são os professores, que na sua maioria tem vínculo com a rede estadual e municipal, ou quando não, a particular; com pouca experiência no uso pedagógico dos suportes midiáticos; com pouca leitura em outras áreas do conhecimento que não seja a sua de atuação, portanto mais uma dificuldade para compreender o uso pedagógico desses suportes.

Pelo visto, somos levados a pensar que essa situação existe porque os professores não têm formação específica para tal, o que não seria uma atitude negligente deles. Essa pode ser uma das razões da procura pela inscrição no curso Mídias na Educação. Por outro lado, ao se inscrever no curso, alguns desses professores desconhecem os critérios exigidos para freqüentá-lo, ou não os leva em conta (o perfil do cursista foi tratado no Capítulo II). Daí decorre dois outros problemas: 1) no primeiro caso, compreendemos que houve problema na divulgação do curso feita pela SEEC, UNDIME, DIRED e escolas; 2) já no segundo, as instituições responsáveis pelo curso no RN (SEEC, UNDIME e as duas IPES) deveriam criar mecanismos que pudessem identificar o cursista sem perfil recomendado (conforme exigência da SEED/MEC) e ver algumas possibilidades que pudessem auxiliá- lo, nesse momento inicial do curso. É preciso considerar, também, que os cursos devem ser planejados para atender as necessidades de formação dos professores e, não, o contrário, os professores se ajustarem ao formato do curso.

Outros aspectos considerados problemáticos, relacionados ao perfil dos cursistas, têm sido apresentados pelos tutores, embora não sejam critérios exigidos para a inscrição no curso Mídias na Educação, mas que merecem uma apreciação. Um desses aspectos é a falta de organização de muitos cursistas para os estudos, ou seja, eles não conseguem estabelecer um cronograma próprio de estudos e isso acaba interferindo no seu desempenho. Para o T1, o cursista “Não tem disponibilidade de tempo para as leituras dos conteúdos e realização das atividades; não conseguem administrar o pouco tempo que tem disponível”. Comunga da mesma opinião o T6, afirmando que o cursista “reserva pouco tempo para leituras e interações, não consegue disciplinar seu tempo de estudo, no momento a distância”. Esse mesmo tutor, ainda, levanta outra preocupação, desta vez relacionada à falta de autonomia do aluno nos cursos de EAD, enfatizando que este apresenta “dependência da explicação presencial do professor, dificuldade de interagir com os colegas suas próprias idéias, dependência do outro em compreender a lógica de navegação do ambiente virtual [...]”.

Reconhecemos ser importante considerar que grande parte desses cursistas é a primeira vez que está participando de um curso a distância, além de ser num ambiente virtual. Assim, estudar sozinho, aprender com outros cursistas através de ambiente virtual, administrar o tempo de estudos, elaborar um cronograma para os estudos e cumpri-lo é algo que o cursista vai aprendendo no processo, pois tanto em sua formação inicial, como em sua prática pedagógica, a realidade é outra, ou seja, sua formação acadêmica foi na modalidade presencial de ensino e a prática profissional é nessa mesma modalidade. Para isso, ele necessita da colaboração do tutor, dando orientações de como proceder no ambiente do curso. Essa não é uma situação confortável para o cursista, pois tem diante de si um impasse: a necessidade de participar de cursos de formação continuada e a dificuldade de gerenciar os estudos na modalidade a distância.

Moore e Kearsley (2007) trazem uma reflexão sobre o fato de que a maioria dos alunos de cursos a distância tem pouca experiência (ou nenhuma) em cursos dessa natureza, consequentemente, não têm familiaridade com essa modalidade de ensino, assim podem não se sentir motivado a participarem desses cursos. Grande parte desses alunos tem opiniões erradas a respeito da EAD, como por exemplo, achar que esses cursos são mais fáceis do que os presenciais, não precisando dispensar muito tempo a eles. No entanto, quando percebe que isso não é a realidade, pode perder o interesse em participar do curso.

De acordo com os referidos autores, outro engano cometido por muitos cursistas é achar que a qualidade dos cursos de EAD são inferiores aos presenciais. Para que esses equívocos sejam esclarecidos, seria oportuno que em todo curso a distância, tivesse uma espécie de sessão de orientação, de forma a ajudar os alunos a entenderem como opera o sistema de veiculação do curso, bem como o que é esperado de todos os participantes.

Vale salientar que, quando refletimos sobre formação de professores, não podemos esquecer de que os cursos de formação continuada, em serviço, ao serem planejados, devem contemplar o tempo necessário, na carga horária do professor, para realizar sua formação. Dessa forma, as políticas de formação das redes de ensino precisam inserir esse tempo nas jornadas de trabalho dos professores. Reforçamos, ainda, que dentro das condições precárias em que os professores realizam sua docência, é possível que a motivação destes profissionais para continuarem investindo em sua formação continuada,

seja oriunda do compromisso que têm com a formação de novas gerações e a clareza de que o saber é um instrumento de luta dentro de uma sociedade desigual.