As medidas administrativas estão na órbita de atribuições dos agentes de trânsito, portanto, passíveis de serem aplicadas no momento da ocorrência da infração, em um ato de fiscalização . São verdadeiras medidas emergênciais, que favorecem a segurança viária .
Sendo assim, saiba que não constituem sanção, mas sim constrangimento de polícia, posicionando ao lado da sanção, complementando-a, como deixa certo, diga-se, o § 2º do art . 269 .
Seu caráter acessório justifica a aplicação da multa sem a aplicação das medidas administrativas . Na aplicação da medida administrativa, não há de se falar em lesão à esfera de direito do administrado – este sim usou indevidamente o direito que possuía .
Como exemplo do exposto, podemos citar o condutor que estacionou seu veículo sobre uma calçada e este foi removido para o depósito público .
A pergunta é: será que esse condutor sofreu uma lesão ao seu direto de propriedade ou será que foi ele que invadiu a esfera do interesse coletivo (segurança dos pedestres)?
Certamente foi o condutor que invadiu a esfera do interesse coletivo . Houve um abuso no uso do direito de dispor da sua propriedade .
Em virtude do exposto, as medidas administrativas são aplicadas sem a necessidade de prévio processo administrativo, o que não ocorre na aplicação das penalidades, como visto anteriormente .
Nesse momento, é de extrema importância perceber que a forma com que as medidas administrativas têm sido implementadas pelos órgãos de trânsito não tem sido a forma cobrada em provas de concursos públicos, que tem valorizado a literalidade sobre o tema .
Os órgãos e as entidades que têm seus agentes trabalhando na fiscalização de trânsito, levam em consideração, ao regulamentar o tema, que as medidas administrativas têm um caráter emergencial, de sanar uma irregularidade momentânea, e sempre terão por objetivo prioritário a defesa da vida e a incolumidade física da pessoa .
Então perceba que, embora o CTB não faça menção quanto à possibilidade ou não de se remover um veículo na presença de seu proprietário, isso apenas é permitido se o veículo estiver causando algum tipo de risco à sociedade . Porém, quando o tema é cobrado em provas
de concurso público, saiba que, quando um condutor comete uma infração que está sujeita à aplicação de medidas administrativas, estas sempre são aplicadas .
Atualmente o tema encontra-se regulamentado nas Resoluções nº 371/2010 e nº 561/2015 do Contran.
Perceba que as medidas administrativas, diferentemente das penalidades, iniciam-se com as letras RET, consistindo em um interessante método de memorização, criado pelo ilustre professor Celso Luis Martins . Vejamos cada uma das medidas administrativas expressas na legislação de trânsito:
O Contran, em sua Resolução nº 371/2010, dá algumas informações complementares acerca do tema medidas administrativas, a saber:
Medidas administrativas são providências de caráter complementar, exigidas para a regularização de situações infracionais, sendo, em grande parte, de aplicação momentânea, e têm como objetivo prioritário impedir a continuidade da prática infracional, garantindo a proteção à vida e à incolumidade física das pessoas e não se confundem com penalidades . Compete à autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via e seus agentes aplicar as medidas administrativas, considerando a necessidade de segurança e fluidez do trânsito .
A impossibilidade de aplicação de medida administrativa prevista para infração não invalidará a autuação pela infração de trânsito, nem a imposição das penalidades previstas .
18.1 Retenção do veículo
É a retirada momentânea de circulação de um veículo irregular para que uma irregularidade seja imediatamente sanada . Ainda quanto à retenção, existem algumas peculiaridades que devemos levar em consideração, como, por exemplo: se a irregularidade não puder ser sanada no local, se a retenção do veículo puder causar mais transtornos que sua liberação – o que fazer nesses casos .
Sendo assim, vejamos qual o procedimento previsto para o agente em cada situação específica:
a) Irregularidade pode ser sanada no local – autua e libera o veículo;
b) Irregularidade não pode ser sanada no local – autua, recolhe o CRLV e libera o veículo; ou
autua e recolhe o veículo para o depósito, a depender da segurança do trânsito . Lembre-se de que as medidas administrativas devem priorizar a defesa da vida .
c) Irregularidade não pode ser sanada no local, porém é mais seguro liberar o veículo –
quando se tratar de veículo de transporte coletivo transportando passageiros ou veículo transportando produto perigoso ou perecível, desde que ofereça condições de segurança para circulação em via pública, a critério do agente, não se dará a retenção imediata .
Ainda quanto à medida administrativa de retenção de veículo, cabe ressaltar que, conforme previsão no art . 104, § 5º, do CTB, aos veículos reprovados na inspeção de segurança e de emissão de gases poluentes e ruído, essa também deverá ser aplicada .
A retenção consiste na sua imobilização no local da abordagem, para a solução de determinada irregularidade e se dará nas infrações em que esteja prevista essa medida administrativa e no caso de veículos reprovados na inspeção de segurança e de emissão de gases poluentes e ruídos .
Quando a irregularidade puder ser sanada no local onde for constatada a infração, o veículo será liberado tão logo seja regularizada a situação .
Na impossibilidade de sanar a falha no local da infração, o veículo poderá ser retirado, desde que não ofereça risco à segurança do trânsito, por condutor regularmente habilitado, mediante recolhimento do Certificado de Licenciamento Anual, contrarrecibo, notificando o condutor do prazo para sua regularização .
Não se apresentando condutor habilitado no local da infração, o veículo será recolhido ao depósito .
Após o recolhimento do documento pelo agente, a autoridade de trânsito do órgão autuador deverá adotar medidas destinadas ao registro do fato no Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam) .
No prazo assinalado no recibo, o infrator deverá providenciar a regularização do veículo e apresentá-lo no local indicado, onde, após submeter-se a vistoria, terá seu CLA/CRLV restituído . No caso de não observância do prazo estabelecido para a regularização, o agente da autoridade de trânsito deverá encaminhar o documento ao órgão ou entidade de trânsito de registro do veículo .
Havendo comprometimento da segurança do trânsito, considerando a circulação, o veículo, o condutor, os passageiros e os demais usuários da via, ou o condutor não sinalizar que regularizará a infração, a retenção poderá ser transferida para local mais adequado ou para o depósito do órgão ou entidade de trânsito .
Quando se tratar de transporte coletivo conduzindo passageiros ou de veículo transportando produto perigoso ou perecível, desde que o veículo ofereça condições de segurança para circulação em via pública, a retenção pode deixar de ser aplicada imediatamente .
18.2 Remoção do veículo
É um ato administrativo, com natureza de constrangimento de polícia (medida administrativa), que é formalizado num documento chamado termo de remoção .
O veículo será removido, nos casos previstos no CTB, para o depósito fixado pelo órgão ou pela entidade competente, com circunscrição sobre a via . A restituição dos veículos removidos só ocorrerá mediante o pagamento das multas, taxas e despesas com remoção e estada, além de outros encargos previstos na legislação específica .
Quanto à remoção do veículo, remetemos o leitor ao item que trata da apreensão do veículo, para eventuais comparações .
A remoção do veículo tem por finalidade restabelecer as condições de segurança e fluidez da via ou garantir a boa ordem administrativa . Consiste em deslocar o veículo do local onde é verificada a infração para depósito fixado pela autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via .
A medida administrativa de remoção é independente da penalidade de apreensão e não se caracteriza como medida antecipatória da penalidade de apreensão .
A remoção deve ser feita por meio de veículo destinado para esse fim ou, na falta deste, valendo-se da própria capacidade de movimentação do veículo a ser removido, desde que haja condições de segurança para o trânsito .
A remoção do veículo não será aplicada se o condutor, regularmente habilitado, solucionar a causa da remoção, desde que isso ocorra antes que a operação de remoção tenha sido iniciada ou quando o agente avaliar que a operação de remoção trará ainda mais prejuízo à segurança e/ou fluidez da via .
Esse procedimento somente se aplica para o veículo devidamente licenciado e que esteja em condições de segurança para sua circulação .
A restituição dos veículos removidos só ocorrerá após o pagamento das multas, taxas e despesas com remoção e estada, além de outros encargos previstos na legislação especifica .
18.3 Recolhimento da CNH, ACC e permissão
O agente somente pode recolher os documentos de habilitação do condutor quando vier prevista na infração a medida administrativa de recolhimento ou por suspeita de inautenticidade ou adulteração .
O Contran tratou do tema em sua Resolução nº 371/2010 .
O recolhimento do documento de habilitação tem por objetivo imediato impedir a condução de veículos nas vias públicas enquanto perdurar a irregularidade constatada e deve ser efetuado mediante recibo, sendo que uma das vias será entregue, obrigatoriamente, ao condutor .
O recibo expedido pelo agente não autoriza a condução do veículo .
O documento de habilitação deverá ser encaminhado ao órgão executivo de trânsito responsável pelo seu registro .
18.4 Recolhimento do CRV
O agente somente pode recolher o documento de registro de um veículo quando vier prevista na infração a medida administrativa de recolhimento do CRV ou por suspeita de inautenticidade ou adulteração, além dos seguintes três casos:
• deixar o responsável de promover a baixa do registro de veículo irrecuperável ou definitivamente desmontado, conforme o art . 240 do CTB;
• deixar a empresa seguradora de comunicar ao órgão executivo de trânsito competente a ocorrência de perda total do veículo e de lhe devolver as respectivas placas e documentos, conforme o art . 243 do CTB;
• se a propriedade não for transferida em 30 dias, conforme o art . 233 do CTB .
Perceba que, embora o CRV não seja documento de porte obrigatório, o legislador previu o recolhimento desse documento como uma medida administrativa .
Na redação do CTB, o documento de registro do veículo é um documento que não se confunde com o documento de licenciamento . Porém, o Contran, em sua Resolução nº 61/1998, exigiu que, no documento de licenciamento, devessem constar os campos do documento de registro, razão pela qual esse documento não precisa ser de porte obrigatório . Quem define quais são os documentos de porte obrigatório é o Contran . Hoje está em vigor a Resolução nº 205/2006 .
18.5 Recolhimento do CRLV (art. 274)
O agente somente pode recolher o documento de registro e licenciamento de um veículo quando vier prevista na infração a medida administrativa de recolhimento do CRLV ou por suspeita de inautenticidade ou adulteração, além dos cinco casos seguintes: - deixar o responsável de promover a baixa do registro de veículo irrecuperável ou definitivamente desmontado, conforme o art . 240 do CTB;
• deixar a empresa seguradora de comunicar ao órgão executivo de trânsito competente a ocorrência de perda total do veículo e de lhe devolver as respectivas placas e documentos, conforme o art . 243 do CTB;
• quando a irregularidade não puder ser sanada no local, conforme o art . 270, § 2º, do CTB; • Quando o licenciamento estiver vencido, conforme art . 274 do CTB;
• Quando o veículo for apreendido, será recolhido desde logo o CRLV, conforme o art . 262, § 1º, do CTB .
Para o Contran, na Resolução nº 371/2010, consiste no recolhimento do documento que certifica o licenciamento do veículo com o objetivo de garantir que o proprietário promova a regularização de uma infração constatada .
Deve ser aplicada nos seguintes casos:
• quando não for possível sanar a irregularidade, nos casos em que esteja prevista a medida administrativa de retenção do veículo;
• quando houver fundada suspeita quanto à inautenticidade ou adulteração; • quando estiver prevista a penalidade de apreensão do veículo na infração . De acordo com a Resolução do Contran nº 61/1998, o CLA é o CRLV .
Todo e qualquer recolhimento de CLA deve ser documentado por meio de recibo . Uma das vias será entregue, obrigatoriamente, ao condutor .
Após o recolhimento do documento pelo agente, a autoridade de trânsito do órgão autuador deverá adotar medidas destinadas ao registro do fato no Renavam .
18.6 Transbordo do excesso de carga (art. 275)
A medida administrativa de transbordo está relacionada com a infração de trânsito relativa a excesso de peso tanto no PBT como nos eixos .
O transbordo da carga com peso excedente é condição para que o veículo possa prosseguir viagem e será efetuado às expensas do proprietário do veículo, sem prejuízo da multa aplicável . Não sendo possível desde logo atender ao disposto, o veículo será recolhido ao depósito, sendo liberado após sanada a irregularidade e pagas as despesas de remoção e estada .
A critério do agente, observadas as condições de segurança, poderá ser dispensado o remanejamento ou transbordo de produtos perigosos, produtos perecíveis, cargas vivas e passageiros, conforme art . 8º da Resolução nº 258 do Contran .
18.7 Recolhimento de animais que se encontrem soltos nas vias e na faixa
de domínio das vias de circulação
Esta medida administrativa consiste no recolhimento de animais soltos nas vias ou nas faixas de domínio, com o objetivo de garantir a segurança dos usuários, evitando perigo potencial gerado à segurança do trânsito .
O animal deverá ser recolhido para depósito fixado pelo órgão ou pela entidade de trânsito competente, ou, excepcionalmente, para instalações públicas ou privadas, dedicadas à guarda e à preservação de animais .
O recolhimento deixará de ocorrer se o responsável, presente no local, dispuser-se a retirar o animal .